GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...
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CAPÍTULO XII<br />
Psicologia soviética e sugestão<br />
A psicologia soviética, ao 'menos até o relativo degelo dos anos 60,<br />
repousa sobre dois postulados fundamentais.<br />
Inicialmente, a publicação, em 1929 e 1930, dos Cadernos de Filosofia, de<br />
Lênin, consagrou oficialmente na URSS a teoria chamada "do reflexo": o<br />
espírito é um reflexo da realidade material exterior; o espírito não é<br />
simplesmente uma função da matéria altamente organizada. "Para que um<br />
psicólogo seja verdadeiramente materialista dialético, escreveu em 1948<br />
Chernakov, não basta reconhecer que a psique ou a consciência é um<br />
produto<br />
1. Ao tratar da sugestão, esclarecemos imediatamente que não<br />
abordaremos seu uso coercitivo na URSS, nem no que se refere à<br />
propaganda política, nem quanto aos processos que teriam sido usados, ou<br />
ainda se usariam, em hospitais psiquiátricos, com certos opositores<br />
políticos. Este é um problema - um problema grave — que extrapola o<br />
quadro desse estudo. da função do cérebro; ele deve reconhecer, sem<br />
qualquer reserva, que a psique é um reflexo do mundo exterior"2.<br />
O segundo postulado da psicologia soviética é a afirmação maciça,<br />
peremptória, dogmática, do poder exclusivo da razão. O real é o racional,<br />
já o haviam proclamado Hegel e Marx. E o racional é o reflexo do mundo<br />
exterior nas estruturas da consciência. Segundo a psicologia soviética da<br />
era stalinista e imediatamente pós-stalinista, a atividade mental consciente<br />
é a mais alta função psicológica do homem e a única que o diferencia<br />
fundamentalmente do animal. O inconsciente simplesmente não existe. É<br />
uma criação puramente imaginária do freudismo. É um produto do<br />
idealismo burguês. Um produto "viscoso", observa Chernakov, citado mais<br />
acima, um produto que marca "um recuo em direção ao misticismo".<br />
"Nossos sentimentos e nossas emoções, prossegue o mesmo Chernakov,<br />
não podem ser não-objetivos ou não-conscientes. É impossível sentir ou<br />
experimentar uma coisa desconhecida. É impossível amar ou odiar uma<br />
pessoa desconhecida, por uma razão desconhecida"3. E cita Stálin: "Nosso<br />
"eu" só existe na medida em que existem as condições exteriores4 que<br />
suscitam impressões em nosso "eu"s.<br />
Mas se o dogmatismp oficial dos anos 1930-1960 nega de forma<br />
peremptória a existência do inconsciente, há entretanto, de fato, um<br />
domínio em que a psicologia soviética continua deitando raízes profundas<br />
nesse mesmo inconsciente: é o domínio da hipnose e da sugestão que, já<br />
praticadas na Rússia antes da Revolução de Outubro, não cessaram de sê-lo<br />
depois, e em escala cada vez maior, pela psiquiatria soviética. A Rússia<br />
fora pouco afetada pela vaga da psicanálise que depois de 1900 varreu a<br />
Europa ocidental e contribuiu bastante, como vimos, para atirar