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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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uma atitude menos belicosa, sem manifestações de rua, em troca de um “fechar de<br />

olhos” à realização do congresso. Isto explicaria a falta de ação da polícia paulista e do<br />

DOPS na fase preparatória. Não sei <strong>que</strong>m lançou o boato, mas o Dirceu, justiça seja feita,<br />

não se comportou de acordo. No dia seguinte à nossa reunião, estourou o conflito na Rua<br />

Maria Antônia entre estudantes da Filosofia da USP e um grupelho de provocadores de<br />

extrema direita da Universidade Mackenzie (<strong>que</strong> ficava em frente à Filô-USP), auxiliados<br />

por oficiais da aeronáutica à paisana. Secundaristas de várias partes do Brasil <strong>que</strong><br />

estavam em S.Paulo para o congresso da UBES (realizado às claras!) e <strong>que</strong> se encontravam<br />

na Filô também participaram e um deles foi morto no confronto <strong>que</strong> provocou também<br />

um incêndio nesta faculdade. Dirceu e Travassos participaram do confronto e da<br />

manifestação <strong>que</strong> se seguiu. Eu fui impedido de participar pelo Adura, <strong>que</strong> era responsável<br />

pela minha segurança frente à AP. Discursei no restaurante do CRUSP para mobilizar os<br />

estudantes para a passeata mas tive <strong>que</strong> ficar de fora.<br />

Fui dos primeiros congressistas a seguir para Ibiúna. Compareci ao QG do congresso e<br />

apresentei-me ao Lauri, <strong>que</strong> mais tarde seria morto pela ditadura, militando em um racha<br />

da ALN. No começo, ele exigiu provas de <strong>que</strong> eu era delegado mas, depois, mandou <strong>que</strong><br />

me levassem de carro e não no caminhão <strong>que</strong> era o transporte de quase todos. Meu<br />

número de entrada no congresso foi o 99 e cheguei ao local na tarde da segunda-feira<br />

da<strong>que</strong>la semana fatídica.<br />

Caía uma garoa fina, bem paulista, na hora em <strong>que</strong> desembar<strong>que</strong>i do carro. Estava em<br />

uma fazenda com uma casa pe<strong>que</strong>na, <strong>que</strong> tinha uma sala não maior de 100 metros<br />

quadrados e dois quartos bem menores. Tomei um susto. Como abrigar mais de 700<br />

estudantes na<strong>que</strong>le lugar? Havia apenas um banheiro e, ao ar livre, uma cozinha<br />

improvisada. Na encosta de uma colina próxima da casa, construíram umas arquibancadas<br />

cavadas no solo e cobertas com lona no chão e no teto. Era ali a plenária do congresso.<br />

Fazia um frio do cão e eu agradeci a lembrança do Adura <strong>que</strong> tinha me dado um cobertor<br />

do CRUSP para eu me abrigar. A área já estava toda enlameada com o pisoteio de menos<br />

de 1/7 dos congressistas. Ia ser um período duro.<br />

O jantar foi um horror, com um macarrão grudento e um arroz ainda mais compacto,<br />

misturado com pedaços de char<strong>que</strong>. Os cozinheiros não estavam preparados para lidar<br />

com a escala destas refeições. A comida saiu com horas de atraso, já fria quando chegou<br />

a minha vez. O congresso estava previsto para começar na sexta-feira e durar três dias,<br />

ou seja, eu tinha pela frente sete dias de inferno.<br />

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