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2 Diário <strong>Económico</strong> Sexta-feira 8 Janeiro 2010<br />
A NÃO PERDER<br />
08.01.10<br />
■ O primeiro submarino encomendado<br />
em 2004 chega a Portugal já no início da<br />
Primavera, anunciou o ministro da Defesa<br />
ao <strong>Económico</strong>. A entrega implica um<br />
aumento da despesa este ano de 500<br />
milhões, o preço total do Tridente. ➥ P6<br />
■ Vacinação de todas as grávidas contra<br />
a gripe A é o alerta lançado pela Direcção<br />
Geral de Saúde, que considera as futuras<br />
mães o grupo prioritário com maior risco<br />
de desenvolver complicações graves se<br />
contrair o vírus H1N1. ➥ P12<br />
■ Sócrates vai hoje ao Parlamento para<br />
defender a proposta de lei do Governo que<br />
permite o casamento entre pessoas do<br />
mesmo sexo. Uma decisão inédita, que no<br />
PS se vê como um sinal a enviar a Cavaco<br />
Silva. ➥ P14<br />
■ A ASAE foi declarada inconstitucional<br />
pela segunda vez num acórdão do Tribunal<br />
da Relação de Lisboa. Em causa volta a<br />
estar a transformação pelo Governo deste<br />
organismo em polícia criminal sem<br />
autorização do Parlamento. ➥ P15<br />
■ Jerónimo Martins é a maior retalhista<br />
portuguesa no ‘ranking’ mundial, apesar<br />
de a Sonae continuar a liderar em<br />
território nacional. No plano internacional<br />
aJMestáem94ºlugareaSonae<br />
Distribuição na 140ª posição. ➥ P27<br />
■ Efacec, Brisa e empresas construtoras<br />
portuguesas estão atentas ao investimento<br />
de cerca 60 mil milhões que o Brasil vai<br />
fazer no Campeonato do Mundo de Futebol<br />
em 2014 e nos Jogos Olímpicos em 2016.<br />
Uma oportunidade a não perder. ➥ P28<br />
■ BES foi a única cotada a registar uma<br />
variação positiva de acções negociadas em<br />
2009, ano em que a praça lisboeta<br />
negociou menos 25% do que em 2008. Ao<br />
transaccionar 530 milhões de títulos, o<br />
BES, pelo contrário, subiu 9%. ➥ P34/35<br />
■ BPI emitiu mil milhões de dívida sob a<br />
forma de obrigações hipotecárias com<br />
maturidade de cinco anos. É a primeira<br />
instituição financeira portuguesa a entrar<br />
na onda europeia de emissões de ’covered<br />
funds’ registada esta semana. ➥ P36<br />
■ A Hermès tomou conta do centro<br />
comercial das Amoreiras com uma acção<br />
destinada a democratizar o uso do lenço<br />
de seda - os famosos ‘carrés’ da marca<br />
francesa. Um estilista explicou as várias<br />
formas de uso. ➥ P39<br />
SOCIEDADE ABERTA<br />
Marta Rebelo<br />
Jurista<br />
Diálogo orçamental<br />
O ano novo começa ao som de foguetório político.<br />
Se esta fase termina em apoteose, com um espectáculo<br />
de fogo de artifício de encher o olho, só em Fevereiro<br />
saberemos. Por enquanto, só assistimos ao artifício.<br />
O mote: o orçamento do Estado para 2010.<br />
O “período orçamental” teve início no princípio da<br />
semana, com a entrega da missiva do ministro dos<br />
Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, aos partidos da<br />
oposição – Verdes excluídos –, propondo um diálogo<br />
pré-orçamental para uma orçamentação “cooperante”.<br />
E parece já haver resposta social-democrata ao repto do<br />
governo: na Comissão Parlamentar de Orçamento e<br />
Finanças, na quarta-feira, PS e PSD aprovaram o adiamento<br />
da discussão em especialidade da extinção do<br />
pagamento especial por conta e mais duas propostas, até<br />
à entrega da proposta de orçamento e discussão da mesma.<br />
Relevância deste momento de concordância? Como<br />
apontava o PCP, antes do Natal a oposição em bloco<br />
obrigou o governo a conformar-se com decisões parlamentares<br />
de índole orçamental – como a extinção do<br />
pagamento especial por conta, lá está -, ao mesmo<br />
tempo que se aprovava o orçamento redistributivo.<br />
A imposição foi substituída pelo diálogo?<br />
José Sócrates não cairá por causa<br />
de uma maioria meramente relativa.<br />
O PS e o governo fazem, obviamente, o seu papel.<br />
Quando foi indicado para a formação do executivo, José<br />
Sócrates teve iniciativa semelhante. Convidou todos os<br />
partidos a participar na sua composição, para os co-responsabilizar<br />
posteriormente, pela omissão participativa.<br />
Ao contrário da especulação corrente, não acredito em<br />
provocação de eleições antecipadas, logo que os períodos<br />
orçamental e eleitoral – com a eleição do Presidente da<br />
República – permitam tal manobra ao primeiro-ministro.<br />
Aliás, esta leitura das coisas revela uma subvalorização da<br />
capacidade de encaixe e adaptação de Sócrates. Se é<br />
comum dizer-se que nenhum governo minoritário caiu<br />
por causa de um orçamento, julgo que se tornará igualmente<br />
vulgar dizer que José Sócrates não caiu por causa<br />
de uma maioria meramente relativa. Porque sabe<br />
relativizar as coisas, e não vive no absolutismo dos dias.<br />
Já o papel do PSD exige maior ponderação. Manuela<br />
