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AIDS 25 ANOS AIDS 25 ANOS - Portal ENSP - Fiocruz

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RADIS 40 DEZ/2005<br />

[ 24 ]<br />

vendeu milhares de exemplares ao<br />

longo de décadas: o autor afirmava<br />

que dormir de bruços era a<br />

posição mais saudável para as<br />

crianças. No entanto, nos<br />

anos 90, e depois da morte de<br />

numerosas crianças, a comunidade<br />

científica constatou<br />

que a posição causava morte<br />

súbita. É que estudo publicado<br />

poucos anos após a edição<br />

do livro tinha sido simplesmente<br />

desconsiderado. “Foram anos de<br />

repetição de uma única e errônea informação,<br />

que poderia estar revisada<br />

desde 1970, evitando milhões de<br />

mortes”, afirmou.<br />

Para César Victora, professor de<br />

Epidemiologia do Departamento de<br />

Medicina Social da Faculdade de Medicina<br />

de Pelotas (RS), que falou sobre<br />

as desigualdades nas informações<br />

em saúde, também prejudica as populações<br />

o não-acesso a ações simples<br />

de saúde, o que aumenta o índice<br />

de mortalidade infantil nos países<br />

pobres e em desenvolvimento.<br />

Victora apresentou mais uma vez<br />

os alarmantes números da mortalidade<br />

de crianças abaixo de 5 anos no<br />

mundo: 10,7 milhões, todos os anos,<br />

por causas neonatais, diarréia, malária<br />

e pneumonia, sendo a desnutrição<br />

fator subjacente em 52% delas.<br />

Desse total, 90% das mortes estão concentrados<br />

em 42 dos 192 países do<br />

mundo, entre eles o Brasil. Apenas<br />

seis países detêm metade das mortes:<br />

Índia, China, Nigéria, Paquistão,<br />

Etiópia e Bangladesh.<br />

Comparado a outras causas de<br />

morte, esses números parecem<br />

ainda mais assustadores.<br />

Aids, 3 milhões; tuberculose,<br />

1,6 milhão; malária, 1,5 milhão.<br />

“E o pior é que a maioria<br />

dos casos se concentra<br />

na África Subsaariana e no<br />

subcontinente indiano, onde<br />

estão Índia, Bangladesh,<br />

Paquistão e Afeganistão, ou<br />

seja, países que enfrentam problemas<br />

sociais e econômicos graves”, alertou.<br />

Os quase 11 milhões de mortes<br />

de crianças, segundo o professor,<br />

poderiam ser reduzidos em cerca de<br />

6 milhões (63%) com intervenções<br />

simples e de baixo custo. “A prática<br />

do aleitamento materno exclusivo<br />

nos primeiros seis meses de vida da<br />

criança, continuando até os dois<br />

anos, conforme preconiza a OMS,<br />

poderia reduzir em 13% a mortalidade<br />

infantil, evitando a desnutrição”,<br />

exemplificou. A hidratação oral pelo<br />

soro caseiro, combinação simples de<br />

sal, açúcar e água, evitaria cerca de<br />

15% das mortes, controlando a diarréia.<br />

Antibióticos para tratamento<br />

da tuberculose evitariam<br />

17% das mortes. Mosquiteiros<br />

impregnados de inseticida,<br />

por 3 dólares a unidade,<br />

evitariam 7% das<br />

mortes por malária.<br />

Ao contrário disso, no<br />

mundo apenas 39% das mães<br />

amamentam de maneira adequada.<br />

Das crianças com diarréia,<br />

somente 20% recebem<br />

hidratação oral e nada além de 22%<br />

dormem sob a proteção de mosquiteiros.<br />

A questão não é gerar novas<br />

intervenções e tecnologias, mas aplicar<br />

o que já existe, defendeu.<br />

E assim cresce o abismo entre<br />

países pobres e ricos: “Se em<br />

1990, na África Subsaariana, a<br />

morte de crianças abaixo de 5<br />

anos era 20 vezes maior do que<br />

nos países ricos, hoje é 30 vezes<br />

maior. Nos países em desenvolvimento<br />

como o Brasil, a diferença<br />

é de 14 vezes mais”.<br />

O pesquisador também critica as<br />

pesquisas científicas voltadas exclusivamente<br />

para doenças da moda ou do<br />

Primeiro Mundo, deixando de lado as<br />

doenças simples que atingem os países<br />

pobres. “É preciso que haja eqüidade<br />

