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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Heleno, meu pai protocolou carta ao Secretário de Educação <strong>que</strong>stionando os motivos da<br />

recusa à renovação da minha matrícula. Mas tive, mesmo, <strong>que</strong> estudar em outro colégio.<br />

Em 1969, quando cursava o 2º ano científico no Colégio Estadual Historiador Pereira da<br />

Costa, colégio fundado por pressão do movimento estudantil devido à falta de vagas no<br />

Colégio Oliveira Lima, a história se repetiu de forma ainda mais grave. Logo no primeiro<br />

semestre, em 26 de maio, ocorrera o assassinato, pelos órgãos de repressão, do Padre<br />

Antônio Henri<strong>que</strong> Pereira Neto, responsável pelo trabalho pastoral da Igreja com<br />

estudantes e diretamente ligado ao arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara.<br />

Grupos de estudantes secundaristas, organizados na ARES (Associação Recifense dos<br />

Estudantes Secundaristas) e na UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas)<br />

participavam ativamente da denúncia do assassinato e da mobilização para a passeata<br />

de protesto, a ocorrer no funeral.<br />

Íamos de sala em sala, com licença dos professores, fazer a denúncia e chamar os<br />

estudantes para o cortejo fúnebre <strong>que</strong> acabou se tornando um grande ato de protesto<br />

contra a ditadura militar. Diante da fúria da repressão, a solução era a organização de<br />

comícios-relâmpagos, como o realizado no centro da cidade por ocasião da visita ao<br />

Recife da diretora da UNE, Doralina Rodrigues. Lembro da minha participação na<strong>que</strong>le<br />

dia. Curiosamente, me puseram de segurança, com a missão de, apenas com os atributos<br />

de um magricela de parcos 53 quilos, acompanhá-la e evitar a qual<strong>que</strong>r custo sua prisão.<br />

Boa tática essa, vejo agora. Repressão nenhuma acreditaria <strong>que</strong> uma pessoa importante<br />

se acompanhasse de um segurança como eu.<br />

O fato é <strong>que</strong> certo senhor Gentil Tiago de Moura, diretor do colégio onde eu estudava,<br />

explicou a meus pais, perplexos, <strong>que</strong> em razão do meu subversivo voluntarismo, agravado<br />

pela agitação <strong>que</strong> eu e companheiros fizéramos em sala de aula também ao denunciar o<br />

atentado em 28 de abril contra o então presidente da UEP (União dos Estudantes de<br />

Pernambuco), estudante de engenharia Cândido Pinto de Melo, <strong>que</strong> o deixara paraplégico<br />

aos 21 anos, <strong>que</strong> eu, em razão desses gravíssimos atos, estava sendo expulso do colégio,<br />

com apenas 16 anos, juntamente com outros sete colegas, na metade do ano letivo.<br />

O ódio a tais jovens era tamanho <strong>que</strong>, para impedir nossa transferência para outro<br />

estabelecimento de ensino, o então Diretor de Ensino Médio, Edson Rodrigues de Lima,<br />

sigilosamente, enviou a toda a rede estadual de ensino médio, textualmente, a mando do<br />

então secretário de Educação, Roberto Magalhães (posteriormente governador de<br />

Pernambuco), o ofício-circular 20/69, de 22 de julho. Esse ofício proibia nova matrícula<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - PaSSeaTaS, MaNiFeSTaçõeS, açõeS 167

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