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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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A manchete em letras garrafais foi demais para a província: “preso agente do comunismo<br />

internacional”, com fac-símile de jornais de movimentos guerrilheiros de vários países da<br />

América Latina, notadamente do Movimento Revolucionário 15 de Novembro, da<br />

Guatemala. Em boca miúda rolou <strong>que</strong> abriu o bocão. Não demorou muito a notícia<br />

correu solta: deixara Fortaleza. Como se viu, estava latindo-mordendo em São Paulo.<br />

Reapareceu em reportagem da Veja, depois da anistia, dizendo-se não arrependido do<br />

arrependimento (o único) e <strong>que</strong> gostaria de estar em Angola matando comunistas (hoje<br />

é skinhead). Baixa o pano.<br />

Retorno a São Paulo entre fim de setembro e início de outubro do mesmo ano, 19<strong>68</strong>.<br />

Como, à época, eu militava no POR(T), de saudosa memória, havia sido enviado para lá<br />

com o objetivo de fre<strong>que</strong>ntar uma Escola de Formação de Quadros, com orientação<br />

expressa de não me envolver em “movimentos de massa” (era líder estudantil secundarista<br />

no Ceará), pois seria preparado como quadro dirigente internacionalista (revolucionário<br />

“no Brasil”, não “do Brasil”). Duração: no mínimo seis meses. O POR(T) não pretendia ser<br />

um partido de massas, pois “não há tempo histórico diante da iminência e inevitabilidade<br />

da guerra atômica”. O POR(T) pretendia ser um partido de direção, pois era disso <strong>que</strong> a<br />

realidade carecia. Seu instrumento para reunir e massa seria o POBS - Partido Operário<br />

Baseado nos Sindicatos (PT ?).<br />

Entretanto, os companheiros cometeram um erro: hospedaram-me no CRUSP (Conjunto<br />

Residencial da USP), isto é, no olho do furacão. Foi como botar gasolina perto do fogo.<br />

Hospedaram-me não! Me catapultaram do movimento secundarista de uma Fortaleza<br />

provinciana, diretamente para a oficina do demônio, de assembleias permanentes, autoadministrada,<br />

abolida a ocupação dos blocos por gênero, um arsenal crescente de<br />

co<strong>que</strong>téis molotov e gente de todo canto do Brasil e da América Latina.<br />

Então, adeus movimento estudantil onde, por indisciplina (pe<strong>que</strong>na burguesa,<br />

naturalmente) permaneci por mais um ano por conta de um conflito com a Polícia<br />

Estudantil (é, no Ceará tinha disso sim). Porém, meus camaradas do BP – Birô Político<br />

(ave Souza, Mauro, Roberto, Eduardo...), repito, cometeram um fatídico erro: hospedaramme<br />

no CRUSP.<br />

Estourado o conflito Filosofia X Mackenzie, na Maria Antonia, ao ouvir a narração dos<br />

fatos por uma rádio paulistana, não contei pipoca: peguei um ônibus da linha Pinheiros<br />

e me mandei para o local. Devia ser umas cinco horas da tarde. A rua já estava blo<strong>que</strong>ada<br />

para o lado da Consolação, onde eu estava. Quem estava dentro não saía, <strong>que</strong>m estava<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - a BaTalHa Da Maria aNTôNia (3/10/19<strong>68</strong>) e o CoNGreSSo De iBiúNa (12/10/19<strong>68</strong>) 185

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