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16 Diário Económico Sexta-feira 8 Janeiro 2010 MUNDO Zapatero quer um ‘Pacto de estabilidade’ para a política económica O presidente do governo espanhol quer transformar a agenda de Lisboa numa política vinculativa, com metas e sanções por incumprimento. Luís Rego, em Madrid luis.rego@economico.pt Um dos últimos refúgios da soberania nacional na política económica foi ontem à noite atacado pelo actual presidente semestral do Conselho Europeu. José Luís Rodrigues Zapatero quer que a UE “transforme a próxima estratégia de Lisboa até 2020 num pacto de estabilidade”, com “metas vinculativas” e sanções por incumprimento, mas “desta feita para a política económica nacional”, incluindo políticas sectoriais como a energia, a investigação ou emprego. “Há uma absoluta necessidade dedarumnovocarácteràestratégia de Lisboa, para 2020, com medidasdeincentivoemedidas correctoras em torno dos objectivos de política económica, que estão bem delineados”, disse Zapatero num encontro com alguns jornalistas de Bruxelas. “É preciso criar metas para as universidades, para os empresários, para os investigadores” (…)“soubemos fazê-lo com o Pacto de Estabilidade e agora saberemos fazê-lo paraoutrosâmbitos.Istosehouver vontade política”, rematou. Otemaserádiscutidonumalmoço de trabalho hoje em Madrid entre o líder espanhol, o presidente da Comissão, Durão Barrosoeonovopresidentepermanente do Conselho, Herman VanRompuy.Eserátemadedebate ao nível dos líderes dos 27 numa reunião extraordinária no próximo dia 11 em Bruxelas, destinadaàeconomiaeemprego para que, já na cimeira de Março, a estratégia esteja sobre carris. Esta discussão tem ‘barbas’. Tanto na génese da agenda de Lisboa em 2000, como em 2005 na revisão da estratégia, fracassaram todasastentativasdecriarmecanismos vinculativos para que as orientações, como elevar o orçamento nacional de I&D para 3% do PIB ou cumprir a meta de emprego em 70%, ou muitas outras metas para a educação, fossem obrigatórias. A estratégia terminou num rotundo falhanço porque, sem pressão de Bruxelas, os O presidente da Comissão, Durão Barroso, explica agora que em 2005 os líderes não quiseram ir mais longe na criação de instrumentos vinculativos que desse ‘dentes’ a Lisboa. “É preciso criar metas para as universidades, para os empresários, para os investigadores”, disse ontem o líder espanhol, José Luís Zapatero. Estados não as aplicaram e as duas crises económicas anularam qualquer margem orçamental para empreender as reformas estruturais subjacentes ao plano definido sob comando de António Guterres em Lisboa. OpresidentedaComissão, Durão Barroso, explica agora que em 2005 os líderes expressamente não quiseram ir mais longe na criação de instrumentos vinculativos que desse ‘dentes’ a Lisboa. O resultado, nas palavras de Zapatero que esteve presente nesse processo de revisão, foi continuar com “recomendações genéricas e avaliações generosas de Bruxelas à política económica da UE, sem impacto na opinião pública”. O líder espanhol diz que “não vou dizerjáqualdevemserasconsequências por incumprimento. Esseéodebatequevamoster”.A quem cabe definir essas “medidas correctivas é à Comissão Europeia. Eulimito-meapôrotemana mesa”, explica o líder espanhol. As resistências far-se-ão sentir nas capitais mais reticentes à perda de soberania nacional, como Londres que conseguiu recentemente diluir os projectos de regulação europeia para o sector financeiro, mantendo um travão de segurança sobre o ascendente da supervisão europeia na sua City. Os Estados já foram chamados a entregar a instâncias europeias a sua política monetária, cambial e virão a política orçamental cair debaixo de um controlo apertado do Pacto de Estabilidade, que fixa um limite de 3% do PIB para o défice anual. Mas tanto Zapatero como Barroso estão confiantes que os tempos hoje são outros e que agora talvez passe. “A crise financeira criou um novo contexto. Foi a resposta coordenada da zona euro que salvou o nosso sistema financeiro. Por outro lado, se a Europa quer progredir com as actuais características da globalização económica tem de unir-se, o resto é perder tempo. E por último, as consequências da recessão fazem com que os países que estavam mais reticentes estejam hoje mais abertos, e os outros nunca estiveram tão entusiastas”. ■ Madrid recebe hoje Barroso Hoje haverá uma primeira reunião de trabalho entre o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso,eosdoispresidentesda UE, o rotativo e o permanente. Para a vice-presidente do governo espanhol, Fernandez de la Vega, “estanãoéahorade protagonismos mas sim de ser eficaz. O que temos de falar é dos problemas que afectam os cidadãos, o resto é por em prática o que existe no Tratado. Como? Falando muito, com uma certeza: há espaço para todos, há espaço de sobra”. Porém, diz-se “consciente que a cooperação vai ser complicada, mas essa vai ser a base do funcionamento da UE. É preciso procedimentos claros que não ofereçam duvidas”. FRIO POLAR CHEGA À PENÍN Coabitaçã O potencial de atrito é grande na representação externa da UE. Luís Rego, em Madrid luis.rego@economico.pt O palco está montado para um semestre atribulado em Bruxelas com a presidência espanhola a assumir em plena força os comandos da União Europeia, apesar de agora ter de partilhar estas funções com os novos cargos de liderança europeia criados pelo Tratado de Lisboa. O perigo, alertam analistas, é que sendo esta a primeira presidência deumanovaera,seráomolde para o futuro e qualquer conflito ou menorização do

SULA IBