GNOSE ALEM DA RAZÃO O FENÔMENO DA SUGESTÃO JEAN ...

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crença, sentiu uma tendência, sem perceber que idéia, crença ou tendência tiveram, na realidade, origem numa ação exterior direta ou numa vontade estranha". O menos que se pode dizer do Petit Dictionnaire de Ia Psychologie de Sillamy (1973) é que só quer encarar um aspecto da sugestão: "O sujeito sofre passivamente a influência de uma vontade estranha, aceita sem controle, como se momentaneamente sua personalidade desaparecesse perante a personalidade de outrem... A imaturidade afetiva, a emotividade e a deficiência intelectual favorecem a sugestionabilidade". Aqui as coisas são claras: a sugestão é do domínio da patologia. O Vocabulaire Technique et Critique de Ia Philosophie de Lalande (10? edição, 1968) consagra à definição de sugestão um estudo bem mais aprofundado. Ele distingue três sentidos da palavra: dois sentidos "usuais" e um "técnico". No primeiro dos dois sentidos ditos "usuais", a sugestão é "uma idéia ou projeto de ação que não nasce espontaneamente do espírito, mas que se propõe a ele de fora, como uma percepção, um exemplo, um conselho". No segundo sentido "usual", a sugestão é "uma ação pela qual uma idéia "sugere", (isto é, chama, faz nascer) uma outra". Trata-se, no caso, de uma evocação por associação de idéias. Finalmente, no sentido dito "técnico" (entender aqui: psicológico), "há sugestão quando um ato é praticado ou uma crença é aceita sob a influência de uma idéia, sem que o sujeito tenha consciência dessa influência". Que esta última definição seja insuficiente, entre outras razões porque é muito restritiva, Lalande, o autor do artigo, o reconhece muito francamente quando acrescenta: "Não encontrei definição que me parecesse satisfatória e que fosse comumente admitida". Lalande, aliás, mostrou-se finalmente tão pouco satisfeito com a sua definição que a relegou a um pé de página, apresentando somente a seguinte menção a respeito de sugestão, no sentido psicológico: "Não foi possível fazer aceitar uma definição geral a este respeito" (alusão a uma sessão do comitê de redação do Vocabulaire dedicada, sem resultado, à definição de sugestão). De tudo isso, na verdade não se é tentado a concluir por uma dificuldade quase insuperável para definir sugestão? Citemos ainda brevemente, para terminar, alguns dicionários de psicologia anglo-saxãos, que acabarão por nos convencer da extrema dificuldade que os próprios psicólogos parecem sentir para essa definição. Para o Dictionary of Psychology de Drever (Edimburgo, 1962), "sugestão é um processo que consiste em aceitar sem discernimento e a colocar em

prática efetivamente idéias emanadas de outrem ou, em certas ocasiões, de si mesmo". O Comprehensive Dictionary o f Psychological and Psychoana-lytical Terms de English and English (Nova York, 1964) vê na sugestão "um processo pelo qual, sem usar argumentos lógicos, nem ordens, nem coerção, um indivíduo leva outro a agir de uma certa maneira ou a aceitar uma crença, uma opinião ou um plano de ação. A sugestão, muitas vezes, tem um caráter insidioso e se empenha em anular o senso crítico daquele sobre o qual ela é exercida". "A sugestão, diz Eidelberg, na Encyclopaedia of Psychoanalysis (Nova York, 1968), denota a capacidade de certos indivíduos de levarem outros a renunciar a suas percepções e convicções pessoais para aceitar sem nenhum exame crítico aquelas que lhes são propostas". Definição imprecisa e um tanto ambígua do Dictionary of Psychology, de Chaplin (Nova York, 1968): "A sugestão é um processo pelo qual um indivíduo incita outro a agir como ele pretende ou a adotar os seus próprios pontos de vista, obtendo resultado sem fazer apelo à força nem a nenhuma forma de coerção". Está certo, mas, como é obtido esse resultado? O autor da definição esquece de esclarecer. Na Encyclopaedia of Psychology, de Herder (Nova York, 1972), "a sugestão é um processo pelo qual uma ou várias pessoas levam outras a modificarem, sem exame crítico, seus julgamentos, opiniões, atitudes e comportamentos." Enfim, na grande International Encyclopaedia of the Social Sciences, de 17 volumes (Nova York, 1968), o psicólogo sueco Stukát parece renunciar a definir a sugestão. Inspirando-se na teoria da informação, ele se interessa antes pelas "expectações" e pelas motivações que permitem a um indivíduo selecionar, organizar e transformar os estímulos informativos que lhe chegam do meio ambiente. O que resulta, enfim, desse desfile de definições da sugestão e palavras da mesma família, em enciclopédias e dicionários franceses e estrangeiros, especializados ou não? Em primeiro lugar, verifica-se que, pela sobrevivência de suas origens medievais, a sugestão e seus derivados conservaram em muitos diconarios modernos uma significação se não maléfica, ao menos pejorativa, ligada à idéia de manipulação insidiosa exercida sobre outrem à sua revelia. Em segundo lugar, verifica-se que, com poucas exceções, as obras especializadas de psicologia dedicam pouco espaço à sugestão, quando não a ignoram pura e simplesmente. De forma mais nítida, evidencia-se que a sugestão conheceu, em fins do século passado, uma certa voga sucedida pelo desinteresse expresso, durante mais de meio século, no quase silêncio dos dicionários; esse quase silêncio é substituído pela retomada do interesse bastante evidente, de uns quinze anos para cá.

