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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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- João Goulart deu o golpe. Vai correr sangue. Vamos embora!<br />

A informação contradizia o ar <strong>que</strong> se respirava. As observações de <strong>que</strong> a noite estava<br />

muito mais negra e as ruas excessivamente solitárias fizeram com <strong>que</strong> a minha “ficha<br />

caísse”.<br />

- Jango não deu, sofreu o golpe. - Em casa, confirmei a suspeita.<br />

Eu era participante de uma turma de amigos das redondezas, formada desde a época da<br />

infância e o único intensamente ligado em política. Lia e ouvia tudo sobre o assunto, aí<br />

incluídas as conversas do meu pai com os seus amigos, ocasião em <strong>que</strong> o assunto só<br />

começava por futebol. Logo depois, varavam a noite em política.<br />

Além de mim, apenas dois outros colegas se interessavam, de longe, pelo assunto. Lá uma<br />

vez ou outra, conversávamos a esse respeito. Influenciados pelos pais, eles acreditavam,<br />

sem embasamento ou convicção, nas boas intenções da recém-instalada “revolução”.<br />

Desde o início e com maior intensidade em 1965, tentei alertar-lhes para a truculência<br />

de um movimento <strong>que</strong> “regulamentava”, por meia da força, a violência das suas atitudes.<br />

Contudo, eles se recusavam a acreditar.<br />

Nesse ano, três acontecimentos foram sintomáticos.<br />

Em uma noite, esses dois amigos me acompanharam até colégio. Fazíamos “hora” na<br />

entrada, quando vimos chegar, de braços dados, o diretor e a sua esposa. “Cantando<br />

pneus”, surgiu, no início da rua, um jipe recheado de policiais. Separaram, com brutalidade,<br />

o casal. Algemaram o homem e jogaram-no dentro do jipe. Meus dois amigos não me<br />

encararam, apenas se entreolharam em silêncio. O diretor, homem estimado e reconhecido<br />

na cidade e <strong>que</strong> pertencia a um partido de es<strong>que</strong>rda, foi preso e destituído do cargo, sob<br />

a alegação de ser um perigoso “comunista comedor de criancinha”.<br />

Sob nossas vistas, a caminhonete do DOPS, parou em frente ao sindicato dos metalúrgicos.<br />

Os policiais invadiram o prédio e <strong>que</strong>braram tudo à procura do presidente, <strong>que</strong> lá não se<br />

encontrava. Após alguns minutos, calmamente, surgiu o presidente do sindicato. Foi<br />

preso e algemado como um perigoso “agente vermelho”. Ele não fazia parte do nosso<br />

convívio, mas, sabíamos <strong>que</strong> era um correto e pacato cidadão. Quem sabe, apolítico?<br />

Novamente, os dois não tiveram condições de me encarar.<br />

<strong>68</strong> a geraçao <strong>que</strong> <strong>que</strong>ria mudar o mundo: <strong>relatos</strong> relaToS - o GolPe (1964) 109

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