06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

De repente, não lembro se o Zé Dirceu ou o Travassos puxou de dentro da camisa uma<br />

faixa com dizeres contra a ditadura, deu um grito e todos saímos, gritando palavras de<br />

ordem.<br />

Eu estava no final da passeata quando chegou o aviso: a polícia estava batendo em todo<br />

mundo, era preciso fugir. Havia um ônibus parado em um ponto e pedimos ao motorista<br />

<strong>que</strong> nos deixasse entrar. Ele se recusou, disse <strong>que</strong> iria levar o veículo para a garagem.<br />

Explicamos a ele por <strong>que</strong> estávamos pedindo ajuda e ele, depois de relutar, cedeu aos<br />

nossos apelos. Lotamos o coletivo e ele partiu dali.<br />

Quando chegamos um pouco à frente, a polícia parou o ônibus e mandou descer todos<br />

os passageiros. Por quê? Por<strong>que</strong> eles <strong>que</strong>riam o veículo vazio, para levar uns estudantes<br />

presos. Descemos e nossos colegas subiram...<br />

Antes dos atos e das passeatas éramos orientados pelas lideranças a ir munidos de um<br />

lenço molhado, amoníaco e bolinhas de gude. O lenço e o amoníaco para nos defender<br />

do gás lacrimogêneo e de efeito moral e as bolinhas para impedir <strong>que</strong> os cavalos nos<br />

perseguissem. Além desses apetrechos, eu levava em minha “severina”, a bolsa <strong>que</strong> eu<br />

mesma tinha confeccionado, um par de meias e um livro.<br />

Meu pai, <strong>que</strong> sempre me levava até o portão, um dia me perguntou por <strong>que</strong> eu levava<br />

a<strong>que</strong>las meias e eu respondi: “é <strong>que</strong> se eu for presa, papai, as meias são para a<strong>que</strong>cer<br />

meus pés e o livro para a<strong>que</strong>cer a alma”. Ele riu e disse: “você não tem jeito...”<br />

Em uma outra passeata, pouco antes do dia 7 de setembro, eu caminhava em uma das<br />

primeiras fileiras quando a repressão chegou. Os policiais batiam com cassetetes e todos<br />

corremos procurando um refúgio. Na frente de um restaurante, um senhor nos mandou<br />

entrar e imediatamente fechou a porta.<br />

Não sei por <strong>que</strong> razão, todos <strong>que</strong> entraram pegaram uma bandeirinha do Brasil no caixa<br />

e segurando-a, ocuparam as mesas como se fossem fazer alguma refeição. Nisso, batem<br />

à porta e anunciam:<br />

- Abram <strong>que</strong> é a polícia!<br />

O homem abriu e o policial gritou:<br />

194

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!