prática efetivamente idéias emanadas de outrem ou, em certas ocasiões, de<br />

si mesmo".<br />

O Comprehensive Dictionary o f Psychological and Psychoana-lytical<br />

Terms de English and English (Nova York, 1964) vê na sugestão "um<br />

processo pelo qual, sem usar argumentos lógicos, nem ordens, nem<br />

coerção, um indivíduo leva outro a agir de uma certa maneira ou a aceitar<br />

uma crença, uma opinião ou um plano de ação. A sugestão, muitas vezes,<br />

tem um caráter insidioso e se empenha em anular o senso crítico daquele<br />

sobre o qual ela é exercida".<br />

"A sugestão, diz Eidelberg, na Encyclopaedia of Psychoanalysis (Nova<br />

York, 1968), denota a capacidade de certos indivíduos de levarem outros a<br />

renunciar a suas percepções e convicções pessoais para aceitar sem<br />

nenhum exame crítico aquelas que lhes são propostas".<br />

Definição imprecisa e um tanto ambígua do Dictionary of Psychology, de<br />

Chaplin (Nova York, 1968): "A sugestão é um processo pelo qual um<br />

indivíduo incita outro a agir como ele pretende ou a adotar os seus próprios<br />

pontos de vista, obtendo resultado sem fazer apelo à força nem a nenhuma<br />

forma de coerção". Está certo, mas, como é obtido esse resultado? O autor<br />

da definição esquece de esclarecer.<br />

Na Encyclopaedia of Psychology, de Herder (Nova York, 1972), "a<br />

sugestão é um processo pelo qual uma ou várias pessoas levam outras a<br />

modificarem, sem exame crítico, seus julgamentos, opiniões, atitudes e<br />

comportamentos."<br />

Enfim, na grande International Encyclopaedia of the Social Sciences, de 17<br />

volumes (Nova York, 1968), o psicólogo sueco Stukát parece renunciar a<br />

definir a sugestão. Inspirando-se na teoria da informação, ele se interessa<br />

antes pelas "expectações" e pelas motivações que permitem a um indivíduo<br />

selecionar, organizar e transformar os estímulos informativos que lhe<br />

chegam do meio ambiente.<br />

O que resulta, enfim, desse desfile de definições da sugestão e palavras da<br />

mesma família, em enciclopédias e dicionários franceses e estrangeiros,<br />

especializados ou não?<br />

Em primeiro lugar, verifica-se que, pela sobrevivência de suas origens<br />

medievais, a sugestão e seus derivados conservaram em muitos diconarios<br />

modernos uma significação se não maléfica, ao menos pejorativa, ligada à<br />

idéia de manipulação insidiosa exercida sobre outrem à sua revelia.<br />

Em segundo lugar, verifica-se que, com poucas exceções, as obras<br />

especializadas de psicologia dedicam pouco espaço à sugestão, quando não<br />

a ignoram pura e simplesmente. De forma mais nítida, evidencia-se que a<br />

sugestão conheceu, em fins do século passado, uma certa voga sucedida<br />

pelo desinteresse expresso, durante mais de meio século, no quase silêncio<br />

dos dicionários; esse quase silêncio é substituído pela retomada do<br />

interesse bastante evidente, de uns quinze anos para cá.

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