06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

móveis presentes no local. Mas havia um <strong>que</strong> exercia sua liderança e colocava ordem na<br />

casa: Oduvaldo Vianna Filho. Aparava as arestas e empurrava sua gente para frente.<br />

Estavam lá Ferreira Gullar, Tônia Carrero, Norma Blum (onde está ela agora?), Carlos<br />

Vereza, Hugo Carvana e muitos outros artistas e intelectuais <strong>que</strong> se juntaram na<br />

constelação do protesto e foram para a passeata.<br />

Eu estava muito feliz. Achava <strong>que</strong> o governo popular democrático viria logo e acreditava<br />

ser precipitação da Dissidência Comunista da Guanabara definir a<strong>que</strong>la etapa<br />

revolucionária como socialista. Mas isto dava muita briga, sabiam? O PCBR e a Dissidência<br />

se engalfinhavam na disputa pela linha política mais correta ... (ixe, <strong>que</strong> pobreza!).<br />

Foi neste clima <strong>que</strong> a passeata aconteceu. E aconteceu mesmo, marcando a História do<br />

país. Vieram todos: estudantes, artistas, intelectuais como Otto Maria Carpeaux, a<br />

professora Maria Yeda Linhares, o advogado Ciro Kurtz, Marcelo Alencar, <strong>que</strong> à época<br />

defendia presos políticos, sindicalistas de inúmeras categorias profissionais, professores,<br />

OAB, ABI. E tudo foi muito alegre, formando cordões. Nosso sonho utópico ao som da<br />

música de Vandré. A Cinelândia, ponto de concentração final, ficou superlotada.<br />

Embora permitida, a passeata não deixou de ser vigiada. E também não faltaram os<br />

paranóicos, <strong>que</strong> viam uma bomba em cada esquina. Mas a manifestação foi tão impecável<br />

quanto o Festival de Woodstock. Reuniu a todos em um belíssimo protesto pacífico,<br />

mostrando ao Brasil e ao mundo <strong>que</strong> não éramos nós os <strong>que</strong> buscavam a guerra. Só<br />

<strong>que</strong>ríamos de volta nossa legalidade, nossas liberdades democráticas, usurpadas pelos<br />

governos militares após o golpe de 1964.<br />

Na<strong>que</strong>la noite, sim, por<strong>que</strong> ela durou o dia inteiro, voltamos para casa com a sensação<br />

do dever cumprido. Havíamos sido vitoriosos. O povo estava nas ruas. Ledo engano... A<br />

ditadura militar apertou ainda mais o cerco e, depois de tentar editar outras passeatas do<br />

mesmo tamanho e com a mesma repercussão (50 mil, 20 mil, etc.) caímos no vazio do<br />

refluxo e fomos enfrentar, em 1969, o chumbo de um Estado terrorista dedicado a<br />

<strong>que</strong>brar nossa espinha dorsal e a apagar qual<strong>que</strong>r vestígio de aliança popular.<br />

Sem dúvida <strong>que</strong> perdemos a guerra militar <strong>que</strong> se seguiu depois. Mas não sem luta. No<br />

entanto, a marca indelével da Passeata dos Cem Mil permaneceu, por<strong>que</strong> povo não se<br />

apaga. O resgate histórico ocorreu quando, maltrapilho e maltratado pelos militares, o<br />

Estado repressor brasileiro começou a dar sinais de cansaço e um milhão de pessoas se<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PaSSeaTaS, MaNiFeSTaçõeS, açõeS 183

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!