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datas limites para submeter comunicações científicas ... - SPORL

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Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial VOL. 49 . Nº 4 . DEZEMBRO 2011<br />

• SURDEZ CONGÉNITA NEUROSSENSORIAL – ALGORITMO<br />

• TC NOS CARCINOMAS DA LARINGE/HIPOFARINGE<br />

• TESTES DA FALA EM CRIANÇAS PORTUGUESAS<br />

• INCISÃO NO ACESSO TRANS-SEPTO-ESFENOIDAL DA HIPÓFISE<br />

• CIRURGIA LASER CO2 NOS TUMORES MALIGNOS GLÓTICOS<br />

• RADIOFREQUÊNCIA DE CORNETOS<br />

• NEOPLASIAS DAS GLANDULAS SALIVARES<br />

• COMPLICAÇÕES DA CIRURGIA TIROIDEIA<br />

• SURDEZ NEURO-SENSORIAL SÚBITA IDIOPÁTICA<br />

• LARINGECTOMIA PARCIAL SUPRACRICOIDEIA RECONSTRUTIVA<br />

• ESTENOSE CONGÉNITA DO ORIFÍCIO PIRIFORME<br />

• SÍNDROME DA DEISCÊNCIA DO CANAL SEMICIRCULAR SUPERIOR<br />

• SARCOMA DE KAPOSI DA LARINGE<br />

• ENDOSCOPIA NASAL NAS LESÕES DA BASE DO CRÂNIO<br />

• FÍSTULAS ESPONTÂNEAS DE LCR DO OUVIDO MÉDIO.<br />

• ENXAQUECA VESTIBULAR


Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial VOL. 49 . Nº 4 . DEZEMBRO 2011<br />

DIRECÇÃO<br />

EXECUTIVE BOARD<br />

DIRECTOR<br />

DIRECTOR<br />

António Sousa Vieira<br />

DIRECTOR ADJUNTO / EDITOR PRINCIPAL<br />

ASSISTANT DIRECTOR / EDITOR-IN-CHIEF<br />

Jorge Spratley<br />

EDITOR ADJUNTO<br />

ASSISTANT EDITOR<br />

Carla Pinto Moura<br />

CONSELHO CIENTÍFICO<br />

SCIENTIFIC BOARD<br />

Agostinho Pereira da Silva<br />

António Diogo Paiva<br />

António Marques Pereira<br />

António Sousa Vieira<br />

Carlos Carvalho<br />

Carlos Pinheiro<br />

Carlos Martins<br />

Carlos Ribeiro<br />

Cecília Almeida e Sousa<br />

Eurico Monteiro<br />

Ezequiel Barros<br />

João Marta Pimentel<br />

José Madeira da Silva<br />

Luís Antunes<br />

Luísa Monteiro<br />

Margarida Santos<br />

Mário Andrea<br />

Miguel Magalhães<br />

Rodrigues e Rodrigues<br />

Vítor Gabão Veiga<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

EDITORIAL BOARD<br />

Carla André<br />

Delfim Duarte<br />

Eduardo Cardoso<br />

João Subtil<br />

José Gameiro dos Santos<br />

Manuel Lima Rodrigues<br />

Paulo Vera-Cruz<br />

Pedro Marques<br />

FICHA TÉCNICA<br />

PUBLISHER’S INFORMATION<br />

PROPRIETÁRIO / PROPERTY<br />

Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia<br />

e Cirurgia Cérvico-Facial<br />

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL<br />

QUARTERLY PUBLICATION<br />

Nº avulso / Unit price:<br />

Portugal: 22,00€<br />

Estrangeiro / Abroad: US$ 25<br />

Assinatura anual / Annual subscripton:<br />

Portugal: 66,00€<br />

Estrangeiro / Abroad: US$ 75<br />

Depósito Legal nº 30611/89<br />

ISSN: 0873-3864<br />

MAQUETIZAÇÃO & IMPRESSÃO<br />

DESIGN & PRINTING<br />

MODOS DE VER, Design e Comunicação, Lda<br />

Praceta das Flores, Nº 6 A/B<br />

Quinta Grande - Alfragide<br />

2610-074 Amadora<br />

modosdever@tecnirede.pt<br />

www.modosdever.pt<br />

DIRECÇÃO<br />

BOARD<br />

PRESIDENTE<br />

PRESIDENT<br />

António Sousa Vieira<br />

VICE-PRESIDENTES<br />

VICE-PRESIDENTS<br />

Carlos Ribeiro<br />

Ezequiel Barros<br />

SECRETÁRIO GERAL<br />

GENERAL SECRETARY<br />

Jorge Spratley<br />

TESOUREIRO<br />

TREASURER<br />

Carlos Pinheiro<br />

VOGAIS<br />

MEMBERS<br />

António Marques Pereira<br />

Carlos Carvalho<br />

José Gameiro dos Santos<br />

Luísa Monteiro<br />

SEDE<br />

HEAD-OFFICE<br />

ORDEM DOS MÉDICOS<br />

Av. Almirante Gago Coutinho, 151<br />

1700 - 029 Lisboa<br />

Portugal<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 205


ÍNDICE INDEX<br />

209 EDITORIAL<br />

247<br />

211<br />

217<br />

223<br />

229<br />

235<br />

243<br />

ARTIGOS<br />

Surdez congénita neurossensorial – Proposta<br />

<strong>para</strong> algoritmo de investigação<br />

Congenital sensorineural hearing loss – Proposal<br />

for an investigation algorithm<br />

Rui Cerejeira, Natércia Silvestre, Clara Silva, Joana Ribeiro,<br />

Paulo Gonçalves, António Paiva<br />

Papel da TC nas decisões terapêuticas nos<br />

carcinomas da laringe/hipofaringe<br />

Role of CT in treatment decisions in laryngeal/<br />

hypopharyngeal carcinomas<br />

Andreia Ribeiro, Gustavo Lopes, Marta Pereira, Sara Cruz,<br />

Abílio Leonardo, Manuel Rodrigues e Rodrigues<br />

Construção e validação dos testes fala com ruído<br />

(FR) e dicótico de dígitos (DD) <strong>para</strong> aplicação em<br />

crianças portuguesas<br />

Construction and validation of speech tests<br />

with noise (SN) and dichotic with digits (DD) for<br />

application in portuguese children<br />

Cristiane L. Nunes, L. Desgualdo, G. S. Carvalho<br />

Incisão sublabial versus columelar no acesso<br />

trans-septal <strong>para</strong> cirurgia trans-esfenoidal<br />

microscópica da hipófise. Estudo retrospectivo<br />

Sublabial versus columellar incision in<br />

trans-septal transsphenoidal approach for<br />

microscopic pituitary surgery. Retrospective<br />

study<br />

Joana Guimarães, Joana Santos, Daniel Miranda,<br />

Filipa Carvalho Moreira, Nuno Marçal, Gabriel Pereira,<br />

Olinda Marques, Rui Almeida, Sérgio Vilarinho, Altino Frias,<br />

Carlos Alegria, Rui Pratas<br />

Cirurgia laser CO 2 no tratamento de tumores<br />

malignos glóticos<br />

CO 2 laser surgery for the treatment of glottic<br />

cancer<br />

Alexandra Jerónimo, Pedro Cavilhas, Luís Oliveira,<br />

Pedro Montalvão, Miguel Magalhães<br />

Radiofrequência de cornetos. A nossa<br />

experiência<br />

Radiofrequency of turbinates. Our experience<br />

Ana Sofia Araújo Da Costa, Olalla Castro Macía, Miriam<br />

Ileana Hamdan Zavarce, Jose Manuel Meléndez García,<br />

Dionisio Alonso Párraga, Gumersindo Espiña Campos<br />

206 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

255<br />

261<br />

267<br />

273<br />

281<br />

Neoplasias das glandulas salivares – experiência<br />

do IPOC FG - Últimos 10 anos<br />

Salivary gland neoplasms – IPO FG coimbra<br />

experience - Last 10 years<br />

Ana Margarida Simões, Francisco Branquinho, Azenha<br />

Cardoso, António Neves, Carlos Cruz, Henriques Pereira,<br />

João Ganho, Arnaldo Guimarães<br />

Complicaciones de la cirugía tiroidea:<br />

Control y tratamiento<br />

Complications of thyroid surgery:<br />

Control and treatment<br />

Solís Vázquez R, Ambel Albarrán A, Pereda Tamayo JM,<br />

Trinidad Ruiz G, Torrico Román P, Pantoja Hernández CG,<br />

Rejas Ugena E<br />

Surdez neuro-sensorial súbita idiopática -<br />

Resultados após 3 anos de implementação de<br />

protocolo terapêutico<br />

Idiopathic sudden sensorineural hearing loss<br />

- Results after 3 years of therapeutic protocol<br />

implementation<br />

João Diogo Martins, Vítor Certal, Tiago Santos, Hélder Silva,<br />

Hugo Amorim, Carlos Carvalho<br />

Laringectomia parcial supracricoideia<br />

reconstrutiva com C.H.E.P. – Experiência do<br />

serviço nos últimos 10 anos<br />

Supracricoid partial reconstructive<br />

laryngectomy with C.H.E.P. - Department<br />

experience for the last 10 years<br />

Joana Filipe, Helena Ribeiro, André Amaral, Rui Fino,<br />

Hugo Estibeiro, Pedro Montalvão, Miguel Magalhães<br />

Obstrução nasal no recém-nascido: Dois casos<br />

de estenose congénita do orifício piriforme<br />

Nasal obstruction in neonates: Two cases<br />

report of congenital nasal pyriform aperture<br />

stenosis<br />

Alexandra Jerónimo, Ana Casas Novas, Inês Moreira,<br />

Carla Conceição, Inês Cunha, Luísa Monteiro<br />

Síndrome da deiscência do canal semicircular<br />

superior: A propósito de dois casos clínicos<br />

Superior semicircular canal dehiscence<br />

syndrome: Two cases report<br />

Joana Guimarães, Daniel Miranda, Filipa Carvalho Moreira,<br />

Nuno Marçal, Gabriel Pereira, Sérgio Vilarinho, Matos<br />

Gonçalves, Rui Pratas


289<br />

293<br />

299<br />

305<br />

312<br />

313<br />

315<br />

316<br />

Sarcoma de kaposi da laringe - Caso clínico<br />

Laryngeal kaposi’s sarcoma - Case report<br />

Clara Silva, Carla Gapo, Natércia Silvestre, Jorge Miguéis,<br />

Ana Margarida Amorim, Sofia Caetano, Isabel Ramos,<br />

Maria José Julião, António Paiva<br />

A técnica endoscópica endonasal no<br />

diagnóstico de lesões da base do crânio:<br />

A propósito de um cordoma do clivus<br />

Intranasal endoscopy diagnosing skull base<br />

pathology: A case of clivus chordoma<br />

Cláudia Reis, José Gameiro dos Santos, Rosário Figueirinhas,<br />

Telma Feliciano, Cristina Ramos, Melo Pires,<br />

Cecília Almeida e Sousa<br />

Fístulas espontâneas de líquido cefalorraquidiano<br />

do ouvido médio - A propósito de um caso<br />

clínico<br />

Spontaneous cerebrospinal fluid otorrhea -<br />

Case report and literature revision<br />

Eurico Costa, Ana Guimarães, Filipe Freire, V. Gabão Veiga<br />

Enxaqueca Vestibular<br />

Migrainous Vertigo<br />

João Martins, Vítor Certal, Tiago Santos, Hugo Amorim,<br />

Carlos Carvalho<br />

VOTAÇÃO PARA MELHOR TRABALHO<br />

COLÉGIO DA ESPECIALIDADE<br />

AGENDA<br />

NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

Imagem de capa<br />

Sarcoma de Kaposi da laringe<br />

Laryngeal Kaposi’s sarcoma<br />

Clara Silva, Carla Gapo, Natércia Silvestre, Jorge Miguéis, Ana Margarida Amorim,<br />

Sofia Caetano, Isabel Ramos, Maria José Julião e António Paiva<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 207


208<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


DR. EZEQUIEL BARROS<br />

Vice-Presidente da <strong>SPORL</strong>-CCC<br />

Caros Colegas<br />

O ano de 2011 chegou ao fim e 2012 está a começar,<br />

repleto de incertezas e desafios. Certo é que, a prática<br />

da Medicina como a conhecemos está a sofrer uma<br />

alteração profunda, que afectará a nossa atividade diária.<br />

Como iremos responder e adaptar os novos conceitos<br />

de uma medicina sustentada economicamente na<br />

realidade diária, é uma incógnita que o futuro próximo se<br />

encarregará de responder, mas que me deixa apreensivo.<br />

Permitam-me compartilhar convosco um facto, expresso<br />

no documento da ACSS sobre as “Actuais e Futuras<br />

Necessidades Previsionais de Médicos (SNS)” onde se<br />

lê que estão previstas, desde o ano de 2011 até ao ano<br />

de 2030, a entrada de 497 médicos <strong>para</strong> a especialidade<br />

contra a saída por aposentação de 189. Com estes valores<br />

em 2030 vai haver o dobro de médicos especialistas em<br />

ORL. Várias leituras se podem fazer deste facto, resta-nos<br />

a esperança de que, se a matemática é uma ciência exacta<br />

a politica não o é.<br />

Realizou-se no início do mês de Dezembro o 1º Congresso<br />

da Academia Ibero Americana de Otorrinolaringologia<br />

na Riviera Maia, México. Noventa e seis congressistas e<br />

oitenta e um palestrantes, provindos dos vários países<br />

da América Latina e da Península Ibérica, reuniramse<br />

<strong>para</strong> debater assuntos da actualidade da ORL. Um<br />

congresso idealizado <strong>para</strong> ser o palco no qual jovens<br />

especialistas e internos pudessem mostrar os seus<br />

trabalhos, na realidade teve uma fraca representação<br />

destes, talvez fruto da actual conjectura económica<br />

mundial. A Assembleia-geral da AIAORL, elegeu Portugal<br />

como organizador do 2º Congresso, que decorrerá na<br />

cidade do Porto em 2013 conjuntamente com o nosso<br />

Congresso Nacional. Será certamente um evento que<br />

prestigiará a ORL Portuguesa e <strong>para</strong> o qual contamos<br />

com a colaboração de todos. Uma nota, por razões de<br />

agenda, o 7º Congresso Luso-Brasileiro de ORL, decorrerá<br />

este ano de 2012, entre 14 e 17 de Novembro, em Recife.<br />

Por falar em congressos, aproxima-se o 59º Congresso<br />

da <strong>SPORL</strong> e 14º Congresso Luso-Espanhol de ORL,<br />

que decorrerá de 28 de Abril a 1 de Maio deste ano<br />

na bonita cidade de Viseu. Para além do convívio que<br />

estes eventos proporcionam, a parte cientifica está<br />

a ser cuidada, de modo a permitir a actualização de<br />

conhecimentos nas várias áreas da ORL e possibilitar<br />

uma montra, <strong>para</strong> a visualização dos trabalhos dos vários<br />

serviços portugueses. O convite endereçado aos serviços<br />

hospitalares públicos e privados, teve uma resposta<br />

positiva no passado recente, com elevada participação<br />

e apresentação de trabalhos com alto valor científico,<br />

pelo que se vai manter. Outra aposta ganha foi o “dia das<br />

comissões”, espaço do congresso da responsabilidade das<br />

várias comissões, que se mantém este ano e onde serão<br />

apresentados trabalhos com interesse temático. Uma<br />

das queixas que é recorrente, é a de que como existem<br />

várias salas em simultâneo a funcionar, por vezes, tornase<br />

difícil assistir a tudo que interessa pela simultaneidade<br />

de eventos. Vamos procurar ter duas salas a funcionar<br />

em simultâneo, oxalá o número de conferências o<br />

permita. A manter será o figurino das Comunicações<br />

Livres, com um máximo de 75, com formato obrigatório<br />

de artigo <strong>para</strong> publicação posterior na revista da <strong>SPORL</strong>.<br />

Com esta medida houve ganhos <strong>para</strong> ambos as partes<br />

interessadas, a <strong>SPORL</strong> garantiu a existência de matéria<br />

científica com qualidade <strong>para</strong> publicação e os autores<br />

viram o seu trabalho divulgado.<br />

O momento económico em que vivemos, também se faz<br />

sentir na organização dos congressos, com diminuição<br />

dos patrocínios por parte da indústria farmacêutica e<br />

das casas de material, que no passado possibilitaram<br />

a organização de reuniões muito participadas. Estes<br />

patrocínios, reflectem-se também nos prémios atribuídos<br />

pela <strong>SPORL</strong> e nas bolsas, que no ano transacto foram<br />

instituídas. Há a certeza de que, pelo menos este ano, os<br />

prémios e as bolsas serão atribuídos.<br />

Quero aqui expressar os meus votos de um Feliz Ano de<br />

2012, cheio de Saúde e Trabalho, <strong>para</strong> todos os colegas<br />

e familiares, esperando encontrá-los a todos em Viseu,<br />

aquando do 59º Congresso Nacional da <strong>SPORL</strong>-CCF.<br />

Cordiais Saudações<br />

Ezequiel Barros<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 209<br />

EDITORIAL


210<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Surdez congénita neurossensorial – Proposta <strong>para</strong><br />

algoritmo de investigação<br />

Congenital sensorineural hearing loss – Proposal<br />

for an investigation algorithm<br />

Rui Cerejeira Natércia Silvestre Clara Silva Joana Ribeiro Paulo Gonçalves António Paiva<br />

RESUMO<br />

Introdução: A incidência da surdez neurossensorial (SNS)<br />

congénita moderada a profunda está estimada em 4 por<br />

1000 nascimentos. Classicamente, classifica-se a etiologia da<br />

surdez congénita em hereditária ou adquirida, sendo que até<br />

50% dos casos de surdez moderada a profunda podem ser<br />

de causa genética. Até à presente data não existe ainda um<br />

protocolo diagnóstico de consenso <strong>para</strong> o estudo das crianças<br />

com SNS.<br />

Objectivos: Este trabalho tem por objectivo apresentar uma<br />

proposta de algoritmo de investigação etiológica da SNS<br />

congénita, com base numa revisão da literatura.<br />

Métodos: Para desenvolver um algoritmo de investigação<br />

etiológica da SNS foi realizada uma pesquisa bibliográfica<br />

na PubMed <strong>para</strong> artigos em língua inglesa e francesa, com<br />

as seguintes palavras-chave: “hearing loss/impairment”,<br />

“deafness”, “child”. Foram também consultadas as guidelines<br />

da British Association of Audiovestibular Physicians and<br />

British Association of Paediatricians in Audiology (BAAP/<br />

BAPA) e as recomendações de 2010 da Comisión <strong>para</strong> la<br />

Detección Precoz de la Hipoacusia (Espanha).<br />

Resultados: Crianças com SNS severa a profunda deverão<br />

ser inicialmente submetidas a testes genéticos <strong>para</strong> o gene<br />

GJB2; crianças com SNS ligeira a moderada deverão iniciar a<br />

Rui Cerejeira<br />

Médico(a) Interno(a) de ORL dos Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Natércia Silvestre<br />

Médico(a) Interno(a) de ORL dos Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Clara Silva<br />

Médico(a) Interno(a) de ORL dos Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Joana Ribeiro<br />

Médico(a) Interno(a) de ORL dos Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Paulo Gonçalves<br />

Assistente Hospitalar de ORL dos Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

António Paiva<br />

Professor Catedrático de ORL da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra;<br />

Director do Serviço de ORL dos Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Correspondência:<br />

Rui Cerejeira<br />

Serviço de ORL - Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Praceta Mota Pinto<br />

3000 Coimbra - Portugal<br />

r.cerejeira@netcabo.pt<br />

Trabalho Apresentado no “Congresso Anual da APO – Otoneuro 2010”, Carvoeiro 2010<br />

investigação com a realização de uma TC do osso temporal.<br />

A investigação com análises laboratoriais não deverá ser<br />

usada de rotina, mas apenas quando a história clínica o<br />

justifique. A surdez unilateral deverá também ser investigada<br />

imagiologicamente. A realização do ECG está indicada em<br />

todos os casos de SNS bilateral severa a profunda, de forma<br />

a permitir a identificação de casos de intervalo QT longo que,<br />

embora seja um achado raro, é potencialmente fatal.<br />

Conclusões: A utilização de um algoritmo diagnóstico<br />

sequencial é mais eficiente, e com uma relação custo-<br />

-benefício mais favorável, do que o pedido simultâneo de<br />

uma bateria de exames <strong>para</strong> todos os casos.<br />

Palavras-chave: algoritmo; surdez neurossensorial; criança;<br />

guidelines<br />

ABSTRACT<br />

Introduction: The incidence of congenital, moderate to<br />

profound sensorineural hearing loss (SNHL) is estimated in<br />

4 per 1000 births. Traditionally, the etiologies of congenital<br />

SNHL have been broadly classified as either hereditary or<br />

acquired, and it is estimated that up to 50% of moderate<br />

to severe cases are genetic in etiology. To date, there is no<br />

consensus diagnostic protocol for children presenting with<br />

SNHL.<br />

Objectives: This study aims to present a proposal of an<br />

investigation algorithm for SNHL in children, based on a<br />

review of the literature.<br />

Methods: To develop the algorithm, the English and French<br />

literature were searched in PubMed with the following key<br />

words: “hearing loss/impairment”, “deafness”, “child”. The<br />

guidelines of the British Association of Audiovestibular<br />

Physicians and British Association of Paediatricians in<br />

Audiology (BAAP/BAPA) and the recommendations of the<br />

Spanish Committee for Early Detection of Deafness were also<br />

studied.<br />

Results: Children with severe to profound SNHL should first be<br />

tested with a GJB2 screen, as opposed to those with milder<br />

SNHL, who should undergo CT of the temporal bone as the<br />

initial step. Laboratory investigation should not be routine but<br />

based on clinical history. Children with unilateral SNHL should<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 211<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


e investigated with imaging. The use of ECG is indicated in<br />

severe to profound bilateral SNHL to rule out the presence of<br />

a prolonged QT interval, because, in spite of an extremely low<br />

yield, it can be life-saving.<br />

Conclusions: A stepwise diagnostic <strong>para</strong>digm is more efficient<br />

and more cost-effective than the simultaneous testing<br />

approach.<br />

Key-words: algorithm, sensorineural hearing loss, child,<br />

guidelines<br />

INTRODUÇÃO<br />

A incidência da surdez neurossensorial (SNS) congénita,<br />

moderada a profunda, está estimada em 4 por cada 1000<br />

nascimentos 1 . Classicamente, classifica-se a etiologia<br />

da surdez congénita em hereditária ou adquirida,<br />

sendo que até 50% dos casos de surdez moderada<br />

a profunda podem ser de causa genética 2 . Destes,<br />

a maioria são transmitidos de forma autossómica<br />

recessiva (aproximadamente 80%) 3 .<br />

A investigação etiológica realizada precocemente tem<br />

como objectivos principais:<br />

- maximizar as hipóteses de se chegar a um diagnóstico<br />

etiológico;<br />

- dar a oportunidade aos pais de compreender a causa<br />

da surdez do seu filho;<br />

- permitir um melhor aconselhamento relativamente a<br />

futuros filhos;<br />

- permitir um tratamento/aconselhamento atempado<br />

e assim impedir a progressão da perda auditiva (ex.<br />

citomegalovirus, aqueduto vestibular alargado) ou<br />

outras complicações graves (ex. <strong>para</strong>gem cardíaca na<br />

Síndrome Jervell Lange-Nielsen);<br />

- mais fácil identificação de patologia associada (ex.<br />

alterações renais na Síndrome Brânquio-Otorrenal).<br />

A história clínica detalhada, o exame físico e a avaliação<br />

audiológica são os passos mais importantes na<br />

investigação de uma SNS 2 , permitindo o diagnóstico de<br />

doenças sindrómicas e de muitas etiologias infecciosas.<br />

O papel de outros testes (imagiologia, testes genéticos,<br />

hemograma, bioquímica, serologias, etc.) é controverso<br />

devido ao limitado contributo <strong>para</strong> o diagnóstico e aos<br />

custos elevados que acarretam. Os defensores de uma<br />

abordagem sistemática preconizam o pedido de uma<br />

bateria de testes <strong>para</strong> todos os casos, enquanto os<br />

defensores de uma abordagem sequencial consideram<br />

que o pedido sequencial de exames é mais eficiente e<br />

com uma relação custo-benefício mais favorável 5 .<br />

Até à presente data não existe ainda um protocolo<br />

diagnóstico de consenso <strong>para</strong> o estudo das crianças<br />

com SNS 4 . O objectivo deste artigo é apresentar uma<br />

proposta de algoritmo de investigação etiológica da<br />

212 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

SNS congénita, com base numa revisão da literatura.<br />

MÉTODOS<br />

Para desenvolver um algoritmo de investigação<br />

etiológica da SNS foi realizada uma pesquisa<br />

bibliográfica na PubMed <strong>para</strong> artigos em língua inglesa<br />

e francesa com as seguintes palavras-chave: “hearing<br />

loss/impairment”, “deafness”, “child”. Foram também<br />

consultadas as guidelines da British Association of<br />

Audiovestibular Physicians and British Association<br />

of Paediatricians in Audiology (BAAP/BAPA) 6 e as<br />

recomendações de 2010 da Comisión <strong>para</strong> la Detección<br />

Precoz de la Hipoacusia (Espanha) 7 . Foram identificados<br />

ainda artigos adicionais, a partir da revisão das listas de<br />

referências bibliográficas.<br />

RESULTADOS<br />

Os factores etiológicos da SNS em crianças têm sofrido<br />

variações ao longo do tempo, devido ao impacto do<br />

declínio das infecções pré e perinatais e à disseminação<br />

dos testes genéticos. Um estudo recente 8 estabeleceu as<br />

principais causas de SNS bilateral como se apresentam<br />

na Tabela 1.<br />

TABELA 1<br />

Causas de Surdez Neurossensorial bilateral em crianças 8<br />

Desconhecida (37,7%)<br />

Genética não sindrómica (29,2%)<br />

Prénatal (12%)<br />

Perinatal (9,6%)<br />

Pósnatal (8,2%)<br />

Genética sindrómica (3,2%)<br />

Etiologia Genética não Sindrómica<br />

É um tipo de surdez altamente heterogéneo, tendo sido<br />

já localizados dezenas de genes recessivos, dominantes<br />

e ligados ao X 8 .<br />

A grande maioria das mutações não sindrómicas<br />

recessivas originam uma surdez congénita profunda<br />

bilateral. A mutação mais comum localiza-se ao gene<br />

β2 (GJβ2) do cromossoma 13 que codifica uma proteína<br />

denominada conexina 26 (Cx26). Esta proteína forma<br />

gap junctions entre as células e pensa-se que tenha um<br />

papel na recirculação dos iões na endolinfa coclear 9 . As<br />

mutações neste gene são responsáveis por cerca de 50%<br />

das surdezes genéticas não sindrómicas recessivas, ou<br />

seja, causam 30 a 50% de todas as surdezes genéticas<br />

não sindrómicas 5 .<br />

Dada a baixa probabilidade de detectar anomalias<br />

concomitantes em crianças com mutação do gene<br />

GJβ2, e considerando os custos de um exame


imagiológico do osso temporal, não está indicada uma<br />

avaliação radiológica subsequente nestes casos 4 . O<br />

mesmo é válido <strong>para</strong> as crianças que realizaram em<br />

primeiro lugar um exame imagiológico e em que foram<br />

detectadas alterações – não necessitam de realizar o<br />

teste genético.<br />

Não existe evidência científica de que a mutação do<br />

gene da conexina 26 seja responsável por surdezes<br />

unilaterais, pelo que o teste genético não está indicado<br />

nestes casos 6 .<br />

Imagiologia<br />

Num estudo retrospectivo, 33 pacientes de um total de<br />

76 (37%) com SNS bilateral apresentavam alterações<br />

na TC 10 . O alargamento do aqueduto vestibular<br />

(AAV) foi a alteração isolada mais vezes detectada,<br />

seguido pela displasia do canal semicircular lateral,<br />

lucência da cápsula ótica, canais auditivos internos de<br />

pequeno diâmetro e cóclea hipoplásica. Pelo menos<br />

40% dos indivíduos com AAV irão desenvolver SNS<br />

profunda 11 . A presença de AAV pode também ser<br />

indicativa de malformações adicionais e está associada<br />

com a síndrome de Gusher, com a displasia do canal<br />

semicircular lateral e com a deformidade de Mondini 12 .<br />

O AAV isolado ou associado a uma malformação de<br />

Mondini “verdadeira” (descrição que associa uma<br />

dilatação do aqueduto do vestíbulo a uma cóclea<br />

incompletamente enrolada) orienta também <strong>para</strong><br />

o estudo genético complementar de mutações do<br />

gene da pendrina (PDS), responsáveis pela Síndrome<br />

de Pendred (SNS associada a bócio e alterações da<br />

hormonogénese tiroideia) 13 .<br />

Assim, perante uma surdez de percepção bilateral ou<br />

unilateral na criança, a TC é o exame gold standard<br />

(podendo ser ou não complementada pela RM) devido<br />

à elevada disponibilidade deste exame e à facilidade da<br />

sua realização na criança 4,7,13 .<br />

A British Association of Audiovestibular Physicians<br />

and British Association of Paediatricians in Audiology<br />

(BAAP/BAPA) preconiza como exame de primeira linha<br />

na surdez unilateral a RM 6 . Este exame permite um<br />

estudo mais minucioso do ouvido interno e do nervo<br />

coclear, com cortes de 0,3 a 0,7 mm de espessura.<br />

Torna possível identificar na cóclea a rampa timpânica<br />

e a rampa vestibular, detectar as obliterações focais<br />

do lúmen labiríntico (nas labirintites), estudar os<br />

nervos no meato acústico interno e na cisterna pontocerebelosa.<br />

No entanto, os tumores do ângulo pontocerebeloso<br />

são extremamente raros na infância 13 . O<br />

estudo do parênquima cerebral permite eliminar um<br />

possível atingimento central (por doença metabólica,<br />

lesão isquémica neonatal, etc.) e o sinal da base do<br />

crânio pode por vezes orientar <strong>para</strong> um atingimento<br />

ósseo displásico ou tumoral.<br />

Estudos Laboratoriais<br />

Alguns autores advogam o pedido de hemograma<br />

completo <strong>para</strong> detecção de casos de leucemia ou<br />

linfoma 14 . Também a hiperlipidémia foi implicada como<br />

possível factor etiológico da SNS 15 . No entanto, existem<br />

outros estudos que refutam estas associações 4,16 . De<br />

uma forma geral podemos dizer que é extremamente<br />

improvável que a surdez seja a forma de apresentação<br />

destas doenças, pelo que o pedido destes exames face<br />

a uma SNS isolada não parece ser justificado 4 .<br />

Em relação aos testes de função tiroideia, estes<br />

poderiam ser usados <strong>para</strong> identificar casos de<br />

Síndrome de Pendred. No entanto, aproximadamente<br />

56% destes doentes são eutiroideus e a existência de<br />

bócio também não é constante 17 . O teste gold standard<br />

<strong>para</strong> o diagnóstico de Síndrome de Pendred é o teste<br />

genético, mas o seu uso como método de rastreio tem<br />

uma relação custo benefício impraticável 4,5 .<br />

Uma sumária de urina de rotina acarreta uma baixo<br />

custo e é simples de realizar, mas não existe na literatura<br />

dados que suportem o seu uso no diagnóstico da<br />

Síndrome de Alport 5 . No entanto, a BAAP recomenda o<br />

pedido da micro-hematúria nos casos de surdez severa<br />

a profunda 6 .<br />

Também os estudos serológicos são alvo de alguma<br />

discussão. Um estudo demonstrou que o rastreio<br />

neonatal universal detecta menos de metade dos<br />

casos de surdez secundários a infecção congénita<br />

por citomegalovirus (CMV) 18 , dado que numa grande<br />

proporção destas crianças a surdez é progresssiva. O<br />

teste serológico tem de ser realizado em sangue do<br />

recém-nascido até às 3 semanas de vida, uma vez que<br />

a infecção adquirida não está associada a um mau<br />

prognóstico. A BAAP recomenda o screening urinário<br />

da infecção por CMV <strong>para</strong> todas as crianças com SNS<br />

bilateral e posterior confirmação em sangue do teste<br />

do pezinho 6 .<br />

Electrocardiograma (ECG)<br />

A Síndrome de Jervell e Lange-Nielsen (JLN) ou<br />

Síndrome do Intervalo Q-T longo Hereditário é uma<br />

doença rara com uma incidência estimada de 1 a 6 casos<br />

por milhão 5 . Resulta de mutações que alteram o canal<br />

de potássio que controla a repolarização miocelular 20 .<br />

Numa revisão de casos de Síndrome JLN a frequência<br />

de crianças com surdez foi de 0,3% 19 . Apesar da muito<br />

baixa probabilidade de identificar um destes casos com<br />

o ECG, o baixo custo do exame, associado ao facto de<br />

que pode salvar a vida do doente, parece justificar o<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 213<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


seu pedido sistemático nas surdezes neurossensoriais<br />

bilaterais severas a profundas 4,5,7,20 .<br />

Algoritmo Diagnóstico (Figura 1)<br />

Crianças com SNS severa a profunda deverão ser<br />

inicialmente submetidas a testes genéticos <strong>para</strong> o<br />

gene GJB2; crianças com SNS ligeira a moderada<br />

deverão iniciar a investigação com a realização<br />

de uma TC do osso temporal. A investigação com<br />

análises laboratoriais não deverá ser usada de rotina,<br />

mas apenas quando a história clínica o justifique.<br />

A surdez unilateral deverá também ser investigada<br />

imagiologicamente. A realização do ECG está indicada<br />

FIGURA 1<br />

Algoritmo de Investigação da Surdez Neurossensorial Congénita<br />

214 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

em todos os casos de SNS bilateral severa a profunda,<br />

de causa desconhecida.<br />

CONCLUSÕES<br />

Podemos concluir que, embora não exista uma posição<br />

de consenso sobre a melhor forma de investigar as<br />

crianças com SNS, uma abordagem sequencial parece<br />

ser mais eficiente e com uma relação custo-benefício<br />

mais vantajosa do que o pedido simultâneo de uma<br />

bateria de exames <strong>para</strong> todos os casos.<br />

Este estudo providencia um algoritmo sequencial de<br />

investigação, <strong>para</strong> ser usado por otorrinolaringologistas<br />

gerais e pediátricos.


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VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 215<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


Papel da TC nas decisões terapêuticas nos<br />

carcinomas da laringe/hipofaringe<br />

Role of CT in treatment decisions in laryngeal/<br />

hypopharyngeal carcinomas<br />

Andreia Ribeiro Gustavo Lopes Marta Pereira Sara Cruz Abílio Leonardo Manuel Rodrigues e Rodrigues<br />

RESUMO<br />

Objectivos: A presença de adenopatias pode ser avaliada<br />

clinicamente e imagiologicamente. O objectivo é avaliar se a<br />

Tomografia Computorizada (TC) nos dá informação adicional<br />

que possa influenciar as decisões terapêuticas.<br />

Material e Métodos: Revisão retrospectiva dos processos de<br />

doentes submetidos a cirurgia laríngea com esvaziamento<br />

cervical por neoplasia maligna entre Maio de 2001 e Dezembro<br />

de 2010.<br />

Resultados: Dos 31 doentes N0 clínicos e imagiológicos, em<br />

26 confirmou-se o estadiamento N0 pela anatomopatologia<br />

(83,9%) e 5 casos apresentaram gânglios metastizados<br />

(16,1%). Em 3 doentes N0 clínicos e N>0 imagiológicos em 2<br />

(66,7%) confirmou-se por anatomia patológica a presença de<br />

adenopatias.<br />

Dos 6 doentes clínicamente N>0, a TC estadiou como N>0 5<br />

doentes que se confirmaram serem N>0 por anatomopatologia<br />

(100%). A TC apresentou sensibilidade, valor preditivo positivo<br />

e valor preditivo negativo superiores à clínica.<br />

Conclusão: A TC aparentemente melhora os valores preditivos<br />

na detecção de metástases cervicais, mas a percentagem não<br />

desprezável de metástases cervicais ocultas impõe a dissecção<br />

cervical nos pescoços N0.<br />

Andreia Ribeiro<br />

Interna Complementar do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano-E.P.E.<br />

Gustavo Lopes<br />

Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano-E.P.E.<br />

Marta Pereira<br />

Serviço de Higiene e Epidemiologia, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto<br />

Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto<br />

Sara Cruz<br />

Interna Complementar do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano-E.P.E.<br />

Abílio Leonardo<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro<br />

Hispano-E.P.E.<br />

Manuel Rodrigues e Rodrigues<br />

Director de Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano-E.P.E.<br />

Correspondência:<br />

Andreia Ribeiro<br />

Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano-E.P.E.<br />

Rua Dr. Eduardo Torres, 4464-513 Senhora da Hora<br />

Telefone: 229391000<br />

andreiamfribeiro@gmail.com<br />

Palavras-chave: Carcinoma da Laringe; Dissecção cervical;<br />

Tomografia computorizada; Estadiamento<br />

ABSTRACT<br />

Objectives: The presence of adenopathies can be evaluated<br />

clinically by tomographic imaging. The aim is to assess if<br />

computed tomography (CT) provides additional information<br />

that may influence therapeutic decisions.<br />

Methods: Retrospective review of medical records of patients<br />

undergoing surgery of the larynx and neck dissection for<br />

cancer between May 2001 and December 2010.<br />

Results: Of the 31 patients clinically and radiographically<br />

staged as N0, 26 were confirmed by pathology (83.9%) and<br />

5 cases had metastatic lymph nodes (16.1%). Of the three<br />

patients clinically staged as N0 and staged by imaging as N> 0<br />

in 2 was confirmed the presence of adenopathies by pathology<br />

(66,7%).<br />

Of the 6 patients clinically N> 0, CT staged as N> 0 5 patients<br />

who were confirmed to be N> 0 by pathology (100%). In this<br />

study CT showed sensitivity, positive predictive value and<br />

negative predictive value superior to the clinic.<br />

Conclusion: CT appears to enhance the predictive value in<br />

detecting cervical metastases, but the percentage of occult<br />

neck metastases currently imposes a neck dissection in N0<br />

necks.<br />

Key-words: Laryngeal carcinoma; Neck dissection; Computed<br />

tomography; Staging<br />

INTRODUÇÃO<br />

A incidência de neoplasias malignas da laringe varia<br />

entre 2,5 a 17,2 por 100000 pessoas-ano 1 . Representa<br />

aproximadamente 3% dos novos casos de neoplasias<br />

diagnosticados em todo o mundo 1 e aproximadamente<br />

¼ das neoplasias da cabeça e pescoço 2 . Os carcinomas<br />

da hipofaringe são aproximadamente 4 vezes menos<br />

comuns que os da laringe 2 .<br />

A grande maioria dos casos de neoplasias malignas<br />

da laringe e hipofaringe são carcinomas de células<br />

escamosas 1,2 sendo os linfomas o segundo diagnóstico<br />

mais comum 1 .<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 217<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


Os principais factores de risco <strong>para</strong> as neoplasias<br />

malignas da laringe e hipofaringe são o consumo de<br />

tabaco e álcool.<br />

Os doentes com suspeita de neoplasia da laringe devem<br />

ser submetidos a exame físico completo da cabeça<br />

e pescoço de preferência com endoscopia o que vai<br />

permitir que o tumor seja directamente visualizado 1 .<br />

A avaliação clínica e endoscópica destes doentes tem<br />

limitações na avaliação da extensão da doença 3 .<br />

Os exames de imagem permitem a avaliação da<br />

extensão tumoral e da invasão ganglionar e metástases<br />

à distância 1 . A presença ou ausência de metástases<br />

ganglionares no momento do diagnóstico é importante<br />

no prognóstico e na orientação destes doentes 4 .<br />

Sistema de Estadiamento<br />

O sistema de estadiamento TNM permite classificar os<br />

tumores da região da cabeça e pescoço de uma forma<br />

uniforme, e é usado <strong>para</strong> determinar o prognóstico e<br />

auxiliar na decisão terapêutica.<br />

Três categorias integram o sistema: T - as características<br />

do tumor (pode ser com base na localização, tamanho<br />

ou ambos); N- o grau de envolvimento dos gânglios<br />

linfáticos regionais, e M - ausência ou presença de<br />

metástases à distância. Podemos ainda dividir em<br />

Estadios I, II, III e IV. Em geral, a doença em estadio inicial<br />

é classificada como estadio I ou II, e doença em estadio<br />

avançado como III ou IV. Qualquer doença com gânglios<br />

positivos vai ser classificada como doença avançada 5 .<br />

De seguida apresenta-se a classificação do estadiamento<br />

ganglionar segundo a American Academy of<br />

Otolaryngology– Head and Neck Surgery Foundation.<br />

NX - Os gânglios regionais não podem ser avaliados.<br />

N0 - Não há metástases regionais<br />

N1 - Metástase num único gânglio homolateral, com 3<br />

cm ou menos na sua maior dimensão.<br />

N2 - Metástase em um único gânglio homolateral, com<br />

mais de 3 cm, mas não mais de 6 cm em sua maior<br />

dimensão, ou metástases em gânglios homolaterais<br />

múltiplos, nenhum deles com mais que 6 cm na sua<br />

maior dimensão, ou metástases em gânglios bilaterais<br />

ou contralaterais mas nenhum maior que 6 cm em sua<br />

maior dimensão.<br />

N2a – Metástase em um único gânglio homolateral,<br />

com mais de 3 cm, mas não mais de 6 cm na sua maior<br />

dimensão.<br />

N2b – Metástases em gânglios homolaterais múltiplos,<br />

nenhum deles com mais que 6 cm na sua maior<br />

dimensão.<br />

N2c - Metástases em gânglios bilaterais ou contralaterais,<br />

nenhum deles mais de 6 cm na sua maior dimensão.<br />

N3 - Metástase em gânglio com mais de 6 cm na sua<br />

218 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

maior dimensão.<br />

O exame físico vs exames de imagem<br />

Desde 1976 que a Tomografia Computorizada (TC) é<br />

usada como uma técnica fiável <strong>para</strong> a avaliação dos<br />

tumores da cabeça e pescoço 3 .<br />

A extensão mucosa do tumor e a mobilidade laríngea<br />

podem ser avaliadas directa ou indirectamente pela<br />

avaliação clínica e endoscópica. No entanto, o exame<br />

físico com endoscopia tem limitações na avaliação da<br />

extensão da doença 3 : A extensão à região subglótica<br />

e a comissura anterior podem não ser visíveis em<br />

tumores mais volumosos; A extensão submucosa<br />

é subestimada 1,2 bem como <strong>para</strong> os espaços pré-<br />

-epiglótico, espaço <strong>para</strong>glótico; a extensão à cartilagem<br />

tiroideia e estruturas extralaríngeas que não podem ser<br />

avaliadas por endoscopia 3 .<br />

Neste caso os exames de imagem são complementares<br />

dado que permitem uma avaliação da extensão<br />

submucosa e da invasão das estruturas adjacentes 1,2 .<br />

No entanto a TC tem algumas limitações 3 especialmente<br />

na avaliação da invasão cartilagínea 3 devido à<br />

variabilidade de cartilagens calcificadas, ossificadas<br />

ou não calcificadas 3 . Há autores que defendem que os<br />

exames de imagem falham na avaliação da extensão<br />

mucosa superficial e podem superestimar a extensão<br />

profunda do tumor 4 .<br />

Os exames de imagem também nos dão informações<br />

acerca da invasão ganglionar e metástases à distância 1 .<br />

A presença ou ausência de metástases ganglionares<br />

no momento do diagnóstico é importante no<br />

prognóstico destes doentes 4 . A detecção por imagem<br />

de linfadenopatias no pescoço clinicamente negativo,<br />

ou de metástases à distância tem impacto na orientação<br />

destes doentes. Pensa-se que a sensibilidade da TC<br />

e RMN na detecção de metástases ganglionares é<br />

superior ao exame físico 4 . No entanto, pensa-se que o<br />

valor preditivo negativo dos exames de imagem não é<br />

suficiente <strong>para</strong> evitar a dissecção cervical 4 .<br />

Escolha da opção terapêutica<br />

Um factor importante na orientação e tratamento<br />

nestes doentes é o estadiamento pré-operatório 2,3 .<br />

O tratamento das neoplasias da laringe é muito variável<br />

de centro <strong>para</strong> centro. A opções terapêuticas incluem<br />

cirurgia, radioterapia e quimioterapia (sozinhas ou em<br />

combinação) 1 . As decisões terapêuticas vão depender<br />

da extensão da doença, do estado geral do doente e<br />

têm como objectivo melhorar a sobrevida do doente,<br />

tendo sempre em conta o benefício funcional 1 .<br />

Para os tumores em estadios mais iniciais a radioterapia<br />

ou a excisão endoscópica transoral são as opções de


tratamento 5 . Ambos apresentam bom controlo da<br />

doença mas os defensores de cada modalidade muitas<br />

vezes discordam sobre as sequelas funcionais dos dois<br />

tipos de tratamento 5 . Contudo, existem poucos estudos<br />

que avaliem os dois tratamentos a longo prazo em<br />

termos funcionais 5 .<br />

O tratamento dos tumores mais avançados pode ser<br />

ainda mais controverso. A laringectomia total com<br />

esvaziamento cervical foi tida como o tratamento<br />

de escolha das neoplasias da laringe T3 e T4,<br />

nomeadamente devido à invasão da cartilagem laríngea<br />

que reduziria a taxa de sucesso da radioterapia e excluiria<br />

cirurgias menos invasivas tornando a laringectomia<br />

total mandatória na maior parte dos casos 3 . No entanto<br />

a quimiorradioterapia tem-se mostrado, em alguns<br />

estudos, bastante eficaz no controlo loco-regional e<br />

sobrevivência com preservação do órgão 1,5 .<br />

Até 1950 nos doentes com carcinoma epidermóide<br />

da laringe submetidos a laringectomia total, o<br />

esvaziamento radical convencional foi o tratamento<br />

preferencial de escolha 6 .<br />

O esvaziamento cervical funcional, desenvolvido<br />

em 1952, tornou-se cada vez mais aceite durante os<br />

anos 1960 e 1970 e tornou-se o procedimento de<br />

escolha <strong>para</strong> tratamento cirúrgico das neoplasias da<br />

laringe 6 . O esvaziamento funcional remove os gânglios<br />

cervicais dos níveis I a V, preservando o músculo<br />

esternocleidomastóideu, veia jugular interna, nervo<br />

acessório espinhal, e glândula submandibular 6 . Vários<br />

estudos clínicos e patológicos têm apoiado a conclusão<br />

que o esvaziamento selectivo dos níveis II, III e IV é um<br />

procedimento eficaz no tratamento das neoplasias da<br />

laringe, e o esvaziamento funcional das áreas I a V é um<br />

procedimento desnecessariamente extenso <strong>para</strong> esse<br />

fim 6 .<br />

Há evidências na literatura científica que o esvaziamento<br />

selectivo, limitando a ressecção a áreas com maior<br />

probabilidade de estarem envolvidas, pode alcançar<br />

os mesmos resultados oncológicos que dissecções<br />

mais extensas. Nas ressecções mais limitadas pode-se<br />

reduzir a morbilidade operatória. Isto levanta a questão<br />

de saber se outras limitações da dissecção podem ser<br />

oncologicamente benéficas 6 .<br />

Objectivo<br />

O objectivo principal deste trabalho é avaliar se a TC nos<br />

dá informação adicional no estadiamento ganglionar<br />

dos tumores N0 com<strong>para</strong>ndo com a avaliação clínica por<br />

palpação cervical, de forma a poder evitar dissecções<br />

cervicais desnecessárias.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Foram seleccionados os doentes submetidos a cirurgia<br />

da laringe/faringolaringe com esvaziamento cervical<br />

por neoplasia no Hospital Pedro Hispano durante o<br />

período compreendido entre Maio de 2001 e Dezembro<br />

de 2010 constituindo um total de 84 doentes.<br />

33 doentes foram eliminados do estudo por não<br />

apresentarem relatório da TC pré-operatória no<br />

processo clínico, 7 doentes foram eliminados por<br />

terem realizado RT e/ou QT pré-operatória, 1 doente<br />

foi excluído por ausência de registos de 1ª observação<br />

clínica, 3 doentes por impossibilidade de aceder ao<br />

processo clínico. Foram então analisados os processos<br />

de 40 doentes e aplicado um protocolo no qual os<br />

doentes foram estadiados conforme a classificação<br />

TNM da American Academy of Otolaryngology– Head<br />

and Neck Surgery Foundation em TNM clínico a partir<br />

da 1ª observação do doente em que foi diagnosticada<br />

neoformação da laringe/hipofaringe, TNM imagiológico<br />

a partir do relatório da TC pré-operatória e TNM<br />

patológico a partir do relatório da anatomia patológica<br />

da peça operatória. Foram também colhidos dados<br />

acerca da localização do tipo histológico e cirurgia a<br />

que foram submetidos. O estadiamento pela anatomia<br />

patológica é tido como a confirmação de que a doença<br />

está realmente presente.<br />

Utilizou-se o coeficiente Kappa simples <strong>para</strong> medir o<br />

nível de concordância entre os vários exames, corrigindo<br />

a concordância esperada por acaso. O coeficiente<br />

Kappa pode variar de 1 a -1, indicando concordância<br />

ou discordância completa, respectivamente. A<br />

especificidade, a sensibilidade, o valor preditivo positivo<br />

e negativo foram calculados assumindo o resultado da<br />

anatomia patológica como gold-standard.<br />

RESULTADOS<br />

Dos 40 doentes, 39 são homens (97,5%) e 1 é mulher<br />

(2,5%). As idades estão compreendidas entre os 43 e<br />

os 84 anos, sendo a média de idades 62,17 anos. 35<br />

doentes foram submetidos a laringectomia total com<br />

esvaziamento cervical bilateral (87,5%), 4 doentes<br />

foram submetidos a faringolaringectomia total com<br />

esvaziamento cervical bilateral (10,0%) e 1 doente foi<br />

submetido apenas a esvaziamento cervical bilateral<br />

por impossibilidade de ressecção do tumor por invasão<br />

extralaríngea (2,5%). O tipo histológico foi carcinoma<br />

espinocelular em 39 doentes (97,5%) e carcinoma<br />

basalóide escamoso em 1 doente (2,5%).<br />

Dos 40 doentes estudados 34 foram clinicamente<br />

classificados como N0 (85,0%), 5 doentes foram classificados<br />

como N1 (12,5%) e 1 doente foi classificado como N2b<br />

(2,5%), num total de 6 doentes com N>0 (15,0%).<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 219<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


Tabela 1<br />

Estadiamento ganglionar pela clínica (total de 40 doentes)<br />

N0 clínico N1 clínico N2 clínico N3 clínico<br />

N2a N2b<br />

34 (85%) 5 (12,5%) 0 1 (2,5%) 0<br />

Dos 34 doentes que foram classificados como N0 pela<br />

avaliação clínica foram estadiados imagiologicamente<br />

(pela TC) como N0 31 doentes (91,2%). Destes, em 26<br />

confirmou-se o estádio N0 pela anatomia patológica<br />

(83,9%) e em 5 casos apresentavam gânglios positivos<br />

com N>0 (16,1%).<br />

Tabela 2<br />

Doentes com estadiamento N0 clínico (total de 34 doentes)<br />

N0 imagiológico N>0 imagiológico<br />

N0<br />

patológico<br />

N>0<br />

patológico<br />

N0<br />

patológico<br />

N>0<br />

patológico<br />

26 (83,9%) 5 (16,1%) 1 (33,2%) 2 (66,7%)<br />

31 3<br />

Dos 34 doentes N0 clínicos, em 3 doentes (8,8%) o TC<br />

sugeriu a presença de adenopatias positivas. Destes, 2<br />

confirmaram-se por anatomia patológica (66,7%) e 1<br />

não se confirmou na anatomia patológica (33,3%).<br />

Dos 6 doentes com avaliação clínica N>0, a TC estadiou<br />

como N>0 um total de 5 doentes (83,3%) dos quais todos<br />

se confirmaram serem N>0 por anatomia patológica.<br />

Apenas 1 (16,7%) doente foi estadiado como N0 pela<br />

imagiologia o que se confirmou por anatomia patológica.<br />

Tabela 3<br />

Doentes com estadiamento N>0 clínico (total de 6 doentes)<br />

N0 imagiológicos N>0 imagiológicos<br />

N0<br />

patológico<br />

N>0<br />

patológico<br />

N0<br />

patológico<br />

N>0<br />

patológico<br />

1 0 0 5<br />

1 5<br />

O coeficiente de kappa é de 0,5927 entre o estadiamento<br />

clínico e imagiológico, 0,3413 <strong>para</strong> o estadiamento<br />

imagiológico e patológico e 0,1837 <strong>para</strong> o estadiamento<br />

clínico e patológico.<br />

Para a presença de adenopatias a TC apresenta neste<br />

estudo uma sensibilidade de 58,3% e uma especificidade<br />

de 96,43%. Quanto ao valor preditivo positivo é de<br />

87,5% e o valor preditivo negativo de 84,37%.<br />

A clínica apresenta, <strong>para</strong> a presença de adenopatias,<br />

uma sensibilidade de 41,7% e uma especificidade de<br />

96,4%. O valor preditivo positivo é de 83,3% e o valor<br />

preditivo negativo de 79,4%.<br />

220 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

DISCUSSÃO<br />

O papel e o tipo de esvaziamento cervical nos<br />

carcinomas clinicamente N0 pode ser controverso. O<br />

procedimento inicialmente utilizado no esvaziamento<br />

cervical destes doentes era a dissecção cervical dos<br />

níveis I a V, que apresentava considerável morbilidade<br />

associada à lesão dos nervos espinhais, plexo cervical e<br />

lesão do canal torácico. A dissecção foi posteriormente<br />

limitadas aos níveis II, III e IV (‘’’esvaziamento cervical<br />

selectivo II-IV, de acordo com o Committee for Head and<br />

Neck Surgery and Oncology of the American Academy<br />

of Otolaryngology—Head and Neck Surgery, dada a<br />

raridade do envolvimento dos níveis I e V 7 .<br />

Mais recentemente, alguns autores contestaram a<br />

dissecação níveis IIb e IV, nos tumores N0, de forma<br />

a reduzir a morbilidade associada 7 . Outros autores<br />

consideram que a presença de metástases ocultas não<br />

é desprezível e que a dissecção cervical é a atitude<br />

correcta de forma a evitar a recorrência cervical 7 .<br />

O objectivo deste estudo foi com<strong>para</strong>r os resultados<br />

no estadiamento clínico, imagiológico e patológico das<br />

adenopatias cervicais de forma a avaliar a importância<br />

da TC no estadiamento ganglionar destes doentes.<br />

Estudos sugerem que apesar da clínica e da imagiologia,<br />

em cerca de 7-10% dos casos existem metástases<br />

ganglionares ocultas 8 . Neste estudo foi encontrado<br />

um valor de 16,1% de doentes clinicamente e<br />

imagiologicamente N0 mas com mestástases cervicais<br />

comprovadas pela anatomia patológica. A dissecção<br />

cervical nos doentes com mestástases ganglionares<br />

ocultas é importante dado que a doença quando se<br />

manifestar clinicamente o tratamento irá ser aplicado<br />

mais tardiamente e, apesar do acompanhamento<br />

regular destes doentes, a doença cervical pode ser<br />

inoperável na altura do diagnóstico e aumentar o risco<br />

de metástases à distância 8 . No entanto devemos ter em<br />

conta que a dissecção cervical aumenta a morbilidade,<br />

aumenta os custos médicos e o tempo de internamento 8 .<br />

Como já referido, estudos existentes sugerem que a<br />

sensibilidade da TC e RM na detecção de metástases<br />

ganglionares é superior ao exame físico, no entanto o<br />

valor preditivo negativo dos exames de imagem não<br />

é suficiente <strong>para</strong> evitar a dissecção cervical. Para a<br />

presença de adenopatias a TC apresenta neste estudo<br />

uma sensibilidade, valor preditivo positivo e valor<br />

preditivo negativo superiores. No entanto o pequeno<br />

número de casos dificultam a interpretação destes dados.<br />

É também de ter em conta que a análise anatomopatológica<br />

pode falhar no diagnóstico metástases<br />

menores que 2 ou até 5 milímetros 7 . Como tal, as<br />

micrometástases ganglionares podem ser sistematicamente<br />

subestimadas 7 .


