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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Na<strong>que</strong>la época, o modus vivendi vigente era super formal e rigoroso. Só para citar<br />

alguns exemplos de comportamentos da época, sexo só era admitido, para as mulheres,<br />

após o casamento. A jovem <strong>que</strong> tivesse vida sexual antes do casamento era mal falada.<br />

Dizia-se: “a moça se perdeu”. O mais comum era a existência de uma forte autoridade<br />

familiar, daí dizer-se <strong>que</strong> as moças “certinhas” eram “de família”. Era de bom tom <strong>que</strong> as<br />

jovens “de família” escolhessem o magistério como profissão. Havia rigor nas regras até<br />

do vestuário: bolsa tinha <strong>que</strong> combinar com sapato, brilhos eram, exclusivamente,<br />

indicados para a noite, etc.<br />

Voltemos aos acontecimentos políticos imediatamente anteriores ao golpe.<br />

A cena política fervilhava, e culminou com o Comício da Central do Brasil, em 13 de<br />

março de 1964, poucos dias antes do golpe militar. Na<strong>que</strong>le momento, já havia fortes<br />

prenúncios de <strong>que</strong> o governo Jango não se sustentaria.<br />

E aconteceu o Golpe de Estado.<br />

Estávamos em Nilópolis, à noite, em uma sala de aula, no trabalho de supervisão do PNA.<br />

Chegou a notícia de <strong>que</strong> os tan<strong>que</strong>s já estavam na Avenida Brasil. Deveríamos recolher<br />

todo o material para <strong>que</strong> a repressão não tivesse o seu trabalho facilitado na identificação<br />

das pessoas <strong>que</strong> participavam da<strong>que</strong>le programa. O transporte já estava deficiente e<br />

tivemos <strong>que</strong> pegar o primeiro ônibus para abandonar a<strong>que</strong>le local. Não pudemos voltar<br />

para a casa, pois começou uma verdadeira caça aos comunistas. Casas e locais de trabalho<br />

vigiados, invadidos e depredados, como nossa casa e o consultório dentário do meu pai.<br />

Houve tentativas de resistência, fomos para a rua tentar fazer alguma coisa, mas não<br />

havia organização alguma para resistir. Fomos vencidos.<br />

As prisões ficaram cheias e um clima de abatimento se instalou na es<strong>que</strong>rda.<br />

Era a ditadura.<br />

Daí em diante, nossas cabeças e nossas forças voltaram-se totalmente para a derrubada<br />

da ditadura e para a retomada da<strong>que</strong>le processo anterior ao golpe, em direção ao<br />

socialismo. Para nós, não existia projeto pessoal de se integrar à sociedade. Fora da<br />

política, nada tinha sentido. Essa era a atitude de uma parte da militância. Para outra<br />

parte, o golpe representou o final de sua atuação política.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o GolPe (1964) 121

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