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Oscar Matsuura – “O Mito Friburguense na Biografia de

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O mito friburguense <strong>na</strong><br />

biografia <strong>de</strong> Marcgrave<br />

<strong>Oscar</strong> T. <strong>Matsuura</strong><br />

ENBOGRET 24/06/10


O mito<br />

Abrahão <strong>de</strong> Moraes: A astronomia<br />

no Brasil, Cap. II, 84-161 in As<br />

Ciências no Brasil, F. Azevedo<br />

(Org.), Ed. Melhoramentos, São<br />

Paulo, 1955, p. 10


“Em suas entradas pelo interior nor<strong>de</strong>stino <strong>–</strong><br />

pelo menos três <strong>–</strong> recolheu o estupendo<br />

material que daria origem à Historia <strong>na</strong>turalis<br />

Brasiliae e que transformaria o palácio Friburgo<br />

<strong>de</strong> Nassau, situado <strong>na</strong> ilha <strong>de</strong> Antônio Vaz, em<br />

verda<strong>de</strong>iro museu. Em 1639, numa das tôrres<br />

dêsse palácio, que servia <strong>de</strong> farol aos<br />

<strong>na</strong>vegantes, e que <strong>de</strong>via ser bastante elevada<br />

sôbre o nível do mar, pois, conforme nos diz<br />

Juliano Moreira, era visível a seis léguas <strong>de</strong><br />

distância, instalava Marcgrave seu observatório<br />

astronômico, o primeiro do Novo Mundo e <strong>de</strong><br />

todo o hemisfério austral ( 33 ). Foi aí que se<br />

realizaram as primeiras observações<br />

meteorológicas e astronômicas, <strong>de</strong> modo<br />

sistemático, em todo o hemisfério sul.”<br />

( 33 ). V. CAJORI <strong>–</strong> The early mathematical science<br />

in North and South America, Boston, The<br />

Gorham Press, 1928, pág. 41.


Nada consta<br />

Manuscritos <strong>de</strong> Paris (diário <strong>de</strong> bordo)<br />

25 junho 1638 a 22 junho 1643<br />

I<strong>na</strong>uguração observatório 15 setembro<br />

1639<br />

Desabamento 18 março 1640<br />

Retomada observações no mesmo local<br />

11 junho 1640<br />

Janela p/ mudança Friburgo: 16 <strong>de</strong> junho<br />

a 03 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1642: <strong>na</strong>da consta


Mudança para Friburgo<br />

Em maio <strong>de</strong> 1642 o Conselho Político pe<strong>de</strong> a velha<br />

residência do con<strong>de</strong>. Os escabinos fazem o mesmo<br />

pedido em setembro. Daí se conclui (Tempo dos<br />

Flamengos) que Nassau se mudou para Friburgo entre<br />

maio e setembro <strong>de</strong> 1642. A data exata parece ser 1º <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1642. Parece que em setembro a antiga<br />

residência <strong>de</strong> Nassau passou a ser usada pelo Conselho<br />

Político. Mas o prédio <strong>de</strong>via estar em mau estado, pois só<br />

<strong>de</strong>ixaram ocupar a parte da frente. Já em janeiro <strong>de</strong> 1643<br />

o Alto Conselho era informado <strong>de</strong> que as condições do<br />

prédio eram muito ruins e não podia ser ocupado.<br />

Polman pergunta: para on<strong>de</strong> foi o observatório?


Origens do mito


I. Ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ouro da<br />

República Holan<strong>de</strong>sa<br />

Reduto calvinista. Re<strong>na</strong>scimento tardio<br />

Historia Naturalis como a <strong>de</strong> Plínio, o<br />

Velho, era o mo<strong>de</strong>lo para Francisco<br />

López <strong>de</strong> Gómara, Gonzalo Fernán<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />

