06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

dos oito alunos: Ramires Maranhão do Valle, Alfredo Lopes Ferreira Filho, Genezil Aguiar<br />

Coelho Moura, Geraldo Sobreira Liberalquino, José Sebastião Lins, Judas Tadeu de Lira<br />

Gabriel, Lília Maria Pinto Gondim e Paulo Fernando Magalhães Santos. Este último, ainda<br />

mais jovem <strong>que</strong> eu, com apenas 14 anos. Até hoje, Paulo Fernando não conseguiu<br />

concluir o ensino médio. Uma matéria de memória política do Jornal do Commercio<br />

ilustra os fatos com este título - 477: É proibido estudar – JC 13/05/01 - http://www2.<br />

uol.com.br/JC/_2001/1305/po1305_6.htm<br />

Estávamos, sem direito a defesa, até por desconhecermos o secreto ato oficial, a mando<br />

de um jurista, cassados por um expediente ilegal, mesmo sob a ótica das leis de exceção<br />

vigentes. O decreto 477, <strong>que</strong> cassava com rito sumário estudantes, professores e<br />

funcionários, era geralmente aplicado apenas aos universitários. Fora criado em fevereiro<br />

de 1969. Quase o inauguramos...<br />

Não foi à toa <strong>que</strong> a escolha de Roberto Magalhães (<strong>que</strong> apoiara tão ativamente a<br />

repressão do regime de 64) como vice na chapa de Mario Covas para a Presidência da<br />

República, em 1989, não foi bem recebida pelos correligionários do próprio PSDB<br />

pernambucano. Na ocasião, a deputada Cristina Tavares (PSDB-PE) chegou a renunciar à<br />

vice-liderança na Câmara Federal e manifestou apoio ao candidato Leonel Brizola, junto<br />

com outros peessedebistas dissidentes. Magalhães acabou tendo <strong>que</strong> renunciar à sua<br />

candidatura.<br />

A<strong>que</strong>le decreto 477 <strong>que</strong> inspirou a punição aos oito jovens secundaristas, nesse ponto,<br />

era maquiavélico. Ao proibir as lideranças estudantis de continuar os estudos, os militares,<br />

ao tempo em <strong>que</strong> diminuíam a mobilização contra a ditadura nas escolas, propositalmente<br />

empurravam os líderes para a radicalização da luta armada, para depois caçá-los e<br />

assassiná-los nos porões do regime ou nas florestas do Araguaia. A título de exercício de<br />

combate ao comunismo, era preciso fabricar inimigos com o intuito de pôr em prática o<br />

<strong>que</strong> eles haviam aprendido nas escolas militares americanas.<br />

Para Ramires Maranhão do Valle, o afastamento da escola levou à radicalização de sua<br />

participação na luta contra a ditadura. Considerado um dos líderes da agitação <strong>que</strong> havia<br />

tomado conta do colégio e orador de um comício-relâmpago <strong>que</strong> a UBES organizou na<br />

ocasião, Ramirez foi também denunciado à polícia. Caçado, passou aos 18 anos para a<br />

clandestinidade. Mais tarde, em 1973, recebemos a notícia chocante do seu<br />

“desaparecimento”.<br />

1<strong>68</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!