GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...
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"a sugestão hipnótica age como um processo cosmético (entenda-se:<br />
superficial), em compensação, a sugestão psicanalítica age como um<br />
processo cirúrgico"6. E mais adiante, no mesmo texto: "nossa influência<br />
repousa essencialmente sobre a transferência, isto é, sobre a sugestão7... O<br />
trabalho de interpretação que transforma o inconsciente em consciente...<br />
completa-se sob a influência da sugestão"8. "Quanto ao trabalho de luta<br />
contra as resistências, que constitui a tarefa essencial do tratamento<br />
analítico, ele incumbe ao doente, ao qual o médico acorre em auxílio<br />
através do recurso à sugestão"9.<br />
Assim, a sugestão se encontra, pelo expresso reconhecimento de Freud, na<br />
base dos três elementos essenciais da cura psicanalítica: transferência,<br />
tomada de consciência dos conteúdos inconscientes, luta contra as<br />
resistências.<br />
Em setembro de 1918, no V Congresso Psicanalítico, em Budapeste, nova<br />
reviravolta, ao menos parcial, de Freud que declara, para lamentá-la como<br />
um mal necessário: "Considerando a aplicação maciça da nossa<br />
terapêutica, seremos obrigados a misturar ao ouro puro da análise uma<br />
considerável quantidade do chumbo da sugestão direta. Às vezes mesmo<br />
deveremos... fazer uso da influência hipnótica"10<br />
Como explicar, afinal, todas essas imprecisões, essas reviravoltas, essas<br />
contradições no pensamento de Freud a respeito do problema da sugestão?<br />
Para tentar responder a esta pergunta, notemos em primeiro lugar que,<br />
embora acentuasse a importância da afetividade na sugestão e de maneira<br />
geral na psicoterapia, Freud, entretanto, sempre desconfiou do elemento<br />
afetivo nas relações entre o analista e o seu paciente, sobretudo se fossem<br />
de sexos opostos.<br />
"Para o analisado, sentencia Freud, o médico deve permanecer<br />
impenetrável"11. O analista não deve envolver-se pessoalmente. Sua<br />
atitude deve ser voluntariamente distante, fria, impessoal, "objetiva". Este<br />
modo de considerar o paciente, em resumo, como uma espécie de cobaia e<br />
de fazer dele objeto de pesquisa científica suscitou vivos protestos,<br />
particularmente de Maeder. Uma das razões de ser da atitude impessoal do<br />
analista é evitar — e isso era muito importante no espírito de Freud — que<br />
a psicanálise, terapia com forte componente intelectual, fundada sobre a<br />
tomada de consciência dos mecanismos inconscientes, se transformasse<br />
sem o saber numa terapia sugestiva, baseada na afetividade da<br />
transferência e nas "satisfações substitutivas" (como dizia Freud) que a<br />
transferência pudesse dar ao paciente ao provocar uma "diversão<br />
agradável" (igualmente expressão de Freud) e uma perda da energia<br />
necessária ao próprio tratamento analítico.<br />
Que a implicação pessoal do terapeuta apresenta inconvenientes e que ela<br />
pode, às vezes, até fazer com que o analisado corra graves perigos, é<br />
inegável, e é muito grande o número de analistas e psicólogos para os quais