Neste trabalho de<strong>para</strong>mo-nos com alguns problemas:<br />

- reduzido número de doentes por ausência de TC<br />

- tratarem-se, na maioria, de tumores localmente pouco<br />

avançados dado alguns tumores mais avançados serem<br />

encaminhados <strong>para</strong> outras instituições ou fazerem RT/<br />

QT prévia o que nos leva a uma redução substancial do<br />

número de casos<br />

Os valores de coeficiente de kappa são baixos/<br />

moderados o que aponta <strong>para</strong> uma baixa concordância<br />

tendo em conta aquela que é esperada pelo acaso.<br />

CONCLUSÃO<br />

Apesar da TC aparentemente melhorar os valores<br />

preditivos na detecção de metástases cervicais, a<br />

percentagem não desprezável de metástases cervicais<br />

ocultas impõe actualmente a realização de dissecção<br />

cervical em pescoços N0. A TC cervical tem, de momento,<br />

em papel mais importante no estadiamento e prognóstico<br />

do que na decisão terapêutica. O desenvolvimento das<br />

técnicas diagnósticas deverão identificar com maior<br />

certeza os pescoços verdadeiramente N0 e assim evitar<br />

dissecções cervicais desnecessárias.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

1. Connor S. Laryngeal Cancer: How Does The Radiologist<br />

Help? Cancer Imaging 2007; 7: 93-103.<br />

2. Hermans R. Staging of Laryngeal and Hypopharyngeal<br />

Cancer: Value of Imaging Studies. European Radiology 2006;<br />

16: 2386-2400.<br />

3. Zbaren P, Becker M, Lang H. Pretherapeutic Staging of Laryngeal<br />

Carcinoma. American Cancer Society 1996; 1263-1273.<br />

4. Blitz AM, Aygun N. Radiologic Evaluation of Larynx Cancer.<br />

Otolaryngologic Clinics of North America 2008; 697-713.<br />

5. Deschler DG, Day T. TNM Staging of Head and Neck<br />

Cancer and Neck Dissection Classification. American Academy of<br />

Otolaryngology – Head and Neck Surgery Foundation 2008; 10-23.<br />

6. Ferlito A, Silver CE, Rinaldo A. Selective Neck Dissection<br />

(IIA, III): A Rational Replacement for Complete Functional<br />

Neck Dissection in Patients With N0 Supraglottic and Glottic<br />

Squamous Carcinoma. The Laryngoscope 2008; 118:676-679.<br />

7. Mnejjaa M, Hammamia B, Bougachaa L, Chakrouna A, et<br />

al. Occult Lymph Node Metastasis in Laryngeal Squamous Cell<br />

Carcinoma: Therapeutic and Prognostic Impact. European<br />

Annals of Otorhinolaryngology, Head and Neck diseases 2010;<br />

127: 173-176.<br />

8. Gallo O, Boddi V, Bottai GV, Parrella F, et al. Treatment of the<br />

Clinically Negative Neck in Laryngeal Cancer Patients. Head &<br />

Neck 1996; 566-572.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 221<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


Construção e validação dos testes fala com ruído<br />

(FR) e dicótico de dígitos (DD) <strong>para</strong> aplicação em<br />

crianças portuguesas<br />

Construction and validation of speech tests with<br />

noise (SN) and dichotic with digits (DD) for<br />

application in portuguese children?<br />

Cristiane L. Nunes L. Desgualdo G. S. Carvalho<br />

RESUMO<br />

A avaliação do Processamento Auditivo (PA) por meio de testes<br />

comportamentais inclui a apresentação de testes monóticos e<br />

dicóticos, com material verbal e não-verbal. Na apresentação de<br />

testes verbais é importante a escolha de uma voz adequada tanto<br />

na qualidade vocal quanto no tom e na inflexão vocal usada na<br />

região. O objetivo deste estudo foi construir e validar dois testes<br />

verbais, Fala com Ruído (FR) e Dicótico de Dígitos (DD), à fonética<br />

portuguesa. Após a análise vocal de 13 sujeitos selecionou-se uma<br />

locutora com padrão vocal mais adequado às exigências do teste.<br />

Usando a voz desta locutora foram construídos os testes FR e DD <strong>para</strong><br />

a fonética portuguesa, que depois de devidamente validados, foram<br />

considerados aptos a serem aplicados em estudos <strong>para</strong> avaliação de<br />

perturbações do processamento auditivo.<br />

Palavras-chave: Voz, Audição, Teste auditivo, Validação.<br />

ABSTRACT<br />

The assessment of auditory processing disorder through behavior<br />

testing includes the use of monotic and dichotic tests with verbal and<br />

non-verbal sounds. In order to present the verbal test, it is important<br />

to select an appropriate voice quality, regarding not only the tone<br />

quality but also the vocal inflection used in the local culture. The aim<br />

of this study is to produce and validate two verbal tests in European<br />

Portuguese: the Speech in Noise Test (SN) and the Dichotic Digit<br />

Test (DD). After the vocal assessment of 13 subjects, a woman that<br />

respected the characteristics of a good voice was selected. Using<br />

this female voice, the SN and DD tests where produced in European<br />

Portuguese. After validation, these tests were shown to be suitable<br />

for application in evaluation studies of auditory processing disorders.<br />

Key-words: Voice, Hearing, Auditory Tests, Validation.<br />

Cristiane L. Nunes<br />

CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, PORTUGAL<br />

L. Desgualdo<br />

Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo, BRASIL<br />

G. S. Carvalho<br />

CIEC, Instituto de Educação, Universidade do Minho, Braga, PORTUGAL<br />

Correspondência:<br />

Cristiane Lima Nunes<br />

Alameda do Lago, 38. Braga.<br />

cris.l.nunes@hotmail.com<br />

Bolsa: FCT- SFRH/BD/43512/2008<br />

INTRODUÇÃO<br />

O processamento auditivo (PA) envolve mecanismos do sistema<br />

auditivo responsáveis pela lateralização e localização do som,<br />

discriminação auditiva, reconhecimento de padrões e aspetos<br />

temporais da audição, incluindo resolução, mascaramento,<br />

integração e ordenação temporal, performance auditiva com<br />

sinais acústicos competitivos e degradados 1 . Apesar destas<br />

dificuldades as crianças com perturbação do processamento<br />

auditivo (PPA) apresentam limiares normais de audição e de<br />

níveis cognitivos 1 .<br />

A informação auditiva “viaja” do sistema auditivo periférico<br />

ao sistema nervoso auditivo central, denominado por alguns<br />

autores de CANS (Central Auditory Nervous System) e que se<br />

estende até o córtex auditivo 2 . Durante o percurso por esta<br />

via auditiva, o estímulo auditivo será processado por forma<br />

a que o indivíduo consiga localizar, discriminar, identificar e<br />

se<strong>para</strong>r o estímulo num ambiente com ruído de fundo e por<br />

fim interpretar este som 2,3 .<br />

Em geral as causas da PPA são desconhecidas, pois há uma<br />

série de fatores já estudados que podem estar relacionados<br />

com a etiologia da PPA. Yalcinkaya e Keith 2 sintetizaram as<br />

três causas mais comuns encontradas nos diversos estudos<br />

científicos pesquisados pelos autores: (i) problemas na<br />

gestação e no nascimento; (ii) otites médias crónicas que<br />

podem constituir um risco <strong>para</strong> a criança, tanto por perdas<br />

auditivas condutivas quanto por problemas associados ao<br />

PPA; (iii) problemas na neuromaturação do sistema auditivo.<br />

A PPA pode estar associada à dificuldades na aprendizagem,<br />

dificuldades de linguagem, afasias do desenvolvimento,<br />

dislexia do desenvolvimento, perturbação da hiperatividade<br />

com défice de atenção, prematuridade, baixo peso ao<br />

nascer, doenças genéticas, trauma craniano, doenças do<br />

sistema nervoso central, exposição a substâncias tóxicas<br />

como o monóxido de carbono e o chumbo, síndrome de<br />

Landau-Kleffner, epilepsia, disfunções metabólicas, doenças<br />

cérebro-vasculares, doença de Lyme, perturbações do<br />

desenvolvimento 2,4 .<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 223<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


A avaliação do PA por testes comportamentais inclui testes<br />

monóticos e dicóticos, sendo recomendada a aplicação<br />

mínima de cinco categorias de testes auditivos: um teste<br />

de interação binaural, um dicótico, um monoaural de baixa<br />

redundância, um temporal e um de discriminação auditiva 3 .<br />

Os testes auditivos podem dividir-se em duas categorias, os<br />

denominados verbais e os não-verbais 5 . Os primeiros, incluem<br />

sempre um material com suporte linguístico que deve ser<br />

apresentado ao indivíduo avaliado na língua em que o mesmo<br />

domina. Assim, a escolha de uma voz adequada <strong>para</strong> a<br />

construção de testes verbais de processamento auditivo é de<br />

primordial importância, devendo ter em consideração alguns<br />

aspetos importantes como por exemplo frequência vocal, a<br />

clareza articulatória e a modulação da voz.<br />

Holube, Fredlake, Vlaming e Kollmeier 6 publicaram um<br />

estudo recente sobre o desenvolvimento e a análise de um<br />

teste <strong>para</strong> analisar a percepção da fala internacionalmente,<br />

o International Speech Test Signal (ISTS). De entre as<br />

características importantes que um teste deve ter <strong>para</strong><br />

analisar a audição com sons da fala, estes autores referem<br />

os parâmetros da frequência e da intensidade como os que<br />

devem ser tidos em consideração na gravação de testes<br />

verbais do PAC 6 .<br />

Os estudos apontam que a voz de representação feminina é a<br />

ideal <strong>para</strong> gravação de testes, pois abrange a maior parte dos<br />

parâmetros referentes ao espectro da fala, já que a frequência<br />

da fala feminina está entre a voz masculina e da criança 6,7 . No<br />

que diz respeito à intensidade do som, a recomendação recai<br />

sobre uma intensidade de 65dB, o que pode ser com<strong>para</strong>do a<br />

uma intensidade média obtida numa situação de conversação<br />

normal com uma distância de 1 metro de seu interlocutor 6 .<br />

De entre os testes existentes <strong>para</strong> avaliação em tarefas<br />

dicóticas e monóticas de baixa redundância optamos no<br />

nosso estudo pela aplicação do teste Fala com Ruído (FR) e<br />

224 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

Dicótico de Dígitos (DD). O teste FR foi descrito por Pereira<br />

e Fukuda 8 e tem como objetivo avaliar a capacidade do<br />

indivíduo de discriminar os sons da fala em situações de<br />

competição sonora com controlo da relação sinal/ruído. Por<br />

sua vez, o teste DD, que foi descrito por Pereira e Schochat 9 ,<br />

tem como objetivo avaliar a capacidade de integrar e se<strong>para</strong>r<br />

as informações ouvidas no ouvido direito e no ouvido<br />

esquerdo em simultâneo. O presente estudo visou adequar<br />

estes dois testes verbais já utilizados no Brasil à fonética da<br />

língua portuguesa em Portugal, <strong>para</strong> ser aplicado em crianças<br />

do nosso país como parte do conjunto mínimo de testes<br />

recomendados 3 .<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Seleção do locutor e gravação dos estímulos<br />

Para realização da gravação dos testes foi necessário encontrar<br />

uma voz cuja frequência fundamental (f0) estivesse à volta<br />

de 180Hz, frequência esta facilmente percebida pelo ouvido<br />

humano do adulto e da criança, pois encontra-se na média<br />

da faixa de frequência produzida pela criança (250 Hz), pela<br />

mulher adulta (231Hz) e pelo homem (116 Hz) 7 . Para além<br />

disso, era necessária uma articulação clara e precisa da fala<br />

<strong>para</strong> que fosse respeitada a locução ideal dos estímulos, sem<br />

omissões ou distorções do som.<br />

Para encontrarmos a(o) locutor(a) ideal, treze sujeitos<br />

voluntários, 4 homens e 9 mulheres, foram submetidos a<br />

análise vocal com uso software Vox Metria©, através da<br />

gravação da vogal sustentada /e/ e de algumas palavras do<br />

teste. As gravações foram realizadas nas salas Instituto de<br />

Educação da Universidade do Minho. Após a gravação dos 13<br />

sujeitos, a escolha recaiu sobre uma mulher, nascida numa<br />

família portuguesa e residente em Portugal Continental, que<br />

apresentou f0 média de 189Hz na produção das palavras que<br />

seriam utilizadas como estímulos nos teste (Imagem 1).<br />

Figura 1<br />

Imagem gerada pelo programa Vox Metria® da análise vocal dos estímulos verbais (teste FR) gravados pela locutora selecionada


Após a seleção da locutora, foi realizada a gravação de todos<br />

os sons de fala necessários <strong>para</strong> construção dos testes FR e DD<br />

em português europeu. Para a gravação foi utilizado um PC<br />

PowerMac G5 – 2.3 Ghz duplo; um equipamento de gravação<br />

M-Áudio projecto Mix I/o; um microfone AKG perception 100<br />

respeitando à distância microfone-boca cerca de 2 cm em<br />

posição lateral; um software Pro-Tools M Powered 7 – ano<br />

2008. Os estímulos foram gravados com taxa de padrão da<br />

amostragem de 44100Hz <strong>para</strong> manter a melhor qualidade<br />

possível no momento da reprodução 6 .<br />

Os estímulos selecionados <strong>para</strong> a gravação foram os vinte<br />

e cinco monossílabos a serem utilizados no teste FR e os<br />

vocábulos a serem utilizados no teste DD, nomeadamente os<br />

dígitos dissilábicos 4, 5, 7, 8 e 9.<br />

Para além dos dígitos e monossílabos a serem utilizados nos<br />

testes, foram gravados os seguintes estímulos: a sequência<br />

numérica “número 1, número 2, número 3…” até “…número<br />

25” a ser utilizada no teste FR <strong>para</strong> reforçar a atenção do sujeito<br />

avaliado e <strong>para</strong> o controlo da pesquisadora na identificação<br />

dos estímulos apresentados, bem como a palavra “repita”<br />

a ser utilizada no teste DD antes da apresentação de cada<br />

sequência numérica <strong>para</strong> que a criança reforce a sua atenção<br />

seletiva. A escolha destes vocábulos prévios foi mantida à<br />

semelhança do teste brasileiro <strong>para</strong> que evitássemos variáveis<br />

adicionais não estudadas nestes testes.<br />

Construção do Teste Fala com Ruído (FR) em português<br />

europeu<br />

O teste FR prevê uma tarefa monótica de reconhecimento de<br />

25 monossílabos apresentados a cada ouvido em conjunto<br />

com um ruído branco produzido pelo audiómetro denominado<br />

no equipamento de white noise.<br />

As quatro listas de monossílabos a serem utilizadas no nosso<br />

estudo foram designadas lista FR1, lista FR2, lista FR3 e lista<br />

FR4 (tabela 1). Os 25 monossílabos apresentados em cada lista<br />

repetem-se em ordem diferente. A gravação do estímulo foi<br />

realizada uma única vez de tal forma que quando determinada<br />

palavra é ouvida, todas as suas características se mantêm nas<br />

quatro listas do teste.<br />

A ordenação dos monossílabos nestas quatro listas, seguiu a<br />

mesma do teste original utilizado no Brasil e que serviu de base<br />

<strong>para</strong> o nosso estudo, nomeadamente o teste FR apresentado no<br />

livro “Processamento Auditivo Central: manual de avaliação”<br />

organizado por Pereira e Schochat 8 . Para a apresentação dos<br />

estímulos nas quatro sequências identificadas na tabela 1 foi<br />

utilizado o software Audacity® versão 1.3.9 <strong>para</strong> Windows<br />

Vista em um PC HP Pavilion dv2000.<br />

O intervalo de tempo inter-estímulo, isto é, entre a<br />

apresentação de um monossílabo e seguinte, foi de cerca<br />

de 2 segundos (Figura 1). Este intervalo pressupõe o tempo<br />

requerido <strong>para</strong> a resposta da criança na situação de teste.<br />

Cada monossílabo apresentado nas listas FR1, FR2, FR3 e<br />

FR4 precedia a contagem numérica da sua apresentação que<br />

seguiu do número 1 ao número 25. O teste FR foi finalizado<br />

com a produção de quatro arquivos de som que abrangiam<br />

um total de 25 monossílabos apresentados sequencialmente<br />

de acordo com as listas FR1, FR2, FR3 e FR4 (tabela 1).<br />

Tabela 1<br />

Listas de monossílabos do teste Fala de Ruído (FR).<br />

Item Lista FR1 Lista FR2 Lista FR3 Lista FR4<br />

1. TIL CHÁ DOR JAZ<br />

2. JAZ DOR BOI CÃO<br />

3. ROL MIL TIL CAL<br />

4. PUS TOM ROL BOI<br />

5. FAZ ZUM GIM NÚ<br />

6. GIM MEL CAL FAZ<br />

7. RIR TIL NHÁ GIM<br />

8. BOI GIM CHÁ PUS<br />

9. VAI DIL TOM SEIS<br />

10. MEL NÚ SUL NHA<br />

11. NÚ PUS TEM MIL<br />

12. LHE NHÁ PUS TEM<br />

13. CAL SUL NÚ ZUM<br />

14. MIL JAZ CÃO TIL<br />

15. TEM ROL VAI LHE<br />

16. DIL TEM MEL SUL<br />

17. DOR FAZ RIR CHÁ<br />

18. CHÁ LHE JAZ ROL<br />

19. ZUM BOI ZUM MEL<br />

20. NHÁ CAL MIL DOR<br />

21. CÃO RIR LHE VAI<br />

22. TOM CÃO LER DIL<br />

23. SEIS LER FAZ TOM<br />

24. LER VAI SEIS RIR<br />

25. SUL SEIS DIL LER<br />

Construção do Teste Dicótico de Dígitos (DD) em português<br />

europeu<br />

Para a construção do teste DD português europeu, foram<br />

mantidos os mesmos critérios de apresentação dos<br />

estímulos do teste DD português brasileiro, seja na ordem de<br />

apresentação, no tempo e intervalo entre cada estímulo e na<br />

escolha dos dígitos a serem apresentados em cada ouvido.<br />

Desta forma procedemos inicialmente à elaboração das listas<br />

DD1 e DD2, composta cada uma por 20 itens, como descrito<br />

na Tabela 2.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 225<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


Tabela 2<br />

Listas DD1 e DD2 do teste Dicótico de Dígitos (DD).<br />

Itens Lista DD1 Lista DD2<br />

1. 5 4 8 7<br />

2. 4 8 9 7<br />

3. 5 9 8 4<br />

4. 7 4 5 9<br />

5. 9 8 7 5<br />

6. 5 7 9 5<br />

7. 5_8 9 4<br />

8. 4 5 8 9<br />

9. 4 9 7 8<br />

10. 9 5 4 8<br />

11. 4 7 8 5<br />

12. 8 5 4 7<br />

13. 8 9 7 4<br />

14. 7 9 5 8<br />

15. 9 7 4 5<br />

16. 7 8 5 4<br />

17. 7 5 9 8<br />

18. 8 7 4 9<br />

19. 9 4 5 7<br />

20. 8 4 7 9<br />

O teste DD prevê uma tarefa dicótica de reconhecimento<br />

dos pares de vocábulos apresentados em simultâneo e em<br />

sequência ao ouvido direito e esquerdo. Com base nas listas<br />

DD1 e DD2 construímos dois arquivos de som utilizando o<br />

software Audacity® versão 1.3.9 <strong>para</strong> Windows Vista em um<br />

PC HP Pavilion dv2000.<br />

Para a reprodução das listas foi selecionado o programa<br />

Audacity® em que a saída de som da lista DD1 estivesse<br />

direcionada <strong>para</strong> o ouvido direito (canal 1) e a saída de som da<br />

226 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

lista DD2 estivesse direcionada <strong>para</strong> o ouvido esquerdo (canal<br />

2). Desta forma, o canal 1 e o canal 2 produziriam a lista DD1<br />

e DD2 em simultâneo, cada uma com saída <strong>para</strong> um ouvido,<br />

conforme se pode observar na figura 2. Na produção de cada<br />

conjunto de estímulos da lista DD1 e DD2 foi adicionada a<br />

palavra prévia “repita” <strong>para</strong> apresentação nos dois canais.<br />

O intervalo de tempo inter-estímulo, isto é, entre um estímulo<br />

e outro, esteve ao redor de 9 segundos o que foi mantido à<br />

semelhança do teste DD português brasileiro de referência.<br />

O tempo de intervalo inter-estímulo é o tempo que a criança<br />

supostamente deveria utilizar <strong>para</strong> responder à tarefa e o<br />

examinador apontar a resposta, de tal forma que o examinador<br />

não precisasse de acionar os controlos de interrupção e<br />

continuidade da emissão do som.<br />

Análise acústica dos estímulos gravados<br />

Foi utilizado o software Vox Metria®, comercializado pela<br />

empresa brasileira CTS informática, <strong>para</strong> medição da<br />

intensidade e da frequência vocal dos estímulos gravados em<br />

português europeu e que foram utilizados na nossa pesquisa<br />

<strong>para</strong> aplicação dos testes FR e DD. Do programa Vox Metria®<br />

foi extraída a função “estatísticas” <strong>para</strong> análise da F0 média<br />

dos estímulos gravados no teste FR e no DD, tendo observado<br />

uma frequência fundamental média de 189 Hz <strong>para</strong> as 4 listas<br />

(teste FR) e de 167Hz (teste DD).<br />

Validação dos testes FR e DD<br />

Com vista a verificar o reconhecimento dos vocábulos, os<br />

estímulos dos testes FR e DD foram aplicados a cinco adultos<br />

nascidos em Portugal Continental, com audiograma dentro<br />

da faixa de normalidade e sem evidência de perturbação na<br />

comunicação.<br />

Para análise de reconhecimento dos vocábulos a serem<br />

apresentados no teste FR, cada indivíduo ouviu as listas<br />

FR1, FR2, FR3, FR4 num nível de intensidade de 40dB NS<br />

com referência ao limiar médio de audibilidade <strong>para</strong> tom<br />

Figura 2<br />

Imagem obtida no programa Audacity® com as listas DD1 e DD2 (teste DD) gravadas em dois canais diferentes com suas respetivas<br />

direções <strong>para</strong> saída de som.


puro nas frequências de 500Hz, 1000Hz e 2000Hz. As listas<br />

foram apresentadas via audiómetro (AA-222, Interacoustics)<br />

em cabina insonorizada. A instrução dada era que o<br />

sujeito repetisse os monossílabos ouvidos. Para análise de<br />

reconhecimento dos vocábulos a serem apresentados no teste<br />

DD cada indivíduo ouviu a gravação dos dígitos quatro, cinco,<br />

sete, oito e nove nas mesmas condições técnicas que <strong>para</strong> o<br />

teste FR.<br />

RESULTADOS<br />

A locutora escolhida no nosso trabalho apresentou uma<br />

frequência fundamental (f0) na vogal sustentada entre os 139<br />

e 147 Hz com média e moda de 143 Hz. A média da f0 durante<br />

a locução dos estímulos gravados <strong>para</strong> os testes FR e DD foi<br />

de 178 Hz. Durante a emissão da vogal sustentada obtivemos<br />

uma intensidade de voz gravada média de 53 dB, e na locução<br />

dos estímulos verbais, uma média de 70 dB.<br />

Da análise do reconhecimento dos estímulos do teste FR<br />

pelos cinco adultos portugueses verificou-se uma baixa<br />

quantidade de erros, nomeadamente dois erros na repetição<br />

nos vocábulos “gim” e “jaz” por um mesmo sujeito, um erro<br />

na repetição do vocábulo “zum” por um segundo sujeito,<br />

e ausência de erros nos demais. Assim, de um total de 25<br />

estímulos ouvidos e repetidos por cada um dos cinco adultos,<br />

obtivemos um percentil de 2,4% de erros, o que nos remeteu<br />

a aceitação dos estímulos gravados.<br />

Também no teste DD, os cinco adultos portugueses<br />

reconheceram 100% dos estímulos apresentados, pelo que<br />

aceitámos a gravação dos vocábulos das Listas DD1 e DD2 <strong>para</strong><br />

serem utilizados no teste Dicótico de Dígitos.<br />

Deste estudo, não só a clareza articulatória da locutora foi<br />

evidenciada pelos cinco adultos testados, como também a<br />

intensidade e a frequência da qualidade vocal da gravação<br />

dos testes estão de acordo com estudos anteriores 6,7 que<br />

apresentaram valores próximos dos obtidos na análise<br />

realizada sobre os mesmos testes gravados em português<br />

brasileiro, que serviu de referência <strong>para</strong> o presente estudo.<br />

CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES<br />

Neste estudo construímos dois testes, Fala com Ruído (FR) e<br />

Dicótico de Dígitos (DD), que foram devidamente validados<br />

<strong>para</strong> a fonética portuguesa, podendo por isso ser aplicados<br />

em estudos <strong>para</strong> avaliação de eventuais problemas de<br />

processamento auditivo. Estamos, atualmente, a aplicar estes<br />

dois testes (<strong>para</strong> além dos outros testes recomendados pela<br />

ASHA, 2005) em crianças de 10 a 13 anos da Região Norte de<br />

Portugal, com vista a detetar crianças com perturbações do<br />

processamento auditivo.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Este estudo desenvolve-se no âmbito do centro de investigação<br />

CIFPEC/CIEC do Instituto de Educação, da Universidade do<br />

Minho e a primeira autora usufrui de uma bolsa da Fundação<br />

<strong>para</strong> Ciência e Tecnologia (FCT- SFRH/BD/43512/2008).<br />

Referências Bibliográficas:<br />

1.ASHA – American Speech-Language Hearing Association. Central<br />

auditory processing: current status of research and implications for<br />

clinical practice, task force on central auditory processing consensus<br />

development. Am J Audiology 1996; 5: 41-54<br />

2.Yalcinkaya F, Keith R. Understand auditory processing disorders.<br />

Turkish Journal of Pediatrics 2008; 50; 101-105<br />

3.American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) – Technical<br />

report (Central) Auditory Processing Disorders: Working Group on<br />

Auditory Processing Disorder. 2005. http://www.asha.org/docs/<br />

html/tr2005-00043.html. (Acedido em Novembro 15, 2008).<br />

4.Bellis T. J., Central Auditory Processing in Clinical Practice. www.<br />

audilogyonline.com/articles.<br />

5.Nunes, C. L., Frota S. Audio Training: fundamentação teórica e<br />

prática. 1ª ed. São Paulo, Ed. AM3 Artes, 2005.<br />

6.Holube I, Fredlake S, Vlaming M, Kollmeier B. Development<br />

International Journal of Audiology 2010; 49; 891 – 903.<br />

7.Behlau M, Pontes P. Avaliação e Tratamento das Disfonias. São<br />

Paulo: Ed. Lovise, 1995, pp43- 49.<br />

8.Pereira LD, Fukuda Y. Audiometria verbal: teste de discriminação<br />

vocal com ruído. In: Behlau M (org).Fonoaudiologia Hoje, São Paulo,<br />

Lovise; 1995; pp265-66.<br />

9.Santos M, Pereira L. Escuta com dígitos. In: Pereira LD e Schochat<br />

E (Eds.). Processamento Auditivo Central: manual de avaliação, São<br />

Paulo, Lovise, 1997; pp147-149.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 227<br />

ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE


228<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Incisão sublabial versus columelar no acesso<br />

trans-septal <strong>para</strong> cirurgia trans-esfenoidal<br />

microscópica da hipófise. Estudo retrospectivo.<br />

Sublabial versus columellar incision in trans-septal<br />

transsphenoidal approach for microscopic<br />

pituitary surgery. Retrospective study.<br />

Joana Guimarães Joana Santos Daniel Miranda Filipa Carvalho Moreira Nuno Marçal Gabriel Pereira Olinda Marques<br />

Rui Almeida Sérgio Vilarinho Altino Frias Carlos Alegria Rui Pratas<br />

RESUMO<br />

Objectivos: Com<strong>para</strong>r a incisão sublabial com a incisão<br />

columelar no acesso trans-septal <strong>para</strong> cirurgia trans-<br />

-esfenoidal microscópica da hipófise, quanto às complicações<br />

perioperatórias e sequelas observadas.<br />

Desenho do estudo: Estudo retrospectivo.<br />

Material e métodos: Revisão dos registos clínicos de 50<br />

doentes submetidos a cirurgia trans-esfenoidal microscópica<br />

<strong>para</strong> ressecção de adenoma da hipófise, no Hospital de<br />

Braga, entre Julho de 2007 e Novembro de 2010. Foram<br />

colhidos e avaliados dados demográficos, co-morbilidades<br />

Joana Guimarães<br />

Interna de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Joana Santos<br />

Interna de Formação Específica do Serviço de Endocrinologia, Hospital de Braga<br />

Daniel Miranda<br />

Interno de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Filipa Carvalho Moreira<br />

Interna de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Nuno Marçal<br />

Interno de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Gabriel Pereira<br />

Interno de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Olinda Marques<br />

Assistente Graduada do Serviço de Endocrinologia, Hospital de Braga<br />

Rui Almeida<br />

Assistente Graduado do Serviço de Neurocirurgia, Hospital de Braga<br />

Sérgio Vilarinho<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Altino Frias<br />

Director do Serviço de Endocrinologia, Hospital de Braga<br />

Carlos Alegria<br />

Director do Serviço de Neurocirurgia, Hospital de Braga<br />

Rui Pratas<br />

Director do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Correspondência:<br />

Joana Guimarães<br />

Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Largo Carlos Amarante<br />

4701-965 Braga<br />

Tlm.: 917969155<br />

joanarguimaraes@gmail.com<br />

pré-operatórias, classificações histológica e imagiológica do<br />

adenoma, duração da cirurgia, duração do internamento e<br />

complicações per(pré)- e pós-operatórias. O seguimento dos<br />

doentes foi entre um e seis meses. Na análise estatística foi<br />

utilizado o programa SPSS® Statistics 17.0.<br />

Resultados: 50 doentes, 32 (64%) do sexo feminino e 18 (36%)<br />

do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 16 e<br />

87 anos, média de 50 anos. 40 (80%) casos tratavam-se de<br />

macroadenomas e 10 (20%) de microadenomas. 15/47 (31.9%)<br />

doentes foram submetidos a cirurgia trans-esfenoidal transseptal<br />

através de incisão columelar e 32/47 (68.1%) doentes<br />

através de incisão sublabial. Verificaram-se complicações<br />

oronasais num total de 5/14 (35.7%) doentes no grupo em<br />

que foi utilizada incisão columelar e 14/29 (48.3%) doentes<br />

no grupo em que foi utilizada incisão sublabial (p>0.05).<br />

Verificou-se que doentes com excesso de peso tiveram mais<br />

frequentemente complicações (p


Material and methods: Revision of the clinical records of 50<br />

patients submitted to transsphenoidal microscopic surgery to<br />

resection of pituitary adenoma, in Braga Hospital, between July<br />

2007 and November 2010. Demographic data, pre-operative<br />

co-morbidities, histological and radiological classifications,<br />

operative time, lenght of hospital stay and per(pre)- and<br />

postoperative complications were collected and evaluated.<br />

Patient follow-up was one to six months. SPSS® Statistics 17.0<br />

program was used for statistical analysis.<br />

Results: 50 patients, 32 (64%) female and 18 (36%) male,<br />

ranging from 16 and 87 years old, mean 50 years old. 40 (80%)<br />

presented macroadenoma and 10 (20%) microadenoma.<br />

15/47 (31.9%) patients were submitted to transseptal<br />

transsphenoidal surgery with columellar incision and 32/47<br />

(68.1%) with sublabial incision. Oronasal complications were<br />

observed in 5/14 (35.7%) patients of the columellar group<br />

and 14/29 (48.3%) patients of the sublabial group (p>0.05).<br />

Overweight patients had more complications (p


oronasais. O seguimento dos doentes foi entre um<br />

e seis meses, com avaliação em consulta externa de<br />

Otorrinolaringologia. Na análise estatística dos dados<br />

foi utilizado o programa SPSS® Statistics 17.0.<br />

RESULTADOS<br />

A média de idades da amostra é de 50 anos.<br />

Dos 50 doentes avaliados, 10 (20%) tinham sido<br />

submetidos a mais de uma intervenção hipofisária,<br />

sabendo-se que em cinco pacientes (ou se utiliza a<br />

expressão “doente”, como referido anteriormente<br />

ou a expressão “paciente”) as duas cirurgias foram<br />

realizadas por via trans-esfenoidal com incisão<br />

sublabial. Nos restantes, desconhece-se a técnica<br />

utilizada na primeira cirurgia, pelo facto de ter sido<br />

realizada noutra instituição. Foram avaliados dados<br />

clínicos e endocrinológicos da amostra, representados<br />

na Tabela 1.<br />

TABELA 1<br />

Dados relativos a presença de co-morbilidades pré-operatórias.<br />

Sexo<br />

Co-morbilidade Feminino (n=32)<br />

n (%)<br />

Masculino (n=15)<br />

n (%)<br />

Diabetes 3 (9.4) 3 (20.0)<br />

Hipertensão<br />

arterial<br />

16 (50) 5 (33.3)<br />

Dislipidemia 5 (15.6) 3 (20.0)<br />

Hipopituitarismo<br />

(total ou parcial)<br />

13 (14.6) 11 (68.8)<br />

Excesso de Peso<br />

IMC ≥25 (Kg/m2 )<br />

21 (65.7) 10 (66.6)<br />

Através de imagem de Ressonância Magnética préoperatória<br />

(todos tinham RM pré-operatória?) Convém<br />

referir verificou-se que 40 (80%) dos tumores eram<br />

macroadenomas e os restantes 10 (20%) microadenomas.<br />

Os macroadenomas foram também classificados<br />

imagiologicamente de acordo com o tipo de crescimento,<br />

como se representa na Figura 1. A classificação histológica<br />

dos adenomas, após exame anatomopatológico da peça<br />

operatória está representada na Figura 2.<br />

Todos os doentes foram submetidos a cirurgia da hipófise<br />

por via trans-esfenoidal. O tipo de incisão utilizada,<br />

conhecida em 47 casos, foi a incisão sublabial em 32<br />

casos e a incisão columelar em 15 casos.<br />

3 doentes faleceram, 2 durante o primeiro mês pós-<br />

-operatório, no hospital, por hidrocefalia, sendo que um<br />

dos doentes apresentava já hidrocefalia pré-operatória.<br />

O outro doente veio a falecer cerca de 3 meses pósoperatório,<br />

no ambulatório, de causa indeterminada.<br />

Neste estudo, verificou-se então uma taxa de mortalidade<br />

de 4%. Nestes 3 casos, o acesso a informação foi mais<br />

FIGURA 1<br />

Classificação dos macroadenomas relativamente ao tipo de<br />

crescimento.<br />

FIGURA 2<br />

Classificação histológica dos adenomas.<br />

limitado pelo facto do processo se encontrar arquivado.<br />

Durante a cirurgia, em 6/47 (12.8%) doentes observou-se<br />

saída de líquido cefalorraquidiano (LCR).<br />

A duração da cirurgia teve uma média (desvio padrão) de<br />

210 (33) minutos no grupo da incisão sublabial e de 228<br />

(29) minutos no grupo da incisão columelar.<br />

Em 34/47 (72.3%) doentes foi efectuado tamponamento<br />

bilateral das fossas nasais com merocel® e a mediana de<br />

duração do tamponamento foi de 5 dias. Nos restantes o<br />

tamponamento foi realizado com spongostan®. Apenas<br />

um doente tamponado com spongostan® teve epistáxis<br />

ao segundo dia pós-operatório com necessidade de<br />

tamponamento com merocel®, removido ao fim de 3<br />

dias. Em nenhum outro caso se verificou complicação ou<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 231<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


queixa significativa da ferida cirúrgica relacionada com a<br />

abordagem. Verificaram-se complicações em 4 doentes<br />

no pós-operatório imediato, sendo que dois doentes<br />

complicaram com fístula de LCR, um doente complicou<br />

com meningite e outro doente complicou com trombose<br />

venosa profunda. Após a cirurgia, todos os doentes<br />

estiveram inicialmente internados em Unidade de<br />

Cuidados Intermédios (UCI) de Neurocirurgia, passando<br />

posteriormente <strong>para</strong> a enfermaria. Os resultados<br />

relativos a duração do internamento na UCI, tempo pós-<br />

-operatório até início da dieta e levante e duração total<br />

do internamento encontram-se resumidos na Tabela 2.<br />

TABELA 2<br />

Com<strong>para</strong>ção entre doentes submetidos a cirurgia com incisão<br />

sublabial e columelar.<br />

Duração da cirurgia<br />

Média (desvio-padrão)<br />

em minutos<br />

Início levante<br />

Mediana (mínimo-máximo)<br />

em dias<br />

Início dieta<br />

Mediana (mínimo-máximo)<br />

em dias<br />

Alta UCI<br />

Mediana (mínimo-máximo)<br />

em dias<br />

Alta enfermaria<br />

Mediana (mínimo-máximo)<br />

em dias<br />

Incisão<br />

Sublabial<br />

(n=32)<br />

Incisão<br />

Columelar<br />

(n=15)<br />

210 (33) 228 (29) 0.074<br />

2 (2-4) 2 (2-5) 0.886<br />

1 (1-3) 1 (1-1) 0.291<br />

2 (1-5) 2 (1-6) 0.324<br />

6 (5-8) 6 (5-10) 0.704<br />

Em nenhum caso havia, no momento da consulta<br />

externa de Otorrinolaringologia pós-operatória, queixa<br />

espontânea relacionada com sintomas nasais ou orais,<br />

cefaleia, dor na face, acerca de defeito estético columelar<br />

ou outras possivelmente relacionadas com complicações<br />

do procedimento cirúrgico.<br />

Ao exame objectivo, à rinoscopia e oroscopia, dos 43<br />

doentes em que foi possível consultar os registos da<br />

consulta externa de Otorrinolaringologia, entre um a<br />

seis meses após a cirurgia, verificaram-se um total de<br />

19 (44.2%) doentes com sequelas, dos quais, 9 (20.9%)<br />

doentes com perfuração septal, 8 (18.6%) doentes com<br />

crostas, 5 (11.6%) doentes com secreção purulenta, 2<br />

(4.7%) doentes com obstrução nasal e 2 (4.7%) doentes<br />

com sinéquias. Nenhum doente apresentou complicações<br />

da ferida cirúrgica. Verificaram-se sequelas oronasais<br />

num total de 14/29 (48.3%) doentes no grupo em que<br />

foi utilizada incisão sublabial e 5/14 (35.7%) doentes no<br />

grupo em que foi utilizada incisão columelar (Figura 3),<br />

232 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

p<br />

nenhum dos quais motivou alteração da conduta pós-<br />

-operatória ou intervenção correctiva.<br />

As Tabelas 3 e 4 representam a com<strong>para</strong>ção do tipo de<br />

sequelas de acordo com a incisão cirúrgica utilizada, nos<br />

doentes submetidos apenas a uma cirurgia e nos doentes<br />

submetidos a cirurgia de revisão, sendo que em alguns<br />

casos verificou-se mais do que uma complicação no<br />

mesmo doente.<br />

FIGURA 3<br />

Total de doentes com complicações submetidos a cirurgia com<br />

incisão sublabial e columelar.<br />

TABELA 3<br />

Número e percentagem de sequelas oronasais verificadas em<br />

doentes submetidos a cirurgia única com incisão sublabial e<br />

columelar.<br />

Sequelas<br />

Oronasais<br />

Incisão Sublabial<br />

(n=21)<br />

n (%)<br />

Incisão Columelar<br />

(n=13)<br />

n (%)<br />

Ferida Cirúrgica 0 (0) 0 (0)<br />

Obstrução Nasal* 0 (0) 1 (7.7)<br />

Sinéquias** 1 (4.8) 0 (0)<br />

Crostas 3 (14.3) 3 (23.1)<br />

Secreção Purulenta 1 (4.8) 2 (15.4)<br />

Perfuração Septal 5 (23.8) 1 (7.7)<br />

TABELA 4<br />

Número e percentagem de sequelas oronasais verificadas em<br />

doentes submetidos a cirurgia de revisão com incisão sublabial<br />

e columelar.<br />

Sequelas<br />

Oronasais<br />

Incisão Sublabial<br />

(n=21)<br />

n (%)<br />

Incisão Columelar<br />

(n=13)<br />

n (%)<br />

Ferida Cirúrgica 0 (0) 0 (0)<br />

Obstrução Nasal* 0 (0) 1 (100)<br />

Sinéquias** 1 (12.5) 0 (0)<br />

Crostas 2 (25) 0 (0)<br />

Secreção Purulenta 2 (25) 0 (0)<br />

Perfuração Septal 3 (37.5) 0 (0)<br />

Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas<br />

na taxa de doentes com sequelas de acordo com incisão


cirúrgica utilizada, idade, sexo, classificação imagiológica<br />

do adenoma, ou em doentes com diabetes, hipertensão<br />

arterial, dislipidemia ou hipopituitarismo pré-operatórios.<br />

Verificou-se que doentes com excesso de peso tiveram<br />

mais vezes complicações (p


ALERTA<br />

ABERTURA DE CANDIDATURAS PARA<br />

SUBMETER PROJECTOS<br />

BOLSAS DE ESTUDO <strong>SPORL</strong> / AMPLIFON<br />

DATA LIMITE 31 DE JANEIRO 2012<br />

(Normas na Rev Port ORL 2010;48(3):170)<br />

234 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Cirurgia laser CO 2 no tratamento de tumores<br />

malignos glóticos<br />

CO 2 laser surgery for the treatment of glottic<br />

cancer<br />

Alexandra Jerónimo Pedro Cavilhas Luís Oliveira Pedro Montalvão Miguel Magalhães<br />

RESUMO<br />

Introdução: A microcirurgia transoral com laser CO 2 (MTOL) é<br />

uma alternativa no tratamento de tumores malignos glóticos.<br />

Material e Métodos: Estudo retrospectivo dos doentes<br />

submetidos a MTOL, de Janeiro de 2000 a Dezembro de<br />

2005, incluindo apenas os casos em que o laser constituiu o<br />

tratamento primário.<br />

Resultados: Total de 45 doentes: CIS (n=9), T1a (n=29), T1b<br />

(n=5), T2 (n=1), T3 (n=1), com follow-up médio de 63,5<br />

meses. Obteve-se uma taxa de recidiva local global de 22,2%,<br />

verificando-se o envolvimento da comissura anterior em 40%<br />

das recidivas. A taxa de sobrevida global e livre de doença, aos<br />

5 anos, foi de 82,2%, com uma taxa de preservação laríngea<br />

de 89,2%.<br />

Conclusão: O laser CO 2 é uma opção eficaz na abordagem de<br />

neoplasias glóticas em estadio inicial. A taxa de recidiva tumoral<br />

é maior quando há tumor na margem e/ou envolvimento da<br />

comissura anterior. Tumores glóticos localmente avançados<br />

são mais susceptíveis ao insucesso terapêutico por esta<br />

técnica.<br />

Palavras-chave: tumor maligno glótico, microcirurgia transoral<br />

laser CO 2 , comissura anterior, margem cirúrgica.<br />

Alexandra Jerónimo<br />

Interna do Internato Complementar do Serviço de ORL do Centro Hospitalar Lisboa Central<br />

