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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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fora não entrava. Uma pe<strong>que</strong>na multidão ficou contida e, por um tempo, ficamos a<br />

assistir ao vaivém de tiros do telhado da Mackenzie e de molotovs lançados da Filosofia.<br />

Passaram-se uns dez, quinze minutos, veio o assassinato do estudante José Guimarães. A<br />

lembrança <strong>que</strong> resta: fui levado pela turba ensandecida <strong>que</strong> saiu pelo centro da cidade a<br />

virar carro oficial e <strong>que</strong>brar e incendiar tudo <strong>que</strong> fosse símbolo da ditadura e dos EEUU,<br />

sob o comando do Zé Dirceu <strong>que</strong>, qual um toureiro, seduzia e atraía a manada<br />

enlou<strong>que</strong>cida brandindo a camisa ensanguentada do estudante.<br />

Resultado: adeus Escola de Quadros. Fui mandado de volta ao Ceará. Mas aí já era tarde,<br />

voltei contaminado pelo vírus da luta armada já rejeitada pelos trotskistas (a historiografia<br />

deve esse reparo: não era só o PCB <strong>que</strong> a rejeitava). A dúvida <strong>que</strong> eu tinha, o AI-5<br />

resolveu dois meses depois.<br />

Demorei, porém, a explicitar meu rompimento com o POR(T), temeroso de <strong>que</strong>, entre<br />

mim e o partido, a mulher amada optasse por esse. Salvou-me o casamento imposto pela<br />

família dela depois do escândalo de dormirmos num mesmo quarto na casa onde nos<br />

escondemos após o AI-5 (revolucionários, mas non troppo).<br />

Alguns diriam <strong>que</strong> foi hegemonia “pical”, mas foi amor mesmo. Afastada a pedra do<br />

caminho, saímos em busca de uma organização pró-luta armada <strong>que</strong> nos aceitasse. A<br />

primeira porta batida foi o PC do B. Ouvíamos falar <strong>que</strong> esse partido preparava uma<br />

guerrilha no sul do Pará. Stalinistas, nos rechaçaram por puro preconceito anti-trotskista.<br />

Ingressamos no PCBR, <strong>que</strong> tentava se instalar no Ceará por causa dos militantes fugidos<br />

de Pernambuco (caso idêntico ao dos trotskistas), onde compusemos sua direção estadual<br />

provisória, cujo quarto membro foi colocado para evitar a hegemonia trotskista (como<br />

diz Einstein, “é mais fácil desintegrar um átomo do <strong>que</strong> um preconceito”).<br />

Em abril/maio de 70 fomos enviados para Pernambuco, depois de um aborto provocado<br />

(sacrificar tudo por algo maior e próximo), para recompor a direção local após uma série<br />

de prisões. Fantasiei, a partir dos Subterrâneos da Liberdade: “finalmente serei apenas<br />

uma peça numa engrenagem madura, composta de velhos militantes oriundos do PCB,<br />

de cabelinhos brancos”.<br />

O cho<strong>que</strong> de realidade não tardou. A organização vivia uma sangria desatada de<br />

militantes e aliados, resultado de ondas de prisões em série e dos assassinatos de<br />

Marighella e Mário Alves. Em termos locais, o brutal assassinato do Padre Henri<strong>que</strong>,<br />

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