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34 Diário <strong>Económico</strong> Sexta-feira 8 Janeiro 2010<br />
FINANÇAS<br />
BES foi a única cotada<br />
asobreviveràfugados<br />
investidores na Bolsa<br />
Banco foi o único a registar uma variação positiva de acções negociadas,<br />
enquanto que a praça lisboeta negociou menos 25% no ano passado.<br />
Tiago Figueiredo Silva<br />
tiago.silva@economico.pt<br />
O ano que terminou não podia ter<br />
sido mais positivo para a bolsa de<br />
Lisboa, que registou os maiores<br />
ganhos em doze anos. No entanto,<br />
apesar dos primeiros sinais de<br />
recuperação da crise, assistiu-se<br />
em2009aumafugadeinvestidores<br />
que se traduziu, inevitavelmente,<br />
num menor número de<br />
acções transaccionadas. Apesar<br />
da razia, houve um título que<br />
conseguiu sobreviver: o BES.<br />
De acordo com os dados da<br />
Bloomberg, os títulos do banco<br />
liderado por Ricardo Salgado foram<br />
os únicos a registar uma variaçãopositivanovolumedeacções<br />
negociadas. Contas feitas,<br />
foram transaccionados quase 530<br />
milhões de títulos em 2009, um<br />
valor 9% superior aos 484 milhões<br />
de papéis alcançados no<br />
ano anterior. Os analistas contactados<br />
pelo Diário <strong>Económico</strong><br />
não têm dúvidas em eleger o aumento<br />
de capital feito pelo BES<br />
no ano passado, como o factor<br />
determinante para a “sobrevivência”.<br />
“Foi uma operação que<br />
foi feita com um preço de subscrição<br />
muito baixo e que resultou<br />
numa grande emissão de acções”,<br />
afirmou o gestor de activos<br />
da F&C, Pedro Pintassilgo.<br />
Além de partilhar a mesma opinião,<br />
Pedro Lino sublinha ainda o<br />
interesse pelo título. “O BES foi<br />
dos principais bancos recomendadoseointeresseéreflectidona<br />
quantidade de acções negociadas”,<br />
sublinhou o CEO da corretora<br />
Dif Broker.<br />
Em sentido inverso, a Teixeira<br />
Duarte, a Portucel e o BPI foram<br />
as cotadas que apresentaram a<br />
maior queda, no ano passado, de<br />
acções negociadas: 60%. Se os<br />
investidores que apostaram na<br />
construtora, quando esta negociava<br />
nos dois euros por acção,<br />
não quiseram desfazer-se dos<br />
seus investimentos face às potenciais<br />
menos-valias, o reduzido<br />
‘free-float’ (a quantidade de<br />
acções livres que existem) explica<br />
a forte quebra da papeleira e da<br />
instituição financeira. “A causa<br />
para a queda do BPI tem a ver<br />
Ricardo Salgado<br />
lidera a única<br />
empresa que, em<br />
2009, viu subir o<br />
número de acções<br />
negociadas em<br />
bolsa, face ao ano<br />
anterior.<br />
com o ‘free-float’ muito reduzido,<br />
além de os seus accionistas<br />
não terem mostrado interesse em<br />
mexer nas suas posições em<br />
2009”, refere Pedro Pintassilgo.<br />
Já o analista da Intervalores, Frederico<br />
Antão, acrescenta que a<br />
instituição bancária “foi, dos três<br />
bancos, o mais estável e com isso<br />
terá gerado um menor interesse<br />
por uma parte significativa dos<br />
investidores”.<br />
Em termos de volume de negócios<br />
(valor negociado), nenhuma<br />
das vinte cotadas do PSI 20<br />
conseguiu apresentar uma variação<br />
positiva. A aversão ao risco e<br />
a baixa capitalização bolsista dos<br />