(CHLC): Hospital de São José<br />

Pedro Cavilhas<br />

Interno do Internato Complementar do Serviço de ORL do CHLO: Hospital de Egas Moniz<br />

(HEM)<br />

Luís Oliveira<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço de ORL do IPOFG<br />

Pedro Montalvão<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço de ORL do IPOFG<br />

Miguel Magalhães<br />

Chefe de Serviço e Director do Serviço de ORL do IPOFG<br />

Correspondência:<br />

Serviço de ORL do Instituto Português de Oncologia Franscisco Gentil<br />

Morada: Rua Professor Lima Basto, 1099-023 Lisboa<br />

Tel: 927089186<br />

Email: asjeronimo@gmail.com<br />

Trabalho <strong>para</strong> apresentação no 58º Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de<br />

Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – Hotel CS Salgados Golf, Albufeira, Algarve, 5 a<br />

8 de Maio de 2011.<br />

ABSTRACT<br />

Introduction: Transoral laser microsurgery (TLM) can be<br />

considered a valid alternative in the treatment of glottic<br />

cancer.<br />

Matherial and Methods: Retrospective study, considering all<br />

patients treated with TLM, from January 2000 to December<br />

2005. Patients were considered for the present study if they<br />

underwent laser surgery as primary treatment of glottic<br />

cancer.<br />

Results: 45 patients: CIS (n=9), T1a (n=29), T1b (n=5), T2<br />

(n=1), T3 (n=1). The mean duration of follow-up was 63,3<br />

months. The rate of global local recurrence was 22,2%, with<br />

the anterior commissure involvement being responsible for<br />

40% of the recurrences. The 5-year overall survival and the<br />

5-year disease-free survival were 82,2%, and the laryngeal<br />

preservation rate was 89,2%.<br />

Conclusion: This study supports the role of TLM in treating<br />

early-stage glottic cancer. The highest recurrence rates occur<br />

with positive margins and anterior commissure involvement.<br />

Advanced glottic cancers are not a consensual indication for<br />

laser surgery, usually with worse oncological outcome.<br />

Keywords: glottic cancer, transoral CO 2 laser microsurgery,<br />

anterior commissure, margin status.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A abordagem de doentes com tumor glótico em estádio<br />

inicial, por laringectomia parcial externa, radioterapia<br />

(RT) e, mais recentemente, por microcirurgia transoral<br />

laser, é um tema complexo, em constante mudança e<br />

envolto em controvérsia. Actualmente, o objectivo<br />

final prende-se não só com os resultados oncológicos<br />

mas também funcionais, gerando um conflito entre<br />

a necessidade de remoção tumoral com margem<br />

oncológica segura e a tentativa de preservação tecidular<br />

<strong>para</strong> um melhor resultado da função laríngea 1 . As três<br />

técnicas estão associadas a taxas de controlo local<br />

semelhantes, entre os 80-90% 2,3 .<br />

Estão descritas numerosas vantagens do tratamento das<br />

lesões malignas glóticas por cirurgia laser em detrimento<br />

da RT. Constitui um acto único, durante o qual é<br />

possível a realização simultânea de biopsia diagnóstica<br />

e a ressecção curativa, apresenta uma relação custo-<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 235<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


-eficácia favorável, reduzida taxa de complicações e<br />

morbilidade e ainda permite tratamentos posteriores no<br />

caso de recidiva ou segundo tumor primário da cabeça<br />

e pescoço 1,3,5 . É essencial um conhecimento correcto da<br />

extensão do tumor, durante a avaliação pré-operatória,<br />

de forma a seleccionar o tipo de cordectomia mais<br />

adequado a realizar, tendo por base a Classificação<br />

da Sociedade Europeia de Laringologia. A RT está<br />

associada a melhor qualidade vocal mas maior risco de<br />

recidiva loco-regional. As laringectomias parciais são<br />

mais seguras oncologicamente, mas com resultados<br />

funcionais menos satisfatórios e pós-operatórios mais<br />

complicados 4 .<br />

O uso do laser na microcirurgia transoral <strong>para</strong> o<br />

tratamento de tumores glóticos em estádio inicial, foi<br />

descrito pela primeira vez por Strong e Jako, em Boston,<br />

Massachusetts, em 1972 1,2,4,5,6 . Uma técnica que recebeu<br />

uma aceitação crescente e particularmente evidenciada<br />

pelos trabalhos de Steiner. Este último introduziu o<br />

conceito do uso do laser no tratamento curativo de<br />

tumores glóticos avançados por meio da fragmentação<br />

da peça operatória, estratégia que permite ao cirurgião<br />

um mapeamento microscópico da profundidade do<br />

tumor e o acesso às margens em múltiplos planos 4 .<br />

O envolvimento da comissura anterior (CA) está<br />

geralmente associado a um aumento da taxa de recidiva<br />

local, e a sua eficácia como barreira tumoral tem sido<br />

alvo de numerosas investigações. Alguns autores<br />

assumem que a CA representa um ponto de fraqueza à<br />

invasão tumoral, ao nível do ligamento de Broyle, onde a<br />

falta de pericôndrio na sua área de inserção, permite ao<br />

tumor a invasão do esqueleto laríngeo. Outros autores<br />

acreditam que a CA constitui um ponto de resistência à<br />

disseminação cranial dos tumores com origem na região<br />

cordocomissural 8 . Tumores primários da CA são raros,<br />

contudo, é frequente o seu envolvimento em tumores<br />

glóticos, sendo que um estadio aparentemente inicial<br />

nem sempre corresponde à realidade 9 . O tratamento<br />

por microcirurgia laser pode ser dificultado por<br />

uma exposição endoscópica deficiente, que poderá<br />

comprometer a excisão completa e conduzir a sequelas<br />

funcionais importantes, nomeadamente por sinéquia. A<br />

RT e a cirurgia conservadora da laringe por via externa<br />

mantêm-se como opções válidas na abordagem destas<br />

lesões.<br />

Uma ressecção tumoral com margem segura, num<br />

tumor maligno da cabeça e pescoço, é um dos<br />

principais factores com impacto na recidiva local,<br />

sendo que tumores da cavidade oral, orofaringe e<br />

hipofaringe requerem margens mais amplas que<br />

os tumores da laringe. Ansarin et al 10 , num estudo<br />

prospectivo publicado em 2009, concluiram que <strong>para</strong> a<br />

236 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

remoção de um tumor glótico, em estádio inicial, com<br />

microcirurgia laser, uma margem de 1mm do limite<br />

tumoral era oncologicamente segura. Contudo, face à<br />

técnica cirúrgica do laser, que envolve diferentes graus<br />

de destruição tecidular, as margens nem sempre são<br />

passíveis de uma interpretação inequívoca por parte<br />

do Anatomo-patologista. Nestes casos, é essencial a<br />

certeza, por parte do cirurgião, da excisão tumoral<br />

completa.<br />

Os autores pretendem com o presente trabalho, realizar<br />

um estudo retrospectivo dos resultados do uso de<br />

microcirurgia laríngea transglótica com laser CO 2 , na<br />

abordagem de 45 doentes com lesões malignas glóticas,<br />

no período de 2000 a 2005; analisar taxas de sobrevida<br />

aos 5 anos, global e livre de doença, de controlo local e<br />

de preservação laríngea, bem como avaliar o impacto do<br />

envolvimento da comissura anterior e da presença de<br />

margens cirúrgicas, seguras ou não, na taxa de recidiva.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2005, 147 doentes<br />

foram submetidos a microcirurgia transoral com laser<br />

CO 2 , no Serviço de Otorrinolaringologia do Instituto<br />

Português de Oncologia Francisco Gentil, em Lisboa.<br />

Destes doentes, foram excluídos 102, por patologia<br />

benigna, por lesões pré-malignas, por lesões supra e<br />

sub-glóticas, ou pelo facto de o laser não ter constituído<br />

o tratamento primário na abordagem dos tumores<br />

malignos glóticos. Um total de 45 doentes foram<br />

considerados elegíveis e incluídos no estudo, com um<br />

predomínio do sexo masculino (93,3% <strong>para</strong> 6,7%) e uma<br />

idade média de 61,6 anos, com uma idade mínima de 36<br />

e máxima de 84 anos. No que diz respeito aos factores<br />

de risco <strong>para</strong> tumor da laringe, foram considerados os<br />

hábitos alcoólicos, tabágicos e a papilomatose laríngea.<br />

Os hábitos tabágicos foram apenas conhecidos em<br />

82,2% dos doentes obtendo-se 24,3% de não fumadores<br />

e os restantes 75, 7% com hábitos entre os 10-135<br />

UMA (Unidade Maço Ano). Dos hábitos etanólicos,<br />

conhecidos em 28 casos, foram subdivididos em não<br />

consumidor (32,1%), ligeiros (10,7%), moderados<br />

(32,1%) e marcados (25%) de acordo com avaliação<br />

subjectiva do doente. Foi identificada papilomatose<br />

laríngea em 3 casos (6,7%).<br />

Foi utilizada a Classificação TNM da AJCC – 2002<br />

Laringe/Glote com a inclusão de 9 (20%) Carcinoma in<br />

situ (CIS), 29 (64,4%) T1a, 5 (11,2%) T1b, 1 (2,2%) T2 e 1<br />

(2,2%) T3, sendo que em 11 dos 45 casos se verificou o<br />

envolvimento da comissura anterior (24,4% dos casos).<br />

Nenhum dos doentes apresentava invasão ganglionar<br />

cervical ou metastização à distância.<br />

O estudo pré-operatório incluiu anamnese com exame


físico sempre complementado por endoscopia laríngea,<br />

rígida ou flexível, avaliação analítica, radiografia de<br />

tórax, electrocardiograma e tomografia computorizada<br />

<strong>para</strong> avaliar a verdadeira extensão tumoral.<br />

Todos os procedimentos cirúrgicos foram realizados<br />

sob anestesia geral, utilizando um tubo endotraqueal<br />

resistente a lesões térmicas e asseguradas as medidas<br />

de protecção <strong>para</strong> o doente, equipa cirúrgica e<br />

restantes elementos presentes no bloco operatório.<br />

Sob controlo microscópico, foi utilizado um aparelho<br />

de laser CO 2 programado em superpulso, modo<br />

contínuo e com potência de 6 a 8W. Nos casos em<br />

que não foi possível a excisão tumoral em bloco, esta<br />

foi removida por fragmentos, tendo o cirurgião, intraoperatoriamente,<br />

confirmado a excisão completa após<br />

exame detalhado da(s) peça(s). As margens foram<br />

avaliadas posteriormente, não se procedendo a exame<br />

extemporâneo das peças ou leito cirúrgico.<br />

O tipo de cordectomia foi classificado de acordo com<br />

as indicações da Sociedade Europeia de Laringologia<br />

(SEL) 1,2,15 da seguinte forma: Tipo I (cordectomia<br />

subepitelial) com remoção apenas de mucosa, <strong>para</strong><br />

lesões superficiais não ultrapassando o córion; Tipo II<br />

(cordectomia subligamentar) com remoção de mucosa<br />

e ligamento vocal até à porção superficial do músculo<br />

vocal; Tipo III (cordectomia transmuscular) com remoção<br />

de parte do músculo vocal; Tipo IV (cordectomia total)<br />

com excisão da apófise vocal à comissura anterior com<br />

ou sem inclusão de pericôndrio; Tipo V (cordectomia<br />

alargada) incluindo a ressecção da corda vocal contralateral,<br />

parcial ou total, e a comissura anterior (Tipo<br />

Va), aritenóide (Tipo Vb), banda ventricular (Tipo Vc) e/<br />

ou subglote (tipo Vd). Nenhum doente foi submetido<br />

a esvaziamento ganglionar cervical profiláctico,<br />

traqueotomia ou colocação de sonda nasogástrica<br />

(SNG). A média do internamento foi de 2,9 dias,<br />

com um mínimo de 1 e máximo de 11 dias (doente<br />

submetido concomitantemente a parotidectomia total<br />

por carcinoma pavimento-celular da parótida), com<br />

os doentes internados na véspera da cirurgia, sendo<br />

que 71,1% dos doentes teve alta até ao 2ºdia de pós-<br />

-operatório, com dieta mole e, quando considerado<br />

pertinente, agendamento de consulta de terapia da fala.<br />

Alguns dos doentes cujo resultado anatomo-patológico<br />

da peça revelou margem com tumor ou margem não<br />

avaliável pela técnica, foram submetidos a terapêutica<br />

adjuvante com Radioterapia (RT).<br />

Estes casos seleccionados dependeram da descrição<br />

intra-operatória do cirurgião e da agressividade<br />

e diferenciação histológica do tumor. O follow-up<br />

respeitou os intervalos aconselhados na literatura.<br />

Noventa por cento das recidivas foram submetidas<br />

a tratamento de resgate. Não foi realizado o estudo<br />

funcional quantitativo relativamente aos parâmetros da<br />

voz e da deglutição.<br />

RESULTADOS<br />

Os doentes incluídos no estudo foram submetidos a um<br />

follow-up médio de 63,5 meses, num intervalo de tempo<br />

de 10-120 meses. Registaram-se 8 mortes, pela doença<br />

ou por outras causas, aos 10 (2 casos), 12 (2 casos),<br />

19, 26, 34 e 45 meses após a data da cirurgia. Todos os<br />

restantes doentes tiveram um follow-up mínimo de 60<br />

meses (5 anos).<br />

As 45 cordectomias subdividiram-se da sequinte<br />

forma: 6 Tipo I, 2 Tipo II, 18 Tipo III, 6 Tipo IV e 13<br />

tipo V (Tabela 1). Na cordectomia tipo I, a referente<br />

ao caso de T1b, tratou-se de vaporização de extensa<br />

lesão de papilomatose, bilateral, mas foi considerada<br />

como procedimento único <strong>para</strong> uniformização dos<br />

dados. Nas cordectomias tipo V, os casos de CIS e T1a<br />

foram abordados por esta técnica por envolvimento<br />

da comissura anterior. A variante Va foi incluída na<br />

cordectomia Tipo V.<br />

TABELA 1<br />

Distribuição do tipo de cordectomia, nos 45 doentes, de acordo<br />

com a classificação da SEL.<br />

Tipo I Tipo II Tipo III Tipo IV Tipo V Totais<br />

CIS 1 2 5 - 1 9<br />

T1a 4 - 13 6 6 29<br />

T1b 1 - - - 4 5<br />

T2 - - - - 1 1<br />

T3 - - - - 1 1<br />

Totais 6 2 18 6 13 45<br />

O diagnóstico anatomo-patológico das peças cirúrgicas<br />

incluiu: carcinoma pavimento-celular (CPC) (n=41),<br />

carcinoma verrucoso (n=1), carcinoma híbrido (n=1) e<br />

carcinoma sarcomatoide (CS) (n=2).<br />

Relativamente às margens cirúrgicas, em 35,6% dos<br />

casos (n=16), o relatório da Anatomia Patológica<br />

confirmou margens livres de tumor e os doentes não<br />

foram submetidos a terapêutica adjuvante, mantendo-se<br />

em vigilância periódica. Nos restantes 64,4% dos casos<br />

(n=29), o relatório revelou margem positiva <strong>para</strong> tumor ou<br />

margem não avaliável pela técnica cirúrgica. Destes, um<br />

doente recusou RT e foi submetido a laringectomia total<br />

(LT) por excisão insuficiente e agressividade do tumor<br />

(cordectomia tipo I em T1b cujo resultado anatomopatológico<br />

revelou CPC invasivo bem diferenciado, com<br />

áreas de carcinoma verrucoso). Dos restantes 28 casos,<br />

10 foram submetidos a terapêutica adjuvante com RT e<br />

18 permaneceram em vigilância.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 237<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


Em 10 doentes ocorreu recidiva tumoral, confirmada<br />

histologicamente. Nove destes doentes foram submetidos<br />

a tratamento de resgate. O décimo doente apresentava<br />

uma lesão classificada como T3, já submetido a RT após<br />

a primeira intervenção, e que, quando da recidiva, não<br />

apresentava condições gerais <strong>para</strong> re-intervenção,<br />

tendo permanecido em cuidados paliativos e vindo a<br />

falecer. Os tratamentos de resgate consistiram em nova<br />

cordectomia com laser, laringectomia fronto-lateral,<br />

laringectomia total e RT associada ou não à LT. Excluindo<br />

TABELA 2<br />

Análise dos doentes que desenvolveram recidiva tumoral<br />

Nº Idade T inicial CA Cordectomia Margens RT Intervalo<br />

tempo<br />

238 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

os que faleceram (n=4/10), os restantes encontramse<br />

vivos, sem sinais de recidiva loco-regional até à<br />

data. Assim sendo, constatou-se uma Taxa de recidiva<br />

local global de 22,2% (10/45), sendo que a comissura<br />

anterior encontrava-se envolvida, na lesão inicial, em<br />

40% dos casos (4/10). A Taxa de recidiva em tumores<br />

com margem livre foi de 18,8% (3/16) enquanto que a<br />

Taxa de recidiva em tumores com margem positiva ou<br />

duvidosa foi de 24,1% (7/29). Os resultados encontram-<br />

-se esquematizados na Tabela 2.<br />

Histologia<br />

recidiva<br />

Tratamento<br />

resgate<br />

1 63 CIS - I - - 5m CIS laser VSD<br />

2 65 CIS - III ? - 14m CPC LT + RT VSD<br />

3 39 CIS sim V + - 2m CPC LP VSD<br />

4 58 T1a - IV - - 11m CPC LT VSD<br />

5 58 T1a - III + - 6m CPC LT + RT VSD<br />

6 79 T1a - III - - 8m CPC LT F<br />

7 79 T1a sim V + - 13m CPC RT VSD<br />

8 66 T1b sim V ? - 8m CS LT F<br />

9 63 T2 sim V ? - 2m CPC LT F<br />

10 73 T3 - V ? sim 23m CPC P F<br />

Margens: + com tumor, - livre de tumor, ? não avaliáveis. LT: laringectomia total; LP: laringectomia parcial; P: paliativo; VSD: vivo<br />

sem doença; F: falecido<br />

A Taxa de sobrevida global aos 5 anos foi de 82,2%<br />

(37/45), valor coincidente com a Taxa de sobrevida livre<br />

de doença aos 5 anos, que inclui o tratamento de resgate,<br />

uma vez que dos doentes vivos, todos se encontram sem<br />

doença loco-regional. A taxa de controlo local após o<br />

primeiro tratamento foi de 77,8% (35/45), engloba os<br />

doentes submetidos apenas a cordectomia com laser e<br />

os submetidos a laser com RT adjuvante. Relativamente à<br />

preservação de órgão (doentes vivos com laringe) a Taxa<br />

de preservação laríngea foi de 89,2% (33/37), tendo em<br />

conta que 3 doentes foram submetidos a laringectomia<br />

total como tratamento de resgate, e o quarto doente<br />

refere-se ao caso classificado como T1b com CPC invasivo<br />

que recusou RT.<br />

DISCUSSÃO<br />

A decisão terapêutica na abordagem de um tumor<br />

maligno glótico, em estadio inicial, tem de levar em<br />

conta os resultados oncológicos, reflectidos nas taxas<br />

de controlo local e sobrevida; os resultados funcionais,<br />

avaliados pela taxa de preservação laríngea e a qualidade<br />

vocal; a morbilidade <strong>para</strong> o doente e a relação custo-<br />

-benefício do tratamento. As opções actuais incluem<br />

a radioterapia, a laringectomia parcial por via externa<br />

Estado<br />

actual<br />

e a microcirurgia transoral com laser CO 2 . Desde a<br />

sua primeira descrição, em 1972, o laser CO 2 tem<br />

vindo a ser uma escolha consensual, amplamente<br />

utilizada em doentes correctamente seleccionados. Os<br />

melhores resultados são indubitavelmente conseguidos na<br />

abordagem de tumores em estadio inicial (CIS e T1), com<br />

boa exposição tumoral, onde estão descritas taxas de<br />

controlo local de 96-100%, de sobrevida livre de doença<br />

de 80-90% e de preservação laríngea de 93-100% 1,10 .<br />

A radioterapia também constitui uma alternativa viável,<br />

com excelente resultado na qualidade vocal, contudo<br />

associada a resultado oncológico menos favorável e a<br />

complicações como a disfagia e a dificuldade respiratória<br />

por edema pós-rádico. No caso de insucesso curativo, o<br />

tratamento de resgate mais eficaz é a laringectomia por via<br />

externa, sendo o uso do laser controverso. A não ser que<br />

a recidiva tumoral consista numa lesão bem delimitada<br />

na superfície da corda vocal, é extremamente difícil<br />

uma abordagem endoscópica com margens seguras, isto<br />

porque, é comum encontrar ninhos de células tumorais,<br />

entre áreas de tecido fibrosado pelas radiações, na<br />

profundidade do músculo vocal, dificultando o controlo<br />

histológico durante a ressecção. Também importante<br />

não esquecer, é o facto de a radioterapia constituir


um tratamento de uso único e, tendo em conta uma<br />

incidência de segundo tumor primário na cabeça e<br />

pescoço próxima de 10-20%, ela deverá ser reservada<br />

<strong>para</strong> o controle de tumores mais agressivos que possam<br />

afectar esta área 1,5 . Quanto mais avançado o estadio do<br />

tumor (T2 e T3), maior a probabilidade de recidiva e<br />

muitos autores consideram uma contra-indicação <strong>para</strong> o<br />

laser, sendo a laringectomia por via externa a abordagem<br />

tida com a mais eficaz. Outras contra-indicações <strong>para</strong><br />

o uso do laser incluem: lesões com envolvimento<br />

extenso da comissura anterior em proximidade com a<br />

cartilagem adjacente, do processo vocal, ventrículo ou<br />

subglote e diminuição da mobilidade aritenoideia, por<br />

possível envolvimento da articulação crico-aritenoideia,<br />

do músculo crico-aritenoideu posterior ou da porção<br />

posterior da cartilagem cricoide 2,7 .<br />

No nosso grupo de doentes verificou-se uma taxa de<br />

sobrevida global aos 5 anos de 82,2%, valor coincidente<br />

com a taxa de sobrevida livre de doença, também aos 5<br />

anos, uma vez que, dos doentes que sofreram recidiva,<br />

submetidos a tratamento de resgate e que se encontram<br />

actualmente vivos, nenhum apresenta sinais de recidiva<br />

loco-regional. Face às 10 recidivas tumorais, a taxa de<br />

controlo local após o primeiro tratamento foi de 77,8%.<br />

Torna-se difícil com<strong>para</strong>r as taxas de sobrevida, global<br />

e livre de doença, e de controlo local obtidas no nosso<br />

estudo com as descritas na literatura. Isto porque os<br />

critérios de inclusão diferem substancialmente entre<br />

estudos, nomeadamente no que se refere a localização<br />

e extensão tumoral, selecção da amostra e uso laser<br />

como tratamento primário versus secundário, <strong>para</strong> além<br />

do cálculo das taxas ser realizado muitas vezes aos 3<br />

e não aos 5 anos, como no presente estudo. Contudo,<br />

em termos gerais, os valores obtidos são bastante<br />

satisfatórios, sobreponíveis, em termos de taxa de<br />

controlo local, ao estudo realizado pelo IPOFG <strong>para</strong> o<br />

período de 1991-1998 12 , que foi de78,6%, embora com<br />

uma taxa de sobrevida global inferior com<strong>para</strong>tivamente<br />

aos 98,8% do estudo anterior.<br />

De salientar que, os dois casos de tumor mais avançado<br />

(T2 e T3), ambos recidivaram e, apesar do tratamento de<br />

resgate, faleceram, o que vem de encontro com os achados<br />

da literatura que desaconselham o uso de laser CO 2 em<br />

tumores glóticos malignos avançados, por maior taxa de<br />

insucesso 1-5, 7,10,11 . Contudo o reduzido número da amostra<br />

(n=2) também não nos permite refutar essas afirmações.<br />

A contrariar esta opinião unânime surge Steiner e os seus<br />

colaboradores, com a utilização do laser em tumores<br />

avançados. M. Hinni et al 4 , num estudo prospectivo de<br />

117 doentes com tumores malignos glóticos T2 a T4,<br />

publicaram taxas de sobrevida global, sobrevida livre de<br />

doença, controlo local e preservação laríngea, aos 2 anos,<br />

de 75%, 68%, 82% e 92%, respectivamente. Estes valores<br />

desceram <strong>para</strong> 55%, 58%, 74% e 86%, respectivamente,<br />

aos 5 anos.<br />

Com<strong>para</strong>ram ainda com a taxa de sobrevida global aos 2<br />

e 5 anos, de 74% e 54% com quimio-radioterapia (QRT) e<br />

de 75% e 56% com RT isolada, tratamentos com efeitos<br />

secundários importantes observados em 40 a 80% dos<br />

doentes, nomeadamente estenose faringo-esofágica em<br />

21% dos casos e taxa de condrorradionecrose mínima de 5%.<br />

Na nossa série, a taxa de recidiva global foi de 22,2%,<br />

com uma taxa de recidiva associada a ressecção tumoral<br />

com margem livre de 18,8% e, com margem positiva<br />

<strong>para</strong> tumor ou margem não avaliável, de 24,1%, apesar<br />

de 64,4% dos resultados anatomo-patológicos da(s)<br />

peça(s) apresentarem margem positiva <strong>para</strong> tumor<br />

ou margem não avaliável. Destes, apenas 34,5% dos<br />

casos receberam terapêutica adjuvante com RT, 62,1%<br />

ficaram em vigilância e um doente (3,4%) foi submetido<br />

a laringectomia total por recusar RT. Um dos maiores<br />

desafios do uso do laser CO 2 na microcirurgia transoral<br />

é a obtenção de margens quantitativamente avaliáveis e<br />

seguras em toda a extensão da peça cirúrgica, devido à<br />

retracção tecidual secundária ao efeito térmico, à reduzida<br />

quantidade de tecido excisado e aos artefactos induzidos<br />

pela técnica 1,5 . É de extrema importância a avaliação das<br />

margens de ressecção, por parte do cirurgião, durante o<br />

procedimento cirúrgico, sem menosprezar a confirmação<br />

de margem livre de tumor por anatomo-patologia, uma<br />

vez que os nossos resultados sugerem que, nesse caso, o<br />

risco de recidiva local é inferior. Ansarin et al 10 concluíram,<br />

num estudo prospectivo envolvendo 274 doentes (CIS a<br />

T2), que uma excisão com laser oncologicamente segura,<br />

deverá apresentar uma margem mínima de 1mm.<br />

Margens positivas e margens reduzidas (


exposição e controlo histológico por via endoscópica,<br />

encontrando-se associada a elevadas taxas de recidiva<br />

local. A eficácia da Classificação TNM na antevisão do<br />

prognóstico dos tumores da laringe é limitada pelo<br />

facto de não tomar em consideração os tumores com<br />

localização ao nível da CA, que se sabe comportarem-<br />

-se de forma diferente 8 .Bocciolini C. et al 2 recomendam<br />

o uso do laser apenas em casos de disseminação<br />

superficial à CA, ao nível glótico, sem extensão à supra<br />

e/ou subglote. No presente estudo o envolvimento da<br />

CA foi detectado em 40% das recidivas, sendo que a<br />

amostra é constituída por 11 casos de envolvimento da<br />

comissura anterior num total de 45 doentes (11/45). Na<br />

literatura estão documentadas taxas de 21% (24/48) 8 e<br />

21,6% (60/217) 11 . No estudo retrospectivo publicado<br />

pelo IPOFG em 1999 12 , referente ao uso do laser CO2 no<br />

tratamento de lesões pré-malignas e malignas glóticas<br />

no período de 1991 a 1998, o valor foi de 59,1% (22/84).<br />

O actual estudo indica um melhor controlo do tumores<br />

envolvendo a CA, com<strong>para</strong>ndo valores da mesma<br />

Instituição, mas pior quando tidos em conta as referências<br />

bibliográficas anteriores. Casiano RR 7 revela uma taxa de<br />

controlo local aos 5 anos, de 45% <strong>para</strong> tumores da CA,<br />

com<strong>para</strong>ndo com 65% nos tumores sem envolvimento da<br />

mesma, fazendo ainda referência ao estudo de Krespi e<br />

Meltzer que relataram uma taxa de recidiva de 100% nos<br />

tumores da CA tratados com laser. Aspectos relacionados<br />

com a selecção dos doentes, extensão tumoral, técnica<br />

e experiência cirúrgicas poderão estar na base destas<br />

diferenças. Um tratamento primário alternativo com<br />

RT ou laringectomia parcial por via externa deverão ser<br />

considerados. À cirurgia conservadora estão associadas<br />

algumas desvantagens como um internamento mais<br />

prolongado, necessidade de traqueotomia e colocação de<br />

SNG na maior parte dos casos. Durante o procedimento,<br />

o acesso ao tumor requer uma cervicotomia com<br />

dissecção por estruturas sem doença e a lesão apenas é<br />

visualizada com a abertura da laringe, e o defeito laríngeo<br />

requer reconstrução imediata <strong>para</strong> a preservação vocal e<br />

prevenção de fístula 8 .<br />

Em termos de resultados funcionais, obteve-se uma taxa<br />

de preservação laríngea de 89,2%. Por se tratar de um<br />

estudo retrospectivo, não se procedeu a uma análise<br />

objectiva da função vocal dos doentes submetidos a<br />

cordectomia com laser. De acordo com estudos prévios,<br />

apresentados na literatura 3 , o resultado funcional é<br />

dependente do processo individual de cicatrização<br />

e dos mecanismos de compensação vibratória por<br />

parte das bandas ventriculares e/ou das neo-cordas<br />

vocais, podendo ser benéfico o acompanhamento por<br />

terapeuta da fala no pós-operatório, com avaliação<br />

videoestrobolaringoscopica. De uma forma geral,<br />

240 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

cordectomias tipo I e II oferecem resultados excelentes e<br />

as tipo III aceitável 1 . Ressecções tecidulares mais extensas<br />

ou envolvendo a comissura anterior, com o aparecimento<br />

frequente de granulomas ou sinéquias, estão associadas<br />

a resultados menos satisfatórios.<br />

CONCLUSÃO<br />

O presente trabalho confirma o papel do laser CO 2 na<br />

microcirurgia transoral, na abordagem de tumores<br />

glóticos malignos em estadio inicial. A taxa de recidiva<br />

tumoral foi maior nos casos de presença de tumor na<br />

margem ou margem não avaliável, com<strong>para</strong>tivamente<br />

às ressecções tumorais com margens livre, bem como<br />

nos tumores com envolvimento da comissura anterior,<br />

confirmando as evidências da literatura que conferem a<br />

esta localização anatómica uma maior taxa de insucesso<br />

de controlo local por via endoscópica. Um tratamento<br />

de resgate adequado e atempado, em caso de recidiva<br />

tumoral, assegura, geralmente, um controlo loco-regional,<br />

sobreponível ao obtido com a RT e a laringectomia parcial<br />

por via externa. Tumores glóticos localmente avançados<br />

estão associados a maior insucesso terapêutico, com<br />

pior prognóstico, mesmo quando complementados por<br />

terapêutica adjuvante.


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VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 241<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


242<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Radiofrequência de cornetos. A nossa<br />

experiência.<br />

Radiofrequency of turbinates. Our experience<br />

Ana Sofia Araújo Da Costa Olalla Castro Macía Miriam Ileana Hamdan Zavarce Jose Manuel Meléndez García<br />

Dionisio Alonso Párraga Gumersindo Espiña Campos<br />

técnicas: não necessita tamponamento nasal, não altera a mucosa<br />

nem, consequentemente, o transporte muco ciliar. Apresenta escasso<br />

número de complicações e a sua realização não resulta complicada.<br />

Palavras-chave: Radiofrequência, hipertrofia de cornetos, rinomanometria<br />

RESUMO<br />

Introdução: A hipertrofia de cornetos inferiores representa uma das<br />

causas mais comuns de obstrução nasal. A radiofrequência é uma<br />

técnica relativamente nova <strong>para</strong> redução de tecido, apresentando<br />

vantagens com relação a outras alternativas.<br />

Objectivos: Avaliar a eficácia e as complicações da radiofrequência<br />

em pacientes diagnosticados de hipertrofia de cornetos inferiores.<br />

Material e Métodos: Apresentamos um estudo retrospectivo de<br />

40 pacientes com idades compreendidas entre os 14 e 60 anos,<br />

com obstrução nasal devida a hipertrofia de cornetos inferiores,<br />

refractaria a tratamento médico. Os pacientes foram tratados com<br />

radiofrequência, com anestesia local. Realizou-se um estudo do<br />

fluxo aéreo mediante rinomanometria anterior activa, prévio e<br />

posterior ao tratamento (aos 3 e 6 meses). Comparámos a melhoria<br />

subjectiva e objectiva em todos os pacientes e analisámos o índice de<br />

complicações maiores e menores.<br />

Resultados: O índice de complicações na nossa série é reduzido, não<br />

existindo complicações graves e registando-se menos de um 5% de<br />

complicações menores (formação de crostas ou necrose do tecido).<br />

A rinomanometria é uma técnica que nos permite demonstrar de<br />

forma objectiva a melhoria, ou não, que os pacientes manifestam de<br />

forma subjectiva. Obtivemos 80% de melhoria do fluxo aéreo aos 3<br />

meses, diminuindo este valor num 10% aos 6 meses.<br />

Conclusão: A radiofrequência de cornetos inferiores é uma técnica<br />

efectiva que representa algumas vantagens com respeito a outras<br />

Ana Sofia Araújo Da Costa<br />

Interna de ORL Hospital Xeral-Cíes (CHUVI)<br />

Olalla Castro Macía<br />

Interna de ORL Hospital Xeral-Cíes (CHUVI)<br />

Miriam Ileana Hamdan Zavarce<br />

Interna de ORL Hospital Xeral-Cíes (CHUVI)<br />

Jose Manuel Meléndez García<br />

Interno de ORL Hospital Xeral-Cíes (CHUVI)<br />

Dionisio Alonso Párraga<br />

Facultativo Especialista ORL Hospital Xeral-Cíes (CHUVI)<br />

Gumersindo Espiña Campos<br />

Chefe de Serviço ORL Hospital Xeral-Cíes (CHUVI)<br />

Correspondência:<br />

Ana Sofia Araújo da Costa<br />

C/ Pizarro nº20-22. Serviço ORL – Hospital Xera-Cíes<br />

Vigo – Pontevedra – Espanha<br />

Email: anaaraujocosta@hotmail.com<br />

Trabalho apresentado no: III Curso de Rinoplastía y Cirugía Complementaria Facial, Vigo.<br />

58º Congresso da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico - Facial<br />

ABSTRACT<br />

Introduction: Inferior turbinate hypertrophy represents one of<br />

the most frequent causes for nasal airway obstruction. Turbinate<br />

radiofrequency is a relatively new technique presenting several<br />

advantages when compared with other alternatives.<br />

Objectives: To evaluate the efficacy and complications of<br />

radiofrequency in patients diagnosed of inferior turbinate<br />

hypertrophy.<br />

Methods: We present a retrospective study of 40 patients with ages<br />

between 14 and 60 years old, with nasal airway obstruction due<br />

to inferior turbinate hypertrophy refractory to medical therapy.<br />

Patients were treated with radiofrequency under local anesthesia.<br />

We analyzed the nasal flow with active anterior rhinomanometry<br />

previous and post treatment (at 3 and 6 months). We compared the<br />

subjective and objective improvement in all patients analyzing as<br />

well the rate of minor and major complications.<br />

Results: Our rate of complications is low, and we had no data of<br />

major complications, having found only a 5% of minor complications<br />

as (crust formation or tissue necrosis). The rhinomanometry is a<br />

technique that allows us to observe the objective improvement or<br />

not, that patients manifest in a subjective way. We obtained an 80%<br />

improvement in nasal airway flow at 3 months having this value<br />

decreased in 10% at the 6 months follow up.<br />

Conclusion: The radiofrequency of the inferior turbinate is an effective<br />

technique that presents some advantages when compared with other<br />

methods: does not need nasal packing, does not alter the mucosa<br />

and consequently preserves the mucociliary transportation. Presents<br />

a low rate of complications and it’s a simple procedure.<br />

Keywords: radiofrequency, turbinate hypertrophy, rhinomanometry<br />

INTRODUÇÃO<br />

A obstrução nasal constitui uma das principais queixas<br />

dos pacientes adultos e crianças, na consulta ORL 1 . Esta<br />

pode estar associada a deformações nasais, septais ou<br />

alterações da mucosa associada a hipertrofia de cornetos 2,3 .<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 243<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


Os cornetos inferiores formam parte da parede externa<br />

das fossas nasais, e o seu esqueleto é formado por<br />

relevos ósseos recobertos por uma membrana mucosa<br />

espessa, vascularizada, de epitelio tipo respiratório<br />

cilíndrico ciliado pseudoestratificado com células<br />

ciliadas prismáticas e células caliciformes secretoras de<br />

muco 4 . Esta mucosa é então responsável da modulação<br />

do volume dos cornetos e essencial <strong>para</strong> a função de<br />

aquecimento do ar e respiração 4 .<br />

Nos processos de hipertrofia existe uma alteração dos<br />

mecanismos cíclicos congestivos e descongestivos.<br />

Em fenómenos de inflamação e em determinadas<br />

patologias a congestão da mucosa nasal será regulada<br />

pelo sistema nervoso simpático (plexo carotídeo) que<br />

regula o aumento de resistência dos vasos produzindo,<br />

com a sua estimulação, a vasoconstrição e consequente<br />

descongestionamento nasal. Por outro lado o sistema<br />

<strong>para</strong>ssimpático regula o volume sanguíneo de modo<br />

que a sua estimulação é responsável pela vasodilatação,<br />

congestão e edema 5 .<br />

A hipertrofia dos cornetos pode-se justificar por rinite<br />

alérgica, rinite vasomotora, rinite hipertrófica crónica,<br />

por uma resposta compensadora a uma deformação<br />

septal importante, entre outras causas 2,3,6,9 .<br />

Apesar de não ser uma patologia grave, a hipertrofia de<br />

cornetos afecta de forma importante a qualidade de vida<br />

do paciente 2,3,6,8 , sendo responsável de até 20% dos casos<br />

de obstrução nasal crónica 6,10,11 . O tratamento de esta<br />

hipertrofia mucosa é cirúrgico no caso de ausência de<br />

resposta ao tratamento farmacológico 2,3,10,12 .<br />

A radiofrequência de tecido mole, descrita pela primeira<br />

vez por Powel et al, é um procedimento cirúrgico que<br />

usa o aquecimento por radiofrequência <strong>para</strong> induzir<br />

destruição da submucosa conduzindo deste modo à<br />

redução de volume do tecido 13 . É uma técnica utilizada<br />

em diversos campos da medicina como a neurocirurgia,<br />

urologia, oncologia, cardiologia entre outros 1,11 .<br />

Em ORL a radiofrequência pode ser aplicada não só na<br />

hipertrofia de cornetos mas também no palato mole,<br />

base de língua e amígdalas palatinas 14 .<br />

Através da indução de movimentos iónicos no tecido,<br />

produzida pela corrente alternada, a energia da<br />

radiofrequência, produz um aumento do calor local<br />

provocando uma lesão térmica que ocorre na mucosa<br />

profunda sem alterar a superfície 1,9,10 .<br />

Secundariamente, o processo de cicatrização induz<br />

fibrose e retracção da lesão conduzindo à diminuição de<br />

volume 1,10 .<br />

O objectivo deste estudo consiste na avaliação da eficácia<br />

e possíveis complicações do uso da radiofrequência no<br />

tratamento da hipertrofia de cornetos.<br />

244 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

METODOLOGIA<br />

Apresentamos um estudo retrospectivo com 40<br />

pacientes, num intervalo de idades entre os 14 e os 60<br />

anos, tratados com radiofrequência de cornetos no ano<br />

de 2010, no Hospital Xeral-Cies de Vigo. Os critérios de<br />

inclusão no estudo foram pacientes com obstrução nasal<br />

produzida por hipertrofia de cornetos cuja resposta a<br />

tratamento médico com anti-histamínicos, corticoides,<br />

descongestionante nasal ou imunoterapia 1,11 , não foi<br />

significativa. Foram excluídos os pacientes com obstrução<br />

nasal por outras causas como deformações septais,<br />

polipose nasal, sinusite ou tumores benignos e malignos.<br />

Para o diagnóstico desta patologia recorremos<br />

à elaboração da história clínica do paciente com<br />

exploração mediante rinoscopia anterior e posterior<br />

(cabeça e cauda de corneto) e exploração endoscópica<br />

com nasofibroscopio flexível. A exploração radiológica<br />

mediante TC realizou-se apenas em casos seleccionados.<br />

O tratamento aplicado a todos os pacientes consistiu na<br />

aplicação de anestesia tópica e infiltrada (mepivacaína)<br />

sem vasoconstrição, mediante controlo via endoscópica<br />

com óptica de 0º. A potência utilizada na radiofrequência<br />

variou entre 16-18W.<br />

O eléctrodo foi introduzido até à cauda do corneto e<br />

dependendo do tipo de hipertrofia efectuamos diversas<br />

descargas em zonas como cabeça, corpo e cauda do<br />

corneto. A duração de cada descarga foi dada pela<br />

mudança na coloração do corneto, convertendo-se em<br />

pálido.<br />

Após o tratamento cirúrgico, todos os pacientes foram<br />

sujeitos a tratamento com lavagens nasais seguidas de<br />

aplicação de prednisolona em pomada nasal durante um<br />

período de 10-15 dias.<br />

Prévia e posteriormente ao tratamento (aos 3 e 6 meses)<br />

realizou-se rinomanometria anterior activa a cada<br />

paciente de forma a avaliar de forma objectiva a melhoria,<br />

ou não, do quadro. Da mesma forma foi realizada uma<br />

valoração pelo próprio paciente da sintomatologia<br />

patente, de forma a obter uma avaliação subjectiva da<br />

evolução.<br />

A rinomanometria representa uma técnica objectiva <strong>para</strong><br />

a avaliação simultânea da pressão e fluxo transnasal. O<br />

Comité Europeu de Estandardização da Rinomanometria<br />

selecionou a fórmula da lei de Ohm a uma pressão<br />

recomendada de 150 Pascals (Pa) <strong>para</strong> determinar a resistência à<br />

passagem do ar pelas fossas nasais: R = Pa / fluxo 15 .<br />

Analisamos a incidência das principais complicações<br />

baseando-nos naquelas descritas na literatura como<br />

consequência de radiofrequência de cornetos:<br />

hemorragia, dor, formação de crostas, formação de<br />

sinequias 1,13,14 .


