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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Meu primeiro contato com o marxismo aconteceu em 1958. Foi por intermédio de um<br />

grupo de operários calceteiros <strong>que</strong> pavimentavam com paralelepípedos as ruas de São<br />

Fidélis, minha cidade natal, situada no Norte Fluminense. Eles pertenciam a uma base do<br />

PCB da vizinha cidade de Campos.<br />

Em 1959, mudamo-nos para São Gonçalo, cidade localizada no Grande Rio. São Fidélis<br />

não oferecia condições para <strong>que</strong> eu e meus irmãos continuássemos com nossos estudos.<br />

Papai era comerciante de secos e molhados e <strong>que</strong>ria <strong>que</strong> seus filhos tivessem o estudo<br />

<strong>que</strong> ele não teve.<br />

Na<strong>que</strong>le quarto ano do governo de Juscelino Kubitschek, o país se debatia em uma<br />

tremenda inflação, havia escassez de alguns produtos alimentícios e muita tensão social,<br />

principalmente na área da Estação das Barcas, onde constantemente era grande o<br />

número de pessoas <strong>que</strong> atravessavam a Baía de Guanabara para trabalhar na cidade do<br />

Rio de Janeiro. Todos os dias, uma extensa fila tomava conta da praça e, depois de dar<br />

várias voltas, seguia em direção ao Mercado São Pedro, na Rua Visconde do Rio Branco.<br />

Desde as primeiras horas da manhã, operários, executivos, escriturários e empregadas<br />

domésticas se amontoavam esperando a condução.<br />

Esse péssimo serviço prestado pela empresa concessionária do transporte marítimo entre<br />

Niterói e o Rio de Janeiro deu origem, em maio de 1959, a uma revolta popular de grande<br />

envergadura. O <strong>que</strong> havia começado como um protesto localizado acabou propagandose<br />

por toda a cidade, assumindo um ar de insurreição. A manifestação começou pela<br />

manhã, atravessou a noite e o saldo foi a depredação da estação das barcas, intervenção<br />

militar, seis mortos e uma centena de feridos.<br />

Depois dessa experiência, minha aproximação com os grupos de es<strong>que</strong>rda aumentou e<br />

comecei a fazer política estudantil de forma intensa, fundando grêmios e editando um<br />

jornalzinho.<br />

Na<strong>que</strong>la época, a gente passava horas nas esquinas de Niterói falando de revolução e<br />

marxismo. Nossos pontos de encontro eram debaixo das marquises dos cinemas da Rua<br />

Visconde do Rio Branco e dos edifícios da Avenida Amaral Peixoto. Nós não tínhamos<br />

dinheiro para sentar à mesa de bares como fazia a turma da classe média. Éramos<br />

estudantes e trabalhadores assalariados, cheios de contas e vivendo em um país sacudido<br />

pela agitação social e pelos debates ideológicos.<br />

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