GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...

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06.05.2013 Views

Puysêgur acabava de descobrir ao mesmo tempo o sono provocado e a clarividência. Com o multiplicar das experiências, foi notada a semelhança entre o sonambulismo natural, fenômeno conhecido já de longa data, e esse estado de sono terapêutico e surpreendente ao qual se deu o nome de sonambulismo artificial ou sono magnético. Mas, alguém pode perguntar, não era evidentemente o caso de hipnose? As coisas nâ~o sã"o tão simples assim. Veremos a seguir a distinção, sutil sem dúvida, mas capital, em nossa opinião, que convém estabelecer entre hipnose e sono magnético. Contentemo--nos por enquanto em dizer que Puységur parece ter descoberto e utilizado para fins terapêuticos uma e outro — na verdade quase exclusivamente o segundo, o sono magnético — sem ter tido, ao menos conscientemente, o nítido conhecimento daquilo que os diferencia. Hipnose, sono magnético e também clarividência, na verdade, já eram coisas bastante antigas, praticados em tempos pré-históricos talvez, e com certeza nos templos da Caldéia e do Egito. Na Grécia, oráculos, adivinhos, sibilas e profetisas recorriam ao sono magnético para atingirem certos estados de clarividência. Nos templos gregos, sacerdotes-curandeiros usavam sono artificialmente provocado, em particular nas Asklepéia, os templos do sono, espécie de clínicas, antes de existir esse termo, onde eram tratados especialmente os problemas afetivos e mentais. Entre os celtas, os druídas eram, segundo certas fontes, grandes mestres na arte de provocar e utilizar o sonambulismo artificial. Entre hindus, chineses e também povos ameríndios, a hipnose ou sono magnético, ao que parece, foram valorizados desde tempos imemoriais. Mas essas práticas eram envoltas em mistério e seu domínio reservado só a iniciados, padres, magos e feiticeiros. Quanto ao cristianismo, proibiu rigorosamente o sono provocado artificialmente, vendo nele a intervenção do diabo. Com Puységur, o sono artificial e em seguida a clarividência fariam sua entrada — e uma entrada ainda bem contestada — no mundo da ciência. Não sendo mais só da alçada dos iniciados e daí em diante isentos de quaisquer referências à religião e à magia, o sonambulismo artificial e a clarividência, de certa forma, caíram em domínio público. Em Buzancy mesmo, na praça da aldeia próxima do castelo, Puységur promoveu sessões de cura coletiva e, bem entendido, gratuitas, em torno de um olmeiro que "magnetizara". O grande senhor filantropo, que compreendera a importância da sugestão mútua, desencadeava aquilo que chamava de "crise perfeita" — o sonambulismo artificial — entre os pacientes que tratava; alguns destes, em estado de clarividência, chegavam a diagnosticar com exatidão as doenças dos outros e a prescrever o respectivo

tratamento. Tais sessões de cura ao redor de uma árvore "magne-tizada" podem parecer incompreensíveis aos espíritos modernos, mas o serão menos se se lembrar da importância das práticas e das crenças populares relativas às árvores sagradas e às suas virtudes terapêuticas. Práticas e crenças que remontam à noite dos tempos e que permaneceram vivas, no campo, até o século XIX. O efeito sugestivo da "cura embaixo da árvore" unia-se, no caso, aos efeitos, mais hipotéticos, da "magnetização" da própria árvore. O entusiasmo pelo sono magnético e pela clarividência foi imediatamente extraordinário em todas as camadas sociais da França e da Europa em geral. Em 1785, Puységur fundava, em Estrasburgo, a Sociedade Harmônica dos Amigos Unidos, que tomou a iniciativa de formar magnetizadores e centros de tratamento gratuito para os doentes. Em 1789, a Sociedade Harmônica já contava com mais de duzentos membros, entre os quais figurava a elite da nobreza alsaciana, tomada de verdadeira paixão pelo magnetismo animal. Essa sociedade expandiu-se por Mulhouse, Colmar, Nancy, Metz, Besançon e muitas outras cidades, nã~o tardando a espalhar suas ramificações fora da França. Marqueses magnetizadores e viscondes clarividentes asseguraram rápida difusão às descobertas de Puységur em toda a Europa. Em 1786, e com a ajuda da Sociedade Harmônica de Estrasburgo, o margrave de Bade introduzia oficialmente o magnetismo animal em seus estados. O marquês de La Fayette, grande admirador de Mesmer, encarregou-se, no mesmo ano, de ser o embaixador do "mesmerismo" junto de George Washington, enquanto numerosas sociedades análogas à de Estrasburgo eram fundadas no continente norteamericano, notadamente em Nova Orléans, então francesa. Refreada durante algum tempo pela Revolução Francesa, a difusão do magnetismo animal foi reiniciada com crescente sucesso desde o começo do século XIX, atingindo logo a Europa Central e Oriental, a Rússia, e também as cidades dos Estados Unidos da América cada vez mais numerosas. Por ocasião da morte de Puységur em 1825, o magnetismo animal e com ele o sonambulismo artificial eram conhecidos e praticados em quase toda a Europa e América do Norte. Se o mundo oficial da ciência e da medicina continuava sendo-lhes irredutivelmente hostil, na França e na Inglaterra, o mesmo não acontecia na Alemanha onde, em 1812, o governo prussiano nomeara uma comissão de inquérito sobre o magnetismo animal. Em 1816, a comissão publicou seu relatório, favorável ao magnetismo e, em 1817, as Universidades de Berlim e de Bonn criavam cátedras de magnetismo animal. Diferentemente de Mesmer, Puységur não hesitou em proclamar abertamente que as curas que operava não tinham por agente só os fluidos magnéticos. A vontade do magnetizador, sua convicção pessoal de estar

