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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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e me passou às mãos dos policiais do DOPS, <strong>que</strong> me interrogaram, ficharam e depois me<br />

levaram e me entregaram ao Juizado de Menores.<br />

Eu era uma atração turística no Juizado: nunca tinham tido um “preso político”. Fi<strong>que</strong>i na<br />

ala dos bem-comportados, sem cela, em dormitório. Todos vinham falar comigo, do<br />

pessoal burocrático aos guardas, faziam perguntas sobre o movimento estudantil. O<br />

problema era <strong>que</strong> não sabiam o <strong>que</strong> fazer comigo, eu não estava acusado de nenhum<br />

crime, me diziam <strong>que</strong> tivesse um pouco de paciência. Já os presos era outro papo. Eu<br />

achava <strong>que</strong>, por ser maiorzinho, iria infundir um certo respeito. Necas. No primeiro dia,<br />

se juntou uma patota de pirralhos <strong>que</strong> me encurralou no banheiro. Vieram me dando<br />

socos, dizendo <strong>que</strong> não gostavam de estudante, mandaram eu tirar a roupa – minha<br />

camisa em bom estado e minha calça Lee de veludo – e me deram uma calça e uma<br />

camisa velhas de uniforme de preso, fornecido aos <strong>que</strong> ingressavam sem roupa. E um<br />

aviso:<br />

- Se contar pros guardas <strong>que</strong>m foi <strong>que</strong> pegou a roupa, você morre.<br />

Mas daí em diante, a barra começou a aliviar. Os garotos eram, na maioria, indiferentes<br />

comigo e algum até vinha conversar. Eu não participava de nenhuma das atividades em<br />

conjunto, ainda tinha a desculpa dos pontos na mão.<br />

- O médico disse para tomar cuidado, pode arrebentar.<br />

Os dias eram longos, pedi algo para ler e, entre tantos livros existentes no mundo, um<br />

funcionário me emprestou A Psicologia à Luz da Reflexologia.<br />

Havia aulas de alfabetização, vinha uma estudante, normalista, fazia prática. Ficou muito<br />

intrigada ao ver um preso lendo, se aproximou e, conversando, descobri <strong>que</strong> ela militava<br />

com os secundaristas de São Paulo. Essa nova aliada ficou de conseguir um advogado<br />

para me tirar de lá.<br />

Um dia antes da vinda do advogado, cedinho, veio um dos funcionários.<br />

- Fizemos uma vaquinha, vamos te pôr num ônibus para o Rio, toma um dinheiro para a<br />

estrada.<br />

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