06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

E <strong>que</strong> não se diga <strong>que</strong> aquilo foi obra apenas da cabeça de militares. Não, a repressão <strong>que</strong><br />

se abateu, especialmente voltada contra a juventude, foi obra também de civis, no caso<br />

até de juristas e educadores. São casos verdadeiramente inacreditáveis, se vistos sob a<br />

ótica desses novos tempos de Estatuto da Criança e do Adolescente, mas <strong>que</strong> servem<br />

para descrever o ambiente carregado <strong>que</strong> se vivia já desde antes do ano de 19<strong>68</strong>. Uma<br />

situação insólita <strong>que</strong> fatalmente não poderia deixar de levar a uma radicalização das<br />

lideranças estudantis com a adesão, nos anos seguintes, à tese de <strong>que</strong> só mesmo a luta<br />

armada derrubaria a ditadura.<br />

Vamos aos fatos. No final do ano de 1967, próximo a completar meus 15 anos, talvez por<br />

conta de já haver trocado a coleção infantil de Monteiro Lobato pela leitura de sua obra<br />

para adultos intitulada O Escândalo do Petróleo e do Ferro, eu deixei meus pais de<br />

cabelo em pé quando meu nome apareceu em uma relação nominal de 47 “alunos<br />

prejudiciais” ao Colégio Estadual de Pernambuco, o antigo Ginásio Pernambucano da<br />

Rua da Aurora.<br />

Lá, olhando para o Capibaribe, estudavam-se os cursos ginasial (1º grau maior), clássico<br />

e científico (2º grau). Quem quisesse aprender as lições alegres do gramático ranzinza<br />

Adauto Pontes, fosse para o CEP, o colégio de ensino público mais tradicional da capital<br />

pernambucana. Aprendia-se português sorvendo a brisa do rio <strong>que</strong> inspirara João Cabral.<br />

Os rapazes, ali, – não havia moças – viveram o maior foco do movimento estudantil de<br />

secundaristas. Secundaristas... Ofendiam-se quando eram chamados de secundários. Da<br />

agitação promovida pelas lideranças das correntes Opinião (dos rapazes do PCBR) e<br />

Vanguarda (apoiada pela AP) eu tomava parte apenas como massa, conforme o jargão de<br />

então.<br />

Gritávamos contra o menor arranhão sofrido pelos estudantes. Manifestação de rua já<br />

resultara, no início do ano, nas primeiras prisões dos estudantes secundaristas Fernando<br />

Santa Cruz e Ramirez Maranhão do Vale, ambos, mais tarde, assassinados pela ditadura<br />

no Rio de Janeiro. Um dos líderes do colégio, José Eudes de Freitas, tornou-se tão<br />

conhecido da polícia <strong>que</strong> teve <strong>que</strong> fugir para o Rio de Janeiro. Na década de 80, virou<br />

deputado federal, um dos três expulsos do PT por ter votado em Tancredo Neves no<br />

Colégio Eleitoral de 1985.<br />

Após juntar declarações de alguns professores catedráticos atestando minha boa conduta<br />

e bom desempenho escolar, inclusive do vice-diretor, o conceituado professor Manoel<br />

166

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!