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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Na<strong>que</strong>la fatídica quinta feira, durante o jantar, no dia 28 de março de 19<strong>68</strong>, quando já<br />

passava das 18 horas, os estudantes havíamos marcado uma ato de protesto e estávamos<br />

concentrados no descampado, no <strong>que</strong> seria seguido de uma passeata, contra o preço das<br />

refeições, além das péssimas condições de higiene e a lentidão das obras do Calabouço.<br />

Foi, então, <strong>que</strong> cho<strong>que</strong>s da Polícia Militar, de início com cassetetes, cercaram o<br />

descampado, vindos pela galeria do Edifício da LBA e pela Avenida Marechal Câmara e<br />

atacaram-nos em uma atitude bestial de espancamentos com ordens de dispersão e<br />

abandono do local.<br />

Como não <strong>que</strong>ríamos abandonar a área, corremos para o interior do galpão do Calabouço<br />

e, da<strong>que</strong>le lugar, revidávamos com o varejamento de pedras da obra. A polícia reagiu com<br />

rajadas de fuzis e metralhadoras para o alto, como forma de intimidação. Em seguida,<br />

baixou a linha de disparos, <strong>que</strong> eram respondidos com mais pedradas nossas, no <strong>que</strong><br />

resultou em vários estudantes feridos e na tragédia da morte do estudante Edson Luís<br />

Lima Souto, assassinado com um tiro no peito, de pistola calibre 45, identificada depois,<br />

como do tenente Alcindo Costa, <strong>que</strong> comandava o Batalhão Motorizado da PM no local.<br />

Após os tiros <strong>que</strong> atingiram o Edson, nós entramos em clamor, gritando <strong>que</strong> mataram um<br />

jovem, chamando os policiais de assassinos. Perdermos o medo da morte e avançamos<br />

contra eles, carregando o corpo do Edson Luís, quando, finalmente, a polícia, receosa,<br />

retirou-se, depois de ter feito outras vítimas, dentre elas o comerciário Telmo Henri<strong>que</strong>s,<br />

com um tiro na boca, e um porteiro do INPS <strong>que</strong> passava pelas imediações e <strong>que</strong> também<br />

tombou morto.<br />

Com o Edson ainda com vida e sangrando muito, eu tentei influenciar a turba, na<br />

confusão do empurra-empurra, para <strong>que</strong> ele fosse levado, rapidamente, para ser atendido<br />

no Hospital da Santa Casa, <strong>que</strong> fica próximo ao local. Todavia, só consegui meu intento<br />

depois de passados alguns minutos preciosos. Ao lá adentrar, o médico, Dr. Luis Fortes,<br />

declarou <strong>que</strong> o Edson já estava morto.<br />

Seu corpo, então, foi retirado da Santa Casa, sob protestos dos funcionários do hospital,<br />

e carregado aos brados de: “Abaixo a Ditadura Militar” e “Mataram um estudante e se<br />

fosse filho seu?” No trajeto até a Cinelândia, o corpo do Edson, ainda sangrava. Foi<br />

conduzido, deitado, no alto, sustentado por vários braços <strong>que</strong> se revezavam, por uma<br />

multidão enfurecida de estudantes e populares <strong>que</strong> se incorporaram, pela Rua Santa<br />

Luzia.<br />

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