06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

autoritariamente, sem debate nem discussão. O governo usurpador criou o MUDES<br />

(Movimento Universitário para o Desenvolvimento Econômico e Social) com o fito de<br />

esvaziar o movimento estudantil e canalizar a juventude para trabalhos apolíticos.<br />

Esses fatos geraram uma onda de protestos estudantis <strong>que</strong> ficou conhecida como<br />

Setembrada. Foram suspensas as aulas na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de<br />

Janeiro, 178 estudantes foram presos no Congresso da UNE, em São Bernardo do Campo,<br />

houve manifestações em Minas e Brasília, a Universidade de Brasília foi invadida diversas<br />

vezes pelas forças da repressão.<br />

A UNE decretou <strong>que</strong> o dia 22 de setembro de 1966 seria o Dia Nacional da Luta contra a<br />

Ditadura. Depois de manifestações, a massa de estudantes – cerca de 600, segundo<br />

alguns testemunhos – reuniu-se na Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha,<br />

entre eles eu e minha namorada. O prédio foi cercado pela Polícia Militar. Até tarde da<br />

noite, houve muitos discursos e negociações com membros do corpo docente, inclusive<br />

com o reitor Pedro Calmon, e com deputados <strong>que</strong> lá compareceram, para a retirada da<br />

polícia e a evacuação do edifício.<br />

Enquanto isso, lá fora, chovia copiosamente e o comandante da PM deixou a tropa<br />

perfilada na chuva, como vim a entender mais tarde, para atiçar o ânimo dos soldados<br />

contra os estudantes. Quando tudo parecia <strong>que</strong> ia se resolver, por volta das três horas da<br />

madrugada do dia 23, ouviu-se um estouro. Era a PM arrombando uma porta e invadindo<br />

a Faculdade. Espalhou-se o pânico. A polícia agiu com grande violência e descarregou<br />

a<strong>que</strong>le ódio acumulado nas muitas horas em posição de sentido sob a chuva. Formaram<br />

um corredor polonês nas escadas <strong>que</strong> conduziam ao quarto andar, de onde os estudantes<br />

foram forçados a descer embaixo de porrada.<br />

Minha namorada foi separada de mim e, quando a reencontrei mais tarde, narrou <strong>que</strong> os<br />

policiais, durante o trajeto, a apalparam em todo o corpo. Isso aconteceu a todas as<br />

moças <strong>que</strong>, além de apanharem, ainda sofreram abuso sexual. Ouvi depois <strong>relatos</strong> de <strong>que</strong><br />

uma menina havia sido atirada do quarto andar, no pátio. Não cheguei a saber <strong>que</strong>m era<br />

nem o <strong>que</strong> teria acontecido com ela. Eu levei uma cacetada <strong>que</strong> me abriu a cabeça. Tive<br />

<strong>que</strong> andar toda a Av. Pasteur e pegar um ônibus com o sangue escorrendo da cabeça.<br />

Fomos para a casa de minha namorada. O pai dela era médico (pesquisador) e chamou<br />

um colega para costurar o meu couro cabeludo.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - iNVaSão Da MeDiCiNa 155

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!