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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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institucional, bem como elogiava os governadores do Ceará, Virgílio Távora, e do Piauí,<br />

Teotônio Portela, os únicos <strong>que</strong>, até a<strong>que</strong>le momento, não haviam aderido ao golpe e<br />

estavam reticentes.<br />

O Beleza, só posteriormente e diante da informação de <strong>que</strong> seria preso e <strong>que</strong> já estava<br />

sendo procurado pelo militares, é <strong>que</strong> tratou de se esconder. Primeiramente, no Hospital<br />

para tuberculosos de Messejana, <strong>que</strong> era dirigido pelo pranteado médico Dr. Carlos<br />

Alberto Studart, um simpatizante e amigo das es<strong>que</strong>rdas, <strong>que</strong> deu abrigo a ele. Tornandose<br />

vulnerável esse primeiro esconderijo, o companheiro Beleza, então, vagou durante uns<br />

três ou quatro dias por vários lugares da periferia de Fortaleza, até entregar-se no quartel<br />

da 10ª Região Militar. Esses detalhes todos me foram passados, recentemente, pelo<br />

próprio Luciano, meu <strong>que</strong>rido amigo e ex-companheiro de luta. Vários sindicatos ligados<br />

à CGT (Central Geral dos Trabalhadores), sob a liderança do companheiro José Jataí e<br />

outros líderes sindicais cearenses, estavam em assembleia e caminhavam, disseram-nos,<br />

para tirar uma greve por tempo indeterminado.<br />

O vice-presidente do Sindicato, também do Banco do Brasil, o José Carmênio Quinderé,<br />

por não ser comunista, era objeto das nossas desconfianças, mas foi de uma dignidade a<br />

toda prova. A direção do Sindicato não lhe foi entregue em nenhum momento pelos<br />

militares. Os militares deixaram-no como responsável por alguns dias, somente, enquanto<br />

não colocavam lá o interventor. O Quinderé, hoje sabemos, não abriu a boca para<br />

denunciar ninguém. Terminou também sendo punido pelo Banco do Brasil com<br />

transferência para o Rio Grande do Norte.<br />

Ainda na<strong>que</strong>le 31 de março, lá pelas tantas da manhã, recebemos um telefonema do<br />

Beleza. Ele alertava para <strong>que</strong> não recebêssemos qual<strong>que</strong>r pacote, por<strong>que</strong> temia <strong>que</strong> se<br />

repetisse o <strong>que</strong> ocorrera, em 1935, quando a polícia de Getúlio entregou armas em<br />

sindicatos para depois armar o flagrante. Ele avisava <strong>que</strong> devíamos fechar a sede.<br />

Cumprimos a determinação do presidente e eu guardei as chaves.<br />

Dias depois, recebi a tarefa de retirar o mimeógrafo e levá-lo para a casa do companheiro<br />

Cristiano Câmara, funcionário do Banco do Brasil. O cara tremeu da cabeça aos pés, mas<br />

no Partidão tarefas não eram para ser discutidas, mas cumpridas. Mais tarde, soubemos<br />

<strong>que</strong> precisávamos devolver o mimeógrafo com urgência, pois o equipamento estava<br />

sendo cobrado pelo comando da 10ª RM. Para nos dar tempo, falaram a ele <strong>que</strong> o<br />

mimeógrafo estava na revisão.<br />

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