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24 Diário <strong>Económico</strong> Sexta-feira 8 Janeiro 2010<br />
EMPRESAS<br />
Accionistas e gestão<br />
da Cimpor unem-se<br />
para rejeitar OPA hostil<br />
A posição dos accionistas foi unânime na oposição à investida dos brasileiros<br />
da CSN. O preço baixo é apenas um dos argumentos utilizados para a rejeição.<br />
Nuno Miguel Silva<br />
e Bruno Proença<br />
nuno.silva@economico.pt<br />
Os accionistas da Cimpor representados<br />
no conselho de administração<br />
foram ontem unânimes<br />
em considerar “hostil” a OPA<br />
lançada pelo grupo brasileiro<br />
CSN. O chumbo à OPA do grupo<br />
brasileiro, que o Diário <strong>Económico</strong><br />
avançou em primeira mão na<br />
edição de ontem, foi assumido de<br />
forma unida por todos os membros<br />
do conselho de administração<br />
da cimenteira portuguesa. E<br />
em tons mais duros do que se<br />
previa inicialmente.<br />
A administração da Cimpor,<br />
presidida por Ricardo Bayão Horta,<br />
foi unânime em considerar a<br />
OPA da CSN contrária aos interesses<br />
da empresa, dos accionistas<br />
e dos diversos ‘stakeholders’.<br />
E o preço baixo não foi o único<br />
argumento utilizado para rejeitar<br />
a investida da CSN.<br />
Na prática, este chumbo em<br />
toda a linha dá muito poucas hipóteses<br />
de sucesso à CSN, obrigandoareveremaltaaofertase<br />
quiser garantir o controlo da cimenteira<br />
portuguesa. A unanimidade<br />
dos membros da administração,<br />
aliada à rejeição já assumida<br />
por accionistas com mais<br />
de 40% do capital da Cimpor, são<br />
um obstáculo muito difícil de ultrapassar.<br />
Contactada pelo Diário<br />
<strong>Económico</strong>, fonte oficial do grupo<br />
oferente apenas adiantou que<br />
“a CSN reitera que a sua proposta<br />
é aquela que traz mais valor para<br />
os accionistas e para o desenvolvimento<br />
futuro da Cimpor.”<br />
Além de adoptar uma posição<br />
de força, sem brechas, para rejeitar<br />
e considerar a OPA hostil, os administradores<br />
da Cimpor subscreveram<br />
um relatório, enviado ao final<br />
do dia de ontem para a CMVM –<br />
Comissão do Mercado de Valores,<br />
em que não pouparam as alegadas<br />
falhas e omissões do projecto de<br />
prospecto do anúncio preliminar<br />
de OPA lançada pela CSN.<br />
“A oferta anunciada pela CSN<br />
não foi solicitada pela Cimpor,<br />
nem previamente discutida ou<br />
sequer comunicada à Cimpor. O<br />
Conselho de Administração con-<br />
ACCIONISTAS<br />
Benjamin<br />
Steinbruch,<br />
presidente da<br />
CSN, está a sentir<br />
grandes<br />
dificuldades para<br />
conseguir êxito na<br />
OPA lançada a<br />
5,75 euros por<br />
acção da Cimpor.<br />
40% do capital<br />
Teixeira Duarte, Cinvest, Fundos<br />
do BCP e outros pequenos<br />
acionistas representantes de<br />
mais de 40% do capital da maior<br />
cimenteira nacional estão unidos<br />
contra o preço ofrecido na oferta<br />
os brasileiros da CSN.<br />
sidera-a hostil porque oportunística,<br />
irrelevante e perturbadora<br />
da actividade da empresa”, é<br />
uma das principais conclusões<br />
desse relatório da administração<br />
da cimenteira.<br />
Entre outras coisas, o documento<br />
em causa, de 64 páginas,<br />
diz que “a oferta subavalia significativamente<br />
a Cimpor”, mesmo<br />
em comparação com os principais<br />