tratamento. Tais sessões de cura ao redor de uma árvore "magne-tizada"<br />

podem parecer incompreensíveis aos espíritos modernos, mas o serão<br />

menos se se lembrar da importância das práticas e das crenças populares<br />

relativas às árvores sagradas e às suas virtudes terapêuticas. Práticas e<br />

crenças que remontam à noite dos tempos e que permaneceram vivas, no<br />

campo, até o século XIX. O efeito sugestivo da "cura embaixo da árvore"<br />

unia-se, no caso, aos efeitos, mais hipotéticos, da "magnetização" da<br />

própria árvore.<br />

O entusiasmo pelo sono magnético e pela clarividência foi imediatamente<br />

extraordinário em todas as camadas sociais da França e da Europa em<br />

geral. Em 1785, Puységur fundava, em Estrasburgo, a Sociedade<br />

Harmônica dos Amigos Unidos, que tomou a iniciativa de formar<br />

magnetizadores e centros de tratamento gratuito para os doentes. Em 1789,<br />

a Sociedade Harmônica já contava com mais de duzentos membros, entre<br />

os quais figurava a elite da nobreza alsaciana, tomada de verdadeira paixão<br />

pelo magnetismo animal. Essa sociedade expandiu-se por Mulhouse,<br />

Colmar, Nancy, Metz, Besançon e muitas outras cidades, nã~o tardando a<br />

espalhar suas ramificações fora da França. Marqueses magnetizadores e<br />

viscondes clarividentes asseguraram rápida difusão às descobertas de<br />

Puységur em toda a Europa. Em 1786, e com a ajuda da Sociedade<br />

Harmônica de Estrasburgo, o margrave de Bade introduzia oficialmente o<br />

magnetismo animal em seus estados. O marquês de La Fayette, grande<br />

admirador de Mesmer, encarregou-se, no mesmo ano, de ser o embaixador<br />

do "mesmerismo" junto de George Washington, enquanto numerosas<br />

sociedades análogas à de Estrasburgo eram fundadas no continente norteamericano,<br />

notadamente em Nova Orléans, então francesa.<br />

Refreada durante algum tempo pela Revolução Francesa, a difusão do<br />

magnetismo animal foi reiniciada com crescente sucesso desde o começo<br />

do século XIX, atingindo logo a Europa Central e Oriental, a Rússia, e<br />

também as cidades dos Estados Unidos da América cada vez mais<br />

numerosas.<br />

Por ocasião da morte de Puységur em 1825, o magnetismo animal e com<br />

ele o sonambulismo artificial eram conhecidos e praticados em quase toda<br />

a Europa e América do Norte. Se o mundo oficial da ciência e da medicina<br />

continuava sendo-lhes irredutivelmente hostil, na França e na Inglaterra, o<br />

mesmo não acontecia na Alemanha onde, em 1812, o governo prussiano<br />

nomeara uma comissão de inquérito sobre o magnetismo animal. Em 1816,<br />

a comissão publicou seu relatório, favorável ao magnetismo e, em 1817, as<br />

Universidades de Berlim e de Bonn criavam cátedras de magnetismo<br />

animal.<br />

Diferentemente de Mesmer, Puységur não hesitou em proclamar<br />

abertamente que as curas que operava não tinham por agente só os fluidos<br />

magnéticos. A vontade do magnetizador, sua convicção pessoal de estar

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