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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Havia muita ansiedade entre os “capos” da AP. O partido tinha perdido algumas eleições<br />

importantes para os DCEs das federais de Minas e Pernambuco, além do bastião do<br />

Honestino em Brasília. A UEE de S. Paulo estava rachada desde o ano anterior entre a<br />

diretoria da Catarina Meloni da AP e a do Dirceu, da DI de S. Paulo (não era a mesma<br />

organização da DI da Guanabara já <strong>que</strong> os rachas universitários do Partidão não se<br />

unificaram embora tivessem políticas bastante próximas). A própria UNE esteve perto de<br />

rachar, meses antes, ameaçando gerar duas diretorias, uma da AP com 3 diretores e o<br />

presidente e outra das DIs e do POC (Partido Operário Comunista) com 6 diretores. A AP<br />

chegou a realizar uma reunião do conselho da UNE sem a participação das outras<br />

correntes, mas recuou de um racha. O sectarismo grassava entre a AP e os outros partidos<br />

e frações e as chances de ocorrer um racha no próprio congresso eram grandes.<br />

- Temos <strong>que</strong> impedir um racha, mesmo a custa de perdermos a eleição, disse eu para<br />

revolta de todos os outros menos o Travassos. Precisamos traçar uma tática de conciliação<br />

para desarmar a agressividade <strong>que</strong> vem crescendo contra nós e <strong>que</strong> nós mesmos temos<br />

alimentado. Nosso discurso tem <strong>que</strong> ser firme na defesa das nossas posições, mas sem<br />

provocar nem aceitar provocações.<br />

Após muita discussão, esta proposta foi aceita até por<strong>que</strong> o desgaste dessa direção<br />

estudantil da AP era enorme. Eu estava em boa posição para fazer este tipo de política<br />

pois tinha bom diálogo com todos os partidos no Rio de Janeiro e ninguém podia me<br />

acusar nem de sectário nem de “porralouca”. O desprezo de muitas das nossas lideranças<br />

em relação às lutas reivindicativas tampouco podia ser-me atribuído, pois a greve da<br />

Química tinha sido um espetacular sucesso de combinação de temas reivindicativos e<br />

políticos.<br />

Dessa reunião, saí com o Luis para fazer campanha nas faculdades em <strong>que</strong> os delegados<br />

ainda não tinham sido escolhidos. Passei a dormir nos aparelhos <strong>que</strong> o Luis usava, entre<br />

eles, o dos Abramo. Cláudio Abramo, jornalista famoso da Folha de S. Paulo e Radha,<br />

sua companheira, não só me receberam em seu apartamento, em Pinheiros, como se<br />

tornaram grandes amigos meus.<br />

Já no segundo dia de campanha, Luis levou-me até a Faculdade de Filosofia da USP, na<br />

Rua Maria Antônia. Ao entrarmos no hall, ouvi alguém gritando de longe:<br />

- Travassos, <strong>que</strong>m é este apedeuta <strong>que</strong> você trouxe? - O hall estava cheio de gente e<br />

aquilo me pareceu um escândalo. No Rio, ninguém jamais mencionava, em público, o<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - a BaTalHa Da Maria aNTôNia (3/10/19<strong>68</strong>) e o CoNGreSSo De iBiúNa (12/10/19<strong>68</strong>) 207

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