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PREVENÇÃO DE REAÇÕES OXIDATIVAS: ANTIOXIDANTES NOS ...

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FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS<br />

22<br />

<strong>REAÇÕES</strong> <strong>OXIDATIVAS</strong><br />

Introdução<br />

As reações oxidativas são<br />

consideradas uma das principais<br />

responsáveis pela deterioração<br />

dos alimentos. Os ácidos graxos<br />

insaturados são as estruturas mais<br />

suscetíveis ao processo oxidante,<br />

pois a presença de carbonos metilênicos<br />

entre as duplas ligações,<br />

facilita a retirada de um átomo<br />

de hidrogênio e a formação do<br />

radical livre, passo inicial da<br />

oxidação.<br />

O radical livre formado, a<br />

partir dos ácidos graxos, está associado<br />

a outras espécies reativas,<br />

como as provenientes do oxigênio<br />

<strong>PREVENÇÃO</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>REAÇÕES</strong> <strong>OXIDATIVAS</strong>:<br />

<strong>ANTIOXIDANTES</strong><br />

<strong>NOS</strong> VEGETAIS <strong>DE</strong><br />

CONSUMO HUMANO<br />

e representadas pelos radicais:<br />

hidroxila OH, peroxila RO2, alcoolixa<br />

RO, peróxido de hidrogênio<br />

H2O2, entre outros.<br />

A formação dos radicais livres<br />

pode ocorrer a partir de uma<br />

simples homólise de ligações<br />

fracas e, também, a partir da decomposição<br />

dos hidroperóxidos<br />

por ação catalítica dos metais. É<br />

um exemplo a reação de Felton,<br />

representada pela redução do<br />

peróxido de hidrogênio pelo ferro<br />

divalente (Fe2+) e pela reação de<br />

Haber-Weiss, catalisada pelo ferro<br />

trivalente (Fe+3). A formação de<br />

radicais livres pode ser o início do<br />

processo oxidativo, sendo que a<br />

sua prevenção pode ser feita pelos<br />

antioxidantes, compostos que podem<br />

ser extrínsecos ou intrínsecos<br />

dos alimentos.<br />

Antioxidantes<br />

Os antioxidantes extrínsecos<br />

são normalmente aditivos sintéticos<br />

e utilizados na indústria de<br />

Os antioxidantes extrínsecos são normalmente aditivos sintéticos e<br />

utilizados na indústria de alimentos objetivando o<br />

aumento da vida de prateleira, principalmente nos alimentos que<br />

contenham lipídios na sua composição.<br />

alimentos objetivando o aumento<br />

da vida de prateleira, principalmente<br />

nos alimentos que contenham<br />

lipídios na sua composição.<br />

A indústria de alimentos pode<br />

utilizar os seguintes antioxidantes<br />

sintéticos: butil hidroxi tolueno


(BHT); butil hidroxi anisol (BHA);<br />

tercio butil hidroxiquinona (TBHQ)<br />

e/ou Propil Galato (PG). As legislações<br />

bromatológicas de diversos<br />

países estabelecem a utilização<br />

destes compostos a um máximo<br />

de 200ppm, quer individualmente<br />

ou associados. O consumo destes<br />

compostos tem sido associado a<br />

problemas metabólicos e com isto<br />

o setor industrial tem diminuído a<br />

sua utilização e, também, procurado<br />

a substituição destes compostos<br />

por antioxidantes naturais.<br />

Os componentes intrínsecos<br />

são considerados naturais, pois<br />

estão naturalmente presentes nos<br />

alimentos e abrangem um número<br />

relativamente grande de substâncias,<br />

no qual se enquadram as<br />

vitaminas antioxidantes e os compostos<br />

fenólicos.<br />

As vitaminas antioxidantes presentes<br />

nos alimentos são consideradas<br />

como compostos nutrientes e<br />

participam de alguma maneira do<br />

bloqueio do processo oxidativo.<br />

Estas, são as vitaminas C, E e os<br />

carotenóides, que são considerados<br />

compostos pró-vitamina A.<br />

O ácido ascórbico ou vitamina<br />

C é um antioxidante hidrossolúvel.<br />

Em função da sua estrutura molecular<br />

pode atuar como doador de<br />

hidrogênios, seqüestrador do oxigênio<br />

singlete e quelante de metais<br />

com mais de um estado de valência,<br />

que apresentam propriedades<br />

pró-oxidantes. As fontes vegetais<br />

da vitamina C são principalmente<br />

os frutos cítricos, melões, tomates,<br />

pimenta, brócolis, entre outros.<br />

A vitamina E é representada<br />

pelos tocoferóis e tocotrienóis. A<br />

vitamina E protege as células e<br />

os tecidos dos danos oxidativos<br />

produzidos pelos radicais livres.<br />

O a-tocoferol é um seqüestrador<br />

efetivo das espécies reativas do<br />

oxigênio. A dinâmica e o mecanismo<br />

de inibição da oxidação<br />

