06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

lado, meus colegas mostravam seu apoio aos estudantes. E comentavam <strong>que</strong> a despesa<br />

com a alimentação dos cavalos da polícia era muito maior do <strong>que</strong> o dinheiro <strong>que</strong> a<strong>que</strong>les<br />

jovens dispunham para estudar. Olhei-os e pela primeira vez vi nossa diferença: minha<br />

vida de menina de classe média protegida e a luta de muitos deles e delas para chegarem<br />

à universidade e batalharem um cotidiano <strong>que</strong> não se deixava viver facilmente.<br />

Algo partiu-se dentro de meu ingênuo coração de dezoito anos na<strong>que</strong>le dia de 19<strong>68</strong>.<br />

Algo <strong>que</strong> depois conheceu dolorosa encarnação nos colegas presos, torturados, exilados<br />

e mortos. Ao voltar para casa, tarde da noite, pelas ruas finalmente tranquilas, sentia <strong>que</strong><br />

já nada mais poderia ser como antes. O texto de Gorki não era produto da imaginação,<br />

mas pura, dolorosa e palpável realidade.<br />

10.4 QuiMbanda Contra oPressão<br />

172<br />

Arthur Poerner<br />

“A ciência reconhece e se impõe limites, ao contrário da magia, <strong>que</strong> é onipotente.” A<br />

frase, do professor Francisco Antônio Dória, me fez rebuscar na memória experiências<br />

pessoais da segunda metade dos anos 60 com a quimbanda, ritual de magia negra<br />

praticado no Rio de Janeiro. Popular e influente nas camadas mais pobres e marginalizadas<br />

da população, as legiões de favelados e excluídos, ela é pouco conhecida nas classes<br />

média e alta, <strong>que</strong> tendem, por ignorância e desinteresse pelo próprio povo, a rotular os<br />

cultos afro-brasileiros, de maneira genérica e pejorativa, como macumba.<br />

Com suas origens na cultura banta, trazida ao Brasil, a partir do século XVI, pelos cabindas,<br />

benguelas, congos, angolas e moçambi<strong>que</strong>s, a quimbanda é chamada de magia negra ou<br />

linha negra pelos umbandistas da linha branca, <strong>que</strong> engloba o conjunto de rituais <strong>que</strong><br />

somente podem ser utilizados para a prática do bem. A quimbanda, ao contrário, é<br />

empregada não só para desfazer o mal, como para infligi-lo, mediante feitiçaria.<br />

A quimbanda é parte, enfim, do vasto conjunto de cultos e ritos afro-brasileiros <strong>que</strong><br />

recorrem à magia – erroneamente qualificados, em estudos de pesquisadores, de<br />

fetichistas. Pois em <strong>que</strong> diferem, afinal, as funções ritualísticas dos fetiches africanos das<br />

atribuídas às imagens dos santos católicos? Em ambos os casos, trata-se de suportes<br />

físicos dos seres espirituais <strong>que</strong> representam.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!