GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...

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06.05.2013 Views

circunstâncias semelhantes e por razões da mesma ordem que o fizeram fugir de Viena oito anos antes. Depois de sua saída de Paris, parece que o inventor do magnetismo animal levou através da Europa uma vida errante e obscura, da qual bem pouco se sabe. Alguns anos antes de morrer, Mesmer se estabeleceu nas margens do lago Constança, onde nascera. E foi aí que morreu em 1815, totalmente esquecido, ao termo de uma velhice ao que parece calma e serena, que convinha ao sábio que Mesmer talvez não fora na idade madura, mas em que parece ter-se transformado ao fim de sua existência. Do ponto de vista da sugestão, que aqui nos interessa mais particularmente, acrescentaremos três observações ao que foi dito sobre o magnetismo animal. Para começar, uma observação de pormenor mas muito importante: o papel apreciável da música na terapia magneto-sugestiva de Mesmer. As sessões coletivas de magnetismo animal em geral se realizavam ao som do cravo, da harpa, do órgão, às vezes da gaita, instrumento recentemente inventado e tocado pelo próprio Mesmer, cujos sons eram "próprios para abalar os nervos", dizem as informações da época. Segunda observaçá"o: como digno filho do século das Luzes, Mesmer atribuía a mais alta importância ao caráter científico da sua terapia. Ele quis separá-la de qualquer referência à religião tradicional e ao sobrenatural. Isto foi uma inovação de extrema importância, particularmente nos dois domínios em que Mesmer obteve muitas de suas curas, que hoje chamaríamos de psicossomático e o das doenças chamadas "dos nervos", isto é, das neuroses. Durante os anos vienenses da sua prática médica, uma controvérsia ruidosa da qual Mesmer acabou saindo vencedor colocou-o em oposição ao seu compatriota padre Gassner, exorcistacurandeiro muito famoso, que desancava diabos de todas as espécies. Onde Gassner pretendia curar seus doentes desenfeitiçando-os do Maligno, Mesmer aplicava uma terapia que se proclamava científica, embora na prática os dois métodos de agir, ambos fundados nas crises provocadas e salutares, não deixassem de apresentar estreitas analogias. Mas, afirmava Mesmer, o fato é que Gassner, mesmo sem se dar conta, na realidade também recorria ao magnetismo animal. E também à sugestão terapêutica, poderia ter acrescentado Mesmer. As preocupações científicas que animavam a este último justificam inteiramente EHenberger quando faz remontar ao inventor do magnetismo animal o início da psicoterapia dinâmica moderna. As crises provocadas acima mencionadas nos levam à terceira observação, também muito importante. As crises provocadas são elemento capital da terapia mesme-riana. A significação e a importância de tais crises parecem ter escapado à quase totalidade dos biógrafos e comentadores de

Mesmer, que em geral só se ativeram aos seus aspectos pitorescos ou impressionantes. Mesmer descobriu — ou redescobriu, porque na verdade a coisa já era muito antiga e remonta a Hipócrates — e proclamou que o caminho da cura tanto física como nervosa — entendamos aqui: psicológica — passa obrigatoriamente por uma crise, ou antes, por uma série de crises salutares. Primeiro é preciso purgar o mal, dizia Mesmer, para substituí-lo pelo bem e a saúde. Nenhuma doença, física ou moral, pode sarar sem a crise curativa. E por crise, Mesmer entendia todo fenômeno patológico agudo ligado a uma certa diátese individual, e de maneira alguma apenas as crises convulsivas a que se apegaram quase exclusivamente os seus detratores já há dois séculos, acusando-o de nada ter feito além de "fabricar histeria", como mais tarde diria Bernheim. É verdade que as "crises" por que passavam as distintas senhoras da sociedade parisiense reunidas em torno do balde mesmeriano, em parte, tinham esse caráter. Neurose de essência coletiva, "ter seus vapores", porque é disso que se tratava, era na época a doença da moda entre as mulheres da sociedade. Com toda evidência, havia nessas manifestações, freqüentemente desordenadas, muito de folclore, muito de teatro. Mas a teoria das crises segundo Mesmer na verdade era uma coisa muito mais séria. "A purgação do mal durante a crise" se traduz muito normalmente, sustentava Mesmer, por um agravamento momentâneo e aparente da doença. Esse agravamento seria apenas uma catarse, um esforço benéfico da natureza para restabelecer — por meio da desintegração e da eliminação dos "humores viscosos" se for um mal físico, ou das "obstruções do espírito" se for uma perturbação mental — a saúde comprometida pela deficiência da energia nervosa, pela insuficiência ou desequilíbrio do fluido vital. A esta deficiência Mesmer chamava de enervação, uma palavra e uma noção que mais de um século depois dele, como já vimos, seriam retomadas por Tilden e pela escola higienista americana e também, muito recentemente, pela escola soviética de Nikolaiev. "Só existe uma doença, um remédio, uma cura", proclamava Mesmer tomando posição vigorosamente contra a medicina sintomática do seu tempo (medicina que prevalece ainda quase exclusivamente, ao menos no mundo ocidental). Como escreveu Mesmer5, "substantivaram-se (os sintomas), fizeram deles outras tantas doenças e caracterizou-se cada uma delas por um nome. Estudam-se, analisam-se... os sintomas como coisas... E eis a fonte dos erros que desolam a humanidade depois de tantos séculos". No tratamento das doenças é a energia nervosa que convém restaurar e aumentar, concluía Mesmer. Tal era, de fato, o objetivo que ele atribuía ao magnetismo animal: uma transfusão de energia vital, de força nervosa, do mais dotado ao menos provido.