títulos face ao ano anterior foram,<br />
segundos os analistas, os<br />
principais motivos para a queda.<br />
BCP foi o título mais negociado<br />
Apesar do panorama negativo, é<br />
possível eleger os vencedores e<br />
os vencidos do ano, no que toca<br />
à disputa pela atenção dos investidores.<br />
Num pódio que não sofreu alterações<br />
face a 2008, o BCP voltou<br />
aserotítulomaisnegociadono<br />
ano passado, tendo trocado de<br />
mãos mais de 4,2 mil milhões de<br />
papéis do banco liderado por Carlos<br />
Santos Ferreira. Os restantes<br />
lugares foram ocupados por SonaeSGPSeEDP.“Sãoascotadas<br />
que têm mais acções no mercado<br />
e são preferidas pelos investidores<br />
por terem muita liquidez”, justi-<br />
BOLSA PERDEU INVESTIDORES APESAR DOS GANHOS<br />
Evolução mensal do índice de referência nacional e do volume de<br />
acções transaccionadas durante o ano passado.<br />
9000 Evolução<br />
8500<br />
8000<br />
7500<br />
7000<br />
6500<br />
6000<br />
5500<br />
Jan.<br />
Fev.<br />
Fonte: Euronext e Bloomberg<br />
Mar.<br />
Abr.<br />
Mai.<br />
Jun.<br />
Jul.<br />
Ago.<br />
Set.<br />
Out.<br />
Volume<br />
Nov.<br />
Dez.<br />
1800<br />
1200<br />
600<br />
0<br />
ficou Pedro Lino. Já a Altri, a REN<br />
e a Semapa surgem como as acções<br />
menos negociadas.<br />
Na classificação final por valor<br />
gerado com as transacções, a PT,<br />
aEDPeaGalpEnergiasurgem<br />
como as “campeãs”. A operadora<br />
nacional lidera o ‘ranking’ com<br />
um volume de negócios de 5,4<br />
mil milhões de euros. “São os títulos<br />
que mais pesam no índice”,<br />
relembra Frederico Antão. Em<br />
sentido inverso, a Teixeira Duarte<br />
movimentou “apenas” 169 milhões<br />
de euros.<br />
Volume de negócios não<br />
alcança capitalização bolsista<br />
A quebra registada no ano passado<br />
dos montantes gerados pelas<br />
transacções dos títulos ficou, de<br />
uma forma geral, muito aquém<br />
das suas capitalizações bolsistas.<br />
ExemplodissoéocasodaEDP.O<br />
volume de negócios em bolsa de<br />
4,96 mil milhões de euros da elétrica,<br />
alcançado em 2009, ficou<br />
longe dos 11 mil milhões de euros<br />
que valia no final do ano. A Sonae<br />
Indústria foi a cotada a apresentar<br />
o saldo menos negativo, entre<br />
a capitalizaçãoeovolumedenegócios:<br />
56 milhões de euros.<br />
Bolsa de Lisboa negociou<br />
menos 25% em 2009<br />
Os ganhos alcançados no ano<br />
passado não deixaram transparecer<br />
uma dura realidade: a fuga<br />
dos investidores. De acordo com<br />
os dados da Euronext, a que o<br />
Diário <strong>Económico</strong> teve acesso, a<br />
bolsa de Lisboa negociou menos<br />
24,8% em 2009. Contas feitas,<br />
foram transaccionadas 13 mil milhões<br />
de acções em 2009, longe<br />
dos 17 mil milhões de há dois<br />
anos atrás. Em valor, a quebra foi<br />
mais acentuada, com os 30,8 mil<br />
milhões de euros a representarem<br />
uma queda de 44% face aos<br />
54,8 mil milhões de 2008.<br />
“É um sinal claro da conjuntura<br />
de um ‘bear market’”, considerou<br />
Pedro Pintassilgo. Já Frederico<br />
Antão foi taxativo: “As razões<br />
para estas quebras são as<br />
mesmas do que se passou noutras<br />
bolsas, ou seja, a fuga de muitos<br />
investidores para outros tipos de<br />
activos, incluindo liquidez”. ■