Oviedo, José <strong>de</strong> Acosta etc<br />

Maurício <strong>de</strong> Nassau, mentor<br />

Marcgrave ape<strong>na</strong>s citado em biografias<br />

<strong>de</strong> Nassau<br />

Estilo épico<br />

Cronologia não tinha o significado atual


Caspar Barlaeus: Rerum per octennium in<br />

Brasilia, Amsterdã, 1647<br />

“Havia <strong>na</strong> chamada Ilha <strong>de</strong> Antônio Vaz (tal era o<br />

nome do antigo possuïdor) ampla área <strong>de</strong> terreno<br />

... Mais <strong>de</strong> uma vez sugeriu o Con<strong>de</strong> ... ligar por<br />

um valo os dois referidos fortes para se pôr a<br />

coberto aquela área, mas não logrou persuadi-lo<br />

em razão das vultosas <strong>de</strong>spesas. Não obstante,<br />

ao Con<strong>de</strong> aprouve furtar aos olhos aquele terreno<br />

<strong>de</strong>snudo, sombreando-o com uma plantação <strong>de</strong><br />

árvores... Por conseguinte, Nassau, para não<br />

pesar ao tesouro e para prover ao bem público,<br />

adquiriu a sua custa aquele terreno,<br />

transformando-o num lugar ameno e útil tanto à<br />

sua saú<strong>de</strong> e segurança como à dos seus.” (149-<br />

150). Nota lateral: “Realizaram-se estas obras no<br />

ano <strong>de</strong> 1639 e seguintes.”<br />

Confirma transplante <strong>de</strong> coqueiros em 1640 seg.<br />

Marcgrave (150-151)


Caspar Barlaeus: Rerum per octennium in<br />

Brasilia, Amsterdã, 1647<br />

Palácio <strong>de</strong> Friburgo: “A casa que lhe haviam<br />

<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do os diretores da Companhia ameaçava<br />

ruí<strong>na</strong> e não permitia reparos <strong>de</strong>centes sem<br />

gran<strong>de</strong>s gastos ... O palácio por ele construído<br />

(chama-se Friburgo, isto é, cida<strong>de</strong>la da liberda<strong>de</strong>)<br />

tem duas tôrres elevadas, surgindo do meio do<br />

parque, visíveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mar, a uma distância <strong>de</strong><br />

seis a sete milhas e servem <strong>de</strong> faróis aos<br />

<strong>na</strong>vegantes. Uma <strong>de</strong>las, tendo no topo uma<br />

lanter<strong>na</strong> e jorrando sua luz nos olhos dos <strong>na</strong>utas,<br />

atrai-lhes a vista para si e para o forte da costa,<br />

indicando-lhes a entrada segura e certa do porto.<br />

De cima <strong>de</strong>las <strong>de</strong>scorti<strong>na</strong>m-se, <strong>de</strong> um lado, as<br />

planícies do continente e, <strong>de</strong> outro, a vastidão<br />

dos mares, com os <strong>na</strong>vios aparecendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

longe.” (151-152)


Na or<strong>de</strong>m cronológica, muito <strong>de</strong>pois aparece eclipse<br />

13 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1640 quando o palácio ainda não<br />

estava pronto!<br />

∴ idéia falsa <strong>de</strong> que Friburgo foi construído bem<br />

mais cedo do que realmente foi (habitável em 1642)<br />

No fim, recapitulando os feitos: “Mandou <strong>de</strong>senhar<br />

cartas geográficas com gran<strong>de</strong> cuidado e a sua<br />

custa, ... sendo autor <strong>de</strong>las Jorge Marcgrave, exímio<br />

geógrafo e astrônomo, o qual, incumbido <strong>de</strong> fazer o<br />

mesmo <strong>na</strong> África, lá morreu. Para agradar-lhe<br />

mandou o Con<strong>de</strong> construir numa eminência um<br />

observatório, on<strong>de</strong> se estudassem os movimentos, o<br />

<strong>na</strong>scer, o ocaso, a gran<strong>de</strong>za, a distância e outras<br />

cousas referentes aos astros. A estes estudos juntou<br />

ainda aquela diligência com que fez <strong>de</strong>senhar e<br />

pintar artisticamente os animais <strong>de</strong> várias espécies,<br />

as maravilhosas formas dos insetos, os trajes<br />

exóticos e as armas dos povos. Estamos <strong>na</strong><br />

expectativa certa <strong>de</strong> tudo isso, que <strong>de</strong>ve sair a lume<br />

com as respectivas <strong>de</strong>scrições.”