Mesmer, que em geral só se ativeram aos seus aspectos pitorescos ou<br />

impressionantes.<br />

Mesmer descobriu — ou redescobriu, porque na verdade a coisa já era<br />

muito antiga e remonta a Hipócrates — e proclamou que o caminho da<br />

cura tanto física como nervosa — entendamos aqui: psicológica — passa<br />

obrigatoriamente por uma crise, ou antes, por uma série de crises salutares.<br />

Primeiro é preciso purgar o mal, dizia Mesmer, para substituí-lo pelo bem<br />

e a saúde. Nenhuma doença, física ou moral, pode sarar sem a crise<br />

curativa. E por crise, Mesmer entendia todo fenômeno patológico agudo<br />

ligado a uma certa diátese individual, e de maneira alguma apenas as crises<br />

convulsivas a que se apegaram quase exclusivamente os seus detratores já<br />

há dois séculos, acusando-o de nada ter feito além de "fabricar histeria",<br />

como mais tarde diria Bernheim. É verdade que as "crises" por que<br />

passavam as distintas senhoras da sociedade parisiense reunidas em torno<br />

do balde mesmeriano, em parte, tinham esse caráter. Neurose de essência<br />

coletiva, "ter seus vapores", porque é disso que se tratava, era na época a<br />

doença da moda entre as mulheres da sociedade. Com toda evidência,<br />

havia nessas manifestações, freqüentemente desordenadas, muito de<br />

folclore, muito de teatro. Mas a teoria das crises segundo Mesmer na<br />

verdade era uma coisa muito mais séria. "A purgação do mal durante a<br />

crise" se traduz muito normalmente, sustentava Mesmer, por um<br />

agravamento momentâneo e aparente da doença. Esse agravamento seria<br />

apenas uma catarse, um esforço benéfico da natureza para restabelecer —<br />

por meio da desintegração e da eliminação dos "humores viscosos" se for<br />

um mal físico, ou das "obstruções do espírito" se for uma perturbação<br />

mental — a saúde comprometida pela deficiência da energia nervosa, pela<br />

insuficiência ou desequilíbrio do fluido vital.<br />

A esta deficiência Mesmer chamava de enervação, uma palavra e uma<br />

noção que mais de um século depois dele, como já vimos, seriam<br />

retomadas por Tilden e pela escola higienista americana e também, muito<br />

recentemente, pela escola soviética de Nikolaiev. "Só existe uma doença,<br />

um remédio, uma cura", proclamava Mesmer tomando posição<br />

vigorosamente contra a medicina sintomática do seu tempo (medicina que<br />

prevalece ainda quase exclusivamente, ao menos no mundo ocidental).<br />

Como escreveu Mesmer5, "substantivaram-se (os sintomas), fizeram deles<br />

outras tantas doenças e caracterizou-se cada uma delas por um nome.<br />

Estudam-se, analisam-se... os sintomas como coisas... E eis a fonte dos<br />

erros que desolam a humanidade depois de tantos séculos". No tratamento<br />

das doenças é a energia nervosa que convém restaurar e aumentar, concluía<br />

Mesmer. Tal era, de fato, o objetivo que ele atribuía ao magnetismo<br />

animal: uma transfusão de energia vital, de força nervosa, do mais dotado<br />

ao menos provido.

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