06.05.2013 Views

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Outra vez coube-me a tarefa de levar a<strong>que</strong>le perigoso instrumento subversivo de volta.<br />

Nosso boletim, nele rodado diariamente, foi considerado pela milicada como um dos<br />

principais instrumentos da subversão em Fortaleza. Fui à Praça da Sé, escolhi, sei lá sob<br />

quais critérios, um jipe <strong>que</strong> “fazia a praça” e fui buscar o mimeógrafo na casa do<br />

companheiro. Deixei-o aliviadíssimo.<br />

A operação consistiu em levar o mimeógrafo para uma oficina onde, posteriormente, o<br />

próprio interventor do Sindicato, em acerto feito com os companheiros Luciano<br />

Vasconcelos e o Aquino, mandaria apanhá-lo. O motorista do jipe ajudou-me em todo o<br />

trabalho braçal de colocação da peça em seu jipe e, depois, na subida pelas escadas da<br />

oficina. Quando lhe paguei a conta e agradeci, ele me disse: “Tudo bem, companheiro,<br />

quando tiver outro servicinho desse, pode me procurar”. Era um dos nossos.<br />

4.10 GreGÓrio beZerra: arMas e CHoColates<br />

Marcelo Mário de Melo<br />

Entrei na base secundarista do PCB, no Colégio Pernambucano, no início de 1961. Em<br />

1962 tive um contato mais próximo com Gregório Bezerra, <strong>que</strong> coordenava a campanha<br />

de Miguel Arraes a governador de Pernambuco, enfrentando o candidato das oligarquias,<br />

o usineiro João Cleófas de Oliveira. Durante a campanha eu saía de tarde nos carros altofalantes.<br />

E à noite, de segunda a sábado, era anunciador dos comícios suburbanos. Ia no<br />

jipe dirigido por Gregório, <strong>que</strong> falava em três comícios por noite e, no final da jornada,<br />

vinha com o carro lotado, deixando companheiros em casa - eu, entre eles. Nos plantões<br />

no comitê, ouvi de Gregório muita história antiga, de resistência, protesto e prisão.<br />

Foi nessa época <strong>que</strong> eu e a minha namorada judia escolhemos Gregório como nosso<br />

futuro padrinho de casamento. Mas ela foi levada para Israel pela família e Gregório<br />

levado para a cadeia pela ditadura. E o casamento e as “reformas de base” na sociedade<br />

brasileira entraram por uma perna de pinto e saíram por uma perna de pato. Fiz visitas a<br />

Gregório na Casa de Detenção do Recife e uma vez levei dentro do sapato um exemplar<br />

do jornal Combater, editado pelos comunistas pernambucanos. De 64 pra 65, rompi o<br />

ano com os presos políticos da Casa de Detenção, sem imaginar <strong>que</strong> ali também passaria<br />

uma temporada. Depois da sua volta do exílio, vi Gregório poucas vezes.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o GolPe (1964) 117

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!