Historia Naturalis Brasiliae, W. Piso e G.<br />

Markgraf, Ed. Jan <strong>de</strong> Laet, Amsterdã, 1648<br />

Ad Benevolos Lectores <strong>de</strong> Laet<br />

Esquema <strong>de</strong> Progym<strong>na</strong>stica<br />

Mathematica America<strong>na</strong><br />

Manuscritos cifrados


John Nieuhoff. Voyages and travels into<br />

Brasil and the East-Indies: Containing an<br />

Exact Description of the Dutch Brasil…<br />

London, 1703<br />

Tradução Itatiaia-Edusp 1981<br />

Edição holan<strong>de</strong>sa 1682<br />

Diário. Chegou 15/12/1640 e voltou 23/07/1649<br />

Criador da “média”!<br />

“Contíguo a esse forte [Ernesto] encontrava-se o<br />

jardim do Con<strong>de</strong> Maurício, ostentando numerosas<br />

espécies vegetais provenientes da Europa e das<br />

Índias.” (43)<br />

“Na parte da ilha, que fica entre os rios Capibaribe e<br />

Beberibe e entre o forte Ernesto e o forte triangular <strong>de</strong><br />

Waer<strong>de</strong>nburgh, encontravam-se os já citados jardins<br />

do Con<strong>de</strong> Maurício, providos <strong>de</strong> todas as varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

plantas, frutas, flores e verduras que a Europa, a África<br />

ou ambas as Índias po<strong>de</strong>riam proporcio<strong>na</strong>r.” (45)


John Nieuhoff. Voyages and travels into<br />

Brasil and the East-Indies: Containing an<br />

Exact Description of the Dutch Brasil…<br />

London, 1703<br />

“No centro do jardim erguia-se a<br />

residência do Con<strong>de</strong>, chamada Friburgo.<br />

Edifício <strong>de</strong> aspecto nobre que, ao que se<br />

diz, custou 600.000 florins. Oferecia<br />

uma perspectiva admirável, tanto do<br />

mar como <strong>de</strong> terra e suas duas torres<br />

eram tão altas que podiam ser vistas do<br />

mar a 5 ou 6 milhas <strong>de</strong> distância,<br />

servindo mesmo <strong>de</strong> baliza aos<br />

marinheiros.” (45) Dá a enten<strong>de</strong>r que<br />

seria em 1640, mas não é, pois cita Boa<br />

Vista.


Peter Whitehead: The biography of Georg<br />

Marcgraf (1610-1643/44) by his brother<br />

Christian, translated by James Petiver,<br />

Jour<strong>na</strong>l of the Society for the Bibliography<br />

of Natural History 9 (1979) 308-309.<br />

Vita Georgii Marggravii,mathematici ..., anexada<br />

ao prefácio <strong>de</strong> Prodromus medici<strong>na</strong>e dogmaticae et<br />

vere ratio<strong>na</strong>lis, Christian Marggrav, Lei<strong>de</strong>n, 1685<br />

Escrita <strong>na</strong> década <strong>de</strong> 1670, baseada diários 1637-<br />

1640, mas não os posteriores: comensal, posto,<br />

salário, observatório e farmácia, escolta cfr Cel.<br />

Mansfild<br />

Libelo e acusação contra Piso<br />

Reproduzida por J. J. Manget (1652-1742) em<br />

Bibliotheca scriptorum medicorum (1731) 262-264<br />

Tradução do farmacêutico James Petiver em 1713


II. Transição séc. 19-20<br />

Ciência já estabelecida<br />

Idéia transformadora: evolução não só<br />

biológica<br />

Revalorização <strong>de</strong> Marcgrave por<br />

Lichtenstein* (1815-1826) e von Martius.<br />

Expedições no Brasil<br />

<strong>Biografia</strong>s <strong>de</strong> Marcgrave<br />

Estilo <strong>de</strong> comunicações a aca<strong>de</strong>mias<br />

(<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lismo)<br />

* Nassau repassa Theatri Rerum Naturalium<br />

Brasiliae para Fre<strong>de</strong>rico Guilherme I, Príncipe<br />

Eleitor <strong>de</strong> Bran<strong>de</strong>nburgo


Victor Hantzsch: Georg Marggraf. Berichte<br />

Verhandl. königl. Sächsischen Gesellsch.<br />

Wissensch. Leipzig, Philol. Hist. Klasse,<br />

48: 199-227 (1896)<br />

Gustav Robert Viktor Hantsch (1868-1910):<br />

geógrafo e historiador alemão<br />

O autor se propõe a preencher uma lacu<strong>na</strong><br />

biográfica<br />

De fato, fora aquela <strong>de</strong> Christian, é a<br />

primeira biografia <strong>de</strong> Marcgrave<br />

Hantsch não cita a biografia <strong>de</strong> Marcgrave<br />

por Christian ou não sabia <strong>de</strong>la<br />

Pesquisou registros da família em Liebstadt<br />

Focaliza atenção nos mapas e escritos<br />

publicados<br />

Nada <strong>de</strong> observatório no Palácio <strong>de</strong> Friburgo


Alfredo <strong>de</strong> Carvalho, Um <strong>na</strong>turalista do<br />

século XVII. Georg Markgraf 1610-1644,<br />

Rev. do Inst. Arch. e Geog. Pern., 13, 212-<br />

222 (1908)<br />

“Aproveitou-se Markgraf admiravelmente <strong>de</strong><br />

tão propicias opportunida<strong>de</strong>s para satisfazer a<br />

sua avi<strong>de</strong>z insaciavel <strong>de</strong> saber: … e, quando<br />

Nassau estabeleceu no seu palacio um<br />

observatorio, o primeiro do hemispherio<br />

austral, passou as claras noites tropicaes<br />

contemplando as maravilhas do firmamento<br />

meridio<strong>na</strong>l... ”<br />

Dois parágrafos <strong>de</strong>pois fala do eclipse <strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1640, o que sugere uma or<strong>de</strong>m<br />

cronológica errada.<br />

C.R.Boxer, The Dutch in Brazil (1957): 3<br />

palácios<br />

Parece ser o precursos do mito


E. W. Gudger: George Marcgrave, the first<br />

stu<strong>de</strong>nt of American <strong>na</strong>tural history, The<br />

Popular Science Monthly, 81, 250-274,<br />

September 1912<br />

Ictiólogo que reconhece a<br />

importância <strong>de</strong> Marcgrave e se queixa<br />

<strong>de</strong> falta <strong>de</strong> biografia<br />

Escreve biografia muito respeitada<br />

“Be that as it may, Marcgrave<br />

certainly rose rapidly in the esteem of<br />

his chief, for we find that the latter<br />

built for him in 1639 in the city of<br />

Mauritia an astronomical observatory<br />

of stone from which Marcgrave studied<br />

the motions of the stars, their risings<br />

and settings, their sizes, distances and<br />

other phenome<strong>na</strong>( 5 )”. (253)


( 5 ) On the island of Antonio Vaez in the harbor of<br />

Recife, Count Maurice built after plans by Peter<br />

Post a vice-regal palace, Freiburg, in the suburb<br />

called Mauritia. This building had two towers<br />

which were visible six to seven leagues at sea and<br />

which served as beacons to the mariners<br />

(Nieuhoff). It was probably one of these which<br />

Marcgrave used as an observatory. This was in all<br />

probability the first astronomical observatory ever<br />

erected in the southern hemisphere and in the<br />

new world.<br />

… (Manget)”<br />

Mérito principal: inclui informações <strong>de</strong><br />

Manget (Christian)<br />

Correspon<strong>de</strong>u com A. Carvalho, mas<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter publicado a biografia <strong>de</strong><br />

Marcgrave


“Just as the tower of Freiburg, which was<br />

given over to Marcgrave’s use, was<br />

probably the first astronomical observatory<br />

ever erected in the southern hemisphere,<br />

so it is also probable that Marcgrave’s<br />

observations of the southern stars were<br />

the first ever ma<strong>de</strong> in the history of the<br />

world. For this reason, even if we do not<br />

take into account their scientific value,<br />

their loss is irreparable.” (258)<br />

Refere-se a Manget como “unknown<br />

writer”, sem saber que a biografia tinha<br />

sido escrita por Christian<br />

Juntando informações <strong>de</strong> Barlaeus,<br />

Nieuhof e Christiam dá forma ao mito que<br />

se impõe pela sua autorida<strong>de</strong><br />

Suas asserções conjecturais não ajudaram<br />

muito, como veremos


Rudolph Zaunick, Zum Leben Georg<br />

Marcgraves (1610-1644), Neuen Archivs<br />

für Sächsische Geschichte, Leipzig 37, 143-<br />

146 (1916)<br />

Complementa Gudger em “Zoologischen An<strong>na</strong>len”<br />

Bd. VI, Heft I, Würzburg 1914, S.1-31 com<br />

informações sobre o pai <strong>de</strong> Marcgrave<br />

Conclui que a biografia em Manget foi escrita por<br />

Christian


Affonso <strong>de</strong> E. Tau<strong>na</strong>y: Jorge Marcgrave <strong>de</strong><br />

Liebstad 1610-1644, Escorço biográfico in<br />

História Natural do Brasil, Jorge Marcgrave,<br />

Trad. Mons. Dr. José Procópio <strong>de</strong> Magalhães,<br />

Edição do Museu Paulista comemorativa do<br />

cinqüentenário da Fundação da Imprensa<br />

Oficial do Estado <strong>de</strong> São Paulo, Imprensa<br />

Oficial do Estado, 1942<br />

“...Marcgrave subiu rapidamente <strong>na</strong> estima<br />

do chefe, pois sabemos que êste último<br />

construiu para êle, em 1639, um<br />

observatório astronômico <strong>de</strong> pedra, em<br />

Mauritia don<strong>de</strong> Marcgrave estudou os<br />

movimentos das estrelas, aparições e<br />

ocultações, volume, distâncias e outras<br />

particularida<strong>de</strong>s.” (X)


...<br />

<strong>“O</strong> certo é que no ano seguinte (?) no<br />

Palácio chamado <strong>de</strong> Friburgo<br />

(Vryburg), construído <strong>na</strong> ilha <strong>de</strong><br />

Antônio Vaz segundo os planos <strong>de</strong><br />

Pieter Post, em uma <strong>de</strong> suas tôrres,<br />

visíveis à distância <strong>de</strong> seis a sete<br />

léguas do mar e servindo <strong>de</strong> fa<strong>na</strong>l<br />

aos mareantes, já Marcgrave<br />

instalara o seu observatório,<br />

primeiro ereto não só no Brasil como<br />

no Novo Mundo.” (X)


III. Atualida<strong>de</strong><br />

3º Centenário da morte <strong>de</strong> Maurício <strong>de</strong><br />

Nassau em 1979<br />

Johan Maurits van Nassau-Siegen 1604-1679,<br />

A Humanist Prince in Europe and Brazil, The<br />

John Maurits van Nassau Stichting,<br />

Mauritshuis, The Hague, 1979<br />

Seminário comemorativo <strong>na</strong> Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Direito <strong>de</strong> Per<strong>na</strong>mbuco em 1979<br />

Simpósio Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l “Georg Marcgrave,<br />

Pioneiro das Ciências Naturais no Brasil”,<br />

Recife, 26-29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1998


John North: Georg Markgraf. An astronomer in the<br />

New World in Johan Maurits van Nassau-Siegen 1604-<br />

1679 A Humanist Prince in Europe and Brazil, E. van<br />

<strong>de</strong>n Boogaart (Ed.), The Hague, 1979, 395-423<br />

1º estudo por astrônomo mo<strong>de</strong>rno<br />

“…Markgraf was well and truly in possession of<br />

the Prince’s patro<strong>na</strong>ge before the time when an<br />

observatory was being planned for him in the new<br />

palace of Vrijburg…” (402)<br />

“There is an illustration by Zacharias Wagner of the<br />

house in which Johan Maurits lived for most of his time in<br />

Brazil, that is, before his relatively short spell in the<br />

Vrijburg. The house, on Antonio Váz, was an old<br />

Portuguese house, but <strong>–</strong> as pointed out to me by Professor<br />

José Antonio Gonsalves <strong>de</strong> Mello (see also his Tempo dos<br />

Flamengos, 2nd. edition, 1978, p. 84[1]) <strong>–</strong> there is a<br />

superstructure above the roof which was not a part of the<br />

origi<strong>na</strong>l house[2].<br />

[1] Aí Gonsalves <strong>de</strong> Mello não relacio<strong>na</strong> a estrutura sobre o<br />

telhado com o observatório.<br />

[2] Gonsalves <strong>de</strong> Mello teria dado a dica para North <strong>de</strong> que<br />

a superestrutura era o observatório.


This superstructure was remarkably like the<br />

observatory built for Markgraf at the top of one of the<br />

Vrijburg towers, both in style and proportions, as may<br />

be judged from my subsequent <strong>de</strong>scription of the later<br />

building. This being so, it seems very probable that the<br />

addition to the Portuguese house was inten<strong>de</strong>d as an<br />

observatory for Markgraf. It must have been extremely<br />

difficult to place such an edifice securely above an old<br />

building, and the poor values for the <strong>de</strong>duced latitu<strong>de</strong>s<br />

are doubtless a reflection of this fact.” (404). ∴ 2 locais<br />

para o observatório<br />

Qdo. Marcgrave volta <strong>de</strong> expedição em que observou<br />

eclipse no forte Ceulen em 14 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1642, ele<br />

observa <strong>de</strong> Friburgo a partir <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> novembro daquele<br />

ano. (404)<br />

Na legenda do <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Friburgo por Post (405):<br />

“This was the palace built by Johan Maurits, who<br />

arranged for an observatory to be built for Markgraf in<br />

one of the towers”.<br />

∴ mudança do observatório do casarão português para<br />

o palácio <strong>de</strong> Friburgo


John North: Astronomia no Brasil holandês,<br />

Ciência da Holanda, 79, 12-15, 1980<br />

“...após o <strong>de</strong>sabamento da casa[1] on<strong>de</strong> Markgraf realizara<br />

suas primeiras observações, parece ter­lhe construído<br />

sucessivamente dois observatórios. O primeiro, no topo <strong>de</strong><br />

uma velha casa portuguesa <strong>na</strong> qual o príncipe residia: a<br />

segunda, uma construção magnífica, no alto <strong>de</strong> uma das<br />

torres do Palácio Vrijburg, bela residência erigida <strong>na</strong> ilha <strong>de</strong><br />

Antônio Vaz, circundada por belo parque ajardi<strong>na</strong>do, pleno<br />

<strong>de</strong> animais exóticos, pássaros e plantas.” (13)<br />

Na mesma pági<strong>na</strong> aparece Vrijburg <strong>de</strong> Post com esta<br />

legenda: “Vista geral <strong>de</strong> Vrijburg, o palácio construído por<br />

Maurício. Em uma <strong>de</strong> suas torres foi construído o<br />

observatório <strong>de</strong> Markgraf.”<br />

∴ observatório em 3 locais.<br />

[1] Na madrugada <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1640.


Jorge Polman: Markgraf e o Recife<br />

<strong>de</strong> Nassau, CEA 1984<br />

North relacio<strong>na</strong> o observatório <strong>de</strong>scrito nos<br />

MP com um observatório numa das torres <strong>de</strong><br />

Friburgo<br />

Polman <strong>de</strong>scarta que o observatório tenha<br />

sido no palácio ou tenha sido levado para lá.<br />

Isso viria da biografia escrita por Christian<br />

(não!) ou <strong>de</strong> Pingré<br />

Único observatório: o <strong>de</strong>senhado por Wagner<br />

Polman também acha que o colapso não foi <strong>na</strong><br />

casa do con<strong>de</strong>:<br />

“No começo morava em uma casa simples, a<br />

respeito da qual se lê <strong>na</strong> biografia escrita por<br />

seu irmão Cristian, que numa noite ruiu em<br />

cima <strong>de</strong>le e dos companheiros que lá dormiam,<br />

<strong>de</strong>slocando-lhe o ombro direito e quebrando as<br />

per<strong>na</strong>s <strong>de</strong> vários outros.” (4)


Argumentos:<br />

Torres <strong>de</strong> Friburgo quadradas* sobre 4<br />

andares acima do térreo (15 m) ∴ 43<br />

<strong>de</strong>graus não bastariam<br />

Nas torres não há vestígio da forma<br />

hexago<strong>na</strong>l para encerrar o quadrante<br />

Não há uma 2ª plataforma superior, nem<br />

teto piramidal hexago<strong>na</strong>l, ape<strong>na</strong>s pérgula<br />

coberta por teto arredondado. OK!<br />

Legenda da planta baixa não faz menção<br />

ao observatório, nem no parque em torno<br />

do palácio<br />

* Joaquim <strong>de</strong> Sousa­Leão Filho em “Frans Post” fala que as<br />

torres do palácio <strong>de</strong> Friburgo eram hexago<strong>na</strong>is (p. 15).


J. Polman, Sky & Telescope,<br />

Letters, November 1984, 388<br />

First observatory in Southern Hemisphere<br />

“His observatory seems to have been located at Maurice’s<br />

mansion.<br />

The evi<strong>de</strong>nce comes from two sources. First is a painting...<br />

Contemporary accounts <strong>de</strong>scribe it as an observing turret.<br />

The second source is a little booklet found by J. D. North<br />

among Markgraf’s papers at Paris Observatory ... Since<br />

measurements are given, it is possible to reconcile the<br />

<strong>de</strong>scription with the painting if allowance is ma<strong>de</strong> for the<br />

latter’s poor perspective.<br />

Scholars have heretofore believed that Markgraf had his<br />

observatory at Maurice’s second mansion, built in 1642<br />

some 400 meter from the first. Althoug it had two towers,<br />

there is no sign of an observatory and the tower <strong>de</strong>sign<br />

does not agree with Markgraf’s notes.”


John D. North: Georg Markgraf, an astronomer in<br />

the New World, Chapter 9, The universal frame:<br />

historical essays in astronomy, <strong>na</strong>tural philosophy<br />

and scientific method, W. B. C. Ltd., Bristol and<br />

Maesteg, 1989, 215-234<br />

Em Ad<strong>de</strong>nda, p. 234: “Mr. Jorge Polman has raised in<br />

correspon<strong>de</strong>nce with me the interesting possibility that<br />

the papers now in the Paris Observatory <strong>de</strong>scribe<br />

Markgraf’s observatory as <strong>de</strong>picted in the Wagner<br />

painting, that is, that they might relate to the<br />

Portuguese house, rather than the Vrijburg palace. His<br />

arguments are well set out in a pamphlet Markgraf e o<br />

Recife <strong>de</strong> Nassau, Clube Estudantil <strong>de</strong> Astronomia,<br />

Recife, 1984. It is very difficult to <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> between the<br />

alter<strong>na</strong>tives, for the uppermost sections of the towers<br />

on both buildings were roughly similar, as far as we can<br />

judge from the surviving drawings (mas, <strong>de</strong>senho <strong>de</strong><br />

Wagner é claro e cfr datas dos MP). The height implied<br />

by the 43 steps mentioned in the text is no important<br />

clue, except that we cannot be sure of the point from<br />

which they commenced (<strong>de</strong> fato, seg. mo<strong>de</strong>lo 3D<br />

começa do assoalho do 1° andar).


