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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Nesse ponto Niterói fez história. No ano <strong>que</strong> antecedeu o golpe militar, tudo o <strong>que</strong> Carlos<br />

Lacerda proibia e perseguia do outro lado da Baía de Guanabara era permitido em Niterói.<br />

De um lado, era o Estado da Guanabara comandado por um governador de direita e, do<br />

outro, o Estado do Rio, governado por Badger Silveira, eleito em uma coligação de<br />

centro-es<strong>que</strong>rda. Badger era irmão do Roberto, seu antecessor e <strong>que</strong> havia morrido em<br />

1961 num acidente de helicóptero.<br />

Foi na<strong>que</strong>le clima de liberdade <strong>que</strong> José Pureza, dirigente da Federação dos Lavradores e<br />

Trabalhadores Rurais do Estado do Rio de Janeiro e líder dos sem-terra na Baixada,<br />

montou um grande acampamento na Praça São João Batista, centro de Niterói, onde se<br />

sucediam manifestações a favor da reforma agrária. Na Guanabara, Lacerda proibiu a<br />

realização do Congresso Latino-Americano de Solidariedade a Cuba; no Estado do Rio, o<br />

congresso foi realizado no Sindicato dos Operários Navais e, em seu encerramento, Luis<br />

Carlos Prestes disse em seu discurso <strong>que</strong> o Brasil caminhava a passos largos em direção<br />

ao socialismo e <strong>que</strong> os comunistas tinham participação importante no governo. Enquanto<br />

Prestes exalava otimismo, Brizola alertava para a conspiração da direita e conclamava<br />

para a resistência aos golpistas.<br />

E o pior acabou acontecendo. Na madrugada de 31 de março de 1964, as forças do<br />

general Mourão Filho se deslocaram de Juiz de fora em direção ao Rio. Na<strong>que</strong>le mesmo<br />

dia, à tarde, organizamos uma passeata e saímos em marcha pela Avenida Almirante<br />

Amaral Peixoto gritando palavras de ordem em defesa da democracia e das Reformas de<br />

Base. Chegamos até o prédio da então Assembleia Legislativa e, nas escadarias, o<br />

deputado Affonso Celso Nogueira Monteiro fez um vibrante discurso <strong>que</strong> alertava a<br />

população para a ameaça de um golpe de estado de caráter fascista e convocava todos<br />

à resistência.<br />

Por volta das sete horas da noite, chegou um contingente da polícia e um agente ordenou<br />

<strong>que</strong> o deputado parasse de falar. Afonsinho disse <strong>que</strong> ninguém ia impedir <strong>que</strong> ele<br />

defendesse a constituição, a legalidade. Aí, o policial puxou o revólver e o deputado<br />

também sacou o seu. Mas nada de grave aconteceu. Entre mortos e feridos, todos se<br />

salvaram ilesos. A polícia somente atirou para o alto, com o objetivo de dispersar a<br />

multidão. A seguir, após esse entrevero inicial, Afonso Celso entrou na Assembleia e,<br />

junto com outros colegas deputados, fechou as pesadas portas de ferro do legislativo e<br />

foi pra uma reunião de emergência da Comissão Executiva do PCB fluminense, usando<br />

uma saída subterrânea existente na época e <strong>que</strong> ia dar atrás do Liceu Nilo Peçanha.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - oPreSSão Da DiTaDUra 135

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