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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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A tática de chegar cedo no congresso foi um sucesso, pois os “capos” dos outros partidos<br />

deixaram para chegar na última hora e fi<strong>que</strong>i com espaço livre para discutir, sem descanso,<br />

com centenas de estudantes, sempre em pe<strong>que</strong>nos (e, às vezes, nem tão pe<strong>que</strong>nos)<br />

grupos. Por outro lado, o fato de eu estar lá, padecendo das precariíssimas condições do<br />

aparelho, sem qual<strong>que</strong>r privilégio, também somou a meu favor. No entanto, o <strong>que</strong> mais<br />

me ajudou foi a revolta geral com as condições do congresso e a soberba da garotada da<br />

segurança <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria impor uma disciplina militar aos congressistas. Os conflitos se<br />

sucediam e a irritação crescia a cada hora, gerando uma forte reação contra o Dirceu,<br />

visto como responsável por a<strong>que</strong>la situação.<br />

Dormir passou a ser uma necessidade quase desesperada. A casa, após a primeira noite,<br />

ficou inacessível, tal a montoeira de gente <strong>que</strong> a ocupava desde cedo, para guardar o<br />

lugar. Dormíamos sentados, já <strong>que</strong> não havia espaço para se esticar. No escuro total,<br />

qual<strong>que</strong>r um <strong>que</strong> se mexesse na<strong>que</strong>le bolo provocava ondas de movimento <strong>que</strong> sacudiam<br />

a todos. As pessoas dormiam ali por pura exaustão e o sono não descansava. Mas nem<br />

esse privilégio de dormir sob um teto eu tive na terça e quarta-feira. Uma noite, eu<br />

simplesmente não dormi, pois passei-a em reuniões com o pessoal da AP <strong>que</strong> vinha<br />

chegando ou discutindo com o pessoal do PCBR e do PCB, em separado, é claro. Com o<br />

partidão, o <strong>que</strong> <strong>que</strong>ríamos era garantir <strong>que</strong> não apoiassem o Dirceu por<strong>que</strong> não <strong>que</strong>ríamos<br />

e não teríamos o apoio deles. Conversei muito com o Davi Capistrano, da Medicina da<br />

UFRJ e com o Miltão, da Matemática e fi<strong>que</strong>i certo de <strong>que</strong> só apoiariam uma chapa<br />

encabeçada pelo Wladimir. Desconfiavam das ligações da DI-SP com a ALN e não <strong>que</strong>riam<br />

ver a UNE metida em estratégias guerrilheiras. As condições do congresso e os seguranças<br />

armados puseram o partidão de orelha em pé e, por isso, vetaram o apoio ao Dirceu. Isto<br />

não <strong>que</strong>r dizer <strong>que</strong> o PCB fosse uma força significativa no ME, mas esperava-se uma<br />

decisão no fotochart entre mim e o Dirceu e mesmo os 40 votos do partidão podiam ser<br />

decisivos.<br />

Em outra noite, acendemos uma fogueira e passamos um bom tempo em um concurso<br />

de piadas e nos es<strong>que</strong>ntamos com umas cachaças <strong>que</strong>, não sei como, foram obtidas, já<br />

<strong>que</strong> a segurança repelia qual<strong>que</strong>r demanda não ortodoxa (pedir bebida alcoólica era<br />

considerado manifestação de baixo nível ideológico, mesmo para ajudar a aguentar o<br />

frio e a umidade). Divertimo-nos à grande, sem qual<strong>que</strong>r distinção de tendência e, se me<br />

lembro bem, o Ronald Rocha (PC do B e Presidente do DA da Filô UFRJ, um dos <strong>que</strong> veio<br />

a ser vice-presidente na minha chapa) foi dos mais aclamados. Isto me surpreendeu, pois<br />

sempre vira o Ronald como um quadro ultra-sério, quase um monge, um templário<br />

marxista, sem se dar e dar aos outros um momento de relax e brincadeira. Dormimos sob<br />

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