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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Voltei, assim como se estivesse tateando no escuro. Fi<strong>que</strong>i uns dois dias sem contato com<br />

o pessoal. Parecia <strong>que</strong> todo mundo havia dado no pé até <strong>que</strong> encontrei o Nilson Mar<strong>que</strong>s<br />

e, aos poucos, fui reatando alguns dos meus contatos. Aquiles Reis, Zelinha Trindade, Ana<br />

Campos, Rodolfo, Jonas, Kadu, Mércia... Eram os secundaristas do Partidão. Com eles eu<br />

havia feito em 1961 o meu primeiro discurso a favor do socialismo. Foi na extinta Favela<br />

do Contorno, <strong>que</strong> ficava situada no início da atual estrada Niterói - Manilha. Foi no Natal<br />

e eu tinha 18 anos. A gente havia arrecadado alguns brin<strong>que</strong>dos em nome da União<br />

Fluminense de Estudantes Secundaristas e no final da tarde da véspera de Natal fomos lá<br />

distribuir os presentes. Eu e Nilson Mar<strong>que</strong>s fomos escalados para falar. Nilson era o mais<br />

preparado do grupo, pois havia chegado na<strong>que</strong>les dias da União Soviética. Falei da<br />

sociedade sem classes, de um mundo de igualdades, do ideal socialista. Eu falava olhando<br />

para a<strong>que</strong>la comunidade miserável, <strong>que</strong> tinha os estaleiros ao lado e a Baía de Guanabara<br />

ao fundo.<br />

a Greve seCundarista de Março de 64<br />

Assim <strong>que</strong> eu cheguei à Niterói vindo do sítio do tio Antônio, a primeira tarefa <strong>que</strong> recebi<br />

foi tirar a biblioteca de Lindolfo Silva do apartamento <strong>que</strong> ele ocupava e levá-la para<br />

outro local. Lindolfo Silva era o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores<br />

na Agricultura e seu apartamento ficava no primeiro andar de um prediozinho situado<br />

no Campo de São Bento. Eu e Rodolfo acondicionamos os livros em caixas de papelão e<br />

os levamos para baixo. Levei os livros e a estante para a casa de meus pais.<br />

Mais tarde, a repressão “baixou” lá e carregou quase tudo.<br />

Na<strong>que</strong>les primeiros meses após o golpe, a gente <strong>que</strong>ria entender <strong>que</strong> merda era aquilo,<br />

<strong>que</strong> de repente havia acabado com nosso passeio gostoso em direção ao socialismo. A<br />

primeira reação <strong>que</strong> tivemos foi pôr a culpa no Comitê Central e na linha conciliadora<br />

adotada no Quinto Congresso.<br />

Com todo a<strong>que</strong>le furacão acontecendo, ainda por cima, eu não tinha onde estudar. Havia<br />

sido expulso sem maiores delongas do Colégio Plínio Leite. Os diretores, tanto o velho<br />

como seu filho me odiavam. No início de março, eu, Aquiles, Iná e Zélinha lideramos uma<br />

greve <strong>que</strong> paralisou todas as escolas particulares de Niterói. E olha <strong>que</strong> havia dezenas. A<br />

greve era em protesto pelo aumento das mensalidades. O mais difícil foi exatamente<br />

onde eu estudava, o poderoso Plínio Leite, da “Rua da Praia”. Osso duro de roer. Difícil,<br />

mas não impossível. Montamos um pi<strong>que</strong>te e com o apoio de Ozéas, um taxista <strong>que</strong> fazia<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - oPreSSão Da DiTaDUra 137

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