RESULTADOS<br />

Na distribuição por género obtivemos predomínio do sexo<br />

feminino 62,5% (25/40) em relação ao sexo masculino<br />

37,5% (15/40).<br />

Todos os pacientes receberam, previamente, tratamento<br />

com corticosteróides tópicos, e 34,61% dos pacientes<br />

com anti-histamínicos. Em 57,69% dos pacientes existiam<br />

antecedentes de rinite alérgica, e 11,53% tinham sido<br />

submetidos previamente a outros tratamentos cirúrgicos.<br />

O intervalo de idades distribui-se entre o paciente mais<br />

jovem com 14 anos e o mais velho de 60 anos.<br />

Obtivemos uma melhoria subjectiva (diminuição de<br />

rinorreia, insuficiência respiratória nasal, roncopatia,<br />

espirros) em 39 pacientes (97,5%) aos três meses e em<br />

35 pacientes (87,5%) aos seis meses.<br />

Nos três meses posteriores ao tratamento com<br />

radiofrequência verificamos que, relativamente à<br />

melhoria do fluxo nasal medido a 150 Pa, 16 pacientes<br />

apresentaram uma melhoria entre 0 e 30%, 8 pacientes<br />

melhoria entre 30 e 60% e 12 pacientes melhoria superior<br />

a 60%. (figura 1)<br />

FIGURA 1<br />

Controlo a 3 meses.<br />

Por sua vez aos 6 meses a melhoria de fluxo a 150Pa <strong>para</strong><br />

17 pacientes situou-se entre 0 e 30%, entre 30-60% <strong>para</strong><br />

7 pacientes e superior a 60% <strong>para</strong> 12 pacientes. (figura 2)<br />

Relativamente à análise de complicações verificamos<br />

a ausência de complicações maiores, encontrando-se<br />

apenas complicações menores como epistaxe em um<br />

paciente, formação de crostas em três pacientes e um<br />

caso de necrose.<br />

FIGURA 2<br />

Controlo a 6 meses.<br />

DISCUSSÃO<br />

A radiofrequência é um método relativamente recente<br />

<strong>para</strong> a redução do tecido submucoso da membrana<br />

mucosa do corneto inferior 3 .<br />

O objectivo da intervenção cirúrgica de cornetos<br />

consiste em obter uma melhoria da respiração nasal<br />

preservando a função fisiológica dos cornetos e<br />

minimizando o desconforto e outros efeitos efeitos<br />

adversos 2,10 . A variedade de técnicas cirúrgicas que<br />

existem disponíveis como opção terapêutica (infiltração<br />

de corticoesteroides, criocirurgia, electrocautério, laser,<br />

turbinectomia, turbinoplastia, descongestionamento<br />

submucoso 2,6,7,8,10,11,16 ) põe em evidência a falta de<br />

consenso com respeito à eleição de uma técnica<br />

ideal 2,6,10,11,13,16 .A infiltração de corticosteróides, apesar<br />

de minimamente invasiva, apresenta efeitos discutíveis.<br />

Estão descritos casos de cegueira após a infiltração, devido<br />

à oclusão do aporte vascular ocular 17 . A criocirurgia é<br />

uma técnica antiga que se baseia na redução do corneto<br />

com frio, sendo frequente a recidiva. O electrocauterio<br />

actua a nível da mucosa e submucosa 10 . É uma técnica<br />

dolorosa, com alto risco de hemorragia e formação de<br />

crostas e sinéquias. No entanto, está muito difundida<br />

pela sua fácil realização. O laser CO 2 /YAG realiza-se com<br />

anestesia local, é pouco doloroso e possui um baixo<br />

risco de hemorragia 18 . Por sua vez a turbinoplastia<br />

realiza-se com alguma dificuldade e necessita anestesia<br />

geral. Preserva a mucosa e apresenta baixo risco de<br />

hemorragia. Apresenta bons resultados. A turbinectomia<br />

caracteriza-se pela eliminação parcial ou total do corneto<br />

realiza-se com anestesia geral e a cicatrização realiza-se<br />

por segunda intenção. É uma técnica bastante discutida<br />

devido aos efeitos secundários que apresenta como<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 245<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


inites atróficas, desconforto respiratório, hemorragias<br />

e necessidade de tamponamento, formação de crostas e<br />

sinéquias 2,6,7,8,10,11,16 .<br />

A radiofrequência é uma técnica bem tolerada que<br />

se pode realizar de forma segura e ambulatória com<br />

anestesia local. Com uma energia que varia entre 400-<br />

500J e uma potência entre 10-18W, é produzida uma<br />

lesão térmica entre 2-4mm em torno ao eléctrodo 2,6,11 .<br />

Contrariamente à cirurgia por laser ou electrocauterização,<br />

que produzem temperaturas que podem alcançar os<br />

800ºC, a técnica da radiofrequência utiliza uma menor<br />

potencia <strong>para</strong> gerar uma temperatura que pode chegar<br />

aos 85ºC (produzindo a desnaturalização dos tecidos<br />

a 49,5º). Isto permite um maior controlo da lesão e<br />

um menor risco de destruição da mucosa adjacente ou<br />

necrose da arquitectura óssea do corneto 11 .<br />

Deste modo a redução do volume do corneto é<br />

consequência da retracção resultante da necrose do<br />

tecido que se produz com a lesão térmica.<br />

A radiofrequência apresenta como vantagens o facto<br />

de que se realiza de forma fácil e rápida com anestesia<br />

local. Como consequência esta intervenção dispensa<br />

hospitalização. Não necessita tamponamento nasal<br />

evitando deste modo a maceração da mucosa nasal e<br />

mal-estar do paciente. Além disso, esta técnica permite<br />

a preservação do epitélio nasal, não produz alterações<br />

no aclaramento mucociliar e não provoca aumento de<br />

secreções nem formação de crostas 3 . Os cuidados pós-<br />

-operatórios são simples, incluindo apenas lavagens<br />

nasais com soro e aplicação de prednisolona em pomada<br />

nasal. Torna-se também importante referir a possibilidade<br />

de repetir o procedimento noutras ocasiões se a melhoria<br />

da sintomatologia não for suficiente 19 .<br />

Apesar de aumento da sensação de congestionamento<br />

nasal na primeira semana em 83% dos pacientes existe<br />

um resultado satisfatório às oito semanas 19 .<br />

CONCLUSÃO<br />

Concluímos deste modo que a radiofrequência como<br />

tratamento da obstrução nasal por hipertrofia de<br />

cornetos inferiores, que não responde a tratamento<br />

médico, é uma técnica segura, minimamente invasiva<br />

e com baixo índice de complicações. Apresenta deste<br />

modo perspectivas favoráveis sendo o seu uso fácil e os<br />

resultados obtidos muito satisfatórios.<br />

246 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

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function with objective airway testing.<br />

Cummings Otolaryngology, Head and Neck Surgery 5th edition<br />

16.Seren E. Effect of radiofrequency volumetric tissue reduction of<br />

inferior turbinate on expiratory nasal sound frequency.<br />

Am J Rhinol Allergy. 2009 May-Jun; 23(3):316-20<br />

17.Roth M, Kennedy DW. The case for inferior turbinate preservation.<br />

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18.Janda P, Sroka R, Betz CS, Baumgartner R, Leunig A. Laser treatment<br />

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19.Porter MW, Hales NW, Nease CJ, Krempl GA. Long-term results of<br />

inferior turbinate hypertrophy with radiofrequency treatment: a new<br />

standard of care?<br />

Laryngoscope, 2006 Apr. 116(4): 554-7


Neoplasias das glandulas salivares – experiência<br />

IPOC FG - últimos 10 anos<br />

Salivary gland neoplasms – IPO FG coimbra<br />

experience – last 10 years<br />

Ana Margarida Simões Francisco Branquinho Azenha Cardoso António Neves Carlos Cruz Henriques Pereira João Ganho<br />

Arnaldo Guimarães<br />

RESUMO<br />

Introdução: A patologia das glândulas salivares é<br />

essencialmente do tipo inflamatória e neoplásica com<br />

comportamentos biológicos muito diferentes.<br />

Material e métodos: Estudo retrospectivo com avaliação dos<br />

casos de cirurgia de glândula salivar entre 2005 e 2010 e casos<br />

com diagnóstico histológico de neoplasia maligna epitelial de<br />

glândula salivar entre 2000 e 2010.<br />

Resultados: Entre 2005 e 2010, estudaram-se 261 pacientes,<br />

197 casos de tumores benignos e 64 malignos; o adenoma<br />

pleomórfico foi a lesão benigna e o carcinoma espinhocelular<br />

a lesão maligna mais frequentes; A parótida foi a glândula<br />

mais atingida. Os casos histológicos malignos epiteliais entre<br />

2000 e 2010, revelaram 55 casos, sendo o tipo histológico<br />

mais prevalente o carcinoma adenocístico (22%).<br />

Conclusões: Desta análise, o estadio tumoral parece ser o mais<br />

importante factor de prognóstico no caso neoplasias malignas<br />

epiteliais salivares. A Radioterapia tem um papel importante<br />

como terapeûtica complementar. As taxas de recidiva a longo<br />

prazo são altas e pode surgir metastização à distância mesmo<br />

Ana Margarida Simões<br />

Serviço ORL, Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de<br />

Coimbra Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

Francisco Branquinho<br />

Serviço ORL, Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de<br />

Coimbra Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

Azenha Cardoso<br />

Serviço Estomatologia, Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de<br />

Oncologia de Coimbra Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

António Neves<br />

Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de Coimbra<br />

Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

Carlos Cruz<br />

Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de Coimbra<br />

Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

Henriques Pereira<br />

Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de Coimbra<br />

Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

João Ganho<br />

Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de Coimbra<br />

Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

Arnaldo Guimarães<br />

Serviço ORL, Departamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Instituto Português de Oncologia de<br />

Coimbra Francisco Gentil, Coimbra, Portugal<br />

Correspondência:<br />

Ana Margarida Simões<br />

ana.simx@gmail.com<br />

Tlm: +351962574227<br />

em doença localmente controlada.<br />

Palavras-chave: glândulas salivares, adenoma pleomórfico,<br />

neoplasias epiteliais, adenóide cístico, carcinoma<br />

ABSTRACT<br />

Introduction: The pathology of the salivary glands is essentially<br />

inflammatory and neoplastic with very different biological<br />

behaviors.<br />

Material and methods: A retrospective review of cases of<br />

salivary gland surgery between 2005 and 2010 and the cases<br />

with histological diagnosis of malignant epithelial salivary<br />

gland neoplasm between 2000 and 2010.<br />

Results: Between 2005 and 2010, we studied 261 patients, 197<br />

cases of benign tumors and 64 malignant. The most frequent<br />

lesions were pleomorphic adenoma as benign lesion and<br />

squamous cell carcinoma as malignant lesion; The parotid was<br />

the most affected gland. The histological malignant epithelial<br />

cases between 2000 and 2010 revealed 55 cases with the most<br />

prevalent histological type being the adenoid cystic carcinoma<br />

(22%).<br />

Conclusions: In this analysis, tumor stage appears to be the<br />

most important prognostic factor in malignant epithelial<br />

salivary neoplasm. Radiation therapy has an important role<br />

as adjunctive therapy. Relapse rates are high in the long<br />

term and distant metastases can emerge even with locally<br />

controlled disease.<br />

Keywords: salivary glands, pleomorphic adenoma, epithelial<br />

neoplasms, adenoid cystic, carcinoma<br />

INTRODUÇÃO<br />

A patologia das glândulas salivares é essencialmente<br />

do tipo inflamatória e neoplásica. As neoplasias<br />

podem ser benignas ou malignas com múltiplos<br />

subtipos histológicos complexos que apresentam<br />

comportamentos biológicos muito diferentes e que<br />

colocam dificuldades diagnósticas devido ao largo<br />

espectro morfológico 1-5 .<br />

O objectivo primário deste estudo é caracterizar o tipo<br />

de lesões das glândulas salivares tratadas no IPO FG<br />

Coimbra e, dentro dessas, avaliar o comportamento<br />

biológico das lesões malignas.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 247<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


Secundariamente, pretendem-se retirar as conclusões<br />

possíveis quanto ao tratamento efectuado e controlo<br />

da doença.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Procedeu-se a um estudo retrospectivo tendo por base<br />

os utentes com patologia de glândulas salivares tratados<br />

no IPO FG Coimbra.<br />

O estudo baseou-se na análise da informação clínica<br />

contida nos processos clínicos individuais.<br />

Foram avaliadas 2 populações:<br />

1. Avaliação dos casos submetidos a cirurgia de glândula<br />

salivar entre 2005 e 2010 – base: codificação clínica<br />

baseada em códigos cirúrgicos.<br />

2. Avaliação dos casos com diagnóstico histológico<br />

compatível com neoplasia maligna epitelial de glândula<br />

salivar entre 2000 e 2010 – base: codificação histológica.<br />

Após selecção inicial dos pacientes, foram excluídos:<br />

casos com informação clínica muito deficitária<br />

(praticamente nula), processos incacessíveis, processos<br />

com erros de codificação.<br />

Efectuada posteriormente avaliação estatística de<br />

dados demográficos, localização, factores de risco,<br />

exames complementares de diagnóstico, modalidades<br />

de tratamento, características histológicas, seguimento,<br />

recidivas e taxas de sobrevivência.<br />

As neoplasias malignas foram classificadas segundo a<br />

TNM-classification de tumores malignos da American<br />

Joint Committe for Cancer (AJCC).<br />

RESULTADOS<br />

Primeira fase:<br />

Da avaliação dos casos submetidos a cirurgida das<br />

glândulas salivares entre 2005 e 2010, identificaram-<br />

-se 318 casos, dos quais se excluiram 57 Casos por:<br />

informação insuficiente, mal classificados, glândulas<br />

salivares não atingidas/acometidas no caso de lesões<br />

malignas extrínsecas (isto porque nas benignas<br />

se incluiram algumas que não revelaram lesão),<br />

impossibilidade de consulta dos processos clínicos.<br />

Foram então avaliados 261 processos, de doentes<br />

com idades entre os 13 e 99 anos, média de idades<br />

de 57 anos. Verificou-se a existência de 200 casos<br />

com patologia benigna e 61 casos de malignidade,<br />

com média de idade de 54 e 68 anos respectivamente<br />

(Máximo 86 e 99 e Mínimo 13 e 23, respectivamente).<br />

248 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

FIGURA 1<br />

Idades distribuídas por intervalos e por tipo de patologia.<br />

Nota: Há 2 doentes sem informação de idade (1 com patologia<br />

maligna e 1 com patologia benigna).<br />

Em termos de distribuição por género, a nível global<br />

não houve prevalência significativa (Feminino:145<br />

casos (56%) vs Masculino: 116 casos (44%), embora se<br />

verificasse predomínio feminino nas lesões benignas<br />

(121 casos (61%)) e masculino nas lesões malignas (37<br />

casos (61%)).<br />

Em termos de tipos histológicos encontrados, entre<br />

as lesões benignas, o adenoma pleomórfico foi o mais<br />

frequente (123, 62%), seguido de Tumor de Whartin<br />

(Cistoadenoma papilar linfomatoso) (23, 12%).<br />

A Figura 2. descreve os tipos histológicos benignos<br />

encontrados.<br />

Em termos de lesões malignas, o Carcinoma Epidermóide<br />

(CEC) foi a lesão mais frequente (16, 26%), seguida de<br />

Linfoma (10, 16%). 32 (52%) eram lesões extrínsecas e<br />

29 (48%) referem-se a lesões intrínsecas epiteliais de<br />

glândula salivar.<br />

As Figuras 3A e 3B descrevem os tipos histológicos<br />

encontrados.<br />

Em termos de localização das lesões salivares, a<br />

glândula parótida, com ligeira preferência direita (55%),<br />

foi a glândula mais atingida quer nas lesões benignas ou<br />

malignas.<br />

A proporção maligno/benigno foi: 1:3 nas lesões<br />

parotídeas e 1:4 nas lesões submandibulares.<br />

Relativamente à avaliação por análise citológica após<br />

colheita com agulha fina:<br />

1. 82% (163) das lesões benignas foram avaliadas por<br />

este método, verificando-se 4% de falsos positivos <strong>para</strong><br />

malignidade.<br />

2. Das lesões malignas, 62% (38) foi avaliada pelo mesmo<br />

método, com 24% de falsos negativos <strong>para</strong> malignidade.<br />

Todos os casos foram submetidos a tratamento<br />

cirúrgico, tendo sido efectuadas: Submaxilectomia,<br />

Parotidectomia Superficial, Parotidectomia Total


FIGURA 2<br />

Tipos Histológicos Benignos<br />

FIGURA 3A<br />

Histologia das Lesões Malignas Extrínsecas<br />

Nota: Outros – Tumor primitivo neuroectodérmico (PNET) e<br />

Carcinoma de Merckel.<br />

com preservação do nervo facial, Parotidectomia<br />

Radical com ou sem Neuroplastia e alargada ou não<br />

às estruturas vizinhas, Parotidectomia Restante,<br />

Linfadenectomia Cervical (vários níveis), Reconstrução<br />

(retalhos) de acordo com a localização e achados pré e<br />

intra-operatórios.<br />

Segunda fase<br />

A base de pesquisa foi análise histológica compatível com<br />

neoplasia epitelial maligna de glandula salivar (major<br />

ou minor), entre 2000 e 2010, da qual se obtiveram 79<br />

casos. Excluiram-se 24 por serem incompatíveis com os<br />

FIGURA 3B<br />

Histologia das Lesões Malignas Intrínsecas. Ca. – Carcinoma<br />

diagnósticos histológicos pretendidos, após consulta<br />

dos respectivos processos clínicos.<br />

Avaliaram-se, portanto, 55 casos, com idades entre 23<br />

e 86 anos, média de idade de 60 anos, sem prevalência<br />

significativa em termos de género (56% Masculino, 44%<br />

Feminino). A grande maioria dos doentes tinha entre 41<br />

e 80 anos (47 - 86%).<br />

A localização mais frequente foi a glândula parótida (41,<br />

75%), seguida da glândula submandibular (11, 20%) e<br />

glandulas salivares minor (3, 5%, 2 casos na mucosa<br />

jugal e 1 caso na amigdala palatina); nenhum caso foi<br />

verificado a nível da glândula sublingual.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 249<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


O tempo de evolução da sintomatologia foi determinável<br />

em 37 doentes, com média de 13,2 meses de evolução;<br />

4 casos tinham longo tempo de evolução (anos) e 14<br />

(25%) não foi possível determinar este parâmetro.<br />

Clinicamente, associado à tumefacção local da glândula<br />

salivar, 10 doentes (18%) apresentavam dor inicial<br />

e 8 doentes (20% das apresentações parotídeas)<br />

apresentavam Paralisia Facial. Adenopatias cervicais<br />

iniciais foram clinicamente verificadas em 16 doentes<br />

(29%).<br />

A avaliação de eventuais factores de risco (Tabaco/<br />

Exposição a Radiação/Exposição a pó madeira/Etilismo/<br />

Diabetes/Imunodepressão) foi muito pouco proveitosa:<br />

raramente eram relatados estes antecedentes;<br />

verificados casos esporádicos de fumadores e diabéticos;<br />

nenhum doente com antecedentes de Radioterapia (RT)<br />

por outra causa na Cabeça e Pescoço.<br />

A avaliação complementar foi efectuada por Ecografia,<br />

Tomografia Computorizada (TC) cervical e colheita de<br />

material biológico <strong>para</strong> citologia por agulha fina.<br />

A Tabela 1 traduz a proporções das avaliações<br />

complementares de diagnóstico.<br />

Verificaram-se 33% de falsos negativos <strong>para</strong> malignidade<br />

nas análises citológicas efectuadas.<br />

TABELA 1<br />

Avaliação complementar. TC: Tomografia Computorizada;<br />

FNAB: Biópsia aspirativa por agulha fina.<br />

Ecografia 26 (47%)<br />

TC 40 (72%)<br />

FNAB 45 (82%)<br />

Maligno 24 (53%)<br />

Benigno 15 (33%)<br />

Inconclusivo 6 (13%)<br />

Em termos histológicos concluiu-se por um diagnóstico<br />

histológico em 53 casos. A Figura 4 traduz os resultados<br />

encontrados.<br />

Foram também classificados em termos de grau<br />

histológico: alto grau 24 (45%), Baixo grau 16 (30%),<br />

Médio grau 8 (15%) e Incerto 5 (10%).<br />

Histologicamente, verificou-se positividade ganglionar<br />

em 18 casos (34%) e negatividade em 66%.<br />

A classificação em estadios segundo o AJCC revelou<br />

sobretudo Estadios II (21 casos, 38%) e IV A (17 casos,<br />

31%). Estadio I em 11 casos (20%), II em 4 casos (7%) e<br />

IV B em 2 casos (4%).<br />

Em termos de actuação terapêutica, todos os doente<br />

foram submetidos a ressecção cirúrgica com excepção<br />

de 2 casos que correspondem aos casos com Estadio<br />

mais avançado (IV B) que receberam apenas terapêutica<br />

paliativa.<br />

250 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

FIGURA 4<br />

Proporções dos Tipos Histológicos. Ca. – Carcinoma<br />

A ressecção cirúrgica foi variável desde a sialoadenectomia<br />

conservadora a exéreses mais alargadas com<br />

plastia nervosa ou não e retalho cutâneo/miocutâneo<br />

de reconstrução ou não. A associação a Linfadenectomia<br />

cervical foi efectuado em 28 doentes (53%), sendo<br />

mais ou menos alargado dependento dos achados<br />

intraoperatórios, estadio inicial, localização ou decisão<br />

terapêutica posterior à cirurgia inicial.<br />

Relativamente a terapêutica complementar por RT,<br />

25 doentes não fizeram qualquer tipo de radiação. 24<br />

(44%) foram submetidos a RT pós-cirúrgica (incluindo 2<br />

após recidiva local) sobre loca de glândula salivar e/ou<br />

região cervical. 2 (4%) doentes efectuaram RT paliativa<br />

local e 7 (13%) paliativa por metastização à distância<br />

(holocraneana ou óssea). Salienta-se que 8 doentes<br />

(16%) tiveram indicação <strong>para</strong> RT pós-cirúrgica, mas que<br />

não foi efectuada (ultrapassada data óptima por várias<br />

razões). As doses administradas variaram de 50,4Gy/28<br />

a 68,4Gy/38fr, sendo mais frequentemente 59,4Gy/33fr<br />

sobre a loca cirúrgica e região cervical.<br />

10 doentes (18%) efectuaram terapêutica citostática<br />

(70%: Protocolo CLF – Carboplatina + Folinato de<br />

Cálcio + Fluoruracilo). Esta terapêutica foi efectuada<br />

por: metastização à distância (6), doença localmente<br />

avançada (3) e por recidiva (1).<br />

Em termos de recidiva de doença, dos doente<br />

submetidos a cirurgia, 13 (25%) tiveram recidiva local e<br />

4 (6%) recidiva ganglionar associada.<br />

Metástases à distância foram verificadas, ao longo do<br />

tempo de seguimento ou de início, em 15 doentes (28%).<br />

Os locais de metastização foram maioritariamente<br />

pulmonar (11 - 73%) e ósseo (6 - 40%). Houve também<br />

metastização craneana (4 - 27%) e hepática (1 - 7%).<br />

Salientas-se que 9 doentes apresentavam doença


localmente controlada, mas desenvolveram metástases<br />

à distância, sendo que 5 (56%) se encontravam no<br />

Estadio IV A. Os tipos histológicos foram variados sem<br />

preferência <strong>para</strong> determinada entidade. Dos doentes<br />

com metastização à distância sem recidiva local: 6<br />

(67%) tinham invasão vascular no exame histológico (3<br />

indeterminados); no entanto, salienta-se que, também<br />

desses, 7 (78%) apresentavam margens cirúrgicas<br />

invadidas e (2 (22%) com margens seguras). Daqueles<br />

ainda: 7 (78%) fizeram RT pos-cirúrgica (apenas 1 tinha<br />

indicação e não fez (por M1 extensa)); dos 2 doentes<br />

com histologia com margens seguras houve 1 que fez RT<br />

(adenocarcinoma pouco diferenciado). O tempo médio<br />

de seguimento global destes doentes nesta avaliação<br />

foi de 49 meses. As taxas de sobrevivência globais estão<br />

descritas na tabela 2.<br />

TABELA 2<br />

Taxas de sobrevivência globais<br />

Taxas<br />

Sobrevivência<br />

Globais<br />

1<br />

Ano<br />

42<br />

em<br />

44<br />

(95%)<br />

5<br />

anos<br />

18<br />

em<br />

23<br />

(78%)<br />

10<br />

anos<br />

3 em 8<br />

(38%)<br />

O tempo mínimo de sobrevivência, nesta série, desde o<br />

diagnóstico, foi de 2 meses e o máximo de 130 meses.<br />

Procedeu-se também a com<strong>para</strong>ção das taxas de<br />

sobrevivência, tendo como variáveis o tamanho da<br />

TABELA 3<br />

Taxas de sobrevivência por Tamanho da lesão.<br />

Nota: Indeterminado: 5 (10%).<br />

lesão (superior e inferior a 4cm), grau histológico (Alto,<br />

médio e baixo grau) e estadio clínico, tendo-se obtido os<br />

resultados abaixo descritos nas tabelas 3, 4 e 5.<br />

DISCUSSÃO<br />

As lesões das glândulas salivares, apresentam-se<br />

clinicamente sob a forma de tumefacção de crescimento<br />

mais ou menos rápido, com várias localizações possíveis.<br />

Existe uma grande variedade de diagnósticos<br />

histológicos como se relata na literatura internacional 1-5<br />

e que são fonte de dúvidas e miscelânias 2 .<br />

As lesões benignas são as mais frequentes, destacando-<br />

-se, sem dúvida, o adenoma pleomórfico (tumor benigno<br />

misto bifásico frequentemente capsulado), que, apesar<br />

de se tratar de neoplasia benigna, tem a capacidade<br />

de recidivar e sofrer transformação maligna 1 . A sua<br />

excisão cirúrgica completa é fundamental, embora a<br />

preservação de estruturas anatómicas adjacentes seja<br />

um factor limitante e de preocupação 1 – o objectivo<br />

será a remoção intacta do tumor e a preservação de<br />

estruturas saudáveis como o nervo facial 2 .<br />

Relativamente às lesões malignas intrínsecas,<br />

contrariamente à literatura 1,4 , o tipo histológico<br />

mais frequente foi o carcinoma adenóide cístico e<br />

secundariamente o carcinoma mucoepidermóide.<br />

Este último, representa, em grandes séries, 30% das<br />

neoplasias das glândulas salivares 4 , e clinicamente<br />

Tamanho da lesão 4cm<br />

40 (73%) 15 (27%)<br />

Taxa de sobrevivência a 1 ano 29 vivos em 31 (94%) 13 vivos em 13 (100%)<br />

Taxa de sobrevivência aos 5 anos 13 vivos em 16 (81%) 5 vivos em 7 (71%)<br />

Taxa de sobrevivência aos 10 anos 2 vivos em 6 (33%) 1 vivo em 2 (50%)<br />

TABELA 4<br />

Taxas de sobrevivência por Grau Histológico<br />

Grau Alto 24 (45%) Médio 24 (45%) Baixo 24 (45%)<br />

Taxa de sobrevivência a 1 ano 19 vivos em 20 (100%) 7 vivos em 7 (100%) 12 vivos em 12 (100%)<br />

Taxa de sobrevivência aos 5 anos 4 vivos em 8 (50%) 4 vivos em 5 (80%) 8 vivos em 8 (100%)<br />

Taxa de sobrevivência aos 10 anos 1 vivo em 4 (25%) 2 vivos em 3 (67%) 0 vivos em 1 (0%)<br />

TABELA 5<br />

Taxas de Sobrevivência por Estadio (AJCC).<br />

Estadio I II III IV A IV B<br />

Taxa de sobrevivência a 1 ano 9 vivos em 9<br />

(100%)<br />

Taxa de sobrevivência aos 5 anos 2 vivos em 2<br />

(100%)<br />

Taxa de sobrevivência aos 10 anos 0 vivo em 0<br />

(0%)<br />

18 vivos em 18<br />

(100%)<br />

10 vivos em 10<br />

(80%)<br />

3 vivos em 4<br />

(75%)<br />

3 vivos em 3<br />

(100%)<br />

2 vivos em 3<br />

(67%)<br />

1 vivos em 2<br />

(50%)<br />

12 vivos em 14<br />

(100%)<br />

4 vivos em 8<br />

(50%)<br />

0 vivos em 2<br />

(0%)<br />

0 vivos em 2<br />

(0%)<br />

-<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 251<br />

-<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


pode mimetizar um adenoma pleomórfico, sendo que<br />

dor local, alterações neurológicas e rápido crescimento<br />

favorecem a presença de uma lesão de alto grau 1 .<br />

Esta série revelou também um grande número de<br />

lesões extrínsecas metastáticas <strong>para</strong> as glândulas<br />

salivares, nomeadamente a glândula parótida. Mais<br />

frequentemente implicados estão as lesões cutâneas<br />

como o carcinoma espinhocelular e o melanoma<br />

maligno 1 , sendo que nesta série se destacam também<br />

as doenças linfoproliferativas. Este tipo de lesões, pode<br />

implicar excisões mais alargadas com aumento da<br />

morbilidade, mas a tendência será <strong>para</strong> cirurgia o mais<br />

conservadora possível, deixando as excisões extensas<br />

com necessidade de sacrifício de estruturas nobres e<br />

reconstruções mais ou menos complexas <strong>para</strong> os casos<br />

de doença recidivante ou invasiva 1 .<br />

Foi evidente, na nossa série, que o género masculino<br />

e idade avançada revelaram mais lesões malignas,<br />

embora internacionalmente, a maioria das séries não<br />

haja prevalência de género nem tendência evidente<br />

<strong>para</strong> ocorrer em idades particularmente tardias – são<br />

frequentes no adulto 1 , na 5ª/6ª décadas 2 , podendo, no<br />

entanto, ocorrer raramente em crianças.<br />

Relativamente à pesquisa de eventuais factores de<br />

risco (como os mencionados), é nossa opinião que<br />

o facto de não terem sido pesquisados activamente,<br />

provavelmente condicionou os resultados obtidos. A<br />

irradiação externa da cabeça e pescoço é um conhecido<br />

factor de risco e o tabaco está possivelmente implicado<br />

no desenvolvimento de Tumor de Warthin 2 .<br />

A citologia como método diagnóstico pode dar<br />

informações importantes, mas cujos resultados estão<br />

muito dependentes de uma técnica meticulosa, que<br />

sendo simples não é trivial 1 . Nesta série verificou-se<br />

uma taxa elevada de falsos negativos, o que pode estar<br />

relacionada com este factor.<br />

A cirurgia é o tratamento de escolha <strong>para</strong> a patologia<br />

neoplásica salivar 3 . Terapêuticas alternativas apresentam-<br />

-se como opções adjuvantes.<br />

A RT pós-operatória parece reduzir o risco de recidiva<br />

loco-regional e aumentar ligeiramente a sobrevida<br />

global 1 , por controlo de doença residual. De acordo com<br />

a literatura, RT pós-operatória está indicada nos casos<br />

de: margens positivas, nódulos linfáticos positivos,<br />

carcinomas de alto grau, estadio avançado ou casos<br />

recorrentes. A RT isolada só estará indicada nos casos<br />

de tumores inoperáveis ou metastização extensa, com<br />

intenção paliativa 2,3 .<br />

A RT também tem um papel benéfico como terapêutica<br />

adjuvante na recorrência multinodular de adenomas<br />

pleomórficos 2 .<br />

Os diferentes tipos histológicos podem responder<br />

252 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

de forma significativamente diferente a agentes<br />

quimioterápicos (QT), mas não há recomendações<br />

baseadas em evidências concretas que suportem<br />

a utilização rotineira de QT adjuvante 1 . Por isto,<br />

geralmente reserva-se o uso de QT <strong>para</strong> paliação de<br />

sintomas devido a doença localmente recorrente ou<br />

metastática 1,3 . A maioria dos casos provavelmente<br />

corresponderão a carcinomas adenóides císticos,<br />

mucoepidermóides ou adenocarcinomas de alto grau 1 .<br />

A opção por terapêutica com agente único ou de<br />

combinação pode ser feita tendo em conta o potencial<br />

de toxicidade 1 .<br />

Dos factores que afectarão a sobrevida nas neoplasias<br />

malignas das glândulas salivares, o mais importante<br />

será o estadiamento (intimamente relacionado com<br />

o tamanho da lesão), que se sobrepõe ao grau<br />

histológico 2,3 . De uma forma semelhante, o tamanho<br />

do tumor e o grau histológico são os melhores factores<br />

preditivos de adenopatias cervicais regionais 2 . Os<br />

factores preditores de mestastização à distância serão o<br />

tamanho da lesão, presença de adenopatias e extensão<br />

local, embora percentagem significativa de doentes com<br />

doença localmente controlada desenvolvam metástases<br />

à distância, o que sugere disseminação microscópica<br />

prévia à ressecção cirúrgica 2 – os resultados da nossa<br />

série foram consistentes com esta observação.<br />

A avaliação das taxas de sobrevivência aos 5 e 10 anos,<br />

é apenas indicativa, porque há poucos casos, sobretudo<br />

com o evoluir dos anos (60 e 120 meses), nesta série.<br />

Tendo sempre em conta o pequeno número amostral<br />

na com<strong>para</strong>ção destas taxas, pode aceitar-se que, <strong>para</strong><br />

esta série, em termos de taxas de sobrevivência:<br />

1. Tamanho da lesão: não se verificaram diferenças<br />

significativas – os resultados não são consistentes num<br />

ou noutro sentido.<br />

2. Grau histológico: alto grau corresponde a taxas de<br />

sobrevivência menores.<br />

3. Estadio clínico: estadios mais elevados são<br />

consistentes com taxas de sobrevivência menores ao<br />

longo do tempo.<br />

CONCLUSÕES<br />

As lesões salivares malignas, sendo lesões raras e<br />

morfologicamente difíceis de avaliar e classificar, ainda<br />

colocam dúvidas prognósticas e terapêuticas. Devido à<br />

grande variedade morfológica, tal como demonstrado<br />

neste estudo, revela-se difícil de homogeneizar<br />

entidades e prever comportamentos. A base terapêutica<br />

é sobretudo cirúrgica e um seguimento a longo prazo<br />

é necessário, em virtude da possibilidade de recidivas<br />

tardias, locais e/ou à distância.


AGRADECIMENTOS<br />

Todos os profissionais de sáude do Departamento de<br />

Cirurgia de Cabeça e Pescoço do IPOFG Coimbra, nos<br />

seus diversos serviços.<br />

Todos os funcionários do Arquivo Clínico do IPOFG<br />

Coimbra.<br />

Referências bibliográficas:<br />

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ARTIGO<br />

47-3: 141-144.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 253


DATAS LIMITES<br />

PARA SUBMETER COMUNICAÇÕES CIENTÍFICAS<br />

CONGRESSO NACIONAL DA <strong>SPORL</strong>-CCF<br />

Viseu, 28 de Abril a 1 de Maio, 2012<br />

DATA LIMITE PARA ENVIO DE ABSTRACTS DE COMUNICAÇÕES<br />

ORAIS E POSTERS<br />

28 DE FEVEREIRO DE 2012<br />

DATA LIMITE PARA ENVIO DOS MANUSCRIPTOS DAS<br />

COMUNICAÇÕES ORAIS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA<br />

PORTUGUESA DE ORL-CCF<br />

31 DE MARÇO DE 2012<br />

254 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Complicaciones de la cirugía tiroidea:<br />

Control y tratamiento<br />

Complications of thyroid surgery:<br />

Control and treatment<br />

Solís Vázquez R. Ambel Albarrán A. Pereda Tamayo J.M. Trinidad Ruiz G. Torrico Román P. Pantoja Hernández C.G.<br />

Rejas Ugena E.<br />

RESUMEN<br />

Introducción:Existen nódulos tiroideos mayores de 1 cm<br />

en el 4% de la población. La indicación más frecuente de<br />

cirugía es el bocio multinodular, aumentando la incidencia<br />

en áreas con déficit de iodo. El diagnóstico de cáncer papilar<br />

en pacientes intervenidos por bocio se cifra entre un 7-14%,<br />

siendo el cáncer tiroideo la tumoración glandular maligna más<br />

frecuente.<br />

Material y métodos: Hemos realizado un estudio retrospectivo<br />

de los pacientes intervenidos por patología tiroidea desde<br />

2007 hasta 2009. Recopilamos datos epidemiológicos , la<br />

indicación quirúrgica y las complicaciones de la cirugía<br />

glandular como son la hipocalcemia o la parálisis recurrencial.<br />

Resultados: De la 139 intervenciones revisadas, la indicación<br />

de cirugía más frecuente fue el nódulo tiroideo (43.88%) y el<br />

bocio multinodular (38.84%).Existe un 28% de discrepancias<br />

pre/ postoperatorias en el resultado de la anatomía patológica.<br />

En todos estos casos, la PAAF (punción aspiración con aguja<br />

fina) preoperatoria era de bocio coloide, sin embargo tras la<br />

cirugía, se localizaron focos de microcarcinoma papilar en la<br />

pieza remitida <strong>para</strong> estudio patológico. El 27% presentaron<br />

hipocalcemia transitoria tras la cirugía. En 2 casos se evidenció<br />

una parálisis permanente del nervio laríngeo recurrente<br />

inferior. El 15.82 % de los bocios presentaban una extensión<br />

intratorácica.<br />

Solís Vázquez R.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Ambel Albarrán A.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Pereda Tamayo J.M.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Trinidad Ruiz G.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Torrico Román P.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Pantoja Hernández C.G.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Rejas Ugena E.<br />

Servicio de Otorrinolaringología. Complejo Hospitalario Universitario de Badajoz (España)<br />

Correspondência:<br />

Raquel Solís Vázquez<br />

ra.so.va@hotmail.com<br />

Teléfono: +34669140316<br />

Dirección: Castillo Puebla de Alcocer 73 portal 1, BADAJOZ CP.06006<br />

Discusión e Conclusiones: Se debe realizar un control<br />

postoperatorio de las cifras de calcio de forma diaria y con<br />

pauta de tratamiento doble si cifras menores de 7.2 mg/<br />

dl o inferiores a 8 mg/ dl en pacientes sintomáticos. Las<br />

parálisis permanentes recurrenciales resultantes fueron en<br />

pacientes intervenidos por cáncer papilar de tiroides lo que<br />

apoya la necesidad de monitorización del nervio recurrente<br />

en la cirugía tumoral maligna. La vía de abordaje de todos<br />

los bocios con extensión intratorácica fue cervical sin<br />

necesidad de realizar esternotomía. La cirugía de tiroides<br />

no está exenta de complicaciones y secuelas permanentes<br />

como parálisis recurrencial o hipocalcemia. La experiencia<br />

del otorrinolaringólogo en la cirugía cervical juega un<br />

papel fundamental en la reducción de complicaciones. Se<br />

debe realizar indicaciones y protocolos conjuntos con otros<br />

servicios como Endocrinología.<br />

Palabras claves: Cirugía de tiroides, nervio laringeo recurrente,<br />

carcinoma micropapilar, hipocalcemia<br />

ABSTRACT<br />

Introduction and goals: Thyroid nodules occur in 4% of the<br />

population. The most common indication for thyroid surgery<br />

is a multinodular goiter, increasing in areas with iodine<br />

deficiency. The diagnosis of thyroid carcinoma in patients<br />

operated on for multinodular goiter is between 7-14%.Thyroid<br />

cancer is the most common malignant glandular tumor.<br />

Methods: We performed a retrospective study on patients<br />

operated of thyroid pathology from 2007 to 2009 .We identified<br />

epidemiological data, surgical indication and complications of<br />

the surgery glandular as hypocalcemia or recurrent palsy.<br />

Results: A total of 139 patients were studied. The most common<br />

indications for surgery were thyroid nodule (43.88%) and<br />

multinodular goiter (38.84%). There was a 28% discrepancy<br />

between pre/postoperative results on pathological anatomy.<br />

In all these cases, preoperative FNAC (fine-needle aspiration<br />

cytology) had a result of colloid goiter, in contrast to the<br />

histopathology of the surgical specimen, in which localized<br />

foci of papillary microcarcinoma were found. After surgery<br />

27% of patients had temporary hypocalcemia. Two cases of<br />

139 patients showed permanent recurrent palsy. Intrathoracic<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 255<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


goiter was identified in 15.82% of patients.<br />

Discussion and Conclusions: There must be a daily monitoring<br />

of postoperative calcium levels. We recommend treatment<br />

with calcium (oral and intravenous) if lower levels of 7.2mg/<br />

dl or less than 8mg/dl but in patients with signs / clinical<br />

hypocalcemia. Recurrent permanent palsy were in patients<br />

operated on papillary carcinoma. The surgical approach in<br />

the case of intrathoracic goiter was cervical access without<br />

requiring sternotomy. Thyroid surgery is not without<br />

complications and permanent damage such as recurrent<br />

palsy or hypocalcemia. The experience of the otolaryngologist<br />

in cervical surgery have a key role in reducing of the<br />

complications. Indications should be performed protocols<br />

with other services such as Endocrinology.<br />

Keywords: Thyroid surgery, recurrent laryngeal nerve, papillary<br />

microcarcinoma, hypocalcemia.<br />

INTRODUCCIÓN<br />

La patología tiroidea es frecuente, con presencia en el<br />

0.5-1% de la población en general, siendo el 90% de los<br />

nódulos, adenomas eutiroideos¹.<br />

La decisión de cirugía viene marcada por la sospecha<br />

de malignidd, el aumento de tamaño, la presencia de<br />

clínica compresiva e incluso por motivos estéticos. La<br />

indicación más frecuente de cirugía tirodea es el bocio<br />

multinodular no tóxico (70.4%)².<br />

El cáncer tiroides es el tumor glándular más frecuente³.<br />

La incidencia mundial 0.5-10:100000 habitantes.La<br />

sospecha aparece con la existencia de nódulos fríos.<br />

Según los estudio hasta el 8.6% de los nódulos fríos<br />

son malignos³. El cáncer papilar representa la entidad<br />

maligna tiroidea más frecuente con una mortalidad del<br />

10%⁴. Los factores de riesgo asociados son antecedentes<br />

de radicación o existencia de un bocio multinodular.<br />

MATERIAL Y MÉTODOS<br />

Los objetivos de este estudio son realizar una revisión<br />

de los pacientes intervenidos en nuestro servicio<br />

por patología tiroidea (incluyendo origen benigno/<br />

maligno) atendiendo a los protocolos clínicos y<br />

terapéuticos establecidos en conjunto con el Servicio<br />

de Endocrinología.<br />

Se ha realiza un estudio observacional, descriptivo y<br />

retrospectivo durante un periodo de dos años desde<br />

enero 2007 a Marzo 2009, siendo un total de 139<br />

intervenciones.<br />

Se han recogido datos epidemiológicos, la indicación<br />

de la cirugía, intervención realizada y diagnóstico<br />

postoperatorio. Se han reflejado las complicaciones<br />

más temidas de la cirugía tiroidea (hipocalcemia y la<br />

parálisis nervio recurrente). Finalmente com<strong>para</strong>mos los<br />

resultados de anatomía patológica pre/postoperatoria.<br />

Indicaciones<br />

256 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

Los pacientes son derivados desde el servicio<br />

de Endocrinología tras estudio. Los criterios son<br />

establecidos conjuntamente por ambos servicios según<br />

protocolo. Son los siguientes:<br />

• Bocio multinodular ( figura1)<br />

• Nódulo tiroideo<br />

• Mayor de 3 cm sospechoso de malignidad<br />

• Tóxico<br />

• No control médico<br />

• Clínica: Disfonia, disfagia, disnea<br />

• Estético<br />

• Cáncer tiroideo<br />

• Tiroiditis de Riedel<br />

• Enfermedad de Graves con mal control<br />

médico,embarazo, bocio grande, contraindicación o<br />

rechazo del tratamiento médico.<br />

El estudio preoperatorio del paciente incluye ecografía,<br />

PAAF y gammagrafía. Se reserva la utilización de TAC<br />

cervical <strong>para</strong> bocios de gran dimensión y con sospecha<br />

de prolongación intratorácica.<br />

FIGURA 1<br />

Bocio multinodular<br />

Control postoperatorio cifras de calcio<br />

Se realiza por protocolo un control de las cifras de calcio<br />

previo a la cirugía, el día de la intervención y cada día<br />

durante el ingreso . Se indica tratamiento con calcio<br />

cuando las cifras son menores de 7.2 mg/dl o entre<br />

7.2-8 mg/ dl pero el paciente presenta clínica/signos<br />

de hipocalcemia (parestesias, Chvostek o Trousseau<br />

positivos).El objetivo del tratamiento es reinstaurar un<br />

nivel de calcio corregido de 9-10mg/dl (figura2) .A las<br />

24-48h de iniciar el tratamiento con Calcio intravenosos<br />

+ vía oral (si la respuesta es adecuada) debe reducirse


FIGURA 2<br />

Protocolo de tratamiento hipocalcemia<br />

la dosis del primero y aumentarse la del segundo<br />

progresivamente hasta mantener una administración<br />

oral exclusivamente a lo largo de las 48-72h siguientes.<br />

Este tratamiento debe complementarse con una dieta<br />

rica en calcio.<br />

Recomendaciones postoperatorias al alta<br />

Dieta blanda durante los primeros días, mantener la<br />

cabeza en alto, durmiendo con 2-3 almohadas. Los<br />

puntos de aproximación se mantiene durante 7-10 días.<br />

Son retirados en la consulta de revisión. Lavar la herida<br />

tras retirada de puntos, evitar la exposición solar y<br />

utilizar protección máxima durante 6 meses.<br />

Por parte del servicio de Endocrino se indica a los<br />

pacientes intervenidos de tiroidectomía total, la toma de<br />

levotiroxina 75 microgramos ( Eutirox®), hasta revisión<br />

por parte de Endocrinología. Control ambulatorio tras<br />

alta por parte de su médico de Familia.<br />

RESULTADOS<br />

La edad media de los pacientes intervenidos fue de<br />

49.43 años (rango 16 a 78) con alta prevalencia de<br />

mujeres (88%). En todas las intervenciones optamos por<br />

el abordaje abierto.<br />

La indicación de la cirugía fue de nódulo tiroideo<br />

(61 casos), bocio multinodular (54 casos) (figura3)<br />

.Referente a la patología tumoral maligna ,el cáncer<br />

papilar representa 19 casos de la muestra, encontramos<br />

otros casos tumorales tiroideos únicos como medular<br />

de tiroides y angiosarcoma tiroideo. Más de la<br />

mitad de las intervenciones (53%) realizadas fueron<br />

hemitoidectomías, tiroidectomías totales (42%),siendo<br />

el 7% de estas tiroidectomías totales completadas con<br />

vaciamientos cervicales por afectación tumoral maligna.<br />

El 5,03% fueron reintervenidos <strong>para</strong> realización<br />

de hemitiroidectomía contralateral por resultados<br />

patológicos de malignidad en hemitiroidectomía previa<br />

(figura4).<br />

FIGURA 3<br />

Indicaciones de la cirugía glándular<br />

FIGURA 4<br />

Bocio multinodular<br />

La complicación médica más frecuente tras tiroidectomía<br />

total, fue la hipocalcemia apareciendo en el 27 % de<br />

los pacientes. Siempre de forma transitoria, pero que<br />

precisaron tratamiento y prolongación de la estancia<br />

hospitalaria a 6.42 días de media.<br />

El 43% de los pacientes con hipocalcemia fue intervenido<br />

por cáncer papilar.La lesión del nervio recurrente<br />

laríngeo inferior definitiva apareció en el 1%. En<br />

otros 7 pacientes se evidenció una paresia transitoria<br />

recuperada en la revisión en la consulta a los 20 días.<br />

La estancia media fue de 4.35 días. Por protocolo, los<br />

pacientes intervenidos por tiroidectomía total recibían<br />

el alta a las 48 horas, las hemitoidectomías a las 24<br />

horas.<br />

DISCUSIÓN<br />

El bocio multinodular es la patología tiroidea más<br />

intervenida, aumentando los casos en zonas endémicas<br />

con déficit de iodo².Sin embargo en nuestra serie la<br />

indicación más frecuente fue la presencia de nódulo<br />

tiroideo sospechoso de malignidad (43.88%), siendo el<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 257<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


ocio multinodular la segunda indicación más frecuente<br />

(38.84%).<br />

La indicación quirúrgica es mediada por el mal control<br />

médico, alergia a algún componente del tratamiento,<br />

rechazo al Iodo o la presencia de bocio de gran tamaño⁵.<br />

Cuando la glándula crece hacia el tórax, produce un<br />

conflicto de espacio a nivel del estrecho torácico<br />

superior. El paciente presentará un aumento de la<br />

circulación colateral cervical, disnea disfagia e incluso<br />

aparición de disfonía por compresión del nervio<br />

recurrente⁶. En series consultada, el 3% de los bocios<br />

son intratorácicos⁷, en nuestra revisión el porcentaje<br />

fue más elevado (15.82%). Las intervenciones por<br />

bocio intratorácico fueron realizadas con la presencia<br />

del cirujano torácico, sin embargo el acceso <strong>para</strong> la<br />

tiroidectomía fue cervical en el 100% de los casos sin<br />

precisar esternotomía media <strong>para</strong> la extracción de la<br />

glándula.<br />

Se considera que entre el 75-80% de los cánceres de<br />

tiroides son de estirpe papilar⁸. En nuestra serie el<br />

13.66% de los pacientes fueron intervenidos por cáncer<br />

de tiroides, siendo el cáncer papilar la histología maligna<br />

más frecuente. El hallazgo de cáncer de tiroides en<br />

pacientes intervenidos con el diagnóstico preoperatorio<br />

de bocio multinoduar se cifra entre 7-17%³ , por lo que<br />

no debemos infravalorar el riesgo de malignización del<br />

bocio, sobre todo si existencia de nódulo dominante<br />

o solitario. Este dato motivó la com<strong>para</strong>ron de los<br />

resultados de PAAF pre/postoperatoria.En 16% no fue<br />

posible ya que no existía resultados preoperatorios.<br />

En el 56% de los pacientes los resultados fueron<br />

coincidentes, pero en el 28% existió una discrepancia,<br />

siendo la muestra preoperatoria benigna y el resultado<br />

diferido postoperatorio informado como maligno.<br />

(figura 5).El diagnóstico de más de la mitad de estos<br />

resultados discordantes fue carcinoma micropapilares<br />

de tiroides (11 casos).<br />

Según a OMS ,el carcinoma micropapilar es un tumor<br />

papilar de menos de 1 cm. Presentan un buen pronóstico<br />

con < 3% de mortalidad. La extensión viene marcada<br />

por la existencia de enfermedad bilateral en el 19.8%⁹.<br />

Baudin analizó 281 pacientes encontrando tumor<br />

micropapilar multifocal asociando un mayor riesgo<br />

de recidiva, por lo que recomienda tratamiento con I<br />

131 radiactivo en pacientes con lesiones multifocales<br />

micropapilares².<br />

En nuestra serie, tras hallazgo incidental en hemitiroidectomía<br />

de carcinoma micropapilar, completamos<br />

hasta la tiroidectomía total (5,03% en nuestra serie).<br />

No realizamos técnicas parciales entendiendo que la<br />

posibilidad de recidiva es mayor.<br />

La complicación más frecuente tras tiroidectomía total<br />

258 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

FIGURA 5<br />

Resultados definitivos Anatomía Patológica<br />

es la aparición de hipocalcemia. El porcentaje total<br />

fue del 27%. Todos los casos de hipocalcemia fueron<br />

transitorios. En las series consultadas estos cifras son<br />

muy variables, desde 8.4% 10 hasta el 50%¹¹, lo que<br />

identifica una discrepancia entre los hallazgos analíticos<br />

y clínicos del paciente.<br />

Por parte del cirujano es importante la localización al<br />

menos de dos <strong>para</strong>tiroides durante la intervención de<br />

tiroidectomías totales<br />

En los pacientes con clínica de hipocalcemia postquirúrgica,<br />

se localizaron el 100% glándulas <strong>para</strong>tiroides en el 8<br />

pacientes, 75% en dos pacientes, 50% en 6 casos, 3<br />

casos no se localizó ninguna. En el caso de <strong>para</strong>tiroides<br />

intracapsulares es preciso realizar un trasplante de la<br />

glándula en el esternocleidomastoideo.<br />

En series consultadas, se reserva el tratamiento con<br />

calcio intravenoso <strong>para</strong> pacientes con tetania¹¹.<br />

En nuestro servicio optamos por el doble tratamiento<br />

con calcio ( intravenoso/oral) cuando la cifra analítica<br />

es menor de 7.2 mg/dl o menor a 8 mg/ml pero con<br />

la presencia de clínica. El objetivo del tratamiento<br />

simultaneo, es restaurar en la mayor brevedad posible<br />

la calcemia y evitar la persistencia de la clínica. Durante<br />

su ingreso realizamos un control preoperatorio y<br />

postoperatorio diario de las cifras de calcio.<br />

Una de las secuelas más importantes tras la cirugía, es<br />

la lesión del nervio laríngeo recurrente. Esta puede<br />

ser de corta duración o permanente. No es infrecuente<br />

su paresia transitoria por presión, termocauterización<br />

o sección incompleta del mismo durante la cirugía.La<br />

parálisis definitiva oscila entre 0-11%¹³ en nuestra serie<br />

se evidenció en dos pacientes(1%), ambos intervenidos<br />

por cáncer papilar.<br />

Los porcentajes de parálisis con/sin monitorización en


manos experimentadas son semejantes¹⁴.<br />

No realizamos la monitorización del nervio recurrente<br />

de forma rutinaria, reservando la misma <strong>para</strong> casos<br />

presumiblemente complicados por patología maligna<br />

tiroidea.<br />

CONCLUSIONES<br />

El conocimiento del otorrinolaringólogo de la anatomía<br />

cervical y la experiencia son claves en la cirugía tiroidea.<br />

Es fundamental la localización el nervio laríngeo<br />

recurrente y las glándulas <strong>para</strong>tiroideas <strong>para</strong> evitar<br />

secuelas permanentes. El control de la calcemia debe<br />

continuar a nivel postoperatorio y de forma diaria ya<br />

que cifras bajas de calcio pueden aparecen en pacientes<br />

asintomáticos.<br />

La presencia de cáncer micropapilar oculto de esta<br />

serie (hasta en un 28% de los pacientes), nos obliga a<br />

establecer protocolos de actuación ante el hallazgo<br />

indidental de cáncer de tiroides menor de < 1cm y un<br />

seguimiento de los bocios multinodulares.<br />

La colaboración con otros servicios como Endocrino,<br />

Anatomía patológica y Cirugía Torácica permite la<br />

realización estos protocolos y determina indicaciones<br />

claras <strong>para</strong> cirugía tiroidea.<br />

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VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 259<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


260<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Surdez neuro-sensorial súbita idiopática -<br />

Resultados após 3 anos de implementação de<br />

protocolo terapêutico<br />

Idiopathic sudden sensorineural hearing loss -<br />

Results after 3 years of therapeutic protocol<br />

implementation<br />

João Diogo Martins Vítor Certal Tiago Santos Hélder Silva Hugo Amorim Carlos Carvalho<br />

RESUMO<br />

Introdução: A surdez neuro-sensorial súbita idiopática (SNSSI)<br />

é um diagnóstico clínico, caracterizado por uma perda auditiva<br />

neuro-sensorial superior ou igual a 30 dB em três frequências<br />

contíguas, de instalação súbita ou progressiva num período<br />

inferior a 72h.<br />

Este trabalho pretende avaliar os resultados do protocolo<br />

terapêutico instituído no Serviço de ORL do Hospital de São<br />

Sebastião na recuperação auditiva (média tonal em dB).<br />

Material e Métodos: Estudo retrospectivo, através de análise<br />

de processos clínicos, dos doentes com diagnóstico de surdez<br />

neuro-sensorial súbita idiopática entre Janeiro de 2008 e<br />

Dezembro de 2010 (3 anos), que realizaram o protocolo<br />

terapêutico do Serviço de ORL do Hospital de S. Sebastião<br />

(Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga). Foram excluídos<br />

os doentes que realizaram tratamento em ambulatório<br />

por opção ou por apresentarem uma evolução do quadro<br />

clínico superior a quinze dias. Os doentes estudados foram<br />

internados <strong>para</strong> realização de terapêutica endovenosa<br />

com prednisolona, pentoxifilina e valaciclovir. Por não ter<br />

ocorrido a melhoria auditiva satisfatória ao fim de 5 dias de<br />

tratamento endovenoso, foi proposta a todos os doentes<br />

a subsequente realização de oxigenoterapia hiperbárica,<br />

iniciada, preferencialmente, no prazo de uma semana após a<br />

alta hospitalar.<br />

João Diogo Martins<br />

Interno do Internato Complementar do Serviço de ORL do HSS<br />

Vítor Certal<br />

Interno do Internato Complementar do Serviço de ORL do HSS<br />

Tiago Santos<br />

Interno do Internato Complementar do Serviço de ORL do HSS<br />

Hélder Silva<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de ORL do HSS<br />

