GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...
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anfiteatro de La Salpêtrière, em pouco tempo, se tornou o ponto de<br />
encontro da Paris elegante. Às sextas-feiras, ia-se a La Salpêtrière como se<br />
ia ao teatro. E o diretor do espetáculo era o próprio Charcot. O mestre<br />
apresentava suas pacientes em estado de hipnose em grandes cenas de<br />
histeria, muitas vezes extremamente teatrais. Com seu talento inato de ator,<br />
Charcot executava ao mesmo tempo o seu número pessoal de grande chefe<br />
de clínica onisciente e infalível, meio homem de ciência, meio mágico.<br />
Os assistentes de Charcot, a quem cabia a tarefa de colocar as pacientes em<br />
estado hipnótico, recorriam a processos de extrema brutalidade: luz muito<br />
viva apontada de repente para os olhos das doentes, batidas de gongo ou<br />
assobio estridente lançados bruscamente aos seus ouvidos, vigorosas<br />
bofetadas, com panos molhados, dadas de repente em seus rostos, etc. Era<br />
a isso que se chamava grande hipnotismo, em oposição ao pequeno<br />
hipnotismo praticado fora da clínica de Charcot, segundo os processos<br />
ordinários do braidismo e sobre pacientes mais ou menos normais. Quanto<br />
às sugestões feitas pelo próprio Charcot às internas de La Salpêtrière que<br />
serviam para as demonstrações públicas, não eram somente injunções de<br />
tipo autoritário dadas em tom imperioso. Faltava-lhes também e com muita<br />
freqüência um mínimo de humanidade e de respeito a que os doentes<br />
tinham direito de esperar de quem fazia a experiência. Foram muitos os<br />
que, como Léon Daudet, os Goncourt, Axel Munthe, no Livro de San<br />
Michelle, consideraram de mau-gosto e indecentes as sessões de La<br />
Salpêtrière e também as atitudes pessoais daquele em quem os Gongourt<br />
viam o tipo perfeito do "tirano universitário".<br />
A histeria das doentes de Charcot falseava gravemente as experiências de<br />
hipnose a que eram submetidas. Charcot expôs-se perigosamente à crítica<br />
quando, enganado pela semelhança de suas observações sobre a histeria e a<br />
hipnose, afirmou sem relutância, em 1888, que a histeria, a hipnose e<br />
também a sugestão são fenômenos da mesma natureza: a hipnose é,<br />
segundo ele, apenas uma manifestação puramente patológica, produzida<br />
por excitações físicas ou, em grau menor, por sugestão, e suscetível de ser<br />
observada somente em histéricos cuja sugestibilidade era, sempre segundo<br />
ele, um dos traços mais característicos. A hipnose, segundo Charcot, não<br />
passa de uma crise de histeria, uma histeria provocada artificialmente.<br />
Todo indivíduo hipnotizável ou simplesmente sugestionável revela,<br />
exatamente por isso, uma diátese histérica. A sugestibilidade diz respeito à<br />
patologia.<br />
Quanto à sugestão, como era entendida e praticada em La Salpêtrière, não<br />
passava de uma arma entre outras, è de porte bastante limitado, no arsenal<br />
da luta contra as doenças mentais. Um processo autoritário, violento, cujo<br />
uso só se podia conceber quando aplicado a espíritos enfraquecidos e<br />
associado estreitamente com a hipnose. Uma sugestão terapêutica da qual,