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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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minha fotografia logo apareceu nos jornais do dia seguinte anunciando minha<br />

condenação. Foram de uma solidariedade sem falhas e de um carinho sem limites. A<br />

inflamação no siso piorou, a febre me <strong>que</strong>imou por uns dias e o buraco na gengiva não<br />

fechava, doendo muito.<br />

Luis Travassos, presidente da UNE e meu amigão, veio ver-me na manhã seguinte. Pediume<br />

<strong>que</strong> ficasse quieto até me recuperar e <strong>que</strong> escrevesse uma proposta de tese da chapa<br />

<strong>que</strong> a AP ia apresentar no Congresso. As teses teriam <strong>que</strong> ser aprovadas pela direção<br />

nacional estudantil da AP <strong>que</strong> ainda tinha <strong>que</strong> compor a chapa de forma definitiva. Até<br />

então circulavam os nomes do Netovich Maia, de Pernambuco; do Valdo Silva, expresidente<br />

da UEE de Minas Gerais e favorito da direção da AP para o cargo de presidente;<br />

Honestino Guimarães, ex-presidente da FEUB, de Brasília e um quinto <strong>que</strong> não me<br />

recordo, além do meu.<br />

- Luis, meu velho, não vai dar certo. Não sei o <strong>que</strong> a AP pensa sobre as polêmicas do ME.<br />

Nunca li nada do partido sobre tática e estratégia, conjuntura, papel do ME na revolução,<br />

etc. - Eu era um militante atípico, pois tinha sido recrutado havia pouco tempo, pelo<br />

próprio Luis e com base em um argumento interessante. Eu já era uma liderança forte na<br />

Química e me mantinha solidamente independente das várias correntes do ME, pois os<br />

discursos teóricos <strong>que</strong> a<strong>que</strong>las diversas linhas me apresentavam pareciam-me abstrações<br />

muito distantes da realidade.<br />

A AP era fraca na Guanabara depois de três grandes “rachas” <strong>que</strong> levaram militantes para<br />

a DI (e depois para a VAR Palmares), para o PCBR (depois para o PC do B) e, diretamente,<br />

para o PC do B. A AP tinha apenas dois Diretórios Acadêmicos no Rio, além da Química;<br />

o da minúscula Escola de Desenho Industrial e o da supermilitante Ciências Sociais (em<br />

aliança com o PC do B) além de alguns militantes esparsos na Arquitetura, Engenharia,<br />

Direito da federal e de alguns militantes da PUC. A política <strong>que</strong> tracei na Química não foi<br />

por orientação da AP, mas saiu da minha cabeça. Luis atraiu-me para a AP com uma frase<br />

tentadora:<br />

- Não temos ainda uma linha política amarrada, estamos em processo de construí-la. Por<br />

<strong>que</strong> você não vem ajudar neste processo?<br />

Luis afastou minhas objeções.<br />

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