06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Em breve teríamos o Congresso de Ibiúna e lá as coisas seriam ainda mais definidas e<br />

organizadas. Estávamos certos de <strong>que</strong> seria difícil, mas venceríamos a reação e os<br />

militares. Além de mimeógrafos, possuíamos alguns “aparelhos” para esconder as<br />

lideranças e um lugar sigiloso repleto de co<strong>que</strong>téis Molotov <strong>que</strong> só seriam utilizados,<br />

caso a repressão invadisse a Universidade.<br />

Quantos espiões havia? Até hoje não sabemos. Mas, eles estavam lá para dedurar e para<br />

aumentar a nossa paranóia.<br />

O Reitor é um reacionário paternalista: chamou-nos de “meus filhos”. Mal sabe ele <strong>que</strong><br />

<strong>que</strong>remos uma Universidade Crítica, sem reitores e professores de direita. Queríamos<br />

fazer o nosso próprio currículo: desejávamos estudar Marcuse, Althusser e Reich <strong>que</strong> já<br />

eram lidos pelos “revolucionários” da psicologia. Desejávamos lutar atrás de barricadas<br />

para conquistar uma Universidade Livre!<br />

Parecia <strong>que</strong> daria certo. As assembleias cada vez mais cheias e exaltadas. Panfletos e<br />

faixas diziam o <strong>que</strong> <strong>que</strong>ríamos. O Congresso de Ibiúna se aproximando, os militares,<br />

segundo nossas análises, divididos e sem apoio da população. Até na Tijuca, percebíamos<br />

certo descontentamento do povo às saídas das missas. Tudo vai acontecer no seu tempo<br />

dialético. As contradições serão resolvidas na Revolução <strong>que</strong> acabaria com a miséria, com<br />

as injustiças e a Universidade Livre e Gratuita seria Crítica e Marxista. Cuba é o exemplo.<br />

Assim como no Chile, chegaríamos lá, onde, breve, uma junta militar assinaria as nossas<br />

frustrações, tristezas, prisões, torturas e exílios. Tudo parecia correr tão rápido: da morte<br />

do Edson Luís à passeata dos Cem Mil, de Ibiúna ao fechamento de todos os Diretórios<br />

Acadêmicos no Brasil.<br />

As prisões em Ibiúna foram a primeira grande perda do movimento estudantil. Alguns, ao<br />

serem soltos, contavam os episódios mais pungentes: os interrogatórios, a brutalidade<br />

dos policiais. Uma história ficou na minha memória. Narrada pela amiga Comba, na<br />

época mulher do Raulino, era a expressão da nossa presença de espírito, sarcasmo e<br />

coragem. Num determinado momento, o militar lhe perguntou.<br />

- Você <strong>que</strong> se diz não saber de nada, não ter ligação nenhuma com nenhum grupo<br />

subversivo, afinal, o <strong>que</strong> você faz na UEG?<br />

E Comba com seu ar angelical lhe respondeu:<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - MoViMeNTo eSTUDaNTil DePoiS Do GolPe 129

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!