Hugo Amorim<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de ORL do HSS<br />

Carlos Carvalho<br />

Director de Serviço de ORL do HSS<br />

Correspondência:<br />

João Diogo Martins<br />

Telef: 965349916<br />

martins.jd@gmail.com<br />

Resultados: Foi colhida informação de 11 doentes, 6 do sexo<br />

masculino e 5 do sexo feminino, com uma média de idades<br />

de 51,1 anos (39-63 anos). Todos os doentes apresentavam<br />

como sintoma acompanhante acufenos homolaterais e cinco<br />

doentes (45,5%) apresentavam também queixas de vertigem.<br />

A média tonal (média dos limiares tonais nas frequências<br />

500, 1000, 2000 e 4000 Hz) no momento do diagnóstico foi<br />

de 82 dB. A oxigenoterapia hiperbárica foi realizada em sete<br />

doentes, tendo os restantes recusado esta terapêutica. Após<br />

a realização do protocolo terapêutico a média tonal foi de<br />

50 dB (15-107,5dB), com uma melhoria tonal média de 32,6<br />

dB (0-85dB). Em dois doentes (18%) não houve melhoria<br />

audiométrica após realização do protocolo terapêutico.<br />

Houve uma melhoria audiométrica significativa (superior ou<br />

igual a 20dB) em quatro dos doentes (57%) que realizaram<br />

oxigenoterapia hiperbárica.<br />

Conclusão: Apesar das melhorias auditivas observadas nesta<br />

revisão, os resultados são ainda insuficientes, ficando por<br />

determinar qual o tratamento mais eficaz. Apesar da amostra<br />

do estudo ser pequena e sem significado estatístico, parecenos<br />

que a oxigenoterapia hiperbárica é uma opção terapêutica<br />

que deve continuar ser oferecida aos doentes.<br />

Palavras-chave: surdez, neuro-sensorial, súbita, idiopática,<br />

corticóide, pentoxifilina, valaciclovir, oxigénio hiperbárico.<br />

ABSTRACT<br />

Introduction: The idiopathic sudden sensorineural hearing loss<br />

(ISSHL) is a clinical diagnosis, characterized by a sensorineural<br />

hearing loss of at least 30 decibel (dB) over three contiguous<br />

frequencies occurring within 72 hours. This study pretends<br />

to evaluate the results of the therapeutic protocol instituted<br />

in the ENT Department of Hospital de São Sebastião, in what<br />

concerns to hearing recovery (pure tone average in dB).<br />

Methods and Material: Retrospective study, by clinical files<br />

analysis, of all patients with the diagnosis of ISSHL between<br />

January 2008 and December 2010 (three years), that were<br />

treated with the therapeutic protocol of Hospital de São<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 261<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


Sebastião (Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga) ENT<br />

Department. Patients that were treated with outpatient<br />

treatment were excluded, which include those who presented<br />

with a clinical evolution of more than fifteen days and those<br />

that refused to be admitted for treatment. Patients were<br />

admitted in our Department to perform intravenous therapy<br />

with prednisolone, pentoxifilin and valacyclovir. Subsequent<br />

hyperbaric oxygen therapy was proposed to all patients that<br />

didn’t have a significant hearing improvement, and started,<br />

preferably, during the first week after hospital discharge.<br />

Results: Information was collected from 11 patients, 6 male<br />

and 5 female patients, with a mean age of 51,1 years (39-<br />

63 years). At time of diagnosis, all patients presented with<br />

homolateral tinnitus and five patients (45,5%) with vertigo<br />

complaints. The initial pure tone average (PTA), calculated as<br />

the average of thresholds at 500, 1000, 2000 and 4000 Hz,<br />

was 82 dB. Hyperbaric oxygen therapy was performed in<br />

seven patients. The rest of the patients refused this treatment.<br />

After treatment the average PTA was 50 dB (15-107,5 dB),<br />

with an average improvement of 32,6 dB (0-85 dB). There<br />

were two patients without audiometric recovery. In the group<br />

of patients that performed hyperbaric oxygen therapy, there<br />

was a significant audiometric recovery (equal or superior to 20<br />

dB) in four patients (57%).<br />

Conclusion: Despite the auditory improvements, the results<br />

are still insufficient, and the best treatment is still to be found.<br />

Despite the small sample and lack of statistical significance of<br />

our results, it seems to the authors that the hyperbaric oxygen<br />

therapy should be offered as a therapeutic option.<br />

Keywords: hearing loss; sensorineural, sudden, idiopathic,<br />

corticosteroids, pentoxifilin, hyperbaric oxygen, valacyclovir.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A Surdez Neuro-sensorial Súbita Idiopática (SNSSI)<br />

caracteriza-se pela perda auditiva neuro-sensorial<br />

superior ou igual a 30 dB em três frequências contíguas,<br />

de instalação súbita ou progressiva num período inferior<br />

a 72h, sem factor precipitante identificável 1 .<br />

Estima-se que a sua incidência seja entre 5-20 por<br />

100.000 habitantes por ano 2,3 . Apresenta uma incidência<br />

semelhante em ambos os sexos 1 , pode atingir doentes<br />

de todas as idades, sendo no entanto rara em crianças<br />

e idosos, ocorrendo mais frequentemente entre os<br />

43 e 53 anos de idade 1,4,5 . É unilateral em 98-99% dos<br />

casos 1,6 .<br />

Os sintomas acompanhantes mais frequentes são os<br />

acufenos (70-94% dos casos) e a vertigem (20-50% dos<br />

casos) 1,2,4 .<br />

Em cerca de 85% dos casos de surdez neuro-sensorial<br />

súbita não se identifica a etiologia (idiopática).<br />

Aproximadamente 1% dos casos é devido a patologia<br />

retrococlear (schwanoma vestibular, doença desmielinizante<br />

262 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

ou episódio isquémico) 6 e cerca de 10-15% são causados<br />

por outras causas identificáveis, como a Doença de<br />

Menière, traumatismo, doença auto-imune, sífilis,<br />

Doença de Lyme ou fístula perilinfática 1,3 .<br />

Existem várias teorias que tentam explicar a<br />

etiopatogenia do SNSSI, relacionadas com alterações<br />

vasculares (obstrução completa ou parcial do fluxo<br />

sanguíneo ao nível da artéria labiríntica) 7,8 , infecções<br />

víricas 9,10,11 , distúrbios auto-imunes do ouvido<br />

interno 13,14 e ruptura da membrana de Reissner 15 .<br />

Sem uma etiologia específica, a terapêutica desta<br />

entidade mantém-se um tema de grande controvérsia,<br />

existindo na literatura mundial diversos esquemas e<br />

protocolos terapêuticos. A dificultar a determinação<br />

do melhor tratamento estão as elevadas taxas de<br />

recuperação espontânea relatada por alguns estudos,<br />

que variam de 32% 16 a 65% 17 . Entre os tratamentos<br />

mais populares estão combinações terapêuticas que<br />

incluem corticóides sistémicos ou intratimpânicos,<br />

fármacos vasoactivos (vasodilatadores ou expansores<br />

plasmáticos), diuréticos, anticoagulantes, inalação de<br />

carbogénio e vitaminas. No entanto, permanece por<br />

determinar a melhor abordagem terapêutica baseada<br />

na evidência.<br />

Com este trabalho efectua-se uma revisão dos doentes<br />

tratados no Serviço de ORL do Hospital de São Sebastião<br />

no período de Janeiro de 2008 a Dezembro de 2010<br />

com o diagnóstico de SNSSI. O objectivo deste estudo é<br />

avaliar os resultados do protocolo terapêutico instituído<br />

no Serviço na recuperação auditiva.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Os autores realizaram um estudo retrospectivo,<br />

através de consulta de processo clínico, dos doentes<br />

com diagnóstico de SNSSI, entre Janeiro de 2008 e<br />

Dezembro de 2010. Foram incluídos apenas os doentes<br />

que realizaram o protocolo terapêutico instituído no<br />

Serviço, representando um total de 11 doentes. O<br />

protocolo terapêutico é proposto a todos os doentes<br />

com quadro de evolução inferior a 15 dias, implica o<br />

internamento do doente durante cinco dias realizando<br />

a seguinte terapêutica: dieta hipossalina, prednisolona<br />

1mg/Kg/dia ev, pentoxifilina 400mg 8/8h ev, diazepam<br />

5mg 12/12h po, omeprazol 20mg/dia po. Visto que<br />

diversos autores mostraram uma associação temporal<br />

entre a SNSSI e infecções virais activas ou recentes 11,12 ,<br />

valaciclovir 500mg 8/8h ev foi adicionado em doentes<br />

com contexto infeccioso da vias aéreas superiores<br />

actual ou recente. Após a alta, os doentes completam<br />

tratamento no ambulatório com: prednisolona 1mg/<br />

Kg/dia durante 5 dias com desmame progressivo<br />

durante outros 5 dias, pentoxifilina 400mg 8/8h (5


dias), omeprazol 20mg/dia (10 dias) e valaciclovir<br />

500mg 12/12h (5 dias). A todos os doentes em que não<br />

se constata uma melhoria auditiva completa (tabela 3)<br />

é oferecida a realização de oxigenoterapia hiperbárica<br />

(20 sessões de oxigénio a 100% em câmara hiperbárica<br />

a 2,5 atmosferas durante 90 minutos) na Unidade de<br />

Medicina Hiperbárica do Hospital Pedro Hispano, após<br />

a alta hospitalar.<br />

Os doentes realizam audiograma no momento do<br />

diagnóstico, ao 5º dia (dia da alta hospitalar), 1 mês<br />

e 3 meses após diagnóstico. Se não houver melhoria<br />

audiométrica após o tratamento instituído, é realizada<br />

ressonância magnética cerebral com gadolínio <strong>para</strong><br />

exclusão de patologia retrococlear.<br />

Foram excluídos deste estudo os doentes que não<br />

foram internados e realizaram tratamento ambulatório.<br />

Incluem-se neste grupo os doentes que apresentavam à<br />

data do diagnóstico um quadro de evolução superior a 15<br />

dias e aqueles que por opção recusaram internamento.<br />

As informações colhidas incluíram informação demográfica<br />

dos doentes, tempo de evolução dos sintomas até ao<br />

diagnóstico, sintomas acompanhantes, tratamento<br />

realizado, avaliações audiométricas realizadas e<br />

resultados de exames imagiológicos realizados.<br />

Para avaliação da variação audiométrica foi utilizado<br />

o PTA (pure tone average) ou limiar tonal puro,<br />

determinado pela média dos limiares tonais das<br />

frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. A evolução<br />

TABELA 1<br />

Características epidemiológicas e clínicas dos doentes estudados<br />

Sexo Idade Ouvido Sintomas<br />

acompanhantes<br />

51<br />

+-<br />

7 anos<br />

ou resposta audiométrica foi calculada subtraindo PTA<br />

inicial (momento do diagnóstico) e final (3 meses).<br />

RESULTADOS<br />

As características epidemiológicas e clínicas dos doentes<br />

são apresentadas na tabela 1. Do total de 11 doentes,<br />

6 eram do sexo masculino e 5 do sexo feminino, com<br />

média de idades de 51 anos (39-63 anos). Os ouvidos<br />

direito e esquerdo foram afectados em 6 e 5 dos casos,<br />

respectivamente. O intervalo de tempo médio que<br />

decorreu desde o início dos sintomas e o momento de<br />

diagnóstico foi de 3,1 dias (1-8 dias, desvio padrão de<br />

2,02 dias).<br />

Todos os doentes apresentavam como sintoma<br />

acompanhante acufenos homolaterais e 5 doentes<br />

(45,4%) tinham também queixas de vertigens rotatórias.<br />

No momento do diagnóstico, 2 doentes (18,2%)<br />

apresentavam surdez neuro-sensorial (SNS) moderada<br />

de 1º grau (41-55 dB), 1 doente (9%) apresentava SNS<br />

moderada de 2º grau (56-70 dB), 4 doentes (36,4%)<br />

apresentavam SNS severa (71-90 dB) e 4 doentes<br />

(36,4%) apresentavam SNS profunda (91-119 dB). A PTA<br />

média inicial foi 82 dB (desvio padrão de 20 dB).<br />

Sete doentes realizaram oxigenoterapia hiperbárica.<br />

Com<strong>para</strong>ndo os limiares auditivos antes e depois de<br />

realizarem o tratamento com oxigénio hiperbárico,<br />

verificou-se uma melhoria audiométrica significativa<br />

(>15 dB) em 4 doentes (57,1%) (tabela 2). A melhoria<br />

auditiva média foi de 37 dB (desvio padrão de 16,6 dB).<br />

PTA<br />

inicial<br />

E D Acufenos Vertigens 82 dB<br />

+-<br />

20dB<br />

Moderada<br />

1º grau<br />

Grau de surdez inicial<br />

Moderada<br />

2ºgrau<br />

Severa Cofose<br />

5 6 5 6 100% 45,4% 2 1 4 4<br />

TABELA 2<br />

Evolução audiométrica<br />

Doente PTA inicial (dB) PTA - 5º dia (dB) O2 Hiperbárico PTA final (dB)<br />

1 60 60 Não 42,5<br />

2 75 70 Não 21,25<br />

3 87,5 55 Não 38,75<br />

4 42,5 35 Não 35<br />

5 101,25 100 Sim 70,75<br />

6 66,25 66,25 Sim 66,25<br />

7 100 68,75 Sim 15<br />

8 110 110 Sim 107,5<br />

9 91,25 91,25 Sim 73,75<br />

10 80 45 Sim 40<br />

11 88,75 78,75 Sim 31,25<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 263<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


TABELA 3<br />

Critérios de recuperação auditiva de Siegel 14<br />

Tipo Recuperação Audiométrica<br />

I. Recuperação completa Doentes com PTA final inferior a 25 dB independentemente da<br />

melhoria audiométrica<br />

II. Recuperação parcial Doentes com melhoria audiométrica superior a 15 dB e PTA<br />

final entre 25 e 45 dB<br />

III. Recuperação ligeira Doentes com melhoria audiométrica superior a 15 dB e PTA<br />

final superior a 45 dB<br />

IV. Sem melhoria Doentes com melhoria audiométrica inferior a 15 dB<br />

Para avaliar e classificar a melhoria audiométrica foram<br />

utilizados os critérios de Siegel (Tabela 3) 14 : tipo I em 2<br />

doentes (18,2%), tipo II em 4 doentes (36,4%), tipo III em<br />

2 doentes (18,2%) e tipo IV em 3 doentes (27,2%).<br />

A melhoria tonal média nos 5 casos que apresentavam<br />

vertigem foi de 23,1 dB (desvio padrão de 22 dB) e nos<br />

6 doentes sem vertigem acompanhante foi de 40,6 dB<br />

(desvio padrão de 29,5 dB).<br />

Com excepção dos dois doentes com recuperação<br />

completa da audição, todos os doentes realizaram<br />

ressonância magnética cerebral com contraste<br />

(gadolínio), não se identificando, em nenhum caso,<br />

alterações que justificassem a surdez.<br />

DISCUSSÃO<br />

Dada a variabilidade da história natural e a natureza<br />

idiopática desta entidade, mantém-se a dificuldade na<br />

determinação do melhor tratamento.<br />

No entanto, é importante oferecer aos doentes o<br />

tratamento mais benéfico e que menos efeitos adversos<br />

provoque.<br />

A elaboração de um protocolo terapêutico <strong>para</strong> o<br />

Serviço foi realizada por constatação da necessidade de<br />

uma uniformização de tratamento <strong>para</strong> estes doentes.<br />

A realização de terapêutica endovenosa durante 5<br />

dias apenas naqueles cuja evolução da hipoacúsia<br />

fosse inferior a 2 semanas, prende-se com o facto<br />

de recuperação audiométrica ser maior quando o<br />

tratamento é iniciado durante os primeiros 15 dias, e<br />

com a maior biodisponibilidade dos fármacos quando<br />

administrados por via parentérica 2,18 .<br />

Uma revisão recente da Cochrane Library de trabalhos<br />

publicados sobre o uso de corticóides sistémicos<br />

no tratamento da SNSSI concluiu que a eficácia da<br />

corticoterapia continua por provar 19 . No entanto, como<br />

a sua utilização por um curto período de tempo se<br />

associa a uma taxa reduzida de efeitos adversos, os<br />

corticóides são a terapêutica actualmente mais aceite<br />

e utilizada.<br />

Segundo alguns estudos internacionais 20,21 e nacionais 22 ,<br />

a oxigenoterapia hiperbárica pode ter um papel<br />

264 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

importante no tratamento inicial (principalmente se<br />

utilizada nos primeiros 15 dias) e até como tratamento<br />

“salvage”, ou seja, como tratamento após falência do<br />

tratamento primário. A análise dos nossos resultados<br />

colocou em evidência que a maioria dos doentes<br />

que realizaram este tratamento teve uma melhoria<br />

audiométrica significativa.<br />

Segundo a literatura, a presença de queixas de vertigem<br />

associadas confere um pior prognóstico <strong>para</strong> recuperação<br />

audiométrica 1,2,6 . Na nossa revisão, constatamos que<br />

a presença concomitante de vertigem representou, de<br />

facto, uma pior recuperação audiométrica.<br />

Apesar das melhorias audiométricas evidenciadas na<br />

maioria dos casos do nosso estudo, os resultados estão<br />

longe de ser os ideais, ou seja, a restituição ao nível<br />

audiométrico prévio.<br />

No que diz respeito a tratamentos alternativos dos usados<br />

no nosso protocolo, destacam-se os corticóides intratimpânicos.<br />

A vantagem da sua utilização é a obtenção de<br />

concentrações mais elevadas do fármaco no órgão alvo<br />

com exposição sistémica mínima. No entanto, quando<br />

usados como tratamento primário, apresentam taxas de<br />

sucesso semelhantes à corticoterapia sistémica 23,24 . Mas<br />

alguns estudos retrospectivos com amostras pequenas<br />

sugerem que poderão ser vantajosos quando usados<br />

como tratamento “salvage” 25,26,27 .<br />

CONCLUSÃO<br />

Apesar das melhorias auditivas observadas nesta<br />

revisão, fica a impressão de serem ainda insuficientes.<br />

A pequena dimensão da amostra, a ausência de grupo<br />

de controlo e as possíveis recuperações auditivas<br />

espontâneas, não nos permite tirar conclusões<br />

definitivas em relação à eficácia do nosso protocolo ou<br />

de qual o tratamento mais apropriado.


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26.Choung YH, Park K, Shin YR, Cho MJ. Intratympanic dexamethasone<br />

injection for refractory sudden sensorineural hearing loss.<br />

Laryngoscope 2006; 116:747-752<br />

27.Haynes DS, O’Malley M, Cohen S, Watford K et al. Intratympanic<br />

dexamethasone for sudden sensorineural hearing loss after failure of<br />

systemic therapy. Laryngoscope 2007; 117:3-15<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 265<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


266<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Laringectomia parcial supracricoideia reconstrutiva<br />

com C.H.E.P. – Experiência do serviço nos últimos<br />

10 anos<br />

Supracricoid partial reconstructive laryngectomy<br />

with C.H.E.P. – Department experience for the last<br />

10 years<br />

Joana Filipe Helena Ribeiro André Amaral Rui Fino Hugo Estibeiro Pedro Montalvão Miguel Magalhães<br />

RESUMO<br />

Em casos seleccionados de neoplasias da região glótica ou<br />

supra-glótica é possível proceder a cirurgia conservadora da<br />

laringe com realização de laringectomia parcial supracricoideia<br />

(LPSC).<br />

Dependendo da extensão da ressecção cirúrgica poder-se-á<br />

realizar a reconstrução por meio de Cricohiodopexia (CHP) ou<br />

de Cricohioidoepiglotopexia (CHEP).<br />

A possibilidade de poder preservar a voz, sem necessidade de<br />

traqueostomia constitui uma das vantagens, em reconstruções<br />

bem sucedidas, contudo a dificuldade de deglutição e a<br />

aspiração são complicações possíveis e frequentes.<br />

Objectivo: avaliar os resultados do tratamento das neoplasias<br />

da laringe nos doentes submetidos a laringectomia parcial<br />

supracricoideia com reconstrução com CHEP (LPSC-CHEP).<br />

Material e Métodos: os autores realizam um estudo<br />

retrospectivo dos doentes submetidos a LPSC-CHEP nos<br />

últimos 10 anos (2000-2009) no IPO de Lisboa, avaliando<br />

os parâmetros pré e pós-operatórios de maior relevância,<br />

Joana Filipe<br />

Interna do Internato Complementar do Serviço de ORL II do Centro Hospitalar Lisboa Norte<br />

(CHLN) - Hospital Pulido Valente (HPV)<br />

Helena Ribeiro<br />

Interna do Internato Complementar do Serviço de ORL II do CHLN - HPV<br />

André Amaral<br />

Interno do Internato Complementar do Serviço de ORL do CHLC – Hospital S. José<br />

Rui Fino<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço de ORL do Instituto Português de Oncologia (IPO) de<br />

Lisboa Francisco Gentil<br />

Hugo Estibeiro<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço de ORL do IPO de Lisboa<br />

Pedro Montalvão<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço de ORL do IPO de Lisboa<br />

Miguel Magalhães<br />

Director do Serviço de ORL do IPO de Lisboa<br />

Correspondência:<br />

Joana Rita de Caldas Ferreira Filipe Valentim<br />

Serviço de Otorrinolaringologia II do Centro Hospitalar Lisboa Norte (Hospital Pulido Valente)<br />

Alameda das Linhas de Torres, 117; 1769-001 Lisboa<br />

Telf: 217548268; E-mail: jrcffv@gmail.com<br />

Trabalho apresentado no 57º Congresso Nacional de Otorrinolaringologia e Cirurgia<br />

Cérvico-Facial<br />

nomeadamente, sexo, idade, estadiamento tumoral, média<br />

de dias de internamento, média de dias <strong>para</strong> descanulação,<br />

média de dias <strong>para</strong> remoção da sonda nasogástrica (SNG),<br />

complicações imediatas e a longo prazo.<br />

Resultados: Neste período foram realizadas 33 LPSC-CHEP,<br />

tendo sido incluídas 31 LPSC-CHEP neste estudo. Todos os<br />

doentes eram do sexo masculino com idade média de 57,7<br />

anos, 45,1% apresentando-se no estadio T1b. A média de<br />

internamento foi de 12,6 dias, tendo mais de 70% dos doentes<br />

sido descanulados até ao 19º dia (média de 29,7 dias). A SNG<br />

foi removida após uma média total de 48,9 dias. A longo prazo,<br />

a aspiração e a redundância da mucosa aritenoideia foram as<br />

complicações mais frequentes. A taxa global de sobrevida foi<br />

de 100% aos 12 meses de seguimento pós-operatório.<br />

Conclusão: Para casos seleccionados de cancro da laringe, a<br />

LPSC-CHEP é uma excelente opção de tratamento, permitindo<br />

a preservação da função.<br />

Palavras-chave: laringectomia parcial supra-cricoideia (LPSC),<br />

cricohioidoepiglotopexia (CHEP), preservação vocal, parâmetros<br />

pré e pós-operatórios.<br />

ABSTRACT<br />

For selected glottic and supraglottic cancers it is possible to<br />

perform conservation laryngeal surgery with supracricoid<br />

partial laryngectomy (SCLP).<br />

Depending on the extension of surgical resection achieved<br />

reconstruction can be done by cricohyoidopexy (CHP) or<br />

Cricohyoidoepiglottopexy (CHEP).<br />

The possibility of speech preservation without a permanent<br />

stoma is an advantage in successful reconstructions, however<br />

the problems with swallowing and aspiration are expected<br />

and frequent complications.<br />

Objective: To evaluate the results of laryngeal cancers on<br />

patients treated with SCLP-CHEP.<br />

Methods: Retrospective study of patients treated with SCLP-<br />

CHEP in the last 10 years (2000-2009) at IPO-Lx, with a revision<br />

of pre and postoperative <strong>para</strong>meters.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 267<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


Results: During this period 33 SCLP-CHEP were reported,<br />

although only 31 were included in this study. All patients<br />

were male, with a median age of 57,7 years, 45,1% presented<br />

a T1b state, average hospital stay of 12,6 days, and in more<br />

than 70% of the patients decannulation occurred up to the<br />

19º day (median time being 29,7 days). The nasogastric tube<br />

was removed after a median of 48,9 days. The most common<br />

long-term complications were aspiration and edema of the<br />

arytenoid mucosa. The global survival rate was 100% at 12<br />

months of post operative follow up.<br />

Conclusion: For selected laryngeal cancers, SCLP-CHEP<br />

demonstrates to be an excellent option for treatment, allowing<br />

function preservation.<br />

Keywords: supracricoid partial laryngectomy (SCLP),<br />

cricohyoidoepiglottopexy (CHEP), speech preservation, pre<br />

and postoperative <strong>para</strong>meters<br />

INTRODUÇÃO<br />

No tratamento de tumores da laringe, a laringectomia<br />

total surge como tratamento primário <strong>para</strong> tumores<br />

localmente avançados, contudo, constituindo por<br />

vezes uma opção terapêutica demasiado radical<br />

<strong>para</strong> determinados tumores laríngeos que poderiam<br />

beneficiar de uma cirurgia menos agressiva 1 .<br />

Em alternativa à laringectomia total foi desenvolvido nos<br />

anos 50 1,2 a laringectomia parcial supracricoideia (LPSC),<br />

que surge como uma cirurgia conservadora destinada<br />

ao tratamento de tumores glóticos e supra-glóticos<br />

seleccionados, com a vantagem de preservação da voz<br />

e da deglutição, sem necessidade de um traqueostoma<br />

permanente.<br />

Este tipo de laringectomia parcial horizontal, obriga<br />

à reconstrução por meio de duas técnicas distintas:<br />

Cricohioidoepiglotopexia (CHEP) ou Cricohiodopexia<br />

(CHP), dependendo da extensão da ressecção cirúrgica<br />

tumoral.<br />

A excisão das cordas vocais (CV) verdadeiras e bandas<br />

ventriculares, ambos os espaços <strong>para</strong>glóticos, a<br />

cartilagem tiroideia, a porção inferior da epiglote, com<br />

preservação de ambas ou apenas uma das cartilagens<br />

aritenóides, (figura 1 e 2) permite a reconstrução por<br />

intermédio de CHEP, na qual se sutura a cricoide ao osso<br />

hióide e à epiglote (figura 3).<br />

Quando é necessária uma excisão mais alargada<br />

incluindo as estruturas anteriormente referidas e,<br />

concomitantemente, a excisão da epiglote e espaço préepiglótico,<br />

ter-se-á de fazer reconstrução por intermédio<br />

de CHP (com sutura da cricóide directamente ao osso<br />

hióide). A unidade crico-aritenoideia desempenha um<br />

papel preponderante na fonação, deglutição e no risco<br />

de aspiração nestes doentes 1,2,3 , pelo que sempre que<br />

possível se deverão preservar ambas as aritenóides.<br />

268 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

FIGURA 1<br />

Laringectomia parcial supracricoideia com preservação de<br />

ambas as cartilagens aritenóides e epiglote<br />

FIGURA 2<br />

Peça operatória incluindo: cartilagem tiroideia, CV verdadeiras<br />

e bandas ventriculares, ambos os espaços <strong>para</strong>glóticos e<br />

porção inferior da epiglote<br />

FIGURA 3<br />

Reconstrução com cricohiodoepiglotpexia (CHEP)<br />

A dificuldade de deglutição e a aspiração são complicações<br />

esperadas no pós-operatório imediato destes doentes 2 ,<br />

com eventual risco de atelectasia ou inclusivamente<br />

pneumonia. Como tal, torna-se imperatória a avaliação<br />

pré-operatória da reserva pulmonar e das comorbilidades<br />

sistémicas, com exclusão de patologia cardíaca, arterite,<br />

diabetes mellitus, refluxo gastro-esofágico ou artrite


eumatóide 1 . Doentes com doença pulmonar obstrutiva<br />

crónica (DPOC) severa, diminuição do reflexo tússico ou<br />

diminuição da clearance pulmonar ciliar, como exemplo,<br />

apresentam um risco acrescido de complicações<br />

pulmonares com fortes contra-indicações <strong>para</strong> uma CHEP<br />

ou CHP.<br />

No caso concreto das LPSC, em reconstruções bem<br />

sucedidas com CHEP, o lúmen da neolaringe assume<br />

geralmente uma forma de T, com a epiglote numa<br />

posição anterior, havendo alteração da função<br />

esfincteriana da laringe 1 , com diminuição da qualidade<br />

vocal (voz pulmonar, soprada) e maior risco de aspiração,<br />

principalmente no período pós-operatório imediato. A<br />

epiglote e as aritenóides remanescentes conjuntamente<br />

com a base da língua são, contudo, em geral, suficientes<br />

<strong>para</strong> obter uma fonação e uma deglutição satisfatórias,<br />

sem necessidade de traqueostomia.<br />

São consideradas indicações formais <strong>para</strong> realização<br />

de uma LPSC com reconstrução com CHEP3: 1) tumor<br />

glótico envolvendo uma CV, estendendo-se da comissura<br />

anterior à aritenóide, com hipomobilidade ou fixação da<br />

CV; 2) tumor glótico envolvendo ambas as CV com ou sem<br />

envolvimento da comissura anterior; 3) tumor limitado da<br />

comissura anterior; 4) tumor glótico desenvolvido numa<br />

laringite crónica difusa; 5) pequeno tumor ventricular.<br />

Constituem contra-indicações absolutas 3 : 1) presença de<br />

fixação das aritenóides; 2) extensão tumoral ao petíolo<br />

da epiglote; 3) extensão subglótica significativa; 4)<br />

invasão extensa da comissura anterior e/ou espaço préepiglótico;<br />

5) mau estado geral.<br />

Apesar da idade não ser considerada uma contraindicação<br />

absoluta, doentes com idade superior a 70<br />

anos, em especial com comorbilidades, nomeadamente,<br />

refluxo gastro-esofágico e insuficiência pulmonar crónica,<br />

constituem uma contra-indicação relativa, pelo que cada<br />

caso deverá ser avaliado individualmente 3 .<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Os autores realizam um estudo retrospectivo, baseado na<br />

consulta de processos clínicos, dos doentes submetidos<br />

a laringectomia parcial supracricoideia com reconstrução<br />

com CHEP nos últimos 10 anos, no período entre 2000 e<br />

2009.<br />

São avaliados vários parâmetros pré-operatórios (sexo, idade,<br />

factores de risco, cirurgia ou RT prévias, estadiamento<br />

TNM, indicação cirúrgica) e pós-operatórios (resultado<br />

anatomopatológico, grau de diferenciação histológica,<br />

complicações no pós operatório imediato, data da<br />

descanulação e desentubação nasogástrica, complicações<br />

tardias, nomeadamente, aspiração e dispneia por edema<br />

da mucosa aritenoideia).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

No período decorrido entre 2000 e 2009, foram<br />

realizadas 33 laringectomias subtotais supracricoideias<br />

reconstruídas com Cricohioidoepiglotopexia.<br />

Para o corrente estudo foram excluídos dois doentes que<br />

apresentavam dados incompletos no processo, pelo que<br />

fica um número total de 31 doentes.<br />

Em termos epidemiológicos, todos os doentes eram do<br />

sexo masculino, sendo a idade média de 57,7 anos, com<br />

intervalo entre os 36 e os 76 anos (Gráfico 1). Cerca de<br />

64,5% dos doentes tinha menos de 60 anos de idade e<br />

apenas 6,45% apresentava uma idade superior ou igual<br />

a 70 anos.<br />

GRÁFICO 1<br />

Reconstrução com cricohiodoepiglotpexia (CHEP)<br />

Todos os doentes apresentavam o principal factor de<br />

risco <strong>para</strong> neoplasia laríngea: hábitos tabágicos (100%<br />

eram fumadores, sendo que 10 % não eram activos com<br />

cessação dos hábitos tabágicos há mais de 4 anos) e<br />

mais de 75% dos doentes apresentava hábitos etílicos,<br />

moderados a graves, concomitantes.<br />

O sintoma de apresentação universal foi a disfonia, por<br />

vezes associada a outros sintomas acompanhantes pouco<br />

específicos, nomeadamente, odinofagia, hemoptises e<br />

tosse. Alguns doentes (30%) foram encaminhados <strong>para</strong> o<br />

IPO já com biópsia realizada no hospital de origem e com<br />

o diagnóstico prévio de carcinoma.<br />

Sete doentes já haviam realizado cirurgia prévia com<br />

intuito curativo antes de serem submetidos a LPSC-CHEP<br />

(6 doentes - cirurgia a laser/1 doente – laringectomia<br />

parcial tipo Tucker).<br />

Nenhum doente havia sido submetido a RT préoperatória.<br />

Todos os doentes realizaram TC préoperatória<br />

<strong>para</strong> estadiamento.<br />

Relativamente ao estadiamento, nenhum doente<br />

proposto <strong>para</strong> LPSC-CHEP apresentava metastização<br />

ganglionar (N 0 M x ). A maioria dos doentes (45,1%)<br />

apresentava tumor em ambas as CV (T1b); 35,5%<br />

apresentava diminuição da mobilidade da corda vocal<br />

ou extensão limitada à supraglote ou subglote (T2);<br />

19,4% dos doentes propostos <strong>para</strong> a cirurgia apresentava<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 269<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


TABELA 1<br />

Classificação TNM <strong>para</strong> tumores glóticos<br />

Tumor limitado às cordas vocais (pode envolver as comissuras) com normal mobilidade<br />

T1 T1a Tumor limitado a uma corda vocal podendo envolver a aritenóide ipsilateral<br />

T1b Tumor envolvendo as duas cordas vocais<br />

T2 Tumor com extensão à supraglote e/ou subglote ou com mobilidade diminuída<br />

T3<br />

Tumor limitado à laringe com fixação cordal e/ou invasão do espaço <strong>para</strong>glótico e/ou erosão limitada da cartilagem<br />

tiroideia<br />

Tumor com extensão através da cartilagem tiroideia e/ou invadindo tecidos extra-laríngeos (ex: traqueia,<br />

T4<br />

T4a tecidos moles do pescoço incluindo músculos profundos extrínsecos da língua, músculos pré-laríngeos,<br />

glândula tiróide ou esófago)<br />

T4b Tumor invadindo o espaço pré-vertebral, encarcerando a carótida ou invadindo o mediastino<br />

tumor em apenas uma corda vocal (em 66% dos casos,<br />

preferencialmente a CV esquerda), com envolvimento<br />

simultâneo da comissura anterior (T1a) (Tabela 1, Gráfico 2).<br />

A indicação foi frequentemente pré-operatória: 96% dos<br />

doentes tinha indicação pré-operatória <strong>para</strong> CHEP. Em<br />

4% dos doentes estava proposta outra cirurgia tendo a<br />

decisão de realização de LPSC-CHEP sido intra-operatória.<br />

Houve remoção cirúrgica total ou parcial de uma<br />

aritenóide em 33% dos casos.<br />

GRÁFICO 2<br />

Estadiamento TNM dos doentes<br />

O resultado anatomopatológico confirmou carcinoma<br />

pavimento celular (CPC) em 100 % dos doentes, na<br />

maioria dos casos, bem diferenciado (Gráfico 3).<br />

GRÁFICO 3<br />

Grau de diferenciação histológica (CPC)<br />

270 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

Em três doentes (9,6%) obteve-se margem microscópica<br />

positiva pelo que realizaram radioterapia (RT) adjuvante.<br />

Destes, um veio a revelar recidiva metastática cervical<br />

inoperável aos 12 meses de pós-operatório, estando<br />

actualmente em cuidados paliativos. Um outro doente<br />

apresentava invasão peri-neural com indicação<br />

<strong>para</strong> realizar quimioterapia (QT) adjuvante que não<br />

foi concretizada pela presença de co-morbilidades<br />

importantes associadas (AVC no pós-operatório). Este<br />

doente veio a revelar, igualmente, doença metastática no<br />

osso e pulmão, 8 meses após cirurgia, sem evidência de<br />

recidiva local, estando também em cuidados paliativos.<br />

Não houve registo de angioinvasão tumoral ou invasão<br />

da cartilagem tiroideia ao exame histopatológico em<br />

nenhum doente.<br />

Dentro das complicações no período pós-operatório<br />

imediato registou-se: um doente com infecção da ferida<br />

operatória; dois doentes com necessidade de revisão<br />

da hemostase; um doente com deiscência da sutura e<br />

necrose, com necessidade de totalização da laringectomia<br />

ao 9º dia de pós-operatório.<br />

A média de internamento foi de 12,6 dias, com intervalo<br />

entre os 6 e os 25 dias. Em dois dos doentes que realizaram<br />

RT adjuvante manteve-se a sonda nasogástrica (SNG) e a<br />

traqueotomia durante os ciclos de tratamento, pelo que<br />

estes doentes não serão contabilizados na média de dias<br />

<strong>para</strong> descanulação e remoção da SNG. Deste modo, a<br />

média de dias <strong>para</strong> descanulação foi de 29,7 dias, com<br />

intervalo entre os 5 e os 274 dias (gráfico 4), sendo que<br />

mais de 70% foram descanulados até ao 19º dia.<br />

A descanulação foi precedida, em todos os casos, por<br />

substituição da cânula <strong>para</strong> uma cânula fenestrada<br />

entre o 3º e o 8º dias de pós-operatório e posterior<br />

nasofibroscopia ou laringoscopia <strong>para</strong> visualização da<br />

permeabilidade do lúmen laríngeo.<br />

A SNG foi removida após uma média total de 48,9<br />

dias, com intervalo entre os 9 e os 183 dias (gráfico 5),<br />

revelando a dificuldade de deglutição que estes doentes<br />

apresentam no pós-operatório inicial, tendo sido a<br />

média de dias ligeiramente superior nos doentes com


GRÁFICO 4<br />

Representação do número de dias com traqueotomia no pós<br />

operatório<br />

GRÁFICO 5<br />

Representação do número de dias com SNG no pós operatório<br />

GRÁFICO 6<br />

Com<strong>para</strong>ção entre a média de dias <strong>para</strong> remoção de SNG nos<br />

doentes que removeram total ou parcialmente uma aritenóide<br />

e nos doentes com preservação de ambas as aritenóides<br />

remoção parcial ou total de uma das aritenóides (gráfico<br />

6), sugerindo uma maior dificuldade de deglutição e um<br />

risco acrescido de aspiração nestes últimos.<br />

Todos os doentes foram referenciados <strong>para</strong> Terapia da<br />

Fala <strong>para</strong> treino de deglutição. As duas complicações<br />

major a longo prazo desta intervenção cirúrgica são<br />

o risco de aspiração (alimentar e salivar) e a dispneia<br />

alta por edema redundante da mucosa aritenoideia,<br />

podendo condicionar a colocação de uma gastrostomia<br />

definitiva, a totalização da laringectomia ou a realização<br />

de traqueostomia permanente, respectivamente.<br />

À data do estudo, num follow up com intervalo entre<br />

os 13 e os 84 meses, cerca de 50% dos doentes não<br />

apresentava aspiração. Dos restantes 50%, a grande<br />

maioria apresentava aspiração ocasional, sendo que<br />

apenas 7% apresentava aspiração frequente (gráfico 7).<br />

GRÁFICO 7<br />

Representação do número de doentes com aspiração<br />

Estes últimos não careceram, contudo, de traqueostomia,<br />

alimentação por SNG, gastrostomia ou totalização<br />

da laringe até à data. De referir que os doentes que<br />

apresentavam aspiração grave frequente, apresentavam<br />

conservação de ambas as aritenoides, reforçando a<br />

ideia de que numa fase inical a remoção parcial ou<br />

total de uma aritenoide aumenta o risco de aspiração<br />

e dificuldade de deglutição no pós-operatório inicial<br />

(média de dias superior com a SNG), contudo não parece<br />

condicionar aspiração numa avaliação a longo prazo. A<br />

favor desta observação temos que dos 33% dos doentes<br />

com remoção total ou parcial de uma aritenoide, 16,5%<br />

apresentava aspiração ocasional a longo prazo e os<br />

restantes 16,5% não apresentava aspiração.<br />

Apesar de haver referência num estudo de Joo et al 1 ,<br />

que os doentes com idade igual ou superior a 60 anos<br />

apresentavam um risco mais elevado de complicações<br />

pulmonares, associado ao maior risco de aspiração,<br />

no presente estudo, a idade média dos doentes que<br />

apresentavam aspiração foi igual à idade média dos<br />

doentes que não apresentavam aspiração (57,78 e<br />

57 anos, respectivamente), não havendo registo de<br />

complicações pulmonares.<br />

Apenas 23% dos doentes apresentava edema importante<br />

da mucosa aritenoideia (gráfico 8, figura 4), o que<br />

corresponde a 7 doentes. Um destes teve necessidade<br />

de traqueotomia de urgência, 8 dias após descanulação,<br />

tendo sido descanulado definitivamente 30 dias depois e<br />

outros dois doentes tiveram necessidade de vaporização<br />

a laser de CO 2 , da mucosa aritenoideia redundante<br />

por dispneia (aos 14 e 33 meses de pós operatório),<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 271<br />

ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE


FIGURA 4<br />

Exemplo de mucosa aritenoideia redundante: a) durante a expiração; b,c) início da inspiração; d,e) obliteração total do lúmen<br />

traqueal durante a inspiração (mucosa redundante penetra totalmente na traqueia)<br />

GRÁFICO 8<br />

Representação do número de doentes com mucosa<br />

aritenoideia redundante<br />

mantendo à data do estudo a traqueotomia (6,6%).<br />

Todos os doentes apresentam preservação de voz audível<br />

satisfatória, em geral, caracteristicamente soprada e de<br />

baixo débito. À data de conclusão do estudo, com um<br />

follow up médio de 41,9 meses, com intervalo entre<br />

os 13 e os 84 meses, 90% dos doentes permanecia<br />

sem recidiva. Registou-se recidiva metastática em dois<br />

doentes, anteriormente referidos (aos 8 e 12 meses<br />

após cirurgia), encaminhados <strong>para</strong> cuidados paliativos e<br />

registou-se um óbito, aos 26 meses de seguimento após<br />

a cirurgia por aparecimento de um 2º tumor primário<br />

pouco diferenciado no brônquio. De referir que este<br />

doente mantinha hábitos tabágicos após a cirurgia.<br />

Aos 12 meses de seguimento pós-operatório, a taxa de<br />

sobrevida global foi, deste modo, de 100 % e a taxa de<br />

sobrevida livre de doença de 93,3%.<br />

CONCLUSÃO<br />

Para tumores glóticos seleccionados a laringectomia<br />

parcial supracricoideia com reconstrução com CHEP é<br />

considerada uma alternativa eficaz à laringectomia total,<br />

permitindo a preservação da voz e da deglutição sem<br />

necessidade de traqueostoma, com taxas de controlo<br />

local comparáveis.<br />

272 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

Referências Bibliográficas:<br />

(1) Lay S, Weinstein G. Conservation Laryngeal Surgey, Supracricoid<br />

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(3) Olias J, Mendonça F, Magalhães M, Montalvão P, et al.. Cirurgia<br />

parcial horizontal da laringe: laringectomia subtotal reconstrutiva.<br />

Cirurgia da Laringe, Atlas de Técnicas Cirúrgicas, Guia de Dissecção.<br />

Círculo Médico - 1ª Edição, 2004: 105-115


Obstrução nasal no recém-nascido: Dois casos de<br />

estenose congénita do orifício piriforme<br />

Nasal obstruction in neonates: Two cases report<br />

of congenital nasal pyriform aperture stenosis<br />

Alexandra Jerónimo Ana Casas Novas Inês Moreira Carla Conceição Inês Cunha Luísa Monteiro<br />

RESUMO<br />

A Estenose Congénita do Orifício Piriforme (ECOP) é uma causa<br />

rara de obstrução nasal no recém-nascido, um respirador<br />

nasal obrigatório, e por isso potencialmente fatal. Obriga a<br />

diagnóstico diferencial com causas mais comuns como a atrésia<br />

choanal. Na clínica predominam a apneia episódica e a cianose<br />

cíclica, sendo o diagnóstico confirmado imagiologicamente.<br />

Pode surgir isoladamente ou associada a alterações crâniofaciais,<br />

hipopituitarismo e cromossomopatias. A correcção<br />

cirúrgica impõe-se face ao insucesso do tratamento médico.<br />

Este artigo tem por objectivo relatar dois casos clínicos de ECOP.<br />

O primeiro caso foi diagnosticado à nascença, não apresentava<br />

patologia concomitante e estabilizou clinicamente apenas<br />

com terapêutica médica. O segundo caso relata lactente de<br />

3 meses, cujo estudo imagiológico identificou dente incisivo<br />

superior mediano único, como malformação associada. Pela<br />

gravidade da obstrução nasal a abordagem exigiu, <strong>para</strong> além<br />

da terapêutica nasal tópica, a correcção cirúrgica da estenose.<br />

Ambas as crianças encontram-se clinicamente bem.<br />

Palavras-chave: estenose congénita do orifício piriforme,<br />

recém-nascido, dente incisivo superior único.<br />

Alexandra Jerónimo<br />

Interna do Internato Complementar do Serviço de ORL do Centro Hospitalar Lisboa Central<br />

(CHLC): Hospital de São José<br />

Ana Casas Novas<br />

Interna do Internato Complementar do Serviço de ORL do CHLC: Hospital de Dona Estefânia (HDE)<br />

Inês Moreira<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de ORL do CHLC: HDE<br />

Carla Conceição<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de Neurorradiologia do CHLC: HDE<br />

Inês Cunha<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de ORL do CHLC: HDE<br />

Luísa Monteiro<br />

Assistente Hospitalar Graduada e Directora do Serviço de ORL do CHLC: HDE<br />

Correspondência:<br />

Serviço de ORL do Hospital de Dona Estefânia<br />

Rua Jacinta Marto, 1169 Lisboa<br />

Tel: 927089186<br />

Email: asjeronimo@gmail.com<br />

Trabalho apresentado no 57º Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de<br />

Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – Hotel Cascais Miragem, Cascais, 6 a 9 de Maio<br />

de 2010.<br />

ABSTRACT<br />

Congenital nasal pyriform aperture stenosis (CNPAS) is<br />

a rare form of nasal obstruction in neonates who are<br />

obligate nasal breathers, that may become a potential lifethreatening<br />

condition. Differential diagnosis must include<br />

the more common occurrence of choanal atresia. CNPAS is<br />

often characterized by episodic apnea and cyclical cyanosis,<br />

and the diagnosis is confirmed upon imaging findings.<br />

CNPAS may appear isolated or associated with cranio-facial<br />

anomalies, hypopituitarism and abnormal karyotype. Surgery<br />

should be considered if patients do not improve with medical<br />

treatment. The main purpose of this article is to report two<br />

cases of CNPAS. In the first case, the stenosis was diagnosed<br />

after birth, there were no other anomalies identified and the<br />

child overcame the situation with topical treatment only. In<br />

the second case the child presented another midline anomaly,<br />

consisting in one single central maxillary incisor. Due to the<br />

degree of obstruction and clinical symptoms it was performed<br />

a sublabial surgical approach of the stenosis. Both children<br />

have no complaints so far.<br />

Keywords: congenital nasal pyriform aperture stenosis,<br />

neonates, single central maxillary incisor<br />

INTRODUÇÃO<br />

A obstrução nasal no recém-nascido constitui uma<br />

condição potencialmente fatal pelo facto de este ser<br />

um respirador nasal obrigatório. O diagnóstico e a<br />

intervenção precoces são essenciais no sentido de<br />

restaurar a via aérea, evitando a falência respiratória com<br />

asfixia.<br />

O orifício piriforme corresponde à porção mais anterior<br />

e estreita do esqueleto ósseo da cavidade nasal, sendo<br />

que uma diminuição da sua área seccional, mesmo<br />

que pequena, se traduz num aumento significativo<br />

da resistência à passagem do ar, com aumento do<br />

esforço ventilatório que pode levar o recém-nascido à<br />

exaustão 1 . A Estenose Congénita do Orifício Piriforme<br />

(ECOP) é uma causa rara de obstrução nasal no recémnascido,<br />

cujo principal diagnóstico diferencial se faz com<br />

a atrésia choanal bilateral. Deve-se a um crescimento<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 273<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


