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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Além de Fernando e Ramirez, outros líderes secundaristas pernambucanos também<br />

tombaram na luta contra a ditadura, como Almir Custódio de Lima (da Escola Técnica<br />

Federal de Pernambuco) e Lourdes Maria Wanderley Pontes, esposa do líder estudantil no<br />

Pernambucano, Paulo Pontes. A vida na clandestinidade, quase sempre fora de seu estado<br />

natal, elevava muito o risco de esses estudantes serem mortos de forma cruel pela<br />

repressão, uma vez <strong>que</strong> se encontravam longe da presença da família e dos colegas de<br />

escola. Roberto Franca Filho, secundarista preso em 69 aos 18 anos, posteriormente<br />

Secretário de Justiça durante o governo Arraes, avaliando um período quando a tortura<br />

nas prisões ainda não havia se disseminado totalmente, chegou a afirmar em depoimento:<br />

- Minha prisão em 69 me salvou da clandestinidade. Por<strong>que</strong> muitos assumiram essa<br />

condição, por imposição do sistema. O sistema não dava mais retorno, como nos caso de<br />

Ramirez, Paulo Pontes e outros. Pessoas <strong>que</strong> não podiam mais ter uma vida normal,<br />

por<strong>que</strong> a ditadura não permitia isso. A alternativa era a clandestinidade e a luta armada.<br />

O sistema impôs essa ida sem retorno e precisava dos “subversivos” para se justificar.<br />

Ele, Eridan Moreira Guimarães e minha colega expulsa do Pereira da Costa, Lília Maria<br />

Pinto Gondim, haviam sido presos em julho de 69 com outras duas secundaristas, as<br />

menores Inês e Carol, em uma ação de pichamento de ônibus nas ruas do Recife contra<br />

a vinda de Rockfeller ao Brasil. Todos eram tão jovens <strong>que</strong> quando apareceu um policial,<br />

na fuga, as garotas não desgrudaram do rapaz. Correram e entraram em um ônibus. O<br />

policial entrou e gritou para o motorista não abrir a porta. O motorista desobedeceu. Os<br />

cinco desceram correndo, seguidos pelo policial. Entraram em uma casa, saíram, entraram<br />

em outra, depois, sempre juntos, apanharam um táxi, o policial tomou outro táxi e<br />

continuou a perseguição. Quando, obedecendo a um sinal de trânsito, o táxi parou, o<br />

único policial prendeu os cinco. Os maiores foram julgados e condenados a um ano sob<br />

a ridícula acusação de “agressão a uma nação amiga”. Depois de 10 meses de prisão,<br />

foram absolvidos como resultado da apelação ao Supremo. Hoje essa história é motivo<br />

de riso. Seus filhos e sobrinhos não imaginam como alguém podia ser enquadrado na Lei<br />

de Segurança Nacional simplesmente por pichar.<br />

Como disse no começo, olho hoje para meus dois filhos e não consigo imaginá-los tão<br />

perigosos, tão terroristas, como disseram de mim quando eu tinha a idade deles. Uma<br />

possível explicação é <strong>que</strong> era muito perigoso, em 1967, ler Monteiro Lobato. Hoje,<br />

assistindo ao emocionante filme Zuzu Angel, fico relembrando o esforço <strong>que</strong> a minha<br />

mãe também teve <strong>que</strong> fazer, até me escoltando na fuga, para tentar evitar <strong>que</strong> eu, seu<br />

filho, caísse na arapuca e tivesse o mesmo triste fim do filho da Zuzu, Stuart.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PaSSeaTaS, MaNiFeSTaçõeS, açõeS 169

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