pelo a-tocoferol têm sido extensivamente<br />

estudada e objeto de<br />

diversas revisões. As principais<br />

fontes vegetais da vitamina E são<br />

as sementes oleaginosas, óleos<br />

vegetais, germe de trigo, nozes,<br />

cereais e folhas.<br />

Diversos carotenóides, como<br />

o β-caroteno, o licopeno e a zeaxantina,<br />

entre outros, apresentam<br />

propriedades antioxidantes, pois<br />

reagem com o oxigênio e radicais<br />

livres, sendo o β-caroteno o mais<br />

estudado, pois pode ser converti-<br />

do em vitamina A no organismo,<br />

de forma mais efetiva do que os<br />

demais. As principais fontes de carotenóides<br />

são: cenoura, tomate,<br />

feijão e hortaliças, representadas<br />

por folhas, flores, botões e hastes,<br />

destacando-se os seguintes vegetais:<br />

alface, couve-flor, brócolis,<br />

escarola, etc.<br />

Compostos Fenólicos<br />

Os compostos fenólicos são outra<br />

classe de substâncias naturalmente<br />

presentes nos vegetais que<br />

podem atuar como antioxidantes,<br />

sem apresentar a propriedade de<br />

nutriente. Atualmente, os compostos<br />

fenólicos têm sido muito estudados,<br />

pois os alimentos que os<br />

contêm, são caracterizados como<br />

funcionais, isto é, apresentam alguma<br />

propriedade adicional que<br />

pode propiciar benefícios à saúde<br />

humana, além da importância<br />

nutricional.<br />

Entre os compostos fenólicos<br />

estão as isoflavonas e os ácidos<br />

fenólicos na soja, os polifenóis e<br />

as catequinas no chá, os ácidos<br />

clorogênicos no café, as antociani-<br />

<strong>REAÇÕES</strong> <strong>OXIDATIVAS</strong><br />

nas no vinho; os ácidos carnósico<br />

e rosmarínico no alecrim e em<br />

outras espécies; os bioflavonóides<br />

nos frutos cítricos, a quercitina e o<br />

campferol no alho; os ácidos salicílico,<br />

transcinâmico, sináptico,<br />

quínico, caféico em diversos vegetais.<br />

Portanto, a distribuição de<br />

compostos fenólicos na natureza<br />

é muito ampla e está intimamente<br />

relacionada com esquema de<br />

proteção dos vegetais frente aos<br />

processos oxidativos.<br />

Os ácidos fenólicos, flavonóides<br />

e outros polifenóis dos vegetais<br />

têm sido caracterizados como<br />

fitoquímicos, ou os alimentos que<br />

O radical livre formado, a partir dos ácidos graxos, está associado a<br />

outras espécies reativas, como as provenientes do oxigênio.<br />

os contêm são designados como<br />

funcionais, pois apresentam ação<br />

farmacológica para o organismo<br />

animal. Podem atuar como<br />

biocidas, anticarcinogênicos,<br />

antiinflamatórios, antioxidantes e<br />

antivirais.<br />

As substâncias fenólicas presentes<br />

nos vegetais podem atuar<br />

como antioxidantes de diferentes<br />

maneiras: interrompe as reações<br />

dos radicais livres pela doação de<br />

prótons H+, quebra íons metálicos<br />

e seqüestra espécies reativas do<br />

oxigênio. Quando reagem com<br />

radicais livres os converte em<br />

produtos termodinamicamente<br />

mais estáveis. A estrutura dos<br />

antioxidantes fenólicos influencia<br />

diretamente sua atividade, pois a<br />

presença de radicais nas posições<br />

orto e para do grupamento fenólico<br />

aumenta as possibilidades de<br />

ressonância da sua forma de radical,<br />

conferindo certa estabilidade<br />

ao composto formado.<br />

As principais fontes de vegetais<br />

de compostos fenólicos são<br />

representadas pelas especiarias,<br />

sendo destas extraídas compostos<br />

fenólicos utilizados comercialmen-<br />

FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS<br />

23


FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS<br />

24<br />

<strong>REAÇÕES</strong> <strong>OXIDATIVAS</strong><br />

te como antioxidantes. O alecrim<br />

(Rosmarinus of ficialis L.) é uma<br />

especiaria que tem sido muito<br />

estudada devido ao seu elevado<br />

potencial antioxidante. Diversos<br />

compostos foram isolados de<br />

extratos orgânicos da folha de<br />

alecrim, dentre eles destacam-se o<br />

ácido carnósico; metil-carnósico e<br />

12 metoxi-carnósico; o carnosol;<br />

o metoxicarnosol e o metilcarnosol;<br />

os ácidos fenólicos; caféico,<br />

vanílico, ferúlico entre outros.<br />

A salvia (Salvia officinalis L.), a<br />

mostarda (Brassica Alba, L.), o<br />

orégano (Origanum vulgare L.), a<br />

canela (Cinnamomum Zeylanium,<br />

Blume), são espécies que também<br />

apresentam expressiva atividade<br />