ósseo excessivo do ramo montante do maxilar superior,<br />

bilateralmente, <strong>para</strong> o interior das fossas nasais,<br />

provocando o seu estreitamento, sem oclusão. Descrita<br />

radiologicamente pela primeira vez em 1988 por Ey et al<br />

e reconhecida como entidade clínica independente um<br />

ano depois por Brown et al 2 , a sua etiologia exacta ainda<br />

está por definir. É uma patologia de afecção bilateral<br />

que se manifesta à nascença ou nos primeiros meses<br />

de vida, como entidade isolada ou associada a outras<br />

malformações crânio-faciais da linha média, endocrino<br />

e cromossomopatias. Na clínica predominam a apneia<br />

episódica e a cianose cíclica, proporcionais ao grau da<br />

estenose, geralmente agravadas por quadro infeccioso<br />

ou durante a amamentação e aliviadas pelo choro. A<br />

clínica e o exame objectivo sugerem o diagnóstico mas a<br />

Tomografia Computorizada dos Seios Perinasais (TC dos<br />

SPN) confirma-o, sendo que, de acordo com Belden et<br />

al 3 , a identificação de um diâmetro transverso máximo<br />

do orifício piriforme inferior a 11mm, numa criança de<br />

termo, é diagnóstico. O tratamento cirúrgico impõese<br />

quando há persistência de insuficiência ventilatória<br />

e incapacidade de alimentação apesar do tratamento<br />

médico.<br />

Neste artigo apresentam-se dois casos clínicos de ECOP,<br />

um como entidade isolada e o outro com presença<br />

de malformações faciais da linha média associadas,<br />

realçando-se o dente incisivo superior mediano único.<br />

Ambos os casos pretendem alertar <strong>para</strong> a suspeição de<br />

ECOP, apesar da sua raridade, na avaliação de um recémnascido<br />

com compromisso da permeabilidade nasal.<br />

274 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

Primeiro Caso Clínico<br />

Recém-nascido (RN) de 9 dias, sexo masculino, raça<br />

caucasiana, transferido <strong>para</strong> a Unidade de Cuidados<br />

Intensivos Neonatais (UCIN) do Hospital de Dona<br />

Estefânia (HDE) em ventilação mecânica assistida por<br />

“malformação da pirâmide nasal”. Como antecedentes<br />

pessoais a referir gravidez de risco, pela idade materna,<br />

sem intercorrências, parto eutócico às 39 semanas<br />

no Hospital de São Marcos em Braga com peso: 3810g<br />

(P 75 ), comprimento: 52cm (P 75 ) e Índice de Apgar 4<br />

ao primeiro minuto de vida. Registou-se ausência de<br />

choro, cianose generalizada, movimentos respiratórios<br />

irregulares e tiragem global, pelo que foi entubado orotraquealmente<br />

ao 2º minuto de vida. Por melhoria dos<br />

sinais vitais e regularização ventilatória, foi feita tentativa<br />

de extubação que se verificou infrutífera e procedeu-se a<br />

nova entubação. Sem história familiar de malformações<br />

ou doenças geneticamente transmissíveis. Foi realizada<br />

uma TC dos SPN (películas não disponibilizadas) que<br />

revelou um estreitamento dos orifícios piriformes com<br />

choanas permeáveis bilateralmente. O RN foi então<br />

transferido <strong>para</strong> a Unidade de Neonatologia do Hospital<br />

de São João no Porto, ainda no primeiro dia de vida,<br />

<strong>para</strong> melhor assistência e orientação terapêutica. Ao<br />

segundo dia de vida foi observado pela Especialidade de<br />

Otorrinolaringologia (ORL) que procedeu à canalização<br />

das fossas nasais com sonda nasogastrica (SNG) número<br />

8, que ultrapassou as choanas bilateralmente. Contudo,<br />

não foi possível progredir com o fibroscópio pediátrico<br />

por acentuada estenose dos orifícios piriformes, tendo<br />

FIGURAS 1 e 2<br />

TC dos SPN : cortes axiais a dois níveis, observando-se obstrução bilateral dos orifícios piriformes, por hipertrofia das apófises nasais<br />

dos ossos maxilares, e permeabilidade choanal


epetido a TC dos SPN, com resultado sobreponível ao<br />

anterior.<br />

O RN esteve ventilado até ao segundo dia de vida com<br />

FiO 2 de 21%, iniciou ventilação espontânea ao terceiro<br />

dia, sem registo de episódios de cianose, dessaturação<br />

ou Síndrome de Dificuldade Respiratória. Dois dias<br />

depois iniciou alimentação oral por sonda orogástrica e<br />

foi transferido ao nono dia de vida <strong>para</strong> a UCIN do HDE, o<br />

Hospital da área de residência. Deu entrada conectado ao<br />

ventilador com suporte mínimo e observado novamente<br />

por ORL. Da observação realizada, com possibilidade de<br />

progressão do fibroscópio pediátrico (Ø3.8mm) apenas à<br />

direita, confirmaram-se fossas nasais de calibre reduzido,<br />

predominantemente à esquerda, por estreitamento<br />

da abertura piriforme e hipertrofia do corneto inferior,<br />

por provável rinite aguda do lactente concomitante. O<br />

RN foi submetido a terapêutica médica durante 5 dias,<br />

tendo esta consistido na aplicação tópica intra-nasal de<br />

vasoconstritor e corticoterapia endovenosa. Foi extubado<br />

ao 13º dia, permanecendo clinicamente estável, sem<br />

esforço respiratório, apenas com uma ligeira obstrução<br />

nasal em repouso. Iniciou alimentação por tetina ao<br />

14º dia com boa tolerância e teve alta hospitalar um<br />

dia depois, medicado com anti-histamínico. Durante o<br />

internamento foram realizados exames complementares<br />

de diagnóstico, <strong>para</strong> exclusão de patologia associada,<br />

nomeadamente ecografias transfontanelar, abdominal<br />

e renal, ecocardiograma, avaliação oftalmológica e<br />

rastreio auditivo com otoemissões acústicas e potenciais<br />

evocados auditivos, tendo todos eles sido normais. Foi<br />

reavaliado aos 3 meses de idade em consulta de ORL e<br />

Imunoalergologia. Apresentava-se clinicamente bem,<br />

sem registo de episódios de dificuldade respiratória. Não<br />

foi possível progredir o fibroscópio por espessamento<br />

septal, hipertrofia moderada dos cornetos inferiores e<br />

por manutenção do estreitamento do segmento anterior<br />

das fossas nasais. Os testes cutâneos foram negativos.<br />

A criança tem sido reavaliada semestralmente, a última<br />

observação realizada aos 18 meses de idade, sem registo<br />

de novas intercorrências, com indicação <strong>para</strong> realização<br />

de terapêutica em SOS.<br />

Segundo Caso Clínico<br />

Lactente de 3 meses de idade, sexo feminino, raça<br />

caucasiana, que recorreu por duas vezes ao Hospital<br />

de Torres Vedras por obstrução nasal crónica, de<br />

agravamento progressivo, com interferência na<br />

alimentação. À entrada do Serviço de Urgência, a criança<br />

encontrava-se apirética, hemodinamicamente estável,<br />

com saturação O 2 98%, pele e mucosas coradas, sem<br />

cianose, tendo-se no entanto verificada obstrução<br />

nasal marcada associada a rinorreia anterior serosa<br />

e ligeira tiragem global. Foi submetida a terapêutica<br />

variada nomeadamente à inalação de atmosfera húmida<br />

e aerossol com broncodilatador; administração de<br />

corticóide oral e aplicação nasal de vasoconstritor. A<br />

melhoria clínica foi discreta. Face à tentativa de aspiração<br />

de secreções nasais, constatou-se impossibilidade de<br />

progressão da sonda por ambas as fossas nasais. Foram<br />

admitidos como diagnósticos prováveis a atrésia choanal<br />

incompleta e rinofaringite com obstrução nasal grave,<br />

precedendo-se ao contacto com o Serviço de ORL do<br />

HDE <strong>para</strong> realização de endoscopia diagnóstica no<br />

dia seguinte. Antecedentes de gravidez vigiada, parto<br />

FIGURAS 3 e 4<br />

TC dos SPN: cortes axiais a dois níveis, observando-se dente incisivo superior mediano único e estenose do orifício piriforme.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 275<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


eutócico às 39 semanas, com um peso de 2880g (P ), 10<br />

comprimento de 48cm (P ) e Índice de Apgar de 7/8/10.<br />

25<br />

Referência a internamentos no período neonatal, um<br />

por taquicardia supraventricular idiopática e dois por<br />

bronquiolite aguda. Seguida nas consultas de Cardiologia<br />

e Pneumologia. Nos antecedentes familiares, a salientar<br />

apenas um primo em 1º grau com fenda do lábio e do<br />

palato. Desde o nascimento a criança apresentava<br />

história de obstrução nasal persistente de gravidade<br />

variável, alterações do ciclo sono-vigília, má conciliação<br />

da respiração com a deglutição e má progressão<br />

ponderal. Objectivamente, na consulta de ORL, aos 3<br />

meses de idade, constatou-se um estreitamento marcado<br />

das fossas nasais, curtos períodos de cianose peri-labial<br />

durante agitação motora com reversão espontânea e<br />

impossibilidade na progressão do fibroscópio pediátrico<br />

(Ø3.8mm). A permeabilidade choanal foi testada e<br />

confirmada através da instilação de soro fisiológico. Foi<br />

pedida TC dos SPN e Ressonância Magnética Crânio-<br />

Encefálica (RM CE), e medicada <strong>para</strong> ambulatório com<br />

anti-histamínico. A TC dos SPN identificou malformação<br />

da linha média, com presença de dente incisivo superior<br />

mediano único, palato duro estreito e com crista palatina<br />

de projecção bucal associada a estenose da vertente<br />

anterior das fossas nasais, ao nível do ramo montante do<br />

maxilar superior, condicionando obliteração quase total<br />

FIGURAS 5, 6, 7 e 8<br />

276 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

das mesmas, com arcadas choanais permeáveis.<br />

A RM CE demonstrou encéfalo morfologicamente normal,<br />

sem referência a alterações malformativas, sugestivas<br />

de holoprosencefalia, encefalocelo ou do complexo de<br />

Dandy-Walker. A criança foi reavaliada aos 4, 5 e 9 meses<br />

de idade, sempre com indicação <strong>para</strong> manter lavagens<br />

nasais e submetida a medicação diversa (Neostil®/<br />

Biopental®/Dexaval colírio®). Ao longo do tempo<br />

verificou-se apenas discreta melhoria da obstrução nasal<br />

e da rinorreia anterior, mantendo dificuldade respiratória,<br />

sono agitado com períodos de apneia, dificuldade na<br />

amamentação e má progressão estaturo-ponderal. Face<br />

a este quadro clínico, foi decidida intervenção cirúrgica<br />

<strong>para</strong> correcção da estenose do orifício piriforme por via<br />

sublabial, aos 14 meses de idade. Após descongestão<br />

nasal com fenilefrina e infiltração do sulco gengival<br />

superior e mucosa da abertura piriforme com lidocaína<br />

1% com adrenalina 1:100.000, procedeu-se a incisão<br />

sublabial de mucosa e periósteo com electrocautério.<br />

De seguida realizou-se descolamento do periósteo<br />

e elevação dos tecidos moles e mucosa, expondo a<br />

metade inferior do orifício piriforme (Figura 5), com<br />

brocagem, com broca diamantada, da face interna do<br />

ramo montante dos maxilares superiores (Figura 6).<br />

Devido a sucessivas tentativas de passagem de sondas de<br />

aspiração no passado, identificaram-se sinéquias entre


o corneto inferior e o septo à esquerda que se lisaram.<br />

Finalmente procedeu-se ao reposicionamento dos<br />

tecidos moles, colocação de stents (tubos de entubação<br />

oro-traqueal 3,5mm) (Figura 7) com fixação posterior e<br />

anterior junto à columela, com tubo transversal, e sutura<br />

do vestíbulo oral.<br />

A criança teve alta no segundo dia de pós-operatório,<br />

reavaliada 20 dias depois, sem referência a<br />

intercorrências (Figura 8). Um mês depois foi submetida<br />

a nova anestesia geral <strong>para</strong> remoção dos stents. No acto<br />

operatório verificou-se a existência de fossas nasais<br />

permeáveis bilateralmente, com sinéquias vestigiais e<br />

teve alta no dia seguinte. Dois meses depois, a criança<br />

apresentava-se sem queixas de obstrução nasal ou<br />

rinorreia anterior, com melhoria da qualidade do sono,<br />

diminuição dos despertares nocturnos e alimentação<br />

mais eficaz com boa coordenação ventilatória. Aos 2 anos<br />

de idade, com 10 meses de pós-operatório, a melhoria<br />

mantém-se, não existindo referência a episódio de<br />

dificuldade respiratória, apenas roncopatia intermitente<br />

associada a intercorrências infecciosas da via aérea<br />

superior. Neste momento é possível a passagem de uma<br />

sonda de aspiração (Ø3.33mm) em ambas as fossas<br />

nasais e a criança mantém-se em vigilância periódica.<br />

Face às alterações associadas da linha média, houve,<br />

concomitantemente à abordagem otorrinolaringológica,<br />

um encaminhamento <strong>para</strong> as consultas de Genética,<br />

Cardiologia e Endocrinologia pediátricas. Relativamente<br />

à Genética, foi identificado um cariotipo 46 XX, com<br />

pesquisa de regiões subteloméricas não conclusivo e<br />

de Síndrome Di George negativo. A aguardar estudos<br />

complementares de outras cromossomopatias. Foram<br />

pedidas ecografias abdominal superior, renal, suprarenal<br />

e pélvica que foram normais. Do ponto de vista da<br />

Cardiologia e da Endocrinologia, concluiu-se a existência<br />

de taquipneia transitória do recém-nascido e ausência de<br />

endocrinopatias com doseamentos hormonais normais,<br />

respectivamente. É uma criança com desenvolvimento<br />

psico-motor normal mas com uma curva de crescimento<br />

irregular com má progressão ponderal (P 5 ), encaminhada<br />

<strong>para</strong> consulta de Nutrição.<br />

DISCUSSÃO<br />

A obstrução congénita da via aérea afecta cerca de 1<br />

em cada 5000 recém-nascidos, sendo na maioria dos<br />

casos devida a atrésia choanal. A ECOP é uma causa rara<br />

desta entidade clínica, que de acordo com a experiência<br />

de Belden et al, apresenta uma incidência três a cinco<br />

vezes inferior à atrésia choanal 3 . Há ainda que ter em<br />

conta outros diagnósticos diferenciais nomeadamente<br />

traumatismo nasal durante o parto com hematoma ou<br />

sub-luxação do septo, outras malformações congénitas da<br />

base do crânio (encefalocelo ou meningoencefalocelo),<br />

quistos (dermóide ou epidermóide) hipoplasia nasal e<br />

tumores malignos (rabdomiossarcoma, hemangioma,<br />

glioma, linfangioma e teratoma) 4 .<br />

Os recém-nascidos são respiradores nasais obrigatórios<br />

até às 6-8 semanas de vida 1,4,5 . A gravidade dos sintomas vai<br />

depender do grau de estreitamento do orifício piriforme,<br />

variando de uma respiração ruidosa similar à congestão<br />

nasal a uma condição potencialmente fatal 5 . Manifesta-<br />

-se geralmente à nascença, com a presença de cianose<br />

cíclica, apneia episódica, obstrução nasal e dificuldade<br />

respiratória, principalmente durante a amamentação e<br />

que alivia com o choro. A impossibilidade de progressão<br />

de sonda nasogástrica, sonda de aspiração de secrecções<br />

ou fibroscópio pediátrico (Ø1.9mm) 4 pode sugerir o<br />

diagnóstico que é confirmado imagiologicamente. O<br />

primeiro caso clínico é representativo do acima descrito.<br />

Por vezes o diagnóstico pode ser mais tardio e estabelecerse<br />

nas primeiras semanas ou meses de vida, como ilustra<br />

o segundo caso clínico. Neste caso, repetidos episódios<br />

de obstrução nasal com dificuldade respiratória, que<br />

motivaram ida ao Serviço de Urgência, tiveram lugar<br />

antes que o diagnóstico final fosse estabelecido.<br />

O exame de eleição é a TC dos SPN. De acordo com<br />

Belden e tal 3 , um diâmetro transverso máximo da<br />

abertura piriforme inferior a 11mm é considerado<br />

diagnóstico numa criança de termo. Mais tarde Lee et al 6<br />

vieram realçar o benefício de uso de TC em 3 dimensões<br />

em detrimento da de 2 dimensões, geralmente utilizada.<br />

Segundo eles, o exame permitiria uma informação mais<br />

real do espaço tridimensional da abertura piriforme,<br />

delinear de forma mais fidedigna a quantidade de osso<br />

em excesso do processo nasal do maxilar superior<br />

no planeamento da cirurgia de correcção, e servir de<br />

controlo pós-operatório <strong>para</strong> uma avaliação qualitativa<br />

e quantitativa mais precisa. A TC tem por objectivo<br />

complementar fornecer dados anatómicos importantes<br />

como a localização das raízes dentárias e do canal<br />

lacrimo-nasal, a evitar durante o acto cirúrgico 7 .<br />

A etiopatogenia exacta da ECOP ainda está por definir,<br />

mas pondera-se que se trate de uma condição genética<br />

heterogénea com um padrão de hereditariedade variável.<br />

Surge geralmente isolada, mas em cerca de 40% dos<br />

casos ocorre associada a outras malformações crâniofaciais<br />

1,4,9 , também identificadas na TC. Os achados<br />

típicos incluem dente incisivo superior único; palato duro<br />

triangular, estreito, com crista óssea sagital mediana<br />

<strong>para</strong> a cavidade bucal, fenda palatina submucosa e seios<br />

maxilares hipoplásicos. Pensa-se que a presença de dente<br />

incisivo superior único (DISU) seja uma manifestação de<br />

holoprosencefalia. Por esta razão é essencial realizar<br />

ecografia transfontanelar ou RM CE. Também estão<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 277<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


descritas associações de ECOP e DISU com coloboma<br />

ocular, deficiência pituitária e anomalias cromossómicas<br />

(trissomia 13 e 18, delecções 18p/13q/5q/7q e r18) 7,8,9<br />

pelo que é mandatório, <strong>para</strong> complementar o estudo<br />

destes doentes, realizar exame oftalmológico completo,<br />

investigação hormonal do eixo hipotálamo-hipófise e<br />

estudo de cariotipo. Malformações extra-cranianas,<br />

nomeadamente uro-genitais, laringotraqueais e cardíacas<br />

foram também registadas na literatura 2 . Reportando<br />

aos nossos casos clínicos, no primeiro a ECOP surgiu<br />

como patologia isolada e o segundo caso é ilustrativo<br />

da associação com DISU, que de acordo com o estudo<br />

envolvendo 24 crianças realizado por Lo et al 8 está<br />

presente em 63% dos casos de ECOP, sem outras<br />

anomalias detectadas até à data.<br />

O tratamento deve ser instituído face aos primeiros<br />

sintomas e dependerá da sua severidade. Entubação<br />

e ventilação imediatas podem ser necessárias como<br />

aconteceu no primeiro caso clínico. Para casos ligeiros<br />

a moderados a primeira abordagem constitui num<br />

tratamento conservador que inclui atmosfera húmida,<br />

descongestionante nasal e corticoterapia, tratamento<br />

de refluxo gastro-esofágico, aspiração de secreções,<br />

alimentação por SNG e utilização de tetina de McGroven<br />

ou CPAP <strong>para</strong> manter a patência da via aérea 4,6,7 . A<br />

manipulação com passagem constante de sondas nasais<br />

ou a colocação de stents deve ser evitada por possível<br />

lesão da mucosa e cartilagem com a ocorrência de<br />

sinéquias, como verificado no segundo caso clínico.<br />

Esta atitude conservadora também deverá ser aplicada<br />

em doentes com múltiplas malformações e prognóstico<br />

reservado. Em crianças com bom prognóstico, a<br />

intervenção cirúrgica está indicada face ao insucesso<br />

de duas semanas de tratamento médico maximizado,<br />

em casos de obstrução nasal severa confirmada por<br />

TC, apneia do sono grave, insucesso na extubação ou<br />

entubações oro-traqueais de repetição, incapacidade de<br />

alimentação com cianose 4,6,7 e a não progressão de SNG<br />

com Ø1.67mm 10 .<br />

Relativamente à técnica cirúrgica, duas abordagens são<br />

possíveis, a via transnasal, descrita em adultos e de<br />

difícil execução em crianças, pelas dimensões reduzidas<br />

da cavidade nasal e maior risco de lesão da mucosa; e a<br />

via sublabial, que foi utilizada no segundo caso clínico. É<br />

uma técnica segura, efectiva, bem tolerada e escolha de<br />

eleição nos casos de ECOP 1,4,7 .<br />

O procedimento cirúrgico é realizado sob anestesia<br />

geral, com entubação oro-traqueal (EOT), fazendo<br />

uso de instrumentos de microcirurgia do ouvido,<br />

brocas diamantadas e microscópio óptico com elevada<br />

resolução. A técnica descrita no segundo caso clínico<br />

ilustra de forma fidedigna os passos aconselhados<br />

278 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

na literatura 1,4,7 . A ressecção óssea deve ser sempre<br />

realizada num plano anterior à cabeça do corneto<br />

inferior <strong>para</strong> evitar lesão do canal lacrimo-nasal, e a<br />

brocagem do pavimento nasal deve ser evitada <strong>para</strong><br />

não lesar as raízes dentárias. O procedimento termina<br />

aquando da possibilidade de canalização das fossas<br />

nasais com tubo de EOT com diâmetro 3,5mm. Por vezes<br />

pode ser necessário complementar o acto cirúrgico<br />

com turbinectomia inferior parcial <strong>para</strong> melhorar a<br />

permeabilização da cavidade nasal, que não foi necessária<br />

no nosso caso cirúrgico. Ao invés, a doente apresentava<br />

sinéquias entre o corneto inferior e o septo à esquerda,<br />

por manipulação repetida das fossas nasais, que foram<br />

lisadas. No final do procedimento, um stent transverso<br />

deve ser colocado junto à columela <strong>para</strong> evitar necrose<br />

por pressão 1,4,6,7 . A acrescentar que, no nosso caso, foi<br />

também realizada fixação posterior, com tubo transversal<br />

ao nível da rinofaringe, <strong>para</strong> estabilização dos stens. Os<br />

stents deverão ser removidos ao fim de 2 a 4 semanas,<br />

segundo Shikowitz 1 , entre o 3º e o 24º dia, de acordo<br />

com Baker et al 4 e entre o 5º e o 15º dia segundo Lee<br />

et al 6 . Os períodos de tempo aconselhados são variáveis.<br />

Deverão ser o suficiente <strong>para</strong> não permitir a deiscência<br />

dos tecidos, mas não deixados demasiado tempo, que<br />

condicione dano e necrose da mucosa nasal. No nosso<br />

caso, os stents foram removidos ao final de um mês,<br />

sem indícios de qualquer lesão da mucosa e constatação<br />

intra-operatória de permeabilidade nasal bilateral.<br />

Também não se registaram complicações pós-cirurgicas<br />

como as descritas na literatura, nomeadamente<br />

reestenose, sinéquia, perfuração do septo, granulações<br />

ou lesão iatrogénica do canal lacrimo-nasal e mucosa<br />

nasal 4,7 . Quanto às raízes dentárias, teremos de aguardar<br />

a eclosão da dentição definitiva <strong>para</strong> verificar possíveis<br />

danos.<br />

CONCLUSÃO<br />

A ECOP é uma entidade clínica rara a ter presente e sempre<br />

considerada hipótese de diagnóstico na abordagem<br />

de um RN com obstrução nasal grave. A confirmação<br />

imagiológica permite também a identificação mandatória<br />

de anomalias concomitantes. Um diagnóstico precoce e<br />

uma abordagem atempada conferem à ECOP um muito<br />

bom prognóstico. A maior parte das crianças necessita<br />

apenas de tratamento conservador, sendo que a<br />

sintomatologia tende a atenuar ou mesmo a desaparecer<br />

face ao crescimento progressivo da cavidade nasal. A<br />

cirurgia está apenas reservada <strong>para</strong> os casos mais graves<br />

e refractários ao tratamento médico.


Referências Bibliográficas:<br />

1.Shikowitz MJ. Congenital nasal pyriform aperture stenosis: diagnosis<br />

and treatment. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology<br />

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VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 279<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


280<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Síndrome da deiscência do canal semicircular<br />

superior: A propósito de dois casos clínicos.<br />

Superior semicircular canal dehiscence syndrome:<br />

Two cases report.<br />

Conceição Peixoto José Bastos Carlos Ribeiro<br />

RESUMO<br />

A Síndrome da Deiscência do Canal Semicircular Superior<br />

(SDCSS) caracteriza-se por sintomas vestibulares induzidos<br />

por estímulos sonoros intensos (Fenómeno de Tullio) ou por<br />

variações da pressão intracraniana ou ouvido médio, e por<br />

hipoacusia de transmissão.<br />

Os autores apresentam os casos clínicos de 2 doentes do sexo<br />

feminino:<br />

• 44 anos, história de hipoacusia e acufeno à esquerda<br />

associados a vertigem; verificou-se hipoacusia de<br />

transmissão bilateral com gap aero-ósseo à esquerda<br />

maior nas baixas frequências e timpanograma tipo A<br />

com presença de reflexos estapédicos; os potenciais<br />

evocados miogénicos vestibulares (PEMV) e tomografia<br />

computorizada (TC) de ouvido confirmaram deiscência<br />

do canal semicircular superior. A doente foi submetida a<br />

re<strong>para</strong>ção da deiscência da cortical óssea, apresentando<br />

diminuição da sintomatologia vestibular um mês após a<br />

cirurgia;<br />

• 57 anos, com queixas de vertigem e desequilíbrio<br />

crónico, sem hipoacusia; apresentava audiometria e<br />

impedancimetria normais, videonistagmografia com<br />

Joana Guimarães<br />

Interna de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Daniel Miranda<br />

Interno de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Filipa Carvalho Moreira<br />

Interna de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Nuno Marçal<br />

Interno de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Gabriel Pereira<br />

Interno de Formação Específica do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Sérgio Vilarinho<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Matos Gonçalves<br />

Assistente Graduado Sénior do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Rui Pratas<br />

Director do Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Correspondência:<br />

Joana Guimarães<br />

Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital de Braga<br />

Sete Fontes – S. Victor<br />

4710-243 Braga<br />

Tlm.: 917969155, joanarguimaraes@gmail.com<br />

Trabalho apresentado no 58º Congresso da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e<br />

Cirurgia Cérvico-Facial<br />

hiporreflexia direita e electrococleografia sem critérios<br />

de hidrópsia endolabiríntica; confirmou-se deiscência do<br />

canal semicircular superior através de PEMV e TC.<br />

Palavras-chave: deiscência do canal semicircular superior,<br />

hipoacusia de condução, vertigem, potenciais evocados<br />

miogénicos vestibulares<br />

ABSTRACT<br />

The Superior Semicircular Canal Dehiscence Syndrome (SSCDS)<br />

has been characterized by vestibular symptoms induced by<br />

loud sound (Tullio phenomenon) or stimuli that change middle<br />

ear or intracranial pressure, and conductive hearing loss.<br />

The autors present the case report of 2 female patients:<br />

• 44 years-old, referring left hearing loss and tinnitus with<br />

vertigo; the observation revealed bilateral conductive<br />

hearing loss with a left larger air-bone gap in low<br />

frequencies and type A tympanogram with normal acoustic<br />

stapedial reflex; the vestibular evoked myogenic potential<br />

(VEMP) and computed tomography (CT) confirmed<br />

superior semicircular canal dehiscence. The patient was<br />

submitted to surgery to repair the bone dehiscence. One<br />

month after surgery, she presented vestibular symptoms<br />

improvement;<br />

• 57 years-old, who presents vertigo and chronic<br />

dysequilibrium complaints, with no hearing loss; the<br />

observation revealed normal audiometry and normal<br />

impedance, the videonystagmography showed right<br />

hyporeflexia and electrococleography had no labyrinthine<br />

hydrops criteria; VEMP and CT confirmed superior<br />

semicircular canal dehiscence.<br />

Keywords: superior semicircular canal dehiscence, conductive<br />

hearing loss, vertigo, vestibular evoked myogenic potential<br />

INTRODUÇÃO<br />

A Síndrome de Deiscência do Canal Semicircular Superior<br />

(SDCSS) é uma doença rara e pouco conhecida que se<br />

caracteriza principalmente por sintomas vestibulares<br />

induzidos por estímulos sonoros intensos ou por<br />

modificações da pressão intracraniana ou do ouvido<br />

médio, e hipoacusia de transmissão. Com este trabalho,<br />

por tratar-se de uma síndrome recentemente descrita, e<br />

a propósito de dois casos clínicos, os autores pretendem<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 281<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


enfatizar a importância da SDCSS no diagnóstico<br />

diferencial de vertigem e hipoacusia de transmissão.<br />

A deiscência do canal semicircular superior (anterior)<br />

é uma exposição anormal do labirinto membranoso<br />

vestibular na fossa média craniana. A Síndrome da<br />

Deiscência do Canal Semicircular Superior (SDCSS) foi<br />

descrita pela primeira vez em 1998 por Minor et al 1 .<br />

Ocorre quando a deiscência da camada óssea que<br />

recobre o canal semicircular superior produz um ou<br />

mais dos seguintes sintomas: hipoacusia de transmissão,<br />

sintomas vestibulares induzidos por estímulos sonoros<br />

intensos ou por modificações da pressão intracraniana<br />

ou ouvido médio e desequilíbrio crónico 2 .<br />

Sintomas causados por aberturas anormais do labirinto<br />

são conhecidos há várias décadas, entre os quais,<br />

movimentos oculares em resposta a um estímulo<br />

sonoro 3 . O fenómeno de Tullio refere-se a movimentos<br />

oculares desencadeados por um som intenso e verificase<br />

em casos de fístula perilinfática, traumatismo craniano<br />

e colesteatoma com erosão de canal semicircular e<br />

fenestração. Actualmente sabe-se que a SDCSS é uma<br />

causa de fenómeno de Tullio mais frequente que as<br />

citadas anteriormente 3 . Em doentes com fenómeno<br />

de Tullio, o sinal de Hennebert, que se caracteriza por<br />

movimentos oculares desencadeados por pressão<br />

aplicada no canal auditivo externo, também é bastante<br />

frequente.<br />

A incidência de deiscência do canal semicircular superior<br />

(DCSS), tendo em conta apenas as alterações anatómicas<br />

e não as características clínicas, foi estimada em 0.5%,<br />

através de um estudo com 1000 ossos temporais,<br />

nos quais em 1,4% dos casos, o osso tinha no máximo<br />

0,1mm 4 . A incidência de SDCSS não é conhecida, mas<br />

é provável que apenas uma parte dos casos com DCSS<br />

apresente sintomas 3 .<br />

De acordo com a literatura, não há evidência de<br />

predominância significativa de sexo, e a mediana de<br />

idade dos sintomáticos situa-se entre os 40 e 41 anos 5,6 .<br />

A etiopatogenia da alteração anatómica não é conhecida,<br />

mas existe a hipótese de que o defeito poderá ocorrer<br />

durante o desenvolvimento da camada óssea que<br />

recobre o canal semicircular, até aos 3 anos de idade 4,5,7 .<br />

Aquando de um segundo evento, por exemplo, um<br />

traumatismo craniano ou um aumento brusco da<br />

pressão intracraniana, poderá evoluir <strong>para</strong> a ruptura<br />

desta camada anormalmente delgada, completando-se<br />

a deiscência 4,5,7 .<br />

Os doentes com SDCSS normalmente apresentam-se<br />

com queixas de autofonia ou vertigem. Pelo facto de<br />

haver diversas causas de vertigem, o diagnóstico tem que<br />

ser dirigido, através de uma história clínica detalhada e<br />

avaliação diagnóstica correcta. Os sintomas vestibulares<br />

282 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

relacionados com a SDCSS são normalmente provocados<br />

por sons intensos ou variações de pressão e são de curta<br />

duração. Vertigem ou oscilópsia desencadeadas por<br />

estímulos sonoros estão presentes em 90% dos doentes 8 .<br />

Também são frequentes sintomas vestibulares induzidos<br />

por variações de pressão, tais como tosse ou esforço.<br />

Em alguns casos os doentes apresentam desequilíbrio<br />

crónico e algumas alterações cognitivas.<br />

Os sintomas auditivos são também uma característica do<br />

SDCSS. 52% dos doentes apresentam hiperacusia <strong>para</strong><br />

sons transmitidos por via óssea, por exemplo, ouvir o<br />

próprio pulso, os movimentos dos olhos ou o impacto dos<br />

pés no solo durante a marcha. Autofonia está presente<br />

em 60% dos doentes 8 .<br />

Pensa-se que a DCSS pode causar hipoacusia de<br />

transmissão, por actuar como uma terceira janela no<br />

ouvido interno, com perda de energia acústica da cóclea<br />

<strong>para</strong> o vestíbulo, resultando num aumento dos limiares<br />

de condução dos sons por via aérea e aumentando a<br />

diferença de impedância entre as escalas timpânica e<br />

vestibular, causando uma diminuição dos limiares por via<br />

óssea 9,10 . Neste caso, como a hipoacusia de transmissão<br />

tem origem no ouvido interno, também se designa<br />

“pseudo-hipoacusia de transmissão”. Uma situação<br />

semelhante verifica-se no Síndrome do Aqueduto<br />

Vestibular Largo (SAVL).<br />

Movimentos oculares no plano do canal semicircular<br />

superior são a principal característica da SDCSS e estão<br />

presentes em 60% dos casos 11 . Podem ser desencadeados<br />

por estímulo sonoro, manobra de Valsalva ou pressão<br />

aplicada no canal auditivo externo. Nestas situações,<br />

normalmente verifica-se um nistagmo vertical e rotatório,<br />

com componente lenta <strong>para</strong> cima e <strong>para</strong> o lado oposto<br />

do ouvido afectado. Os sons mais eficazes na indução de<br />

sintomas vestibulares são aqueles de frequências entre<br />

500 e 1000Hz 10 . Este fenómeno explica-se pelo facto de,<br />

aquando de DCSS, haver uma deflexão da cúpula na crista<br />

ampular do canal, provocada por som/pressão, causando<br />

a sintomatologia 10 .<br />

Para o diagnóstico é essencial a realização de audiograma,<br />

até porque, alguns doentes apresentam sintomas<br />

auditivos na ausência de sintomas e sinais vestibulares.<br />

Verifica-se normalmente uma hipoacusia de transmissão<br />

maior nas frequências baixas e limiares de condução<br />

óssea muitas vezes inferiores a 0dB nHL (hiperacusia<br />

de condução) e presença de reflexos estapédicos.<br />

Devido à hipoacusia de transmissão e otoscopia<br />

normal, o diagnóstico de otosclerose é algumas vezes,<br />

erroneamente atribuído a estes casos. As principais<br />

diferenças são que na otosclerose não surge hiperacusia<br />

e os reflexos estapédicos estão presentes na maior<br />

parte dos casos de SDCSS, enquanto estão ausentes na


otosclerose 12 .<br />

Potenciais evocados miogénicos vestibulares (PEMV)<br />

com limiares mais baixos e respostas de maior amplitude<br />

são indicativos de SDCSS. De acordo com Colebatch et<br />

al 13 , o limiar médio de respostas dos PEMV em sujeitos<br />

saudáveis era de 86 dB nHL, com um limiar mínimo de 70<br />

dB nHL. Em doentes com fenómeno de Tullio os limiares<br />

eram inferiores a 70 dB nHL. Os PEMV são considerados<br />

por alguns autores, um exame mais de 90% sensível e<br />

específico <strong>para</strong> SDCSS 14 . Em alguns doentes não é possível<br />

calcular os PEMV, especialmente naqueles submetidos<br />

previamente a cirurgia do ouvido médio. O limiar dos<br />

PEMV pode também estar diminuído em casos de SAVL 3 .<br />

Este exame é particularmente importante no diagnóstico<br />

diferencial com otosclerose, pois neste caso os limiares<br />

são altos ou até ausentes 9,10 .<br />

Finalmente, <strong>para</strong> o diagnóstico de DCSS ser considerado<br />

é necessário Tomografia Computorizada (TC) de osso<br />

temporal com imagem inequívoca de ausência da camada<br />

óssea que recobre o canal superior. TC de alta-resolução<br />

é o exame ideal visto ser necessário uma resolução de<br />

cerca de 0,2mm <strong>para</strong> se obter uma imagem adequada 3 .<br />

Apesar de essencial a imagem de DCSS na TC, o diagnóstico<br />

de SDCSS apenas é considerado num contexto de sinais<br />

clínicos, PEMV e audiograma compatíveis com o mesmo.<br />

As opções de tratamento são cirurgia ou tratamento<br />

conservador. A cirurgia baseia-se na re<strong>para</strong>ção da<br />

deiscência, com oclusão total (plugging) ou re<strong>para</strong>ção<br />

(resurfacing) do canal superior, utilizando fáscia temporal,<br />

pó de osso, cola de fibrina e/ou osso cortical, variando<br />

de autor <strong>para</strong> autor. Podem ser utilizadas duas vias de<br />

abordagem, através da fossa craniana média ou por via<br />

transmastoideia 1,3,5,15,16 .<br />

O tratamento conservador refere-se a alterações do<br />

estilo de vida de forma a evitar situações que causem<br />

exacerbação dos sintomas, como por exemplo, ruídos<br />

intensos.<br />

CASO CLÍNICO 1<br />

• Paciente do sexo feminino, de 44 anos de idade,<br />

cozinheira. Antecedentes pessoais de depressão<br />

e gastrite crónica, medicada habitualmente com<br />

trazodona e lorazepam. Recorreu à consulta externa<br />

de ORL, por hipoacusia esquerda com cerca de 4<br />

anos de evolução, com agravamento progressivo no<br />

último ano, associado a aparecimento de acufeno<br />

esquerdo e vertigem. A vertigem tinha carácter<br />

rotatório, de curta duração, sem relação com posição<br />

ou movimentos da cabeça, associada a náuseas.<br />

Referia episódios mais frequentes, assim como maior<br />

desconforto, em ambientes ruidosos, como por<br />

exemplo no centro comercial, restaurante ou café, em<br />

dias mais movimentados, quando questionada acerca<br />

da relação da vertigem com o barulho. Não tolerava<br />

locais com música alta, pois apresentava vertigem<br />

rotatória ou sensação de desequilíbrio. Referia<br />

também autofonia. Sem outras queixas otológicas.<br />

Esta sintomatologia tinha tido agravamento<br />

progressivo no último ano.<br />

• Ao exame objectivo apresentava otoscopia e<br />

acumetria normais, provas de Romberg, Unterberger<br />

e Dix-Hallpike negativas.<br />

• O estudo audiométrico e de impedancimetria revelava<br />

timpanograma tipo A com presença de reflexos<br />

estapédicos ispi e contralaterais bilateralmente<br />

e audiograma tonal (Figura 1) com hipoacusia de<br />

condução bilateral com gap aero-ósseo à direita de<br />

15 a 20dB entre 250 e 2000Hz e à esquerda de 20 a<br />

35dB nas mesmas frequências.<br />

• Realizou TC de ouvido (Figura 2) que não apresentava<br />

evidência imagiológica de otosclerose fenestral ou<br />

coclear, apresentava deiscência da cortical óssea que<br />

reveste superiormente o canal semicircular superior<br />

esquerdo, em 2 planos tomográficos coronais<br />

consecutivos.<br />

• Realizou PEMV que revelou uma relação entre os<br />

dois ouvidos de 0.37, apresentando uma resposta<br />

mais alargada no lado esquerdo, compatível com<br />

diagnóstico de deiscência do canal semicircular<br />

superior esquerdo.<br />

• Em exame audiométrico subsequente, com resultado<br />

sobreponível ao anterior, foi estimulado o ouvido<br />

esquerdo com um som de intensidade superior a<br />

100dB nos 1000Hz, tendo apresentado desequilíbrio<br />

e náuseas (Fenómeno de Tullio).<br />

• Foi submetida a abordagem da fossa média através<br />

de craniotomia temporal esquerda, com re<strong>para</strong>ção/<br />

tamponamento da deiscência da cortical óssea<br />

com aponevrose muscular, fragmentos ósseos da<br />

craniotomia e Tisselyo®, por equipa de Neurocirurgia.<br />

• O pós-operatório decorreu sem intercorrências. Teve<br />

alta ao 2º dia pós-operatório.<br />

• Um mês pós-operatório referia diminuição significativa<br />

da vertigem e sensação de desequilíbrio.<br />

• Dois meses após cirurgia apresentava-se assintomática,<br />

com melhoria da audição e acufeno, sem<br />

vertigem, nomeadamente em ambientes ruidosos<br />

onde apresentava sintomas antes da intervenção<br />

cirúrgica. O audiograma tonal (Figura 3) revelou<br />

diminuição do gap aero-ósseo <strong>para</strong> 15dB nos 250Hz<br />

e 10dB entre 500 e 2000Hz, à esquerda.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 283<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


FIGURA 1<br />

Audiograma tonal pré-operatório<br />

FIGURA 2<br />

TC ouvido esquerdo, cortes coronais consecutivos com distância de 1mm, evidenciando deiscência da cortical óssea que reveste o<br />

canal semicircular superior<br />

284 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


FIGURA 3<br />

Audiograma tonal pós-operatório<br />

CASO CLÍNICO 2<br />

• Paciente do sexo feminino, 57 anos, funcionária de<br />

farmácia. Antecedentes pessoais de hérnia discal<br />

lombar corrigida cirurgicamente e taquicardia/<br />

palpitações, medicada habitualmente com<br />

propranolol, furosemida e omeprazol. Recorreu<br />

à consulta externa de ORL por sensação de<br />

desequilíbrio muito frequente e vertigem rotatória,<br />

de curta duração, não posicional, associada a<br />

náuseas e vómitos, com vários anos de evolução,<br />

com agravamento progressivo no último ano.<br />

Referia episódios mais frequentes de vertigem ou<br />

desequilíbrio com manobra de Valsalva, por exemplo<br />

quando assoava o nariz ou quando fazia esforços.<br />

Sem hipoacusia nem outras queixas otológicas.<br />

• Ao exame objectivo apresentava otoscopia e<br />

acumetria normais, prova de Unterberger com desvio<br />

<strong>para</strong> o lado direito, provas de Romberg e Dix-Hallpike<br />

negativas.<br />

• O estudo audiométrico e de impedancimetria revelava<br />

timpanograma tipo A com presença de reflexos<br />

estapédicos ispi e contralaterais bilateralmente e<br />

audiograma tonal normal (Figura 4).<br />

• O exame de potenciais evocados auditivos<br />

precoces do tronco cerebral revelou uma condução<br />

nervosa normal bilateralmente, com um limiar<br />

electrofisiológico situado a 20dB em ambos os<br />

ouvidos; o exame electrococleográfico revelou<br />

ausência de critérios de hidrópsia endolinfática em<br />

ambos os ouvidos.<br />

• O exame de videonistagmografia revelou hiporreflexia<br />

vestibular direita.<br />

• Realizou TC de ouvido (Figura 5) que não revelava<br />

evidência de focos de otoespongiose, mas em que<br />

era possível observar esboço de deiscência do<br />

canal semicircular superior direito, em 2 planos<br />

tomográficos coronais consecutivos.<br />

• O exame de potenciais evocados miogénicos<br />

vestibulares revelava traçados compatíveis com<br />

deiscência do canal semicircular superior direito.<br />

• Em avaliação subsequente, foi testado o fenómeno<br />

de Tullio através de estímulo sonoro intenso, que<br />

foi negativo. Aquando de realização de manobra de<br />

Valsalva apresentou desequilíbrio, no entanto sem<br />

nistagmo evidente.<br />

• A doente foi medicada com beta-histina 24mg 2<br />

vezes/dia e mantém vigilância em consulta de ORL,<br />

tendo sido informada acerca dos cuidados a ter,<br />

nomeadamente evicção de estímulos precipitantes<br />

da sintomatologia vestibular. Apresenta melhoria das<br />

queixas.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 285<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


FIGURA 4<br />

Audiograma tonal pós-operatório<br />

FIGURA 5<br />

TC ouvido direito, cortes coronais consecutivos com distância<br />

de 1mm, evidenciando deiscência da cortical óssea que<br />

reveste o canal semicircular superior<br />

286 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

DISCUSSÃO<br />

Apesar da prevalência de deiscência completa do canal<br />

semicircular superior ser entre 0.5% e 0.7% na população<br />

total 1 , não se conhece a percentagem dos portadores de<br />

DCSS que são sintomáticos.<br />

Tal como aconteceu nos casos clínicos apresentados,<br />

a maioria destes indivíduos procura ajuda médica por<br />

sintomas vestibulares, tais como vertigem e desequilíbrio<br />

crónico. Embora haja, na SDCSS, relação íntima entre<br />

a vertigem ou a oscilópsia e a exposição a estímulos<br />

sonoros de alta intensidade, grande parte não refere que<br />

os seus sintomas pioram com o barulho, se tal não lhes for<br />

questionado. Os mesmos sintomas ocorrem também em<br />

muitos casos, quando realizam manobras que modificam<br />

a pressão do ouvido médio ou intracraniana, como<br />

ocorreu no segundo caso aqui descrito. Uma minoria<br />

procura o otorrinolaringologista apresentando apenas<br />

perda auditiva, sem sintomas vestibulares 1,5,6 .<br />

Sintomas e sinais característicos da SDCSS são<br />

raramente óbvios no momento da admissão. Portanto,<br />

os profissionais de saúde que lidam com estes doentes<br />

devem estar aptos a realizar uma investigação mínima<br />

suficiente <strong>para</strong> afastar ou tornar mais provável o<br />

seu diagnóstico. O exame clínico é de fundamental<br />

importância, visto exames considerados padrão <strong>para</strong><br />

investigação do aparelho vestibular, tais como electro<br />

ou videonistagmografia, não mostrarem alterações<br />

significativas.<br />

A SDCSS pode apresentar-se com hipoacusia de condução,<br />

que mimetiza otosclerose, podendo explicar alguns casos


de hipoacusia de condução que persiste após cirurgia<br />

estapédica 17,18 . Torna-se assim importante diferenciar a<br />

SDCSS de otosclerose. A hipoacusia de condução da SDCSS<br />

é caracterizada tipicamente por um gap aero-ósseo nas<br />

frequências baixas, por vezes com limiares de condução<br />

óssea inferiores a 0dB, pelo que se torna importante<br />

pesquisá-los. Os reflexos estapédicos estão normalmente<br />

presentes na SDCSS mas ausentes no processo de fixação<br />

do estribo por otosclerose. Os PEMV, se possível, devem<br />

ser utilizados na orientação diagnóstica, visto os limiares<br />

serem significativamente mais altos na otosclerose do<br />

que na SDCSS 10 . Em casos suspeitos de SDCSS, a presença<br />

de DCSS pode ser confirmada através de TC de altaresolução,<br />

com reformatação das imagens em planos<br />

<strong>para</strong>lelos e perpendiculares relativamente ao canal<br />

superior 9 .<br />

Na escolha das opções de tratamento, deve ser<br />

considerada a intensidade dos sintomas em cada indivíduo.<br />

Pacientes com sintomas mínimos ou ligeiros devem<br />

evitar estímulos causadores dos sintomas e experimentar<br />

medidas de suporte, tais como, reabilitação vestibular<br />

ou terapêutica antivertiginosa. Estes doentes requerem<br />

uma vigilância mais prolongada de forma a assegurar<br />

a resolução da sintomatologia. Aqueles com sintomas<br />

incapacitantes como vertigem, induzida pelo som ou<br />

pressão, desequilíbrio ou oscilópsia, podem necessitar de<br />

tratamento cirúrgico. A escolha do tratamento cirúrgico<br />

deve ter em conta a gravidade dos sintomas e os riscos<br />

e benefícios da cirurgia. Em alguns centros 3 , só parte<br />

dos doentes com SDCSS são submetidos a cirurgia. A<br />

maioria opta por alterar o estilo de vida de forma a evitar<br />

estímulos que desencadeiem sintomas. O Dizziness<br />

Handicap Inventory (DHI) pode ser um instrumento útil na<br />

avaliação da intensidade dos sintomas vestibulares, com<br />

uma escala de 0-100, inicialmente utilizada no tratamento<br />

cirúrgico de neurinoma do acústico, doença de Meniere<br />

e vertigem posicional paroxística benigna, tal como Crane<br />

et al. 3 demonstraram numa série de 19 doentes, em que<br />

verificaram um handicap alto em doentes com SDCSS,<br />

propostos <strong>para</strong> tratamento cirúrgico.<br />

As opções cirúrgicas mais comuns incluem craniotomia<br />

com abordagem da fossa média ou abordagem<br />

transmastoideia <strong>para</strong> oclusão ou re<strong>para</strong>ção do canal<br />

superior, sendo que a maioria dos centros usa a<br />

abordagem da fossa média 2,3 . O objectivo da cirurgia<br />

é ocluir a deiscência do canal semicircular superior<br />

de forma a eliminar a terceira janela móvel do ouvido<br />

interno. Os resultados a curto e longo prazo dependem<br />

da abordagem e procedimento utilizados.<br />

Em várias séries de doentes submetidos a cirurgia de<br />

re<strong>para</strong>ção do canal semicircular superior, todos os<br />

doentes operados obtiveram, pelo menos, melhoria dos<br />

sintomas incapacitantes, embora alguns tenham evoluído<br />

com complicações, tais como surdez neurossensorial ou<br />

hipofunção do labirinto do lado afectado 1,3,5,15,16,19 .<br />

A autofonia é um sintoma muito frequente nestes casos e<br />

que também pode melhorar após re<strong>para</strong>ção cirúrgica da<br />

deiscência, tal como Crane et al. 20 demonstraram numa<br />

série de 19 doentes, com melhoria em 94% dos casos.<br />

Por outro lado, relativamente à capacidade auditiva, os<br />

resultados não são tão lineares. Numa série de 29 doentes,<br />

Limb et al. 21 , se por um lado em doentes submetidos<br />

a cirurgia primária da fossa média, não encontraram<br />

associação com hipoacusia neurossensorial e até em<br />

alguns casos, verificaram melhoria da hipoacusia de<br />

condução, por outro, em casos de cirurgia da fossa média<br />

de revisão ou cirurgia estapédica prévia, verificaram<br />

poder haver associação com hipoacusia neurossensorial<br />

pós-operatória.<br />

Merchant et al. 9 nunca realizaram re<strong>para</strong>ção de deiscência<br />

do canal superior em doentes que apresentavam apenas<br />

hipoacusia de condução, pelo risco de desenvolvimento<br />

de surdez neurossensorial, <strong>para</strong> além dos potenciais<br />

riscos da cirurgia da fossa média. No caso por nós<br />

apresentado, a doente apresentou melhoria da<br />

hipoacusia de transmissão e não desenvolveu hipoacusia<br />

neurossensorial pós-operatória.<br />

No futuro, o reconhecimento e caracterização da<br />

hipoacusia de condução em doentes com SDCSS, em<br />

conjunto com uma forte suspeição diagnóstica, poderão<br />

ser importantes na redução do número de doentes<br />

submetidos sem necessidade a cirurgia do ouvido médio.<br />

CONCLUSÃO<br />

Apesar de rara e ainda pouco estudada, a SDCSS<br />

deve ser incluída tanto entre as causas de vertigem<br />

como de hipoacusia de transmissão. É importante a<br />

sua suspeição clínica, visto ser uma causa tratável de<br />

vertigem, podendo-se evitar a realização de abordagens<br />

diagnósticas e terapêuticas inapropriadas.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 287<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


