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AIDS 25 ANOS AIDS 25 ANOS - Portal ENSP - Fiocruz

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RADIS 40 DEZ/2005<br />

[ 14 ]<br />

que, entre os assuntos relacionados<br />

a saúde, a Aids ainda é o mais citado<br />

na grande mídia. Para sua tese de doutorado,<br />

que abrange até 1996, Dilene<br />

reuniu sobre o tema um acervo de<br />

matérias jornalísticas que ocupa um<br />

armário inteiro. “Tínhamos mais de<br />

uma matéria por dia, por cada jornal.<br />

Hoje passam-se semanas sem matéria<br />

sobre Aids”, afirma.<br />

FIM DO MISTÉRIO?<br />

Dilene acredita que esse desinteresse<br />

se deve a que a Aids já não<br />

tem sua aura inicial de mistério e também<br />

ao deslocamento da ocorrência<br />

da doença da classe média alta para<br />

populações mais pobres. E ainda a uma<br />

sensação de que, com a distribuição<br />

dos coquetéis antiaids, o problema<br />

está resolvido. Ouve-se algumas pessoas<br />

dizerem que não precisam mais<br />

ter tanto medo da Aids porque agora<br />

há tratamento. Mas elas não consideram<br />

o custo desse tratamento, nem<br />

que ele implica tomar remédios várias<br />

vezes ao longo do dia, e em horários<br />

certos, o que é um transtorno no<br />

dia-a-dia do paciente. Sem falar<br />

nos efeitos colaterais dos<br />

anti-retrovirais.<br />

E nada pode ser considerado<br />

resolvido quando, como<br />

apontam as ONGs/Aids, uma<br />

média de 11 mil brasileiros morrem da<br />

doença todos os anos. Ações de prevenção<br />

da Aids e o atendimento aos<br />

soropositivos são do âmbito do SUS,<br />

e sofrem com os problemas que afetam<br />

o sistema, como falta de agentes<br />

de saúde em HIV/Aids no âmbito<br />

municipal, necessidade de maior número<br />

de leitos para internação e de<br />

humanização do tratamento.<br />

SUS RADICALIZADO<br />

Por isso, Mario Scheffer defende<br />

que a luta é em defesa do SUS:<br />

“Só conseguimos alguns avanços até<br />

hoje porque temos o SUS”, diz. “As<br />

políticas de Aids no Brasil — como a<br />

do acesso universal ao coquetel —<br />

nada mais são do que a radicalização da<br />

implementação do SUS”. Para ele, é a<br />

prova de que o SUS é viável, pode dar<br />

certo e está longe de ter esgotado suas<br />

potencialidades. “Queremos, por isso,<br />

estender nossas conquistas a todas as<br />

patologias e necessidades de saúde”.<br />

Nos primeiros anos da epidemia,<br />

a abordagem da Aids pelo poder público<br />

e, conseqüentemente, pela mídia<br />

como uma doença restrita a “grupos<br />

de risco” teve alguma utilidade prática,<br />

mas, de modo geral, mostrou-se<br />

discriminatória e contraproducente.<br />

Embora esteja superada no âmbito<br />

das políticas públicas, ela permanece<br />

no imaginário popular. Sua pior<br />

conseqüência tem sido a crença de<br />

que pessoas que não fazem parte<br />

desses grupos não precisam se preocupar.<br />

Crença que levou a um relaxamento<br />

da prevenção entre mulheres<br />

e homens heterossexuais, e<br />

contribuiu para a mudança do perfil<br />

epidemiológico do HIV/Aids.<br />

A trajetória da epidemia provou<br />

que a Aids não é um mal que afeta<br />

grupos específicos, mas é um problema<br />

de todos, conforme já diziam militantes<br />

como Betinho, há 20 anos.<br />

Hoje, de acordo com o Fundo de População<br />

das Nações Unidas (UNFPA),<br />

no estudo sobre o Estado da População<br />

Mundial (2005), quase metade do<br />

número de pessoas infectadas pelo<br />

HIV no mundo é de mulheres. Quadro<br />

muito diferente daquele encon-<br />

trado em meados da década de 80,<br />

quando, no Brasil, por exemplo, a proporção<br />

era de uma mulher soropositiva<br />

para <strong>25</strong> homens. Hoje é de aproximadamente<br />

uma para dois.<br />

Mas, com a disseminação do vírus<br />

entre a população feminina, tem<br />

crescido também o número de casos<br />

de contaminação de homens heterossexuais.<br />

Dados do Ministério da Saúde<br />

brasileiro, constantes do Plano Estratégico<br />

2005 do PNDST/Aids, mostram<br />

que, entre os homens, o número de<br />

casos de transmissão heterossexual<br />

no país tem apresentado crescimento<br />

desde o fim da década de 90, “superando,<br />

proporcionalmente, os casos<br />

na exposição homo/bissexual e<br />

usuários de drogas injetáveis”. Em<br />

2003, o número de homens infectados<br />

em relações heterossexuais chegou<br />

a 41% do total de casos de HIV/Aids<br />

registrados na população masculina.<br />

O epidemiologista Francisco Inácio<br />

Bastos, do Centro de Informação Científica<br />

e Tecnológica da Fundação<br />

Oswaldo Cruz (Cict/<strong>Fiocruz</strong>), atesta:<br />

“O que manda na epidemia de HIV/Aids<br />

hoje é a transmissão heterossexual”.<br />

Ele esclarece que isso não se deve a<br />

um aumento da infectividade nas mulheres<br />

soropositivas, mas sim ao fato<br />

de os homens estarem mais expostos<br />

a relacionamentos com parceiras<br />

portadoras do HIV. Forma-se assim<br />

um círculo vicioso, pois mais<br />

homens infectados também podem<br />

infectar mais mulheres.<br />

A MULHER VULNERÁVEL<br />

A heterossexualização e a feminização<br />

da epidemia têm numerosas<br />

conseqüências, uma das quais é a<br />

desagregação familiar e a orfandade.<br />

Em todo o mundo, cerca de 15 milhões<br />

de crianças perderam pelo<br />

menos um dos pais para a Aids. E muitas<br />

delas foram infectadas na gravidez,<br />

no parto ou na amamentação, o<br />

que poderia ter sido evitado se as<br />

mães tivessem recebido orientação e<br />

tratamento. Mesmo no Brasil, a prevenção<br />

da transmissão vertical — da<br />

mãe para o bebê — ainda não alcança<br />

todas as que dela necessitam.<br />

Entre as mulheres brasileiras, as<br />

infecções por HIV via transmissão heterossexual<br />

correspondem a 95% do<br />

total. Aqui, como em todo o mundo,<br />

fatores sociais, econômicos e culturais<br />

tornam a mulher mais vulnerável a contrair<br />

o vírus. Dependência econômica,<br />

violência doméstica, pouca auto-estima<br />

ou falta de conhecimento sobre o<br />

assunto dificultam a negociação do uso<br />

de preservativos com os parceiros, principalmente<br />

entre as mulheres casadas.

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