antioxidante relacionada com os<br />

compostos fenólicos que contêm.<br />

Estresse oxidativo<br />

Diversos estudos têm demonstrado<br />

a participação dos compostos<br />

dietéticos não nutrientes na<br />

prevenção do aparecimento de<br />

certas doenças. São principalmente<br />

os alimentos que apresentam<br />

propriedades antioxidantes, pois<br />

estas participam dos processos<br />

relacionados a desequilíbrio<br />

oxidante/antioxidante do organismo<br />

e associadas a inúmeras<br />

patologias.<br />

O organismo, pelo sistema<br />

imunológico, responde aos agentes<br />

agressores pelas reações oxidativas,<br />

que estão relacionadas<br />

a diferentes processos, como<br />

estímulo das células fagocíticas,<br />

ativação de mecanismos enzimáticos<br />

e produtores de hormônios,<br />

sendo todos, de alguma forma,<br />

relacionados com a presença das<br />

espécies reativas do oxigênio.<br />

Os antioxidantes naturais dos<br />

vegetais podem atuar no controle<br />

das espécies reativas do oxigênio,<br />

produzidas pelas células fagocíticas,<br />

limitando assim os danos<br />

teciduais decorrentes da resposta<br />

inflamatória. Podem também estar<br />

relacionados com a fluidez das<br />

membranas celulares, as quais<br />

podem ser oxidadas através da<br />

peroxidação de seus lipídios pelas<br />

espécies radicalares. Portanto, os<br />

antioxidantes podem diminuir o<br />

dano da membrana, protegendo<br />

a integridade da célula.<br />

O estresse oxidativo, durante<br />

a infecção viral, está associado à<br />

atividade dos fagócitos e à liberação<br />

de pró-citocinas oxidantes e<br />

da interleucina-1, a qual é responsável<br />

pela retirada do ferro pelo<br />

sistema retículo endotelial.<br />

Os antioxidantes presentes nos vegetais e nos alimentos, de uma<br />

forma geral, são protetores dos mesmos e, quando no organismo<br />

animal, levam à proteção contra o estresse oxidante.<br />

A múltipla interação de patogenicidade<br />

genética entre as<br />

espécies reativas do oxigênio e o<br />

vírus da imunodeficiência humana<br />

(HIV), tem despertado a atenção.<br />

Isto, considerando a possibilidade<br />

de que diferentes tipos de interações<br />

podem desenvolver a patogenicidade<br />

de outros vírus, com uma<br />

ampla variedade de vírus RNA,<br />

DNA e retroviroses.<br />

O aumento da peroxidação<br />

lipídica no período da infecção<br />

está relacionado ao estímulo do<br />

processo de replicação viral,<br />

promovendo a potencialização da<br />

sua infecciosidade.<br />

O vírus inf luenza tem sido<br />

utilizado como modelo de vírus<br />

RNA, atuando sobre as células<br />

fagocíticas e no aumento de espécies<br />

reativas do oxigênio. Os<br />

antioxidantes podem atuar na<br />

inibição da oxidação dos ácidos<br />

graxos insaturados presentes nos<br />

triglicerídeos e fosfolipídeos da<br />

membrana celular, de tal forma a<br />

diminuir o desencadeamento do<br />

processo infeccioso.<br />

Conclusões<br />

Os antioxidantes presentes<br />

nos vegetais e nos alimentos, de<br />

uma forma geral, são protetores<br />

dos mesmos e, quando no organismo<br />

animal, levam à proteção<br />

contra o estresse oxidante. Destacam-se<br />

as observações do estímulo<br />

das enzimas antioxidantes<br />

superóxido dismutase, catalase,<br />

glutationa (peroxidase e glutationa<br />

redutase) do organismo<br />

animal, quando da ingestão de<br />

antioxidantes vegetais. Estas<br />

observações estão associadas às<br />

alterações da expressão gênica<br />

de cada uma das enzimas antioxidantes<br />

e está ocupando um<br />

espaço de destaque em estudos<br />

que buscam compreender, em nível<br />

molecular, os efeitos contínuos<br />

dos nutrientes, enquadrando-se<br />

aqui, os compostos fenólicos,<br />

com atividade antioxidante, presentes<br />

nos vegetais de consumo<br />

humano. A presença destas substâncias<br />

permite caracterizá-los<br />

como alimentos funcionais.<br />

Jorge Mancini Filho é membro<br />

do Departamento de Alimentos e<br />

Nutrição Experimental da Faculdade<br />

de Ciências Farmacêuticas<br />

da Universidade de São Paulo.<br />

Dalva A. P. Mancini é membro<br />

do Laboratório de Virologia do<br />

Instituto Butantã de São Paulo.<br />

jmancini@usp.br


<strong>REAÇÕES</strong> <strong>OXIDATIVAS</strong><br />

FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS<br />

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