Referências Bibliográficas:<br />

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288 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Sarcoma de Kaposi da laringe - Caso clínico<br />

Laryngeal Kaposi’s sarcoma - Case report<br />

Clara Silva Carla Gapo Natércia Silvestre Jorge Miguéis Ana Margarida Amorim Sofia Caetano Isabel Ramos Maria José Julião<br />

António Paiva<br />

RESUMO<br />

O sarcoma de Kaposi (SK) é a neoplasia mais frequente nos<br />

doentes com o Síndrome de Imunodeficiência Adquirida<br />

(SIDA). O envolvimento da cabeça e pescoço é frequente,<br />

no entanto o atingimento laríngeo com dispneia é raro. Os<br />

autores apresentam um caso clínico ilustrativo desta patologia<br />

como manifestação inicial de SIDA.<br />

Doente de 37 anos, sem antecedentes patológicos relevantes,<br />

com queixas de dispneia alta, disfonia e disfagia com 2 meses<br />

de evolução. Apresentava formação vegetante supraglótica,<br />

tendo sido realizada biópsia e traqueotomia. Os exames<br />

complementares confirmaram o diagnóstico de SK no contexto<br />

de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH).<br />

Iniciou quimioterapia, profilaxia das infecções oportunistas e<br />

terapêutica antiretrovírica, observando-se regressão completa<br />

das lesões e descanulação ao final do 4º ciclo de tratamento.<br />

Esta entidade, rara como manifestação inicial de SIDA, deve ser<br />

considerada no diagnóstico diferencial das massas laríngeas.<br />

Palavras-chave: Sarcoma de Kaposi, Laringe, VIH, SIDA.<br />

Clara Silva<br />

Interna de Otorrinolaringologia dos HUC<br />

Carla Gapo<br />

Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia dos HUC<br />

Natércia Silvestre<br />

Interna de Otorrinolaringologia dos HUC<br />

Jorge Miguéis<br />

Assistente Hospitalar Graduado de Otorrinolaringologia dos HUC<br />

Ana Margarida Amorim<br />

Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia dos HUC<br />

Sofia Caetano<br />

Interna de Infecciologia dos HUC<br />

Isabel Ramos<br />

Assistente Hospitalar de Infecciologia dos HUC<br />

Maria José Julião<br />

Assistente Hospitalar Anatomia Patológica dos HUC<br />

António Paiva<br />

Director de Serviço de Otorrinolaringologia dos HUC; Professor Catedrático da Faculdade de<br />

Medicina da Universidade de Coimbra<br />

Correspondência:<br />

Clara Silva<br />

ORL-10ºpiso<br />

Hospitais da Universidade de Coimbra<br />

Praceta Mota Pinto<br />

3000-075 Coimbra<br />

claranetosilva@gmail.com<br />

ABSTRACT<br />

Kaposi’s sarcoma (KS), is the most common malignancy<br />

observed in the patient with acquired immune deficiency<br />

syndrome (AIDS). Head and neck involvement is not unusual.<br />

However laryngeal involvement with dyspnoea is rare. The<br />

authors present a clinical case that illustrates this pathology<br />

as the first manifestation of AIDS.<br />

A 37 year-old male, with no prior pathology, with history of<br />

hoarseness, dysphagia and dyspnoea within 2 months. He<br />

presented with a supraglottic neoformation, and a biopsy of<br />

the lesion and a tracheotomy were performed. Complementary<br />

exams confirmed the diagnosis of laryngeal KS associated to<br />

human immunodeficiency virus (HIV) infection. He started<br />

chemotherapy, opportunistic infection prophylaxis and antiretroviral<br />

therapy. There was total regression of the lesions<br />

and he was decanulated after the 4 th cyle of chemotherapy.<br />

This entity, rare as the initial manifestation of AIDS, must be<br />

considered in the differential diagnosis of laryngeal mass.<br />

Keywords: Kaposi sarcoma, larynx, HIV, AIDS.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O sarcoma de Kaposi (SK) é um tumor vascular indolente<br />

associado ao vírus herpes humano tipo 8 1-4 .<br />

A patogénese não está bem definida envolvendo uma<br />

interacção complexa entre factores de crescimento<br />

angiogénicos e citocinas 2,4,5 . Na infecção por VIH, a sua<br />

presença é definidora de SIDA 6 Foi descrito em 1872 pelo<br />

dermatologista húngaro, Moritz Kaposi, que caracterizou<br />

o tumor como lesões violáceas maculares cutâneas com<br />

bordos irregulares com predilecção pelas extremidades<br />

inferiores, mais frequentes em idosos do mediterrâneo<br />

e homens judeus. 6-8 Apresenta, no entanto, uma grande<br />

variância dependendo do subtipo epidemiológico:<br />

clássico, africano endémico, iatrogénico e epidémico<br />

associado a SIDA. 1-3,6 Em 1989, cerca de 40% dos homens<br />

homossexuais com SIDA desenvolviam SK. Destes,<br />

2/3 apresentavam lesões de SK na cabeça e pescoço e<br />

20% tinham envolvimento respiratório. Desde 1996, a<br />

incidência de SK associada a SIDA tem vindo a diminuir<br />

em parte devido à terapêutica antiretrovírica. 8 No<br />

entanto, a incidência de SK em indivíduos homossexuais<br />

que estão infectados com VIH é de cerca de 15-20%, 3%<br />

em heterossexuais que usam drogas injectáveis, 3% em<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 289<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


mulheres e crianças, 3% em receptores de transfusões e<br />

1% em hemofílicos. 4,6<br />

As lesões são muitas vezes multifocais podendo afectar<br />

qualquer parte do corpo. Embora a região da cabeça e<br />

pescoço esteja frequentemente envolvida pelo SK, o<br />

envolvimento laríngeo é pouco comum. 10 A apresentação<br />

do SK da laringe com obstrução das vias aéreas é rara,<br />

com apenas alguns casos descritos. 9 Ainda mais raro é<br />

ser a manifestação inicial de SIDA. 4<br />

CASO CLÍNICO<br />

Doente do sexo masculino, 37 anos, fumador (20UMA),<br />

sem antecedentes patológicos relevantes, que recorre à<br />

consulta de Otorrinolaringologia por disfonia, disfagia e<br />

dispneia alta com 2 meses de evolução. À laringoscopia<br />

indirecta verificou-se a presença de uma lesão vegetante,<br />

de bordos irregulares, friável, supraglótica que ocupava<br />

a região direita com edema perilesional. Realizou-se<br />

nasofibrolaringoscopia <strong>para</strong> documentar a lesão (figura 1).<br />

Foi solicitada Tomografia Computorizada (TC) cervicofacial<br />

e programada biópsia. A TC evidenciou um processo<br />

expansivo a nível da hipofaringe direita com extensão ao<br />

seio piriforme homolateral e prega ari-epiglótica direita<br />

com extensão inferior à hemilaringe (figura 2).<br />

FIGURA 1<br />

Nasofibrolaringoscopia: Lesão vegetante supraglótica direita.<br />

FIGURA 2<br />

TC cervico-facial- processo expansivo na hipofaringe direita<br />

290 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

A biópsia revelou um epitélio com alterações degenerativas<br />

superficiais de balonização e necrose, discreta<br />

papilomatose e congestão intensa da lâmina própria,<br />

portanto sem aspectos neoplásicos ou de processo<br />

granulomatoso. Entretanto recorre ao serviço de<br />

urgência por agravamento da dispneia com necessidade<br />

de traqueotomia, sob anestesia geral, por iminente<br />

obstrução das vias aéreas. Nessa altura foi repetida a<br />

biópsia (mais alargada). O estudo serológico evidenciou<br />

infecção por VIH e o estudo anatomo-patológico foi<br />

compatível com SK (figura 3). A contagem de linfócitos T<br />

CD4+ era de 3,7células /mm 3 e carga viral VIH-1: 189.244<br />

cópias/ml. Durante o internamento verifica-se a presença<br />

de lesões cutâneas toraco-abdominais esquerdas (figura<br />

4) e nos membros inferiores, compatíveis com SK cutâneo<br />

e a presença de candidíase oral.<br />

FIGURA 3<br />

Estudo histológico por microscopia óptica: Neoplasia<br />

fusocelular vascular. H10-18022x200 Hematoxilina-eosina<br />

FIGURA 4<br />

Lesões cutâneas torácicas violáceas com um padrão de<br />

distribuição linear típico.


O doente foi orientado <strong>para</strong> o Serviço de Infecciologia<br />

onde iniciou tratamento com doxorrubicina lipossómica<br />

e terapêutica antiretrovírica, tendo sido descanulado<br />

com sucesso ao fim do 4º ciclo de tratamento (figura 5).<br />

FIGURA 5<br />

Nasofibrolaringoscopia: Laringe após o 4º ciclo de<br />

quimioterapia<br />

DISCUSSÃO<br />

O SK da cabeça e pescoço está bem descrito na literatura,<br />

sendo o palato e as gengivas locais de envolvimento<br />

frequente. 6 Contudo o SK que resulta em obstrução<br />

das vias aéreas é raro. 5 Mochoulis et al conduziu um<br />

estudo retrospectivo, identificando 17 doentes com<br />

SK laríngeo, verificando que a região supra glótica é a<br />

mais afectada. 3,6,8 Como qualquer patologia laríngea<br />

manifesta-se por disfonia, disfagia ou dispneia podendo<br />

causar obstrução completa. Assim, o SK deverá entrar no<br />

diagnóstico diferencial das lesões laríngeas.<br />

Embora o SK seja reportado em todos os grupos de risco<br />

<strong>para</strong> infecção VIH verifica-se uma predominância nos<br />

homossexuais ou bissexuais do sexo masculino. 4<br />

O SK é muitas vezes assintomático e pode ocorrer em<br />

qualquer estadio da infecção VIH, mas a mortalidade está<br />

aumentada quando há envolvimento visceral e pulmonar.<br />

Consideram-se também factores de mau prognóstico, o<br />

tamanho do tumor, a contagem de linfócitos CD4+ inferior<br />

a 200células/mm 3 e história de infecções oportunistas. 5<br />

O diagnóstico do SK laríngeo é realizado por laringoscopia<br />

e biópsia sendo necessário manter um alto índice de<br />

suspeição, nomeadamente em doentes sem aparentes<br />

factores de risco <strong>para</strong> infecção por VIH. Histologicamente<br />

é caracterizado pela presença de células fusiformes com<br />

uma orientação aleatória, eritrócitos extravasados e a<br />

presença de finas fendas vasculares numa rede reticular<br />

de fibras de colagénio. 6<br />

Nos casos semelhantes ao por nós descrito, pode ser<br />

necessária uma intervenção urgente pelo risco de<br />

obstrução da via aérea. Especula-se que a cricotirotomia<br />

deverá ser preferida dado o risco de hemorragia<br />

associado à traqueotomia, muito embora não exista<br />

grande experiência com a primeira. 8,9,10 Grenberg<br />

et al e Roy et al reportaram casos de pacientes com<br />

SIDA e Kaposi laríngeo cuja traqueotomia resultou em<br />

hemorragia não controlada, <strong>para</strong>gem cardiorespiratória<br />

e morte. 8 Relativamente à biópsia, há autores que não<br />

a recomendam pelo risco de hemorragia associado. 6 A<br />

necessidade de realização de procedimentos invasivos<br />

está associada a uma maior morbilidade e mortalidade. 8<br />

No entanto, no caso clínico relatado não houve qualquer<br />

tipo de intercorrência hemorrágica.<br />

As opções terapêuticas são variadas incluindo: irradiação<br />

local, quimioterapia intralesional ou ablação laser e<br />

terapêutica sistémica, particularmente se a doença<br />

estiver disseminada ou for rapidamente progressiva. 10<br />

A terapêutica local é geralmente usada <strong>para</strong> como<br />

tratamento paliativo da dor e <strong>para</strong> obter melhoria<br />

funcional. 4,6<br />

Por outro lado, nestes doentes é fundamental o<br />

tratamento do VIH propriamente dito. No final<br />

dos anos 90 foram introduzidas duas novas classes<br />

de antiretrovíricos, os análogos dos inibidores da<br />

transcriptase reversa não nucleosídeos e os inibidores<br />

da protease, que melhoraram significativamente a<br />

eficácia deste tipo de terapêutica. 1,6 A combinação de<br />

3 ou mais agentes antiretrovíricos de pelo menos duas<br />

classes diferentes ficaram conhecidos como tratamento<br />

antiretroviral (TARV). Esta combinação leva a uma rápida<br />

diminuição plasmática da carga viral de RNA VIH e um<br />

aumento da contagem de linfócitos CD4+. Está também<br />

associada a supressão da replicação do VIH, redução das<br />

infecções oportunistas, da mortalidade, das neoplasias<br />

associadas a SIDA e do SK laríngeo epidémico. 1,6<br />

Durante a era pré TARV a radioterapia tinha um papel bem<br />

definido no tratamento do SK cutâneo e lesões dolorosas<br />

dos pés, genitais, cavidade oral e conjuntiva. No entanto<br />

é agora menos utilizada como 1ªlinha, tornando-se de<br />

2º ou 3ª linha depois da quimioterapia. 1 Cármen Ares e<br />

Abdelkarim S Allal apresentam um caso de SK laríngeo<br />

com boa resposta à radioterapia, considerando a mesma<br />

uma boa alternativa com elevado sucesso. Os agentes<br />

utilizados <strong>para</strong> quimioterapia incluem a vincristina,<br />

vinblastina, doxorrubicina lipossómica, daunorubicina<br />

lipossómica, paclitaxel e interferão alfa. 1,3<br />

A injecção intralesional de vinblastina foi usada<br />

inicialmente em 1968 por Klein, sendo um método válido<br />

<strong>para</strong> o tratamento de lesões pequenas a moderadas da<br />

orofaringe e laringe. Outras formas de tratamento local<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 291<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


incluem a injecção de interferão alfa, aplicação tópica de<br />

retinóides sintéticos e terapêutica fotodinâmica. 4<br />

Os doentes com SIDA têm uma sobrevida limitada.<br />

O subtipo de SK associado à mesma é a forma mais<br />

agressiva, sendo que habitualmente os doentes morrem<br />

em 15 a 24 meses. 3<br />

Dada a agressividade deste tumor é necessário investir<br />

em novas armas terapêuticas, de forma a garantir o<br />

aumento da taxa de sobrevida destes doentes.<br />

CONCLUSÃO<br />

O sarcoma de Kaposi pode ocorrer em indivíduos<br />

saudáveis ou imunodeprimidos e o seu aparecimento<br />

em locais atípicos é difícil de diagnosticar, requerendo<br />

um alto índice de suspeição. Portanto é necessário<br />

considerá-lo no diagnóstico diferencial de massas<br />

laríngeas. Apesar do risco associado a procedimentos<br />

invasivos como a traqueotomia e a biópsia, estas são de<br />

considerar na evidência de obstrução da via aérea e na<br />

necessidade de um diagnóstico, como ilustrado no caso<br />

clínico apresentado.<br />

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292 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


A técnica endoscópica endonasal no diagnóstico<br />

de lesões da base do crânio: A propósito de um<br />

cordoma do clivus<br />

Intranasal endoscopy diagnosing skull base<br />

pathology: A case of clivus chordoma<br />

Cláudia Reis José Gameiro dos Santos Rosário Figueirinhas Telma Feliciano Cristina Ramos Melo Pires Cecília Almeida e Sousa<br />

RESUMO<br />

A técnica endoscópica endonasal, universalmente implementada<br />

no diagnóstico e tratamento de múltiplas patologias<br />

nasossinusais, surge como uma alternativa válida aos métodos<br />

tradicionais de biópsia da base do crânio. De acordo com a<br />

literatura disponível, apresenta taxas de sucesso comparáveis<br />

ou mesmo superiores às abordagens neurocirúrgicas, com<br />

menor morbilidade, desde que efectuada por equipas<br />

cirúrgicas experientes e após um estudo pré-operatório<br />

cuidadoso. O objectivo deste artigo é a apresentação de um<br />

caso clínico de lesão tumoral do clivus, cuja biópsia realizada<br />

por via endoscópica demonstrou tratar-se de um cordoma,<br />

a mais frequente das neoplasias intrínsecas desta região da<br />

base do crânio.<br />

Palavras-chave: Técnica endoscópica endonasal, Clivus, Cordoma<br />

Cláudia Reis<br />

Interna Complementar do Serviço ORL do Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do<br />

Porto<br />

José Gameiro dos Santos<br />

Assistente Hospitalar Graduado do Serviço ORL do Hospital de Santo António – Centro Hospitalar<br />

do Porto<br />

Rosário Figueirinhas<br />

Assistente Hospitalar do Serviço ORL do Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto<br />

Telma Feliciano<br />

Assistente Hospitalar do Serviço ORL do Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto<br />

Cristina Ramos<br />

Assistente Hospitalar do Serviço Neurorradiologia do Hospital de Santo António – Centro<br />

Hospitalar do Porto<br />

Melo Pires<br />

Assistente Hospitalar do Departamento de Neuropatologia do Hospital de Santo António –<br />

Centro Hospitalar do Porto<br />

Cecília Almeida e Sousa<br />

Directora do Serviço ORL do Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto<br />

Correspondência:<br />

Cláudia Reis<br />

E-mail: claudiapintoreis@gmail.com<br />

Serviço ORL do Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto<br />

Largo Abel Salazar - 4000 Porto<br />

ABSTRACT<br />

The endonasal endoscopic technique is widely used in diagnosis<br />

and treatment of multiple nasosinusal pathology, but also a<br />

viable alternative to the conventional biopsy approaches to<br />

the skull base. According to the previous literature, the success<br />

rates are com<strong>para</strong>ble or even better than the neurosurgical<br />

approaches, with lower morbidity, when performed by skilled<br />

surgeons and with a careful pre-operatory study. This study<br />

presents a clinical case of a neoplastic lesion of the clivus,<br />

accessed endoscopically, which biopsy revealed a chordoma,<br />

the most frequent intrinsic tumor of this skull base area.<br />

Keywords: Endonasal endoscopic technique, Clivus, Chordoma<br />

INTRODUÇÃO<br />

A generalização do uso da endoscopia endonasal a<br />

que se assistiu nas últimas décadas revolucionou o<br />

diagnóstico e terapêutica em Otorrinolaringologia<br />

(ORL), sendo aceite universalmente como um meio<br />

de eleição <strong>para</strong> uma grande variedade de patologia<br />

inflamatória, neoplásica e hemorrágica do nariz e seios<br />

perinasais. No entanto, o seu papel em campos distintos<br />

como procedimentos oftalmológicos (descompressão<br />

orbitária, dacriocistorrinostomia, descompressão do<br />

nervo óptico, entre outros) e na patologia da base do<br />

crânio (meningocelos, meningoencefalocelos, entre outros)<br />

encontra-se em franca expansão.<br />

A abordagem endonasal da base do crânio tem<br />

demonstrado taxas de sucesso comparáveis ou mesmo<br />

superiores às abordagens intracranianas tradicionais 1 ,<br />

com muito menor morbilidade, nomeadamente no que<br />

diz respeito à evicção de craniotomias, preservação do<br />

olfacto e menores tempos de internamento 2 .<br />

Este artigo pretende demonstrar, através da descrição<br />

de um caso clínico, a aplicação desta técnica no<br />

diagnóstico histológico de lesões da base do crânio,<br />

mais concretamente do clivus.<br />

O clivus é uma região composta pela porção dorsal do<br />

osso esfenóide e a porção do osso occipital localizada<br />

anteriormente ao foramen magnum. Assim, é limitado<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 293<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


anteriormente pela clinóide posterior e posteriormente<br />

pela margem do foramen magnum, encontrando-se<br />

na sua superfície dorsal o tronco cerebral e o sistema<br />

vertebrobasilar. Esta região pode ser afectada por<br />

doenças neoplásicas, infecciosas, vasculares, congénitas,<br />

entre outras. No que diz respeito a patologia tumoral<br />

no clivus, importa distinguir as neoplasias intrínsecas,<br />

a mais frequente das quais o cordoma, as neoplasias<br />

extrínsecas, como meningiomas com origem na duramater<br />

da superfície dorsal, e metástases, mais comuns<br />

que os tumores primários, frequentemente com origem<br />

no pulmão, mama, próstata ou rim.<br />

As lesões do clivus podem ser abordadas anteriormente<br />

por duas vias: a transesfenoidal, particularmente útil<br />

em lesões dos terços superior e médio, e a transoral,<br />

mais adequada <strong>para</strong> lesões do terço inferior e quando é<br />

necessária exposição da junção craniovertebral 3 .<br />

Os cordomas correspondem a 1 a 4% de todos os<br />

tumores ósseos malignos, com uma incidência estimada<br />

de


FIGURA 2<br />

Imagens de TC em cortes axiais sem contraste (a), com contraste<br />

(b) e em janela óssea, demonstrando lesão osteolítica do clivus<br />

atingindo o canal do nervo hipoglosso direito; corte sagital (d).<br />

no restante esqueleto (Figura 4). Analiticamente, de<br />

referir hemograma e estudo bioquímico sem alterações,<br />

exames serológicos negativos (nomeadamente VDRL,<br />

rubéola, herpes simplex tipo 1 e 2, herpes zooster,<br />

parvovírus, hepatite A, B e C, citomegalovírus e HIV 1 e<br />

2) e estudo de auto-anticorpos sem alterações.<br />

Foi submetido a biópsia sob anestesia geral, em área<br />

verificada por neuronavegação, com abordagem<br />

endoscópica endonasal, procedendo-se a incisão da<br />

mucosa na linha média da nasofaringe. Foi biopsada<br />

lesão de aspecto irregular e friável, tendo o exame<br />

histológico revelado um pequeno foco de proliferação<br />

linfóide, compatível com linfoma de células B (Figura<br />

5). No entanto, pela escassez de material enviado, a<br />

Anatomia Patológica sugeria estudo analítico e eventual<br />

repetição de biópsia. O estudo imunofenotípico<br />

dos linfócitos do sangue periférico não demonstrou<br />

alterações sugestivas de doença linfoproliferativa, pelo<br />

que o doente foi encaminhado <strong>para</strong> nova biópsia. A<br />

abordagem foi igualmente endoscópica endonasal, mas<br />

desta vez mais inferiormente, com remoção da mucosa<br />

da parede posterior da orofaringe retropalatal, e em<br />

maior profundidade, com recurso a escopro. O exame<br />

anatomo-patológico foi conclusivo <strong>para</strong> cordoma (Figura<br />

6a e b).<br />

FIGURA 3<br />

Imagens de RM em T1 (a) e T2 (b) e (c), demonstrado extensão inferior até ao plano do arco anterior de C1 e extremo superior da<br />

apófise odontóide.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 295<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


FIGURA 4<br />

Cintigrafia óssea de corpo inteiro, excluindo lesões síncronas ou secundárias<br />

FIGURA 5<br />

Pequena ampliação (coloração hematoxilina-eosina) da<br />

1ª biópsia, demonstrando apenas infiltrado inflamatório<br />

linfocitário<br />

296 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

FIGURA 6<br />

Pequena (a) e grande ampliação (b) (coloração hematoxilinaeosina)<br />

da 2ª biópsia, com evidência de neoplasia.


DISCUSSÃO<br />

O caso clínico descrito pretende demonstrar uma das<br />

possíveis aplicações da endoscopia nasal, cada vez mais<br />

um instrumento indispensável na prática clínica em<br />

ORL.<br />

Os cordomas correspondem a apenas 1% de todos<br />

os tumores intracranianos, sendo a localização<br />

mais frequente a sincondrose esfenooccipital. São<br />

diagnosticados em qualquer idade, mas geralmente em<br />

adultos, com pico de incidência na quarta década de vida.<br />

Parece haver uma maior incidência no sexo masculino<br />

(2:1). Clinicamente, são tumores de crescimento lento<br />

e muitas vezes assintomáticos, podendo manifestar-se<br />

com cefaleias, algias faciais, parestesias, diplopia ou<br />

outros défices neurológicos.<br />

Apesar das características acima descritas, a história<br />

clínica e os dados imagiológicos deixam muitas vezes<br />

por esclarecer a natureza da lesão, impondo-se um<br />

diagnóstico histológico, que, como foi demonstrado,<br />

pode ser conseguido por via endoscópica endonasal,<br />

com ou sem auxílio da neuronavegação 8 . A literatura<br />

disponível revela que se trata de uma abordagem<br />

menos agressiva, com menor morbilidade e tempo de<br />

internamento, passível de se efectuar em segurança<br />

com um estudo pré-operatório cuidado e por uma<br />

equipa cirúrgica experiente 9 .<br />

O caso clínico descrito corresponde a um caso típico<br />

de cordoma do clivus, com uma história insidiosa de<br />

cefaleias e lesão do XII par craniano, tendo decorrido<br />

um período de cerca de 15 meses entre o início dos<br />

sintomas e a confirmação do diagnóstico. Este período<br />

é consideravelmente inferior ao descrito na literatura,<br />

com tempo-médio <strong>para</strong> o diagnóstico de 25 meses,<br />

sendo que, em séries publicadas antes da década de<br />

1980, se descrevem períodos de cerca de 40 meses6.<br />

Esta redução do tempo <strong>para</strong> o diagnóstico é um<br />

mais que provável reflexo da melhoria dos métodos<br />

de diagnóstico, nomeadamente TC e RM, uma vez<br />

que a procura de cuidados médicos continua a ser<br />

relativamente tardia, dado o carácter insidioso e muitas<br />

vezes pouco sintomático desta patologia.<br />

A abordagem da face anterior do clivus pode ser feita<br />

por duas vias: a transesfenoidal, <strong>para</strong> lesões dos terços<br />

superior e médio, e a transoral, mais adequada <strong>para</strong><br />

lesões do terço inferior e quando é necessária exposição<br />

da junção craniovertebral. No caso descrito, ambas as<br />

biópsias foram realizadas sob endoscopia endonasal,<br />

diferindo fundamentalmente no nível de abordagem<br />

da parede posterior da faringe: nasofaringe na primeira<br />

biópsia, não tendo havido uma adequada colheita de<br />

material; orofaringe retropalatal na segunda biópsia,<br />

que se revelou conclusiva, facto que poderá ter relação<br />

com a extensão significativa da lesão no sentido caudal<br />

(até ao plano do arco anterior de C1 e extremo superior<br />

da apófise odontóide).<br />

De referir ainda a importância do estudo do restante<br />

esqueleto, neste caso pela realização de cintigrafia<br />

óssea de corpo inteiro, que permitiu excluir lesões<br />

síncronas, concretamente na região sacro-coccígea,<br />

que embora extremamente infrequentes, se encontram<br />

descritas na literatura 10 .<br />

Em conclusão, a técnica endoscópica endonasal é uma<br />

alternativa válida aos métodos tradicionais de biópsia<br />

da base do crânio, com taxas de sucesso comparáveis ou<br />

mesmo superiores e com menor morbilidade, desde que<br />

efectuada por equipas cirúrgicas experientes e após um<br />

estudo pré-operatório cuidadoso. Na patologia tumoral<br />

do clivus, a escolha da via de abordagem deverá reflectir<br />

a situação anatómica em causa, nomeadamente no<br />

que diz respeito à extensão caudal. Perante a suspeita<br />

clínica de cordoma do clivus, está formalmente indicado<br />

o estudo imagiológico da totalidade do esqueleto pela<br />

possibilidade, embora infrequente, de existência de<br />

lesões síncronas.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

1 Schlosser, R. J., Kennedy, D. W., Nasal endoscopy, capítulo 105 em<br />

Scott Brown’s Otorhinolaryngology, Head and Neck Surgery, Sétima<br />

Edição, p. 1344-1354<br />

2 Scholz, M. et al., Skull base approaches in neurosurgery, Head &<br />

Neck Oncology 2010, 2, p. 9-16<br />

3 Jackler, R.K., Neurotologic skull base surgery, capítulo 65 em Lange,<br />

p. 865-868<br />

4 Chugh, R. et al., Chordoma: the nonsarcoma primary bone tumor,<br />

The Oncologist, 2007; 12, p. 1344-1350<br />

5 Erdem. E. et al., Comprehensive review of intracranial chordoma,<br />

Radiographics, 2003; 23, p. 995-1009<br />

6 Harbour, J. W. et al., Clivus chordoma: a report of 12 recent cases<br />

and review of the literature, Skull Base Surgery, 1991;1, p. 200-206<br />

7 McMaster, M.L. et al., Chordoma: incidence and survival patterns in<br />

the United States, 1973-1995. Cancer Causes Control 2001; 12, p.1-11<br />

8 Eliashar, R. et al., Image guided navigation system—a new<br />

technology for complex endoscopic endonasal surgery, Postgrad Med<br />

J, 2003;79, p. 686–690<br />

9 Naokatsu, S. et al., Endoscopic endonasal pituitary and skull base<br />

surgery, Neurol Med Chir, 2010; 50, p. 756-764<br />

10 Shahzada, K.A. et al., Clivus chordoma: is it enough to image the<br />

primary site?, Skull Base, 2010; 20, p. 111-113<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 297<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


298<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Fístulas espontâneas de líquido cefalorraquidiano do<br />

ouvido médio – A propósito de um caso clínico.<br />

Spontaneous cerebrospinal fluid otorrhea – Case<br />

report and literature revision<br />

Eurico Costa Ana Guimarães Filipe Freire V. Gabão Veiga<br />

RESUMO<br />

Relata-se o caso clínico de mulher de 66 anos, referenciada<br />

à consulta de Otorrinolaringologia do Hospital Prof. Doutor<br />

Fernando Fonseca por acufeno e hipoacusia, bilaterais,<br />

mais intensos à direita, com vários anos de evolução mas<br />

com agravamento nos últimos dois. A observação e exames<br />

audiométricos eram sugestivos de derrame no ouvido médio,<br />

com fossas nasais e rinofaringe sem alterações. Foi submetida<br />

a miringotomia com intenção de colocação de tubo de<br />

ventilação transtimpânico. Intra-operatoriamente constatou-<br />

-se a drenagem abundante de líquido límpido e incolor tipo<br />

“água de rocha”, que rapidamente preenchia o canal auditivo<br />

externo.<br />

Foi colhida amostra do líquido <strong>para</strong> análise bioquímica,<br />

incluindo β2-transferrina e tamponou-se o canal<br />

auditivo externo. O resultado foi compatível com líquido<br />

cefalorraquidiano. Realizou tomografia computorizada de<br />

ouvidos e ressonância magnética de crânio, verificandose<br />

erosão inequívoca do tegmen á direita, sem sinais de<br />

meningoencefalocelo. Foi proposta correcção cirúrgica da<br />

fístula.<br />

Os autores propõem-se realizar uma breve revisão bibliográfica<br />

desta patologia.<br />

Palavras-chave: fístulas espontâneas, líquido cefalorraquidiano,<br />

ouvido médio.<br />

Eurico Costa<br />

Interno de Formação Específica em Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Hospital<br />

Prof. Doutor Fernando Fonseca.<br />

Ana Guimarães<br />

Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Hospital Prof. Doutor<br />

Fernando Fonseca.<br />

Filipe Freire<br />

Assistente Hospitalar Graduado de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Hospital<br />

Prof. Doutor Fernando Fonseca.<br />

V. Gabão Veiga<br />

Director de Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do Hospital Prof. Doutor<br />

Fernando Fonseca.<br />

Correspondência:<br />

Eurico Humberto Rodrigues da Costa<br />

Morada: Rua Arminda Correia N.º 5, 5.ºD, 1750-183 Lisboa<br />

Telefone: 916717909<br />

E-mail: euricosta@gmail.com<br />

ABSTRACT<br />

The authors present the case report of a 66 years old female<br />

patient, referred to our department at Hospital Prof. Doutor<br />

Fernando Fonseca for tinnitus and hearing loss, bilateral,<br />

more intense on the right side, with several years of evolution<br />

but worse in the last two years. Physical examination and<br />

audiometric tests were suggestive of otitis media with effusion.<br />

Nasal cavity and nasopharynx were normal. She underwent<br />

myringotomy for transtympanic ventilation tube placement.<br />

Immediately after myringotomy abundant drainage of a clear,<br />

colorless liquid was found, quickly filling the external auditory<br />

canal. A fluid sample was collected for biochemical analysis,<br />

including β2-transferrin, and the external auditory canal was<br />

packed. The result was consistent with cerebrospinal fluid. A<br />

computed tomography and magnetic resonance imaging were<br />

performed and a defect on the right temporal bone tegmen<br />

was found, without signs of meningoencephalocele. We<br />

proposed surgical repair of the defect.<br />

Keywords: spontaneous fistulae; cerebrospinal fluid; middle<br />

ear<br />

INTRODUÇÃO<br />

As fístulas de líquido cefalorraquidiano (LCR) do<br />

ouvido médio e mastóide ocorrem quando defeitos no<br />

pavimento ósseo e dura-máter da fossa média põem em<br />

comunicação o espaço sub-aracnoideu, preenchido por<br />

LCR, com os espaços pneumatizados do osso temporal 1 .<br />

As causas mais frequentes de fístulas são as iatrogénicas<br />

e as traumáticas, embora também sejam possíveis<br />

causas neoplásicas, infecciosas e congénitas; otorreia<br />

espontânea de LCR refere-se aos casos em que nenhuma<br />

destas etiologias pôde ser encontrada 2 .<br />

Apesar da designação “otorreia espontânea de LCR” ser<br />

normalmente adoptada <strong>para</strong> descrever este fenómeno,<br />

uma designação mais precisa seria “efusão espontânea<br />

de LCR” 3 uma vez que a otorreia só estará presente se<br />

coexistir um defeito na membrana timpânica ou canal<br />

auditivo externo.<br />

Dois subgrupos distintos de doentes podem apresentar<br />

otorreia espontânea de LCR: Crianças com anomalias<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 299<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


congénitas do osso temporal e adultos de meia-idade,<br />

ou mais velhos, com efusão do ouvido médio. A otorreia<br />

de LCR congénita é rara e a sua primeira manifestação<br />

é muitas vezes uma meningite numa criança com<br />

hipoacusia neurossensorial profunda pré-existente.<br />

Estas crianças apresentam alterações do osso temporal<br />

como displasia de Mondini, platina do estribo deiscente,<br />

defeito na extremidade lateral do canal auditivo<br />

interno, aqueduto coclear amplamente patente, defeito<br />

na fissura de Hyrtl ou canal de Falópio deiscente. O<br />

segundo grupo de doentes consiste essencialmente em<br />

mulheres de meia-idade, ou mais velhas, com excesso<br />

de peso ou obesidade e que geralmente apresentam<br />

sinais e sintomas de efusão do ouvido médio 1 .<br />

Os mecanismos fisiopatológicos não estão ainda<br />

completamente esclarecidos mas defeitos congénitos do<br />

osso temporal, granulações aracnoideias e aumento da<br />

pressão intra-craniana parecem estar frequentemente<br />

implicados no desenvolvimento de fístulas espontâneas<br />

de LCR.<br />

Ao contrário das fístulas com origem traumática,<br />

as fístulas espontâneas raramente respondem à<br />

terapêutica médica conservadora pelo que, atendendo<br />

ao risco significativo de complicações infecciosas intracranianas,<br />

o encerramento cirúrgico está quase sempre<br />

indicado.<br />

A propósito de um caso clínico de fístula espontânea de<br />

LCR do ouvido médio no adulto os autores propõem-se<br />

fazer uma breve revisão bibliográfica da apresentação<br />

clínica, mecanismos fisiopatológicos, diagnóstico e<br />

tratamento desta patologia.<br />

DESCRIÇÃO DO CASO<br />

Doente de 66 anos, raça caucasiana, sexo feminino,<br />

doméstica, casada, dois filhos. Antecedentes pessoais<br />

FIGURA 1<br />

300 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

de hipertensão arterial, patologia osteoarticular<br />

degenerativa, obesidade mórbida – índice de massa<br />

corporal 42 kg/m 2 – e depressão.<br />

Sem antecedentes cirúrgicos. Medicação habitual:<br />

ácido acetisalicílico, diltiazem, indapamida, irbesartan,<br />

mexazolan e nimesulida.<br />

A doente recorreu à consulta externa de<br />

Otorrinolaringologia (ORL) do Hospital Prof. Dr.<br />

Fernando Fonseca por hipoacusia e acufeno pulsátil<br />

bilateral, embora com maior intensidade à direita,<br />

com cerca de 30 anos de evolução mas com notório<br />

agravamento nos últimos dois anos, sobretudo do<br />

lado direito. Ocasionalmente coexistiam queixas de<br />

plenitude auricular direita e cefaleias. Sem outras<br />

queixas, nomeadamente tontura ou vertigem.<br />

A otoscopia era compatível com a presença de efusão<br />

no ouvido médio. A rinoscopia e nasofibroscopia não<br />

revelaram alterações. Foi diagnosticada otite média<br />

com efusão direita, medicada com anti-histamínico<br />

oral e corticosteroide tópico nasal. O audiograma<br />

e timpanograma eram compatíveis com o mesmo<br />

diagnóstico (figuras 1 e 2). Em consulta de reavaliação,<br />

4 meses depois, não se verificava melhoria clínica pelo<br />

que foi proposta miringotomia com colocação de tubo<br />

de ventilação transtimpânico (TVT) à direita. Intraoperatoriamente,<br />

imediatamente após a miringotomia<br />

direita, constatou-se drenagem abundante de líquido<br />

límpido, incolor, tipo “água de rocha”, que rapidamente<br />

preenchia todo o canal auditivo externo. Colheu-se<br />

amostra do líquido <strong>para</strong> análise bioquímica, incluindo<br />

β 2 -transferrina e tamponou-se o canal auditivo externo.<br />

Nesse mesmo dia realizou tomografia computorizada<br />

(TC) de ouvidos de alta resolução sem contraste e<br />

ressonância magnética nuclear (RMN) de crânio. A TC<br />

revelou um defeito ósseo do tegmen mastoideu direito,


FIGURA 2<br />

com cerca de 9x6 mm, em comunicação com antro<br />

mastoideu e cujo limite anterior se estendia pelo tegmen<br />

timpânico até próximo da articulação incudo-maleolar<br />

(figuras 3 e 4); coexistia opacificação otomastoideia<br />

global à direita por componente com densidade de<br />

partes moles e eventual deiscência do canal semicircular<br />

superior direito; à esquerda o tegmen era de<br />

espessura muito reduzida mas sem aparentes erosões/<br />

efracções e a permeabilidade otomastoideia estava<br />

mantida; cápsulas óticas, cadeias ossiculares e canais<br />

auditivos internos normais bilateralmente. A RMN não<br />

FIGURAS 3 e 4<br />

apresentava sinais de mielomeningocelo, sela turca<br />

vazia, lesões ocupando espaço ou outras alterações<br />

valorizáveis. A determinação de β 2 -transferrina e<br />

restantes análises bioquímicas foram compatíveis<br />

com líquido cefalorraquidiano. Feito o diagnóstico de<br />

fístula de LCR, após verificação do encerramento da<br />

miringotomia, a doente teve alta com referenciação<br />

a consulta externa de ORL no intuito de programar<br />

o encerramento cirúrgico da fístula. Após a alta<br />

abandonou a consulta sem motivo aparente, tendo<br />

sido contactada telefonicamente cerca de 6 meses<br />

depois. Com dificuldade conseguiu-se que a doente<br />

comparecesse na consulta externa, onde foi reforçada a<br />

necessidade de encerramento cirúrgico da fístula dado<br />

o risco considerável de complicações infecciosas intracranianas.<br />

A doente, no entanto, recusou peremptoriamente<br />

a cirurgia.<br />

DISCUSSÃO<br />

O conceito de fístula espontânea de LCR foi descrito<br />

pela primeira vez por Thomson em 1899 numa criança<br />

de 10 anos 4 . O primeiro caso de efusão e otorreia<br />

espontânea de LCR no adulto foi publicado em 1913 5 .<br />

Numa revisão da literatura Fergunson et al 6 identificou<br />

um total de 29 casos reportados no adulto até 1986. Em<br />

2005 Leonetti et al 7 publicou um estudo envolvendo 51<br />

casos de fístulas espontâneas transtemporais de LCR. Só<br />

nos últimos 10 anos foram descritos mais de 150 casos<br />

de fístulas espontâneas no adulto. Face a este aumento<br />

constante do número de casos reportados, facilmente<br />

se depreende que estaremos perante uma patologia<br />

mais frequente do que inicialmente imaginado. Este<br />

aumento estará mais provavelmente relacionado com<br />

a crescente consciência e reconhecimento da patologia<br />

pelos otorrinolaringologistas, auxiliados por mais e<br />

melhores exames complementares de diagnóstico, do<br />

que a um real aumento na incidência da doença.<br />

O mecanismo fisiopatológico não se encontra ainda<br />

completamente esclarecido. Fazendo a média<br />

dos resultados obtidos em quatro estudos com<br />

autópsias, que em conjunto analisaram um total de<br />

241 ossos temporais, conclui-se que defeitos ósseos<br />

do tegmen estão presentes em cerca de 25% dos<br />

temporais 6,8,9,10 . Esta elevada prevalência de defeitos<br />

ósseos, contudo, não se coaduna com a raridade das<br />

otorreias espontâneas de LCR, pelo que mecanismos<br />

fisiopatológicos adicionais terão inevitavelmente<br />

de estar presentes, levando à rotura da dura-máter<br />

adjacente ao defeito ósseo. Uma premissa amplamente<br />

aceite é a de que anos de normal pulsação de LCR,<br />

em zonas com defeitos ósseos congénitos, levam ao<br />

alargamento desses defeitos e enfraquecimento da<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 301<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


dura-máter nessas zonas com consequente formação<br />

de fístulas de LCR e/ou meningoencefalocelos. Esta<br />

teoria é suportada pela constatação de que as fístulas<br />

espontâneas de LCR do tegmen surgem, na esmagadora<br />

maioria das vezes, apenas após os 55 anos.<br />

Outra teoria, inicialmente elaborada por Gacek 11 et al,<br />

envolve a presença de granulações aracnoideias com<br />

localizações ectópicas. As granulações aracnoideias<br />

são dilatações de minúsculas projecções da aracnóide,<br />

as vilosidades aracnoideias, cujo centro se encontra<br />

preenchido por LCR e que normalmente se projectam<br />

no interior dos seios venosos. O LCR passa do centro<br />

das vilosidades aracnoideias <strong>para</strong> os seios venosos<br />

intradurais permitindo, desta forma, a reabsorção do<br />

LCR e a manutenção de uma pressão intra-craniana<br />

normal. Por vezes, durante o desenvolvimento, em vez<br />

da normal localização nos seios venosos, as granulações<br />

ficam em contacto directo com osso. Ao longo dos anos<br />

a pressão directa exercida no osso pela pulsação do<br />

LCR nas granulações aracnoideias resulta em erosões<br />

e defeitos ósseos e no enfraquecimento da duramáter<br />

nestes locais, culminando em fístulas de LCR e/<br />

ou meningoencefalocelos. O facto de o temporal ser<br />

pneumatizado abaixo da fina lâmina de osso do tegmen<br />

da fossa média explica a localização mais frequente<br />

de fístulas espontâneas de LCR na fossa média em<br />

com<strong>para</strong>ção com a posterior.<br />

Numa linha de pensamento semelhante, uma elevação<br />

da pressão intra-craniana, independentemente da sua<br />

etiologia, parece estar associada a fístulas espontâneas<br />

de LCR em ossos temporais com defeitos pré-existentes<br />

ou granulações aracnoideias. Vários estudos recentes<br />

constataram que a maior parte dos doentes com efusão<br />

espontânea de líquor são obesos de meia-idade, sendo<br />

as mulheres mais afectadas que os homens 12,13,14 .<br />

A doente do nosso caso clínico apresentava estas<br />

três características. Schlosser et al 15,16 constatou que<br />

estes três aspectos eram comuns aos doentes com<br />

hipertensão intra-craniana idiopática ou benigna. Esta<br />

é definida pela presença de hipertensão intra-craniana<br />

na ausência de lesões ocupando espaço ou anomalias<br />

na composição do LCR e manifesta-se por cefaleias,<br />

acufenos pulsáteis, alterações visuais com papiledema<br />

e disfunções endócrinas. A obesidade é, por si só, um<br />

factor etiológico importante de hipertensão intracraniana<br />

benigna uma vez que aumenta a pressão intraabdominal,<br />

diminui o retorno venoso e desta forma<br />

aumenta a pressão intra-craniana. Imagiologicamente<br />

a manifestação mais frequente de hipertensão intracraniana<br />

idiopática é a sela turca vazia ou parcialmente<br />

vazia. Alguns estudos 15,16,17 demonstraram uma estreita<br />

relação entre fístulas espontâneas de LCR do ouvido<br />

302 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

ou nariz e a presença de sela turca vazia na RMN<br />

encefálica. Sendo certo que nem todos os doentes<br />

com fístulas espontâneas de líquor terão hipertensão<br />

intra-craniana, esta deverá ser sempre pesquisada.<br />

Em casos suspeitos deve-se realizar RMN encefálica<br />

<strong>para</strong> excluir leões ocupando espaço ou sela turca<br />

vazia. A RMN efectuada à doente no nosso caso clínico<br />

não apresentava qualquer alteração compatível com<br />

hipertensão intra-craniana e a fundoscopia não revelou<br />

papiledema; contudo, a presença de acufeno pulsátil,<br />

cefaleia ocasional e obesidade levou a que fosse<br />

equacionada essa possibilidade.<br />

O diagnóstico de efusão espontânea de LCR começa<br />

com um elevado grau de suspeição clínica, suportado<br />

por uma anamnese e exame objectivo rigorosos. Os<br />

sintomas mais frequentes são hipoacusia e sensação de<br />

plenitude auricular. Cefaleias e acufenos pulsáteis são<br />

também muitas vezes referidos. O líquor pode drenar<br />

via trompa de Eustáquio <strong>para</strong> a nasofaringe e originar<br />

queixas de rinorreia serosa intermitente e rinorráquia<br />

posterior. Mais raramente no adulto do que na criança,<br />

a primeira manifestação de fístula de líquor pode ser<br />

uma meningite ou meningoencefalite.<br />

Enquanto a hipoacusia, de condução ou mista no adulto<br />

e neurossensorial na criança, pode ser facilmente<br />

detectada com recurso a um simples diapasão ou<br />

audiometria, as alterações à otoscopia de fístulas<br />

de LCR são muito subtis. A presença de líquido no<br />

ouvido médio é muitas vezes ignorada na otoscopia<br />

devido à transparência da efusão de LCR, dificultando<br />

a identificação de níveis líquidos ou bolhas 3 . Se, ao<br />

atrás referido, acrescentarmos a frequente ausência de<br />

eritema, retracção ou outras alterações da membrana<br />

timpânica, facilmente se compreende que a grande<br />

maioria das otoscopias seja interpretada como normal 3 .<br />

As fístulas espontâneas de LCR do ouvido médio do<br />

adulto são frequentemente confundidas com otites<br />

médias com efusão. Alguns autores defendem que em<br />

qualquer paciente com mais de 50 anos e otite média<br />

com efusão recorrente deve suspeitar-se de fístula de<br />

LCR do ouvido médio até prova em contrário 18 .<br />

O diagnóstico de fístula de líquor pode tornar-se<br />

evidente apenas após realização de miringotomia. Em<br />

fístulas de baixo débito e/ou intermitentes o diagnóstico<br />

torna-se ainda mais difícil, contudo, a persistência de<br />

drenagem de líquido claro e fino, seroso e não mucoso<br />

deve levantar a suspeita de fístula de LCR. Nestes<br />

casos a identificação de β 2 - transferrina na otorreia é<br />

particularmente importante, sendo um exame com<br />

elevada sensibilidade e especificidade <strong>para</strong> LCR. A<br />

determinação da concentração de glicose na otorreia<br />

apresenta muitos factores de confundimento pelo que


a sua utilidade clínica é reduzida.<br />

Também no nosso caso clínico a sintomatologia,<br />

otoscopia e dados audiométricos da doente levaram<br />

ao diagnóstico errado de otite média com efusão à<br />

direita. O diagnóstico de fístula de líquor só foi obtido<br />

após miringotomia, com intuito de colocar tubo de<br />

ventilação transtimpânico, perante a observação da<br />

saída de líquido tipo “água de rocha”, muito abundante<br />

e que rapidamente preenchia o canal auditivo externo.<br />

A posterior determinação de β 2 -transferina confirmou<br />

tratar-se de LCR.<br />

Apesar do diagnóstico de fístula de LCR ser<br />

primariamente clínico, a β 2 - transferrina, a radiologia<br />

e a medicina nuclear podem ajudar na confirmação do<br />

diagnóstico, no planeamento cirúrgico e na exclusão de<br />

múltiplos defeitos ou envolvimento bilateral.<br />

Stone et al 19 comparou a utilidade da TC de alta resolução<br />

sem contraste com a cisternografia por TC com contraste<br />

e cisternografia com radionuclídeos. Stone concluiu que<br />

ambos os métodos de cisternografia não revelaram<br />

qualquer defeito que não tivesse sido previamente<br />

identificado por TC de alta resolução; os achados intraoperatórios<br />

apresentavam uma boa correlação com<br />

os previstos por TC de alta resolução. Desta forma,<br />

atendendo à natureza invasiva da cisternografia, Stone<br />

recomenda o seu uso apenas nos casos em que nenhum<br />

defeito tenha sido identificado por TC de alta resolução<br />

mantendo-se incerto o diagnóstico ou quando existe<br />

suspeita de envolvimento bilateral ou de múltiplos<br />

defeitos requerendo uma abordagem cirúrgica mais<br />

complexa. Este e outros autores 18,19,20 consideram a<br />

TC de alta resolução muito sensível na demonstração<br />

de defeitos ósseos responsáveis por fístulas de LCR<br />

e recomendam-na como método custo-efectivo na<br />

identificação do local da lesão. Sugerem o recurso<br />

pré-operatório a RMN apenas em casos suspeitos de<br />

meningoencefalocelo, nos quais o cirurgião considere<br />

ser útil definir a extensão da herniação cerebral,<br />

analisar a viabilidade do conteúdo herniado ou em<br />

que haja suspeita de compilações intra-cranianas 18,19,20 .<br />

Adicionalmente, a RMN pode identificar uma sela turca<br />

vazia que, como já referido, se encontra associada a<br />

hipertensão intra-craniana benigna.<br />

A nossa doente realizou TC de alta resolução de ouvidos<br />

e RMN de crânio. A TC identificou, de forma inequívoca,<br />

o defeito ósseo do tegmen direito, pelo que se optou<br />

por não realizar cisternografia. Como curiosidade, é<br />

de referir que os exames imagiológicos mencionavam<br />

não ser possível excluir eventual deiscência do canal<br />

semi-circular superior sem que, no entanto, a doente<br />

apresentasse qualquer sintomatologia vertiginosa.<br />

Nahas et al 3 observou, em 15 doentes com fístulas<br />

espontâneas de LCR, vários graus de estreitamento da<br />

cápsula ótica envolvendo o canal semi-circular superior<br />

sem que nenhum doente, como no nosso caso clínico,<br />

apresentasse fenómeno de Tullio ou outro sinal ou<br />

sintoma de deiscência do canal semi-circular superior.<br />

Nos doentes deste estudo, à semelhança do nosso<br />

caso clínico, a arquitectura óssea do labirinto não<br />

apresentava nenhuma outra alteração.<br />

Em termos cirúrgicos, as vias de abordagem mais<br />

usadas no encerramento de fístulas de LCR do ouvido<br />

médio e mastóide são a via transmastoideia e a via da<br />

fossa média, sendo por vezes usada uma abordagem<br />

combinada das duas técnicas.<br />

A via da fossa média, apesar de tecnicamente mais<br />

desafiante, possibilita o melhor acesso à totalidade do<br />

pavimento da fossa média, com boa exposição do tegmen<br />

anterior, permitindo identificar e re<strong>para</strong>r defeitos<br />

múltiplos, não-contíguos e por vezes assintomáticos.<br />

Contudo, esta via pode estar associada a complicações<br />

neurológicas como convulsões ou enfartes venosos<br />

relacionados com a veia de Labbé 18 .<br />

A abordagem transmastoideia tem a vantagem de<br />

permitir o acesso ao pavimento da fossa posterior<br />

e tegmen mastoideu evitando uma craniotomia e<br />

retracção do lobo temporal. Contudo não é a via ideal<br />

<strong>para</strong> o tratamento de defeitos grandes (superiores a 2 cm)<br />

defeitos múltiplos ou que se estendam anteriormente<br />

em direcção ao ápex petroso 18 . Quando o defeito se<br />

localiza no tegmen timpânico a cadeia ossicular pode<br />

impedir a correcta exposição e re<strong>para</strong>ção do defeito por<br />

via transmastoideia podendo ser necessário remover,<br />

pelo menos parcialmente, a cadeia ossicular, o que se<br />

traduzirá numa perda auditiva de condução, mesmo<br />

que se proceda à reconstrução da cadeia. Esta situação<br />

pode ser evitada com recurso à via da fossa média.<br />

Os materiais usados na re<strong>para</strong>ção das fístulas de líquor<br />

são múltiplos e variados, desde o simples material de<br />

sutura até enxertos biológicos de dura-máter obtidos<br />

a partir de colagénio bovino (Duragen ®, Duraform ®)<br />

passando pela cola de fibrina, cimento de hidroxiapatite,<br />

cera de osso e vários materiais autólogos como<br />

osso, cartilagem, músculo, gordura, fáscia temporalis,<br />

pericôndrio, entre outros.<br />

Savva et al 21 , num estudo retrospectivo de 92 fístulas<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 303<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


