06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

10.2 19<strong>68</strong> - dia de ManiFestação<br />

170<br />

Francisco Manuel Leite Pinheiro<br />

Por ocasião do golpe militar, eu estava no 3º ano da Faculdade de Administração – EBAP,<br />

da Fundação Getúlio Vargas e, embora participasse de uma ou outra passeata e já tivesse<br />

respirado muito gás lacrimogêneo, não era militante de es<strong>que</strong>rda. Em 19<strong>68</strong>, casado, pai<br />

de um garoto <strong>que</strong> nasceu no início de julho, eu trabalhava num prédio da Av. Rio Branco,<br />

perto da Ouvidor. Era comum, quando havia um comício relâmpago ou qual<strong>que</strong>r outra<br />

manifestação contra o governo, irromperem na avenida carros-cho<strong>que</strong> da polícia do<br />

exército, ou a cavalaria, ou as famigeradas Veraneios, usadas pelos órgãos de repressão.<br />

Das janelas dos edifícios, o <strong>que</strong> estivesse à mão era jogado sobre os soldados ou agentes.<br />

Confesso <strong>que</strong> esse ata<strong>que</strong> não me deixava muito confortável e, por isso, nunca havia<br />

jogado nada contra os repressores.<br />

Até <strong>que</strong>, um dia, na hora do almoço, uma Veraneio estava parada sobre a calçada, na<br />

esquina da Presidente Vargas com a Rio Branco. Com a porta traseira do camburão<br />

aberta, alguns trogloditas tentavam colocar um senhor de terno e gravata, à força, lá<br />

dentro. Pela hora e pelo local, logo se formou uma roda de pessoas, olhando para ver se<br />

era algum conhecido. Dentre elas, muitos, como eu, protestavam contra a<strong>que</strong>le emprego<br />

de força contra um frágil senhor.<br />

Foi quando um dos trogloditas pegou uma granada, não sei se de gás ou explosiva,<br />

arrancou o pino e gritou: “Todo mundo correndo, senão eu jogo!”. É claro <strong>que</strong> todos<br />

correram, senhoras, homens e crianças.<br />

A partir de então, sempre <strong>que</strong> as forças da repressão entravam na avenida, eu logo<br />

procurava algo para jogar nelas.<br />

10.3 19<strong>68</strong>: Quarenta anos dePois<br />

Maria Clara Lucchetti Bingemer<br />

Eu tinha dezoito anos quando passei no vestibular de Jornalismo para a PUC-RJ. Era o<br />

ano de 19<strong>68</strong>. Eu vinha de um colégio de freiras, <strong>que</strong> me deu excelente formação, mas<br />

abria para nós, meninas “de família”, poucas janelas ao mundo. A entrada na universidade<br />

me deslumbrava. Era um novo mundo, múltiplo e plural.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!