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68 a Geração que Queria Mudar o Mundo: relatos - DHnet

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Abril, o mês da mentira, mostrou-nos <strong>que</strong> era preciso não prejulgar, nem os ditos<br />

companheiros e amigos, nem a<strong>que</strong>les a <strong>que</strong>m tínhamos como “alienados”, ou mesmo<br />

inimigos.<br />

4.5 Prova do CriMe<br />

106<br />

Milton Coelho da Graça<br />

Uns dois meses antes do golpe de 64, governo Arraes em Pernambuco, um grupo de<br />

trotskistas fazia umas manifestações pró-reforma agrária. Eles acabaram tendo um<br />

“chega pra lá” com um delegado e afirmaram terem sido agredidos. O delegado disse <strong>que</strong><br />

só havia dado uns empurrões.<br />

Publi<strong>que</strong>i uma nota no Jornal do Commercio em defesa deles, dizendo <strong>que</strong> a polícia de<br />

Arraes tinha obrigação de ser mais tolerante, etc.<br />

Maio de 64. Eu estava preso no xadrez (lotado, mais de vinte) do Par<strong>que</strong> de Mecanização<br />

de Casa Forte, comandado pelo coronel Darci Villocq (a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> arrastou Gregório<br />

Bezerra pelas ruas, com uma corda amarrada ao pescoço).<br />

A porta do xadrez tinha apenas uma janelinha e um companheiro veio me dizer <strong>que</strong> um<br />

soldado <strong>que</strong>ria falar comigo. Fui à janelinha e era um garoto de dezoito ou dezenove<br />

anos. Ele me perguntou:<br />

- Você é o Milton jornalista? - Confirmei, ele olhou para um lado e outro, desabotoou<br />

alguns botões do casaco e puxou, rápido, um papel dobrado e sussurrou:<br />

- Amigos mandaram para você. - virou as costas ainda mais rápido e se mandou.<br />

Fui direto para a privada, abri o papel. Era um jornal mimeografado, de uma página só,<br />

mas um título desafiador: O Inconfidente. Era um jornalzinho clandestino trotskista.<br />

Nem li nada, só pensei em me livrar daquilo imediatamente, por<strong>que</strong> havia uns sargentos<br />

na cela e eu desconfiava <strong>que</strong> algum deles pudesse estar ali “plantado”. Só pensei em me<br />

livrar da<strong>que</strong>le papel e fi<strong>que</strong>i até com medo de jogá-lo direto na privada. Achei melhor<br />

baixar as calças, fingir <strong>que</strong> estava defecando e fui rasgando a folha em mil pedacinhos.

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