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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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9.2 sardinHa no Calabouço<br />

164<br />

Adair Gonçalves Reis<br />

Em plena ditadura militar, estudantes realizam uma passeata contra o preço e a comida<br />

do restaurante estudantil Calabouço. Era o dia 28 de março de 19<strong>68</strong>. Um tiro cala o<br />

estudante Edson Luís Lima Souto. A morte do secundarista de dezoito anos consagrou-se<br />

como grande ponto de referência das mobilizações estudantis da<strong>que</strong>le ano. O Rio de<br />

Janeiro parou no dia seguinte, na passeata cortejo do enterro do Edson.<br />

A ação de um companheiro foi determinante na construção desse marco histórico.<br />

Sardinha, seu sobrenome. Não me recordo de seu primeiro nome. Era da nossa base do<br />

PCBR, no Calabouço, da qual eu era o secretário de organização, na época.<br />

Ele me ouvia muito e eu tinha muita preocupação com ele, pois era muito voluntarista,<br />

mas um excelente e solidário companheiro. Foi ele <strong>que</strong>, presente na resistência, durante<br />

a programada invasão do restaurante, no entardecer da<strong>que</strong>le trágico dia, comandou um<br />

pe<strong>que</strong>no grupo de estudantes e em seus braços conduziu o corpo do Edson Luís até a<br />

Assembleia Legislativa.<br />

No momento em <strong>que</strong> eu cheguei no restaurante, a polícia já estava distanciando-se do<br />

local. Quando eu soube do ocorrido e <strong>que</strong> o Sardinha estava à frente da<strong>que</strong>le feito<br />

heróico, parti em disparada para a Assembleia onde começavam a chegar mais estudantes.<br />

Ouvi o relato do companheiro. Começamos a mobilizar mais estudantes do Calabouço e,<br />

em paralelo, companheiros da UME, UNE e UBES também passaram a mobilizar os<br />

estudantes de escolas e universidades.<br />

Mais um ato de grandeza do Sardinha aconteceu, na Assembleia, perante um famoso<br />

advogado <strong>que</strong> havia nos defendido e nos libertado de uma prisão ocorrida após uma<br />

manifestação. Tenho muito respeito por sua memória, pois sempre defendeu presos<br />

políticos e foi muito solidário com o grupo de estudantes da FUEC (Frente Unida dos<br />

Estudantes do Calabouço) junto com os quais, no dia 19 de janeiro de 19<strong>68</strong>, fui preso em<br />

frente o Edifício Avenida Central, na Av. Rio Branco, no momento em <strong>que</strong>, com faixas,<br />

arrecadávamos doações junto aos transeuntes para conclusão e manutenção do novo<br />

galpão construído pelo Estado para o funcionamento do restaurante, uma vez <strong>que</strong> o<br />

histórico Restaurante do Calabouço havia sido demolido. Seu nome: Jurista Sobral Pinto.

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