‘players’ mundiais do sector; “não<br />
oferece um prémio aos accionistas<br />
da Cimpor”; além de que “comprometeria<br />
o desenvolvimento<br />
futuro da Cimpor”, designadamente<br />
aos efeitos, que já se começaram<br />
a sentir, de uma mais que<br />
provável deterioração do ‘rating’<br />
que o êxito da OPA implicaria.<br />
“O relatório identifica ainda as<br />
deficiências significativas dos<br />
projectos do prospecto e de<br />
anúncio de lançamento recebidos,<br />
uma vez que estes são incompletos<br />
e imprecisos, omitem<br />
informação legalmente exigida,<br />
não cumprem os requisitos legais<br />
quanto à qualidade da informação,<br />
são obscuros em todos os aspectos<br />
financeiros e, assim, impossibilitam<br />
o Conselho de Administração<br />
de adoptar uma posição<br />
esclarecedora sobre alguns<br />
dos termos da oferta”, aproveita<br />
a administração da Cimpor para<br />
arrasar a oferta da CSN.<br />
Conclusão: “o Conselho de<br />
Administração da Cimpor rejeita<br />
a oferta e recomenda aos seus accionistas<br />
que nela não vendam as<br />
suas acções”. Uma recomendação<br />
desde logo assumida pelos administradores<br />
da Cimpor que detêm<br />
títulos da cimenteira: Ricardo<br />
Bayão Horta; Luís Silva Barbosa;<br />
Vicente Árias Mosquera, José Manuel<br />
Fino; José Freire Arteta; Luís<br />
Sequeira Martins; António Carlos<br />
Varela; e Manuel Faria Blanc.<br />
A bola está agora duplamente<br />
do lado da CSN. Primeiro, tem de<br />
prestar esclarecimentos adicionais<br />
solicitados pela CMVM. Depois,<br />
tem de convencer a totalidade<br />
do conselho de administração,<br />
a grande maioria dos accionistas<br />
de referência e o mercado<br />
investidor em geral de que o<br />
preço oferecido pela Cimpor é<br />
justo. Ou revê a oferta em alta. ■<br />
ARGUMENTOS DA CIMPOR<br />
● O “oferente não indica as<br />
autorizações administrativas<br />
que condicionam o lançamento<br />
da oferta nem o prazo da oferta”.<br />
● A CSN “omite informação<br />
essencial acerca<br />
do financiamento da oferta<br />
e do seu impacto na situação<br />
financeira da Cimpor”.<br />
● O oferente “não concretiza<br />
os seus planos estratégicos<br />
para a Cimpor”.<br />
● A CSN “não identifica<br />
as pessoas com ela relacionadas”<br />
em termos de domínio de capital<br />
e participações qualificadas.<br />
● “O oferente prevê um conjunto<br />
de pressupostos desrazoáveis<br />
como potenciais fundamentos<br />
de revisão ou de revogação<br />
da oferta”.<br />
Ricardo Bayão Horta, presidente-<br />
-executivo da Cimpor, liderou<br />
a oposição à OPA da CSN.<br />
Empresa va<br />
Acções da Cimpor fecharam 13%<br />
acimadaofertadaCSN.<br />
Nuno Miguel Silva<br />
nuno.silva@economico.pt<br />
Os investidores continuam a<br />
considerar muito baixo o preço<br />
da Oferta Pública de Aquisição<br />
(OPA) lançado pela Companhia<br />
Siderúrgica Nacional (CSN) sobre<br />
a Cimpor no passado dia 18<br />
de Dezembro. Após o final da<br />
sessão de ontem da Euronext<br />
Lisbon, os investidores considera<br />
que a empresa vale mais 500<br />
milhões de euros do que o preço<br />
oferecido na operação anunciada<br />
pelo grupo brasileiro.<br />
Com o preço de fecho de ontem<br />
a igualar o máximo da cimenteira<br />
desde que a OPA está<br />
em curso, avaliando cada título<br />
da Cimpor em 6,5 euros, o mer-