06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Não me lembro como estava o dia, se fazia sol ou chovia, se fazia frio ou calor, só sei <strong>que</strong><br />

era inverno no Rio de Janeiro. E aqui peço licença a todos para louvar esta Cidade<br />

Maravilhosa, berço do samba e bastião das lutas democráticas <strong>que</strong> até hoje travamos.<br />

Evoé Brizola, seu esforço não foi em vão. Apesar do cerco a <strong>que</strong> foi submetido, o Rio<br />

ainda não perdeu sua vocação. Como cantaria a Beth Carvalho, sua grande amiga: “...<br />

agoniza, mas não morre”.<br />

Mas na<strong>que</strong>le dia estávamos todos felizes: a ditadura recuara e permitira a passeata.<br />

Achávamos <strong>que</strong> era o começo do fim. Para eles, é claro. Nem imaginávamos o <strong>que</strong> estava<br />

por vir.<br />

26 de junho de 19<strong>68</strong>... A França recém-acabara de conhecer o “maio” <strong>que</strong> derrubou De<br />

Gaulle, a Itália passara por seu “outono <strong>que</strong>nte”, a Tchecoslováquia por sua primavera<br />

irreverente, a China mergulhava na sua “revolução cultural”, os pe<strong>que</strong>ninos vietcongs<br />

derrotavam o maior exército do mundo, os hippies e os panteras negras arrepiavam na<br />

matriz, sem falar nas mulheres e no Movimento pela Paz. “1-2-3-4, não dou a mínima,<br />

5-6-7-8, sabem por quê? 9-10, a próxima parada é o Vietnam”, já cantava Joe Cocker em<br />

Woodstock, junto com Bob Dylan, Peter Seeger, Simon & Garfunkel e tantos outros <strong>que</strong><br />

se posicionaram contra a guerra. A América Latina se levantava e José Martí, na festejada<br />

Guantanamera, dizia: el arroyo de la sierra me complace más <strong>que</strong> el mar.<br />

Aqui, nosso Carlinhos Lyra nos brindava com a Marcha da Quarta-feira de Cinzas: “...E<br />

no entanto é preciso cantar, mais <strong>que</strong> nunca é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar<br />

a cidade...”<br />

Não sei por <strong>que</strong> cargas d’água o PCBR, partido em <strong>que</strong> militava, além das minhas tarefas<br />

habituais de participação no comando geral da passeata, destacou-me para estabelecer,<br />

junto com meu amigo Marco Aurélio Borba, ligação com os artistas e intelectuais. E essa<br />

sim, foi a experiência da vez.<br />

Já me haviam dito <strong>que</strong> os artistas faziam o culto ao ego, mas eu nunca imaginara<br />

quanto... Leitor amigo, vi e ouvi de tudo: a prima donna <strong>que</strong> se dizia consternada com a<br />

morte de estudantes, mas <strong>que</strong> não poderia fechar seu teatro para fazer protestos, pois<br />

isto lhe acarretaria prejuízos financeiros, o ator <strong>que</strong> se dizia anarquista-stalinista e em<br />

uma assembleia saiu nas vias de fato com um colega de palco por<strong>que</strong> este, em função do<br />

seu vínculo conhecido com o PC (Partido Comunista), propunha ações bem mais<br />

moderadas. Enfim, o Teatro Jovem assistiu ao voo de cadeiras e todos os outros objetos<br />

182

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!