304<br />

REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Enxaqueca vestibular<br />

Migrainous vertigo<br />

João Martins Vítor Certal Tiago Santos Hugo Amorim Carlos Carvalho<br />

RESUMO<br />

A enxaqueca vestibular, considerada um sintoma vestibular<br />

da enxaqueca, é uma entidade clínica heterogénea cuja<br />

apresentação mais frequente é a crise vertiginosa recorrente.<br />

O diagnóstico baseia-se numa história clínica detalhada e num<br />

elevado índice de suspeição. Deve fazer parte do diagnóstico<br />

diferencial das síndromes vertiginosas recorrentes. Os<br />

tratamentos recomendados baseiam-se na identificação e<br />

evicção dos factores precipitantes e em fármacos usados na<br />

profilaxia da enxaqueca.<br />

Os autores apresentam um caso clínico de uma doente do<br />

sexo feminino, com 43 anos de idade, com antecedentes de<br />

enxaqueca e uma história de crises de vertigem rotatória<br />

recorrente de longa data, desencadeadas e/ou exacerbadas<br />

por factores precipitantes e acompanhadas por outros<br />

sintomas somato-sensoriais. Foi tratada eficazmente com<br />

evicção de factores precipitantes e medicação profilática da<br />

enxaqueca.<br />

Palavras-chave: vertigem; enxaqueca; disfunção vestibular<br />

João Martins<br />

Interno do Serviço de ORL do Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga (CHEDV)<br />

Vítor Certal<br />

Interno do Serviço de ORL do Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga (CHEDV)<br />

Tiago Santos<br />

Interno do Serviço de ORL do Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga (CHEDV)<br />

Hugo Amorim<br />

Assistente Hospitalar do Serviço de ORL do CHEDV<br />

Carlos Carvalho<br />

Director de Serviço de ORL do CHEDV<br />

Correspondência:<br />

João Diogo Martins<br />

Tlf: 965349916<br />

martins.jd@gmail.com<br />

ABSTRACTS<br />

Migrainous vertigo, assumed to be a migraine vestibular<br />

symptom, is a heterogeneous clinical entity which typically<br />

presents as recurrent vertigo attacks. Diagnosis is made with a<br />

careful history and examination and a high index of suspicion.<br />

It should be considered in the differential diagnosis of recurrent<br />

vertigo syndromes. Treatment recommendations are based<br />

on trigger identification and avoidance, and prophylactic<br />

migraine medications.<br />

The authors report a case of a 43-year-old woman, with<br />

history of migraine headaches, and a prolonged history of<br />

recurrent rotational vertigo attacks, provoked or exacerbated<br />

by identifiable triggers and accompanied by other somatosensorial<br />

symptoms. The patient was effectively treated with<br />

trigger avoidance and migraine prophylactic medication.<br />

Keywords: vertigo; migraine; vestibular dysfunction<br />

INTRODUÇÃO<br />

A vertigem é uma queixa frequente na prática clínica.<br />

Segundo estudos epidemiológicos, aproximadamente<br />

23% da população adulta, em algum momento da vida,<br />

sofrerá de algum tipo de perturbação do equilíbrio<br />

(vestibular ou não vestibular) 1 .<br />

A enxaqueca é uma síndrome clínica caracterizada<br />

por cefaleias hemicranianas pulsáteis, episódicas,<br />

associadas a outros sintomas como náuseas, aumento<br />

da sensibilidade à luz, som e movimentos cefálicos.<br />

Geralmente encarada como um problema de cefaleias,<br />

nos últimos anos, tem-se tornado cada vez mais evidente<br />

que as cefaleias podem não ser o sintoma dominante, mas<br />

sim queixas de vertigem / desequilíbrio, otalgia, sensação<br />

de plenitude auricular, pressão facial ou hipoacúsia<br />

flutuante 2 . Apresenta uma prevalência de 4-6,5% no sexo<br />

masculino e com uma prevalência aproximada de 20%<br />

em mulheres entre os 30 e 49 anos de idade. 3-5<br />

Diversos estudos demonstraram que existe uma<br />

associação frequente entre vertigem e enxaqueca, ou<br />

seja, as queixas de vertigem são comuns em doentes<br />

migranosos, e a enxaqueca é uma queixa frequente em<br />

doentes com vertigens 6,7,8 , principalmente entre doentes<br />

com vertigem não classificável8.<br />

Apesar da frequente associação entre vertigem e<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 305<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


enxaqueca, ainda não existe uma nomenclatura uniforme<br />

<strong>para</strong> descrever esta entidade. Vertigem migranosa 7 ,<br />

vestibulopatia relacionada com enxaqueca 9 , enxaqueca<br />

vestibular 10 e desequilíbrio associado a enxaqueca 11 são<br />

algumas das designações utilizadas.<br />

O objectivo deste artigo é salientar uma entidade clínica<br />

que tem ganho relevo no diagnóstico diferencial das<br />

síndromes vertiginosas recorrentes, e apresentar um<br />

caso clínico exemplificativo.<br />

FIGURA 1<br />

Resultados das provas rotatórias pendulares<br />

306 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

CASO CLÍNICO<br />

H.V., sexo feminino, caucasiana, 43 anos de idade,<br />

encaminhada <strong>para</strong> a Consulta Externa de ORL por<br />

queixas de perturbações do equilíbrio desde há cerca de<br />

15 anos com agravamento nos últimos 4 meses. A doente<br />

descreve uma variedade de sintomas, desde episódios de<br />

vertigem rotatória, desequilíbrio e sensação de “cabeça<br />

vazia”. Estes episódios são maioritariamente de vertigem<br />

rotatória, espontâneos, mas por vezes provocados<br />

ou exacerbados pelos movimentos cefálicos rápidos,


mudanças na posição da cabeça ou por fluxo intenso de<br />

estímulos visuais. Relaciona também o aparecimento<br />

dos sintomas com períodos de maior ansiedade, com o<br />

período menstrual e com a ingestão de certos alimentos<br />

(ex. pizza). Apresenta ainda uma sensação ilusória de<br />

movimento persistente após viagens de automóvel, barco<br />

e avião. Estes episódios apresentam duração variável,<br />

que pode ir desde dias a semanas, ou apresentar-se como<br />

queixas breves de vertigem posicional. Nega alterações<br />

na audição, plenitude auricular, acufenos ou otalgia.<br />

Nos antecedentes pessoais refere cefaleias tipo<br />

enxaqueca desde a adolescência, que melhoraram com<br />

o passar dos anos. Actualmente refere episódios mais<br />

frequentes de auras do tipo visual, reversíveis, que duram<br />

cerca de 5-10 minutos, caracterizadas por visão em túnel<br />

que progride <strong>para</strong> cegueira com luzes cintilantes, e que<br />

frequentemente precedem os episódios vertiginosos,<br />

mas sem cefaleia acompanhante. Nega outros sintomas<br />

neurológicos ou sistémicos.<br />

Antecedentes familiares irrelevantes.<br />

Ao exame objectivo, apresentava um exame ORL sumário<br />

sem alterações. O exame neurológico e otoneurológico<br />

sumário também eram normais.<br />

Foram realizados diversos exames complementares<br />

de diagnóstico que não mostraram alterações,<br />

FIGURA 2<br />

Resultados da posturografia computorizada dinâmica<br />

nomeadamente: audiograma tonal e vocal, impedancimetria,<br />

electronistagmografia com pesquisa de<br />

nistagmo espontâneo e do olhar descentrado, teste de<br />

agitação cefálica, testes de oculomotricidade (sacadas,<br />

perseguição ocular e nistagmo optocinético), pesquisa<br />

de nistagmo de posição (manobra de Dix-Hallpike) e<br />

provas calóricas; prova rotatória pendular; posturografia<br />

dinâmica computorizada e RMN cerebral.<br />

Perante o quadro clínico e o resultado dos exames<br />

complementares, foi assumido o diagnóstico de vertigem<br />

migranosa ou vertigem associada a enxaqueca.<br />

A doente foi inicialmente tratada apenas com<br />

modificações dietéticas, com especial ênfase em evitar<br />

os alimentos classicamente associados a enxaqueca.<br />

Após dois meses sem melhoria, iniciou tratamento com<br />

nortriptilina 10mg/dia com aumento progressivo da<br />

dose. A doente não melhorou e abandonou medicação<br />

por não tolerar os efeitos secundários (sonolência). A<br />

medicação foi alterada <strong>para</strong> gabapentina 300mg/dia e<br />

aumentada progressivamente até uma dose de 200mg<br />

de 8/8h, com melhoria franca da sintomatologia.<br />

Foi também aconselhada a tomar clonazepam 0,125mg<br />

antes de viagens e nas eventuais crises vertiginosas.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 307<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


DISCUSSÃO<br />

A vertigem migranosa pode ter início em qualquer<br />

idade, apresentando um pico de incidência entre a<br />

terceira e quinta década 10 . Atinge mais frequentemente<br />

o sexo feminino (1,5-5:1) 6,7,10 . Na sua apresentação mais<br />

comum, as queixas de enxaqueca precedem em muitos<br />

anos as queixas de vertigem (normalmente têm início na<br />

adolescência). Por vezes, os doentes referem remissão<br />

prolongada das cefaleias antes de surgirem as queixas<br />

vertiginosas 7,10 .<br />

Não raras vezes, as cefaleias são substituídas por vertigens<br />

nas mulheres perto da menopausa 13 . A vertigem pode<br />

também ser um sintoma inicial da enxaqueca, pode<br />

precedê-la ou ocorrer sem a cefaleia.<br />

A história familiar de enxaqueca é frequente 7 .<br />

A vertigem paroxística benigna da infância é uma<br />

manifestação precoce desta entidade. Muitas das<br />

crianças acabam por sofrer de enxaquecas anos após o<br />

desaparecimento dos episódios de vertigem 14 .<br />

A apresentação clínica mais frequente é como episódios<br />

de vertigem rotatória espontânea ou posicional. Nalguns<br />

casos a vertigem espontânea transforma-se em vertigem<br />

posicional após algumas horas ou dias 15 . Esta vertigem<br />

posicional é distinguível da vertigem paroxística posicional<br />

benigna (VPPB) por se associar com frequência a outros<br />

sintomas migranosos, durar horas a dias com remissão<br />

completa sem tratamento, apresentar uma elevada taxa<br />

de recorrência e o nistagmo posicional ser atípico <strong>para</strong><br />

VPPB 15,16 .<br />

A intolerância a movimentos da cabeça, semelhante ao<br />

enjoo de movimento (desequilíbrio, ilusão de movimento<br />

e náuseas provocados ou agravados por movimentos da<br />

cabeça) é um sintoma adicional frequente 9,10,17 .<br />

Outra característica proeminente nestes doentes é a<br />

vertigem visual, ou seja, desencadeada por estímulos<br />

visuais intensos (tráfego intenso de automóveis, multidões,<br />

corredores de supermercados) 9,14 .<br />

As náuseas e o desequilíbrio são sintomas menos<br />

frequentes mas que também podem acompanhar um<br />

episódio agudo de vertigem migranosa 18 .<br />

No que diz respeito à duração e frequência dos episódios<br />

apresenta uma grande variabilidade e pode modificarse<br />

ao longo do tempo. A vertigem pode durar segundos<br />

(10%), minutos (30%), horas (30%) ou vários dias (30%)<br />

e alguns doentes podem levar semanas a recuperar de<br />

um episódio 7,9,10,16 , no entanto, a maioria dos doentes<br />

não apresenta sintomas entre as crises. A frequência das<br />

crises é variável, podendo variar de episódios mensais a<br />

anuais. Não raras vezes os episódios surgem no período<br />

pré-menstrual 19 .<br />

Estudos clínicos realizados nas últimas décadas sugerem<br />

que estes episódios recorrentes de vertigem são um<br />

308 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

sintoma migranoso independente e dissociado das<br />

cefaleias, e distintos de uma aura 19 .<br />

Um dos desafios no diagnóstico é a frequente dissociação<br />

entre os episódios vertiginosos e as cefaleias. O quadro<br />

clínico mais frequente é a ocorrência simultânea dos dois<br />

sintomas, mas as vertigens podem ocorrer sem cefaleia<br />

ou preceder a mesma 10,16 . Estudos revelam que até 50%<br />

dos doentes nunca associam a cefaleia à vertigem 20 , e<br />

outros (até 48%) têm vertigem como o seu único sintoma<br />

de enxaqueca 10 .<br />

Nos doentes em que a vertigem ocorre sem cefaleia, o<br />

diagnóstico deve basear-se na presença dos restantes<br />

sintomas da enxaqueca. Juntamente com a vertigem<br />

os doentes podem apresentar fotofobia, fonofobia,<br />

sensibilidade aumentada a alterações de pressão e auras<br />

visuais ou outros tipos de aura 18 .<br />

A hipoacúsia e os acufenos são queixas raras mas descritas<br />

por alguns doentes. A perda auditiva é, normalmente,<br />

ligeira, transitória, não progressiva, unilateral, bilateral<br />

ou alternante 9,21 . Por poder apresentar sintomas de<br />

hipoacúsia unilateral e acufenos durante a crise, é<br />

muitas vezes confundida com a Doença de Menière<br />

(DM), principalmente quando os sintomas somatosensoriais,<br />

visuais ou a cefaleia estão ausentes na crise.<br />

Existem também relatos de uma elevada prevalência<br />

de enxaqueca em doentes com DM, assim como a<br />

ocorrência de enxaqueca durante uma crise de hidrópsia<br />

endolinfática 22 .<br />

A fisiopatologia desta entidade ainda se mantém<br />

desconhecida, mas os sintomas sugerem que estruturas<br />

periféricas e centrais estejam envolvidas. Algumas<br />

teorias sustentam alterações da libertação de certos<br />

neurotransmissores 23 , vasoespasmo transitório de vasos<br />

que irrigam o ouvido interno 24 ou disfunção dos canais<br />

iónicos ao nível do cerebelo e tronco cerebral 25 .<br />

Na maioria dos casos, o exame objectivo é normal<br />

entre as crises 23 . No entanto, alguns doentes podem<br />

apresentar alterações inespecíficas desta entidade<br />

nomeadamente, alterações da motricidade ocular de tipo<br />

central (perseguição ocular vertical alterada, nistagmo<br />

induzido pelo desviar do olhar) ou nistagmo posicional<br />

tipo central que persiste enquanto a posição da cabeça<br />

se mantenha 10,18 .<br />

Durante as crises, os doentes podem apresentar<br />

desequilíbrio na prova de Romberg, alterações da<br />

perseguição ocular e nistagmo. O nistagmo pode ter<br />

diversas apresentações: nistagmo espontâneo periférico,<br />

nistagmo espontâneo central, nistagmo posicional<br />

central.<br />

Em termos de exames complementares de diagnóstico,<br />

10 a 20% dos doentes apresentam hiporreflexia unilateral<br />

nas provas calóricas e 10% apresentam preponderância


direccional das respostas nistágmicas 10,17 . No entanto<br />

estes achados são inespecíficos, podendo surgir em<br />

doentes com enxaqueca sem vertigem e noutras<br />

síndromes vertiginosas 26 .<br />

A International Society of Headache não inclui a vertigem<br />

na definição de enxaqueca, com excepção da enxaqueca<br />

basilar. Por isso, os doentes com vertigem migranosa não<br />

preenchem nenhum dos critérios universalmente aceites<br />

de enxaqueca.<br />

Em 2001 Neuhauser et al propuseram critérios de<br />

diagnóstico 7 (Tabela 1).<br />

TABELA 1<br />

Critérios Diagnóstico de Enxaqueca Vestibular (adaptado de<br />

Neuhauser & Lempert 2001) 12<br />

Critérios Diagnóstico de Enxaqueca Vestibular<br />

Diagnóstico Definitivo de Enxaqueca Vestibular<br />

A. Sintomas vestibulares episódicos de intensidade<br />

moderada a severa<br />

B. História actual ou prévia de enxaqueca (de acordo com os<br />

critérios de 2004 da International Headache Society (IHS)<br />

C. Pelo menos um dos seguintes sintomas durante 2 crises<br />

de vertigem: cefaleia tipo enxaqueca, fotofobia, auras<br />

visuais ou outras auras<br />

D. Exclusão de outras causas através de investigação<br />

apropriada<br />

Comentário:<br />

Os sintomas vestibulares são vertigem rotatória ou<br />

outra ilusão de movimento. Podem ser espontâneos ou<br />

posicionais. Os sintomas vestibulares são moderados se<br />

interferem mas não impedem as actividades do dia-a-dia,<br />

e severos se impedem a realização das actividades diárias.<br />

Diagnóstico Provável de Enxaqueca Vestibular<br />

A. Sintomas vestibulares episódicos de intensidade<br />

moderada a severa<br />

B. Um dos seguintes:<br />

1. História actual ou prévia de enxaqueca (de acordo com<br />

os critérios de 2004 da IHS)<br />

2. Sintomas migranosos durante os sintomas vestibulares<br />

3. Presença de factores precipitantes da enxaqueca<br />

em mais de 50% das crises: precipitantes alimentares,<br />

irregularidades do sono, alterações hormonais<br />

4. Melhoria dos sintomas com medicação usada <strong>para</strong><br />

enxaqueca em mais de 50% das crises<br />

C. Exclusão de outras causas através de investigação<br />

apropriada.<br />

O diagnóstico de vertigem migranosa é feito através<br />

de uma história clínica detalhada, não existindo<br />

sinais objectivos, marcadores biológicos, alterações<br />

laboratoriais ou outros exames complementares de<br />

diagnóstico que sejam específicos desta entidade 12 .<br />

A pesquisa de potenciais precipitantes das crises pode<br />

ser essencial <strong>para</strong> o diagnóstico, nomeadamente a<br />

relação com a menstruação, ansiedade, irregularidades<br />

do sono, estímulos sensoriais (luzes, sons ou cheiros<br />

intensos) e ingestão de certos alimentos (ex. queijo,<br />

vinho, chocolate) 12 .<br />

O diagnóstico diferencial é feito com as principais causas<br />

de vertigem recurrente: VPPB, doença de Menière,<br />

vertigem posicional central, isquémia vertebro-basilar<br />

transitória, schwanoma do VIII par craniano, insuficiência<br />

vestibular unilateral não compensada e fístula<br />

perilinfática 27 .<br />

Os tratamentos propostos <strong>para</strong> estes doentes são a<br />

evicção de potenciais factores precipitantes, medicações<br />

profiláticas e o tratamento das crises.<br />

Nos casos mais ligeiros, a evicção dos factores<br />

precipitantes pode ser suficiente <strong>para</strong> uma melhoria<br />

substancial das queixas.<br />

Nos casos de crises mais frequente e severas, não<br />

controlados com medidas não farmacológicas, as<br />

medicações profiláticas têm um papel importante. As<br />

actuais recomendações baseiam-se na experiência clínica<br />

de alguns especialistas e não em estudos randomizados<br />

e controlados. Dada a sensibilidade aumentada desta<br />

população de doentes <strong>para</strong> os efeitos secundários das<br />

medicações, torna-se necessário iniciar os tratamentos<br />

com doses baixas, aumentando progressivamente ao<br />

longo de semanas ou meses, sendo recomendável a<br />

reavaliação da terapêutica após 3 meses 19 . Os fármacos<br />

mais utilizados são os usados na profilaxia da enxaqueca<br />

como os β-bloqueantes (propranolol, atenolol) 10,28 ,<br />

bloqueadores dos canais de cálcio (verapamil,<br />

flunarizina) 10 ], anti-depressivos tricíclicos (nortriptilina,<br />

amitriptilina) 10,29 , inibidores da anidrase carbónica<br />

(acetazolamida) 30 e anti-convulsivantes (gabapentina,<br />

topiramato) 31 .<br />

Os depressores vestibulares (ex. clonazepam) e antieméticos<br />

(ex. metoclopramida) podem aliviar os sintomas<br />

nas crises 15 .<br />

No que diz respeito ao caso clínico apresentado, diversos<br />

factores apontam <strong>para</strong> o diagnóstico: o facto de ser uma<br />

mulher de meia-idade, com antecedentes de cefaleias<br />

tipo enxaqueca e intolerância ao movimento, com queixas<br />

de vertigem rotatória espontânea ou desencadeada por<br />

estímulos visuais, alimentares, posicionais, alterações<br />

hormonais e ansiedade; por vezes as crises são precedidas<br />

por auras visuais típicas da enxaqueca; a duração das<br />

crises é variável (segundos, dias a semanas); o exame<br />

objectivo e os exames complementares de diagnóstico<br />

não revelaram alterações.<br />

Após a presunção do diagnóstico de vertigem migranosa, a<br />

eficácia do tratamento com alterações comportamentais<br />

e alimentares e medicação profilática <strong>para</strong> enxaqueca<br />

confirmou o diagnóstico.<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 309<br />

CASO CLÍNICO CASE REPORT


CONCLUSÕES<br />

A vertigem migranosa é uma entidade clínica em<br />

desenvolvimento que deve ser considerada no diagnóstico<br />

diferencial das vertigens recorrentes. Tem uma<br />

apresentação clínica variável em diversos aspectos e a<br />

associação a enxaqueca pode ser subtil. A chave <strong>para</strong><br />

o diagnóstico é a ocorrência simultânea de vertigem<br />

com enxaqueca ou com sintomas migranosos, presença<br />

de factores precipitantes de enxaqueca e a resposta da<br />

sintomatologia a fármacos usados no tratamento da<br />

enxaqueca.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem ao Dr. Richard Lewis do<br />

Departamento de ORL do Massachusetts Eye and Ear<br />

Infirmay pela disponibilização do caso clínico.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

1.Kroenke K, Price RK. Symptoms in the community. Prevalence,<br />

classification, and psychiatric comorbility. Arch Intern Med 1993,<br />

153:2474-80<br />

2.Goadsby PJ, Lipton RB, Ferrari MD. Migraine – current understanding<br />

and treatment. N Engl J Med 2002, 346:257-270<br />

3.Rasmussen BK, Jensen R, Schroll M, Olesen J.Epidemiology of<br />

headache in a general population – a prevalence study. J Clin<br />

Epidemiol 1991, 44:1147-57<br />

4.Henry P, Auray JP, Gaudin AF, Dartigues JF et al. Prevalence and<br />

clinical characteristics of migraine in France. Neurology 2002, 59:232-<br />

237<br />

5.Lipton RB, Scher AI, Kolodner K, Liberman Jet al. Migraine in<br />

the United States: epidemiology and patterns of health care use.<br />

Neurology 2002, 58:885-894<br />

6.Savundra PA, Carroll JD, Davies RA. Luxon LM. Migraine-associated<br />

vertigo. Cephalalgia 1997, 17:505-510<br />

7.NeuhauserH, Leopold M, von Brevern M, Arnold G et al. The<br />

interrelations of migraine, vertigo, and migrainous vertigo. Neurology<br />

2001, 56:436-441<br />

8.Lee H, Sohn SI, Jung DK, Yong WC et al. Migraine and isolated<br />

recurrent vertigo of unknown cause. Neurol Res 2002, 24:663-665<br />

9.Cass SP, Furman JM, Ankerstjerne JP, Balaban C et al. Migrainerelated<br />

vestibulopathy. Ann Otol Rhinol Laryngol 1997, 106:182-189<br />

10.Dieterich M, Brandt T. Episodic vertigo related to migraine (90<br />

cases): vestibular migraine? J Neurol 1999, 246:883-892<br />

11.Johnson GD. Medical Management of migraine-related dizziness<br />

and vertigo. Laryngoscope 1998, (Suppl 85):1-28<br />

12.Lempert T, Neuhauser H. Migrainous Vertigo. Neurol Clin 2005,<br />

23:715-730<br />

13.Harker LA, Rassekh C. Migraine equivalent as a cause of episodic<br />

vertigo. Laryngoscope 1988, 98:160-164.<br />

14.Waterston J. Chronic migrainous vertigo. J Clin Neurosci 2004,<br />

11:384–388.<br />

15.von Brevern M, Radtke A, Clarke AH, Lempert T. Migrainous vertigo<br />

presenting as episodic positional vertigo. Neurology 2004, 62:469-<br />

472.<br />

16.von Brevern M, Zeise D, Neuhauser H, Clarke AH et al. Acute<br />

migrainous vertigo: clinical and oculographic findings. Brain 2005,<br />

128(Pt 2):365-374<br />

17.Cutrer FM, Baloh RW. Migraine-associated dizziness. Headache<br />

1992, 32:300-304<br />

18.Neuhauser H, Lempert T. Vestibular Migraine. Neurol Clin 27<br />

(2009): 379-391<br />

19.Eggers S. Migraine-related Vertigo: Diagnosis and Treatment.<br />

Current Pain and Headache Reports 2007, 11:217-226<br />

310 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

20.Brantberg K, Trees N, Baloh RW. Migraine-associated vertigo. Acta<br />

Otolaryngol 2005, 1215:276-279.<br />

21.Olsson JE. Neurotologic findings in basilar migraine. Laryngoscope<br />

1991, 101(1 Pt2 Suppl 52):1-41.<br />

22.Parker W. Menière’s disease – Etiologic considerations. Arch<br />

Otolaryngol Head Neck Surg 1995, 121:377-382.<br />

23. Weiller C, May A, Limmroth V, Jüptner M et al. Brain stem activation<br />

in spontaneous human migraine attacks. Nat Med 1995, 1:658-660<br />

24.Radtke A, Lempert T, Grestby MA, Brookes GB et al. Migraine and<br />

Menière disease – is there a link? Neurology 2002, 59:1700-1704.<br />

25.Baloh RW. Episodic vertigo: central nervous system causes. Curr<br />

Opin Neurol 2002, 15:17-21.<br />

26.Toglia JU, Thomas D, Kuritzky A. Common migraine and vestibular<br />

function - Electronystagmographic study and pathogenesis. Ann<br />

Otol Rhinol Laryngol 1981;90(3 Pt 1):267–71.<br />

27.Neuhauser H, Lempert T. Vertigo and dizziness related to migraine:<br />

a diagnostic challenge. Cephalalgia 2004, 24: 83-91.<br />

28.Harker LA, Rassekh CH. Episodic vertigo in basilar artery migraine.<br />

Otolaryngol Head Neck Surg 1987;96:239–50.<br />

29.Reploeg MD, Goebel JA. Migraine-associated dizziness: patient<br />

characteristics and management options. Otol Neurotol 2002;23:364-<br />

371.<br />

30.Baloh RW, Foster CA, Yue Q, Foster SF. Familial migraine with<br />

vertigo and essential tremor. Neurology 1996;46:458–60.<br />

31.Mathew NT. Antiepileptic drugs in migraine prevention. Headache<br />

2001; 41:18-24.


VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 311


MELHOR ARTIGO BEST PAPER<br />

Prémio do melhor trabalho publicado<br />

No vol. 49, nº 3 de Setembro de 2011:<br />

Para a votação do melhor artigo científico publicado na edição<br />

nº 4, volume 49, de Dezembro de 2011 da Revista Portuguesa<br />

de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial verificou-se um<br />

número total de 11 votos expressos dentro dos 20 membros do<br />

Conselho Científico da Revista.<br />

Como resultado da votação foi distinguido com o prémio <strong>para</strong><br />

o melhor artigo o trabalho com o título “Dacriocistorrinostomia<br />

Endoscópica – Factores Preditivos de Recidiva”da autoria de Sonia<br />

Pereira, Sara Baptista, Ana Casas Nova, Rudolfo Montemor, José<br />

Araújo Martins, Ezequiel Barros.<br />

A entrega do prémio será efectuada durante a cerimónia de<br />

abertura do próximo Congresso Nacional da <strong>SPORL</strong>, a realizar em<br />

2012.<br />

312 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL


Luís Antunes<br />

Presidente do Colégio<br />

de Especialidade de ORL<br />

da Ordem do Médicos<br />

O elevado número de vagas <strong>para</strong> a realização do internato<br />

complementar de otorrinolaringologia 2012/ 2017<br />

que este ano foram abertas a concurso tem suscitado<br />

muitas dúvidas sobre a forma e a quem compete a<br />

responsabilidade de definir o número de vagas que<br />

anualmente são atribuídas.<br />

Anualmente o Internato Médico de cada Hospital ou<br />

Centro Hospitalar solicita aos serviços que preencham<br />

uma ficha de Caracterização dos Serviços <strong>para</strong> Atribuição<br />

de Capacidades Formativas, na qual <strong>para</strong> alem dos dados<br />

relativos a recursos humanos e a produção são também<br />

indicadas as capacidades formativas que cada serviço<br />

disponibiliza <strong>para</strong> o ano seguinte.<br />

Esta ficha é recebida pela Ordem dos Médicos que as<br />

envia aos colégios respectivos que têm como competência<br />

confirmar se os serviços em causa têm ou não atribuída<br />

idoneidade formativa e elabora uma mapa com as<br />

capacidades formativas de cada serviço disponibiliza<br />

anualmente e a necessidade de estágios inerentes as<br />

características de cada um.<br />

Ao longo dos últimos anos o número de capacidades<br />

formativas disponibilizadas pelos serviços tem sido<br />

sempre superior ao número de vagas abertas <strong>para</strong><br />

Internato da Especialidade, fazendo a ACSS e o CNIM uma<br />

espécie de “rateio” das vagas atribuídas de acordo com as<br />

disponibilidades oferecidas pelos serviços.<br />

As capacidades formativas de Cada serviço com idoneidade<br />

são enviadas pela Ordem dos Médicos <strong>para</strong> o CNIM que<br />

em articulação com a ACSS e a ARS são os responsáveis<br />

pela definição do numero de vagas que anualmente são<br />

colocadas a concurso.<br />

A definição do número de vagas que serão abertas e o<br />

Hospital onde as mesmas se irão realizar é uma decisão<br />

que não está dependente nem obedece a nenhum parecer<br />

da Direcção do Colégio da Especialidade.<br />

Página do Colégio<br />

da Especialidade de ORL<br />

da Ordem dos Médicos<br />

Colégio da especialidade e seu papel na dinamização do<br />

internato<br />

Nos últimos anos como podemos ver pelos mapas que<br />

apresentamos o numero de vagas abertas tem sido sempre<br />

muito inferior ao numero de capacidades formativas que<br />

os serviços solicitam e quase sempre são 9 a 11 novos<br />

internos cada ano.<br />

Este ano a Direcção do Colégio e todos os Otorrinos em<br />

geral foram surpreendidos pelo número invulgar de vagas<br />

abertas a concurso, 29 no concurso A e 1 no concurso<br />

B, pois foram atribuídas vagas a todas as capacidades<br />

formativas apresentadas.<br />

A responsabilidade de abertura destas vagas é exclusivamente<br />

da responsabilidade da ACSS e ARS e não da<br />

ORDEM DOS MEDICOS.<br />

A Direcção do Colégio está preocupado com este numero<br />

tão elevado de vagas que faz que nalguns casos existam<br />

5 novos internos tendo já expressado ao Sr. Bastonário<br />

a sua preocupação pela formação destes novos médicos<br />

aproveitando <strong>para</strong> solicitar as Direcções dos Serviços o<br />

reforço do empenho <strong>para</strong> que o nível de formação destes<br />

internos e dos que já se encontram em formação possa<br />

manter-se como até agora com um elevado nível cientifico.<br />

Luis Antunes<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 313<br />

COLÉGIO DA ESPECIALIDADE DE ORL DA ORDEM DOS MÉDICOS


Norte<br />

Centro<br />

Sul<br />

Hospitais<br />

Centro Hospitalar do Alto Ave -<br />

Unidade Guimarães<br />

Capacidade e Idoneidade Formativa<br />

Serviços de Otorrinolaringologia - 2012<br />

Idoneidade Estágios<br />

Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Centro Hospitalar Douro / Vouga Sim I.P.O. Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pecoço)<br />

Centro Hospitalar do Porto, E.P.E.<br />

- Hosp. de St.º António<br />

Centro Hospitalar de Trás-os-<br />

-Montes e Alto Douro, E.P.E.<br />

Centro Hospitalar de Vila Nova de<br />

Gaia / Espinho, E.P.E.<br />

Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

314 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

2011 2012<br />

Cap.<br />

Form.<br />

Não Não<br />

Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Hospital de S. João Sim I.P.O.Porto 3 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Hospital de Braga Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Hospital Pedro Hispano Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Centro Hospitalar Tamêga e Sousa Não<br />

Hospital Amato Lusitano Não Não<br />

Centro Hospitalar de Coimbra Sim I.P.O Coimbra- 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Hospital S. Teótonio Não Para visita Não<br />

Idoneidade Estágios<br />

2 Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Cap.<br />

Form.<br />

1 Sim 0<br />

1 Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

2 Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

1 Sim I.P.O.Porto 3 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

1 Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

0 Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

1 Sim I.P.O.Porto 6 meses<br />

(Oncologia - Cabeça e Pescoço)<br />

Hosp. Universitário de Coimbra Sim 4 Sim 4<br />

Hospital Infante D. Pedro - Aveiro Não Não<br />

Hospital D. Estefânia Sim I.P.O. 6 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço); S. José 18<br />

meses (O.R.L. Geral)<br />

Hospital de S. José Sim I.P.O. 6 meses (Oncologia - Cabeça<br />

e Pescoço), Estefânia 9 meses<br />

(Alergologia 6; O.R.L. Pediatrica 3)<br />

1 Sim I.P.O. 6 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço); S. José 18<br />

meses (O.R.L. Geral)<br />

2 I.P.O. 6 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço), Estefânia<br />

9 meses (Alergologia 6; O.R.L.<br />

Pediatrica 3)<br />

Hospital Fernando Fonseca Sim 5 Sim 5<br />

Hospital Pulido Valente Sim I.P.O 3 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço)<br />

Hospital Santo Espírito - Angra do<br />

Heroísmo<br />

1 Sim I.P.O 3 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço)<br />

Para visita<br />

Cuf - Intante Santo Sim 1<br />

Centro Hospitalar de Torres<br />

Vedras<br />

Não Não<br />

Hospital Garcia de Orta Sim 2 Sim 3<br />

Centro Hospitalr Oeste Norte -<br />

Caldas<br />

Não Não<br />

Centro Hospitalar do Funchal Sim I.P.O. Porto 6 meses (Oncologia<br />

- Cabeça e Pescoço); Estefânia 2<br />

meses (Alergologia)<br />

1 Para visita<br />

Hospital St.ª Maria Sim 4 Sim 4<br />

Hospital Egas Moniz Sim I.P.O.- 6 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço)<br />

Centro Hospitalar Barreiro /<br />

Montijo<br />

Não Não<br />

2 Sim I.P.O.- 6 meses (Oncologia -<br />

Cabeça e Pescoço)<br />

Hospital de Faro Não Para visita<br />

Centro Hospitalar do Barlavento<br />

Algarvio<br />

Hospital Espírito Santo de Évora Não<br />

Não<br />

2<br />

2<br />

2<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

2


AGENDA 2012<br />

JANEIRO<br />

19-21<br />

NOSE 2012<br />

Hospital Privado da Boavista - Porto<br />

Contacto: www.diventos.com<br />

23-25<br />

13º CURSO DE MICROCIRURGIA OTOLÓGICA E<br />

OTO-ENDOSCOPIA<br />

LOCAL: Serviço de ORL - Hospitais da Universidade Coimbra<br />

ORGANIZAÇÃO: Serviço de ORL dos HUC<br />

TEMA: Otologia<br />

FEVEREIRO<br />

2<br />

2º CURSO DE MONITORIZAÇÃO ELECTROFISIOLÓGICA<br />

INTRA-OPERATÓRIA DO NERVO FACIAL<br />

Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Egas Moniz, Lisboa<br />

CONTACTO: gepg@fcm.unl.pt<br />

24-25<br />

6º CURSO TEÓRICO-PRÁTICO DE AUDIOVESTIBULOGIA<br />

LOCAL: Serviço de ORL - Hospitais da Universidade Coimbra<br />

ORGANIZAÇÃO: Serviço de ORL dos HUC<br />

TEMA: Otoneurologia<br />

MARÇO<br />

13-14<br />

IV CURSO DE RINOPLASTIA Y CIRUGIA COMPLEMENTARIA<br />

FACIAL<br />

Complexo Hospitalario Universitario de Vigo<br />

CONTACTO: fundacion@cmpont.es<br />

16-17<br />

9 as JORNADAS DE OTORRINOLARINGOLOGIA DO HGO<br />

TEMA: Patologia benigna da laringe<br />

Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial do<br />

Hospital Garcia de Orta - Almada<br />

CONTACTO: Veranatura<br />

joanawolckart@veranatura.pt<br />

23-24<br />

CURSO TEÓRICO-PRÁTICO DE IMPLANTES ACTIVOS DO<br />

OUVIDO MÉDIO E OSTEOINTEGRADOS<br />

Hospital CUF, Port<br />

diventos@diventos.com<br />

ABRIL<br />

16-17<br />

61º TEMPORAL BONE DISSECTION WORKSHOP<br />

LOCAL: Clinica Clarós, Barcelona, Espanha<br />

(Próximos Workshops: 7-8 Maio, 5-6 Novembro, 19-20<br />

Novembro)<br />

CONTACTO: clinica@clinicaclaros.com<br />

28-1<br />

59º CONGRESSO NACIONAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA E<br />

CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

LOCAL: Viseu<br />

MAIO<br />

20-23<br />

11TH INTERNATIONAL CONGRESS OF THE EUROPEAN<br />

SOCIETY OF PEDIATRIC OTORHINOLARYNGOLOGY<br />

Amsterdam<br />

20-23<br />

II REUNIÃO IBÉRICA DE OTONEUROLOGIA<br />

LOCAL: HPP – Hospital da Boavista no Porto<br />

ORGANIZAÇÃO: APO - Associação Portuguesa de Otoneurologia<br />

TEMA: Otoneurologia<br />

NOVEMBRO<br />

14-17<br />

42º CONGRESSO BRASILEIRO DE OTORRINOLARINGOLOGIA<br />

E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

7º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE<br />

OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

Centro de Convenções de Pernambuco, Recife / PE / Brasil<br />

SITE: www.aborlccf.org.br/42cbo<br />

CONTACTO: eventos@aborlccf.org.br<br />

VOL 49 . Nº4 . DEZEMBRO 2011 315<br />

REUNIÕES CIENTÍFICAS SCIENTIFIC MEETING


NORMAS DE PUBLICAÇÃO INSTRUCTIONS TO THE AUTHORS<br />

Normas de publicação<br />

A Revista da Sociedade Portuguesa de<br />

Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-<br />

Facial, publica artigos dedicados à<br />

Especialidade, bem como outros assuntos<br />

científicos com interesse <strong>para</strong> os especialistas<br />

em ORL. A língua oficial da Revista<br />

é o Português, embora também sejam<br />

aceites trabalhos em Inglês, Francês<br />

e Espanhol. Para efeitos da sua inclusão<br />

na versão on-line em Inglês no<br />

portal da Sociedade, e uma consequente<br />

maior divulgação internacional, os<br />

autores são fortemente encorajados<br />

a <strong>submeter</strong> uma versão em Inglês do<br />

manuscrito.<br />

As declarações e opiniões expressas<br />

nos artigos que constam nesta publicação<br />

são da inteira responsabilidade dos seus<br />

autores e não correspondem necessariamente<br />

ás do editor. Os artigos são<br />

propriedade da Revista.<br />

Ao <strong>submeter</strong>em um trabalho, os autores<br />

comprometem-se que este não foi<br />

publicado anteriormente ou que não<br />

se encontra em fase de apreciação<br />

<strong>para</strong> publicação noutra revista ou<br />

livro. Igualmente, qualquer conflito de<br />

interesse dos autores deve ser alvo de<br />

declaração escrita.<br />

Os artigos que incluam experimentação<br />

em humanos devem mencionar a<br />

autorização da Comissão de Ética<br />

local e o respeito pela Declaração de<br />

Helsínquia de 1975 e sua revisão de<br />

1983. Experiências animais devem<br />

igualmente indicar o parecer respectivo<br />

da Comissão de Ética local.<br />

Os autores devem classificar o seu<br />

artigo numa das seguintes categorias:<br />

Original; Revisão; Caso Clínico; Opinião;<br />

História ORL.<br />

Todo o material <strong>para</strong> publicação deve<br />

ser enviado on-line <strong>para</strong>:<br />

www.sporl.pt<br />

Os artigos recebidos serão submetidos<br />

à revisão anónima por um ou mais<br />

Especialistas convidados pelo editor.<br />

Após esta fase, o autor correspondente<br />

será informado da aceitação do seu<br />

trabalho ou das eventuais alterações a<br />

introduzir previamente à sua publicação.<br />

O conselho redactorial reservase<br />

o direito de corrigir ou introduzir<br />

pequenas alterações no texto, visando<br />

a sua melhoria, desde que não<br />

prejudiquem o seu sentido.<br />

A pre<strong>para</strong>ção dos manuscritos deve<br />

obedecer às regras enunciadas em<br />

Uniform requirements for manuscripts<br />

submitted to biomedical journals, JAMA<br />

1997; 277:927-34. Este documento está<br />

disponível em www.icmje.org.<br />

Os autores devem enviar os artigos em<br />

suporte informático, com as páginas<br />

numeradas, formatados em Microsoft<br />

Word, a dois espaços, alinhado pela<br />

esquerda, com margens amplas e fonte<br />

#12.<br />

A primeira página, não numerada,<br />

incluirá:<br />

• Título do trabalho (Máximo 15 palavras)<br />

em Português, Francês ou<br />

Espanhol e em Inglês<br />

• Nome dos autores e graus<br />

• Afiliações dos autores e sua indexação<br />

numérica<br />

• Nome, morada, telefone, fax e endereço<br />

de e-mail do autor correspondente<br />

• Referência a suportes financeiros ou<br />

bolsas<br />

• Indicação da Reunião Científica onde<br />

o trabalho tenha sido apresentado<br />

previamente (Se aplicável)<br />

A segunda página, não numerada,<br />

compreenderá:<br />

• Título do Trabalho<br />

• Resumo estruturado em Português,<br />

Francês ou Espanhol e em Inglês<br />

(máximo de 150 palavras) com a<br />

seguinte sequência: Objectivos,<br />

Desenho do Estudo, Material e<br />

Métodos, Resultados e Conclusões.<br />

• Nos casos clínicos apenas será<br />

descrito o caso de forma abreviada<br />

• Palavras-chave<br />

• Título abreviado<br />

O texto do manuscrito (máximo 12<br />

páginas numeradas) deve também<br />

dividir-se em: Introdução, Material<br />

e Métodos, Resultados, Discussão,<br />

Conclusões (um parágrafo apenas),<br />

Agradecimentos, Referências Bibliográficas<br />

(máximo 25 citações). Os casos<br />

clínicos serão estruturados em: Introdução,<br />

Descrição do(s) Caso(s), Discussão e<br />

Referências.<br />

As Referências devem seguir as normas<br />

de Vancouver. Os autores devem ser<br />

citados até 4, e se mais de 4 citamse<br />

os primeiros 4 seguido de et al.<br />

As referências devem ser numeradas<br />

consecutivamente pela ordem em que são<br />

mencionadas no texto. As referências<br />

devem ser identificadas na lista de<br />

Referências Bibliográficas por números<br />

árabes, e no texto do artigo por números<br />

em superscript sem parêntesis. Artigos<br />

aceites mas ainda não publicados<br />

devem ser designados (no prelo /<br />

in press). A informação contida em<br />

manuscritos ainda não aceites deve<br />

ser registada com (Observações não<br />

publicadas/unpublished observations).<br />

316 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL<br />

As abreviações dos títulos das revistas<br />

devem ser abreviada de acordo com o<br />

Índex Medicus acessível em<br />

www.nim.nih.gov.<br />

ARTIGO DE REVISTA:<br />

1. Eriksson PO, Li J, Ny T, Hellstrom S.<br />

Spontaneous development of otitis<br />

media in plasminogen-deficient<br />

mice. Int J Med Microbiol. 2006<br />

Nov;296(7):501-9.<br />

CAPÍTULO DE LIVRO:<br />

2. Manning SC. Surgical Therapy for<br />

Sinusitis and Its Complications.<br />

In: Cotton RT and Myer CM (Eds.)<br />

Practical Pediatric Otolaryngology,<br />

Philadelphia, Lippincott-Raven;<br />

1999:pp405-25.<br />

LIVRO COMPLETO:<br />

3. Bluestone CD. Eustachian Tube.<br />

Structure, Function, Role in Otitis<br />

Media. Hamilton, BC Decker; 2005.<br />

REVISTAS ONLINE:<br />

4. Sousa LC, Piza MT, Coutinho-Netto<br />

J, Ruiz DB, et al. Biomembrana<br />

de látex: novo método <strong>para</strong> o<br />

revestimento da cavidade aberta<br />

nas timpanomastoidectomias. Rev<br />

Bras Otorrinolaringol (Online Engl<br />

Ed). 2007;73(3):331-6. www.rborl.<br />

org.br/conteudo/acervo/acervo_<br />

novas.asp?id=3515 Acedido em<br />

Julho 1, 2007<br />

As Ilustrações e as Respectivas Legendas<br />

das Figuras ou Tabelas devem ser<br />

inseridas em ficheiros informáticos à<br />

parte (formatos JPEG, TIFF, PDF, Word,<br />

Excel, Powerpoint), impressas em folhas<br />

de papel se<strong>para</strong>damente do texto<br />

principal e com numeração de acordo<br />

com a entrada no texto. Imagens não<br />

digitalizadas não serão aceites.


www.sporl.pt

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