Ferreira Leite poderá deixar como legado o diálogo e<br />
cooperação orçamental com o PS? Depois do que disse e<br />
faz, em área da sua especialidade, poderá Ferreira Leite<br />
deixar esta marca? E as demais “tendências” socialdemocratas,<br />
que contam espingardas e passam lustro ao<br />
arsenal, querem iniciar um novo reinado limitadas por<br />
um diálogo que pode ensurdecer? O que vale é que<br />
nestas coisas os partidos são iguais a si próprios: na antecipação<br />
do congresso, pensa-se em tudo menos nas<br />
consequências de decisões que extravasem a disputa<br />
imediata do poder. Pedro Passos Coelho sabe disso, e<br />
mantém-se calado. José Sócrates conhece esta verdade<br />
melhor que ninguém, e dá as suas cartas. E assim se<br />
eclipsa a primeira líder partidária da história política<br />
portuguesa. ‘Touché’. ■<br />
AFRASE<br />
“Não abdicaremos de nenhuma<br />
das medidas que apresentamos<br />
no nosso plano anti-crise”<br />
—Aguiar Branco,líder da bancada do PSD.<br />
Foi com esta afirmação proferida na tribuna do<br />
Parlamento que Aguiar Branco começou o seu discurso<br />
com o objectivo de encetar as negociações com o<br />
Governo para o Orçamento de Estado de 2010. ➥ P4/5<br />
Daniel Amaral<br />
Economista<br />
O défice maldito<br />
Confesso a fraqueza. Esta história do défice apavora-me.<br />
De tal modo que, um dia destes, espalhei sobre a secretária<br />
as estatísticas disponíveis, sentei-me ao computador,<br />
abri o ‘excel’ e coloquei a mim próprio este desafio: como<br />
é que se chega a 3% em 2013? Ponto de partida (2009):<br />
o PIB é de €162.184 milhões, as receitas de 43,6%, as despesas<br />
de 51,6% e o défice de 8%. Ponto de chegada<br />
(2013): o PIB é de €181.418 milhões, tendo implícitos um<br />
crescimento de 5% e um deflator de 6,5%.<br />
Comecemos com as receitas. Primeiro, assumi que<br />
todas as rubricas cresceriam em linha com o crescimento<br />
do PIB, estabilizando a actual carga fiscal. Depois, abri<br />
uma excepção: o IVA, actualmente de 20%, regressaria<br />
aos 21% anteriores. Tudo ponderado, as receitas de 2013<br />
subiriam ligeiramente, atingindo os 44% do PIB.<br />
No caso das despesas, admiti que seriam todas congeladas<br />
ao nível de 2009, com duas excepções: as despesas de<br />
capital e os juros. As despesas de capital, que incluem o<br />
investimento, cresceriam também em linha com o crescimentodoPIB;eosjuros,funçãodadívidanoperíodoanterior,<br />
seriam em cada ano o que resultasse da aplicação de<br />
uma taxa idêntica à de 2009. O ganho seria aqui substancial:<br />
as despesas em 2013 cairiam para 47,8% do PIB.<br />
Tomando como bom o raciocínio anterior, os cálculos<br />
são agora fáceis de fazer: o défice, igual à diferença entre<br />
receitas e despesas, seria em 2013 de 3,8% do PIB. A frustração<br />
é total. Repare-se: mesmo assumindo um crescimentorazoável,oaumentodoIVAeocongelamentoda<br />
generalidade das despesas – isso não chega! Precisamos<br />
de mais €1.500 milhões para atingir os malditos 3%.<br />
Como sair disto?<br />
Vejamos. Admitir mais crescimento é irrealista, e<br />
aumentar os impostos seria um suicídio político. Temos<br />
de voltar às despesas – não para as congelar, porque já<br />
o fizemos, mas para ir além disso. Deixo três cenários<br />
possíveis: 1) Dispensar 8% dos trabalhadores da função<br />
pública ou baixar os salários na mesma proporção; 2)<br />
Cortar 4% em todas as prestações sociais; 3) Ir ao “prego”<br />
e vender os poucos anéis que ainda existam. Querem<br />
fazer o favor de escolher?<br />
Estou em estado de choque. Que pensarão disto os<br />
políticos? E a população em geral? Quais são as<br />
alternativas? ■<br />
d.amaral@netcabo.pt<br />
QUE SOLUÇÕES? *<br />
Crescimento possível…<br />
7<br />
4<br />
1<br />
0<br />
-2<br />
-5<br />
2007<br />
Variação (%) Em % do PIB<br />
08<br />
09<br />
10<br />
11<br />
PIB real<br />
PIB nominal<br />
12<br />
13<br />
35<br />
2007<br />
* O PIB de 2012 e 2013 e as restantes projecções assumidas são da responsabilidade do autor.<br />
Do crescimento não poderemos esperar grande coisa, pelo menos para já. Restam-nos um ajuste nas receitas,<br />
através do IVA, e um “ataque” impiedoso às despesas. Drama insanável: mesmo com o congelamento<br />
das despesas ao nível de 2009, o défice em 2013 ainda estará em 3,8%.Não basta manter: é preciso<br />
cortar - nos salários, nos subsídios, nas pensões…<br />
Fontes: Banco de Portugal, Eurostat.<br />
45<br />
O NÚMERO<br />
…e “ataque” às despesas<br />
55 Despesas públicas<br />
Receitas públicas<br />
08<br />
09<br />
Défice orçamental<br />
60%<br />
Um estudo do Boston Consulting<br />
Group conclui que o poder de<br />
decisão de mercado está nas<br />
mãos das mulheres. Até na<br />
escolha de carros 60% das<br />
decisões já são delas. Mas<br />
Leonor Beleza põe água na<br />
fervura: “Quanto ao poder<br />
[político] que têm, isso já é outra<br />
conversa”, diz. ➥ P20/21<br />
10<br />
11<br />
12<br />
13