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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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11.4 Maria antônia, <strong>68</strong><br />

Risomar Fasanaro<br />

Maria Antônia, <strong>68</strong>. Sim, este número está próximo, hoje, da idade de algumas das<br />

guerreiras da época a <strong>que</strong> me refiro. Mas nem o nome se refere a uma mulher nem o<br />

número à idade de alguém com este nome. Aqui, falo de uma rua e de um ano: Rua<br />

Maria Antônia; ano 19<strong>68</strong>.<br />

Aliás, nenhuma de nós, com esta idade, teria o pi<strong>que</strong> necessário para viver tudo <strong>que</strong><br />

a<strong>que</strong>la Maria Antônia viveu. Mas, na<strong>que</strong>le tempo, tinha todo o encanto, toda a sedução,<br />

todo o feitiço de uma mulher. E é impossível relembrar a<strong>que</strong>la rua sem falar do Bar do<br />

Zé, onde era religioso passar antes, às vezes durante, ou após as aulas.<br />

Ali, na<strong>que</strong>la rua, o mistério e os segredos guardados a sete chaves, entre os poucos e<br />

raros, circulavam em um único quarteirão. Passavam cochichados entre bocas e ouvidos<br />

privilegiados. Sim, a<strong>que</strong>la rua não poderia ter um nome qual<strong>que</strong>r, não poderia se chamar<br />

Dr. Fulano de tal, ou Brigadeiro Sicrano de tal. Ao batizá-la com a<strong>que</strong>le nome, o destino<br />

talvez já lhe tivesse reservado momentos difíceis, em <strong>que</strong> ela assumiria o papel de<br />

acolhedora.<br />

A fêmea <strong>que</strong> seduzia uma multidão de jovens <strong>que</strong> por ela circulava e <strong>que</strong>, no momento<br />

certo, deixou a vaidade de lado, assumiu seu lado guerreiro, encheu-se de barricadas e se<br />

tornou proibida. Mas antes das barricadas, principalmente à noite, era uma festa, com<br />

a<strong>que</strong>la multidão de estudantes circulando de um lado para o outro, entrando nos bares,<br />

passando panfletos, jornais clandestinos e textos mimeografados. Sim, por<strong>que</strong>, na<strong>que</strong>la<br />

época, quase não havia xerox no país.<br />

E bem no centro do quarteirão, a sede principal de todo a<strong>que</strong>le movimento, a Faculdade<br />

de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Era ali <strong>que</strong> pulsava o coração dos<br />

estudantes paulistas da<strong>que</strong>la geração.<br />

Mas nem só de política se falava dentro da<strong>que</strong>le prédio. A admiração por a<strong>que</strong>les líderes<br />

muitas vezes se transformou em outros sentimentos. Eram muitas as apaixonadas e, para<br />

<strong>que</strong>m não sabe, mulheres intelectuais também pichavam não apenas os muros da cidade,<br />

mas também os banheiros da<strong>que</strong>la faculdade. Era ali <strong>que</strong> muitas militantes declaravam<br />

sua paixão por Zé Dirceu, <strong>que</strong> com seus longos cabelos de poeta, foi o mais belo rapaz<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - a BaTalHa Da Maria aNTôNia (3/10/19<strong>68</strong>) e o CoNGreSSo De iBiúNa (12/10/19<strong>68</strong>) 191

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