I see no problem in the curvature of the<br />

‘pyramids’ on the Vrijburg towers, for<br />

observing hatches were often ma<strong>de</strong> in curved<br />

roofs, as they were at Uraniborg and still are<br />

today. The problem with resting a hypothesis<br />

on the unsuitable character of the Vrijburg<br />

towers as an observatory is that it rules out<br />

too much, for where, then was Markgraf’s<br />

second observatory? (ora, o problema do 2°<br />

observatório nem sequer existe!) It would be<br />

surprising, too, if the second observatory<br />

were radically different in plan from the first.<br />

The architectural historial J. J. Terwen found<br />

my expla<strong>na</strong>tion well suited to his<br />

reconstruction of the plan of the Vrijburg.<br />

There are also the problems of the large<br />

clock in the tower, and the Prince’s chamber<br />

(see p. 255 above) (mas a pág. da nota é<br />

234!). Despite these difficulties, Mr Polman’s<br />

suggestions offers distinct possibilities.”


Rebecca Parker Brienen: Georg Marcgraf (1610c.1644<br />

A German Cartographer, Astronomner, and<br />

Naturalist Illustrator, Itinerario 25 (2001) 85-122<br />

“By the time the house he shared with Piso collapsed in 1640,<br />

Marcgraf’s position vis­à­vis both Piso and the Count had<br />

changed consi<strong>de</strong>rably (?). From at least that time forward,<br />

Marcgraf was a member of the Count’s Brazilian court,<br />

perhaps even taking up resi<strong>de</strong>nce in Vrijburg, the Count’s<br />

new palace in Mauritsstad (now part of Recife), when the<br />

observatory was completed (c. 1642). With the observatory<br />

housed in one of the palace’s main towers, and given<br />

Marcgraf’s need to make nightly observations, such an<br />

arrangement would hardly be surprising. According to<br />

Christian, however, the sequence of events went as follows:<br />

Johan Maurits, favourably impressed by Marcgraf’s abilities<br />

in military engineering during battle with the Portuguese in<br />

Salvador [1639, Bahia], ‘honors him at his own table for 3<br />

months having adorn’d him with a garmet interwove with gold<br />

… confesses himself his pupil, & bestows upon him the<br />

salary of a Captain & commands him to have a seat in ye new<br />

Citty of Maurice, where Marcgrave setts up an Astronomical<br />

Observatory’ …” Versão <strong>de</strong> Christian parece mais verda<strong>de</strong>ira


Outros mitos<br />

Tau<strong>na</strong>y: Golius não conseguiu <strong>de</strong>cifrar<br />

cifras da 3ª parte <strong>de</strong> Progym<strong>na</strong>stica<br />

Ihrering: 2 partes <strong>de</strong> Progym<strong>na</strong>stica se<br />

per<strong>de</strong>ram durante empréstimo<br />

“The southern hemisphere was to wait<br />

more than a century for another first-class<br />

astronomer, this time N.-L. <strong>de</strong> Lacaille:<br />

and Brazil’s only contribution to Lacaille’s<br />

work was to repair the leaky French ship<br />

in which he travelled to the Cape of Good<br />

Hope.” (North, 394)


Conclusões<br />

Vários tipos <strong>de</strong> mito cfr época: apologéticos, edificantes,<br />

pedagógicos, conceituais etc<br />

<strong>Mito</strong> friburguense: apologético-edificante<br />

Germe: cronologia errada ou ambígüa do século 17 +<br />

“ressonância” (alguém com reputação insinua o que<br />

todos querem ouvir) mais <strong>de</strong> 2 séculos <strong>de</strong>pois +<br />

contumácia mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> (salvar o mito)<br />

Novas informações são incapazes <strong>de</strong> promover a<br />

retificação (pré-concepções, argumentos tortuosos,<br />

refutações falhas...)<br />

Caveat: pon<strong>de</strong>rar a credibilida<strong>de</strong> das informações,<br />

esquecer pré-concepções, não fazer asserções<br />

categóricas se ilações são conjecturais<br />

<strong>Mito</strong>s são inevitáveis e temos que conviver com eles<br />

Nem sempre são tão nocivos: me seduziu!

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