na produção da informação, e não apenas<br />

no acesso, garantindo que pesquisas<br />

como essa, sobre as causas da mortalidade<br />

infantil, sejam divulgadas e<br />

aplicadas”, conclamou.<br />

Ao dividir o debate com Victora,<br />

o professor de Literatura Comparada<br />

Jean Claude Guedon, da Universidade<br />

de Montreal, no Canadá,<br />

falou sobre o importante desafio<br />

da valorização de pesquisadores<br />

e pesquisas que<br />

retratem os problemas das<br />

comunidades locais, em vez<br />

de celebrar a produção científica<br />

dos países ricos —<br />

que comparou a estrelas de<br />

Hollywood. “São maravilhosas<br />

e de excelência, mas inacessíveis”.<br />

SAÚDE PELA INTERNET?<br />

Sob o título de “E-health [saúde<br />

eletrônica] e e-pacient [paciente eletrônico]:<br />

uma nova cultura de saúde”, especialistas<br />

falaram sobre as tecnologias<br />

que permitem que a informação de<br />

saúde de cada pessoa esteja disponível<br />

na internet. Esse novo conceito de<br />

organização de informações por mecanismos<br />

virtuais foi o centro da palestra<br />

do consultor da OMS Salah Mandil.<br />

Para ele, os computadores que eram<br />

tidos como meras máquinas de calcular<br />

e processar dados clínicos e<br />

epidemiológicos, transformaram-se<br />

em sofisticados instrumentos, agregando<br />

as chamadas novas tecnologias<br />

da informação e da comunicação a<br />

todos os aspectos da área de saúde.<br />

“Tudo começou com o EDP (sigla em<br />

inglês de “processamento eletrônico<br />

de dados”) em saúde, passou à<br />

informática na medicina, depois<br />

telemedicina, até chegar à e-health”,<br />

disse. Esse novo campo, cujo nome<br />

foi adaptado das práticas comerciais<br />

eletrônicas, designa o emprego de<br />

novas tecnologias na área de saúde.<br />

De acordo com a advogada Petra<br />

Wilson, vice-diretora da European<br />

Health Management Association (rede<br />

européia de organizações de<br />

saúde), o termo e-health caracteriza<br />

o desenvolvimento<br />

tecnológico na área da saúde<br />

e promete maior acesso ao<br />

cuidado, qualidade do cuidado,<br />

eficiência e produtividade.<br />

“E-health é uma maneira de<br />

pensar, é uma atitude diante<br />

da rede de informação em saúde”,<br />

resumiu.<br />

Petra, que é especializada em<br />

Direito em Saúde Pública pela Universidade<br />

de Oxford, iniciou sua fala contando<br />

a história de Sophia que, encontrando<br />

um caroço na mama, entra<br />

num site da internet em busca de informações.<br />

É consultada por um médico<br />

que pede exames e marca uma<br />

consulta física. Um câncer de mama<br />

é confirmado. No espaço virtual,<br />

Sophia recebe textos informativos,<br />

apoio e todas as informações da consulta<br />

em seu computador. Seu tratamento<br />

é acompanhado por médicos<br />

e por uma comunidade online que já<br />

passou por situação semelhante.<br />

Polêmico para alguns, o exemplo,<br />

segundo ela, teve o objetivo de provocar<br />

a platéia, sobretudo gestores públicos,<br />

para que criem sistemas interligados<br />

de dados em saúde. Segundo a<br />

consultora, é possível, como aconteceu<br />

com Sophia, conseguir informações<br />

confiáveis, realizar o autocuidado,<br />

ter diagnóstico, tratamento e acompanhamento<br />

médico online. Basta para<br />

isso, como afirmou, investimento e vontade<br />

política. “Se eu posso usar meu<br />

cartão da Bélgica para retirar dinheiro<br />

no Brasil, poderia ter acesso aos<br />

meus dados médicos com um cartão<br />

de saúde”, afirmou. “A tecnologia<br />

para isso já está à disposição”. Para<br />

Petra, como falta dinheiro, a pessoa<br />

mais atuante na promoção do ehealth<br />

freqüentemente é o ministro<br />

da Fazenda, e não o da Saúde.<br />

De acordo com a especialista,<br />

somente na Europa são investidos 700

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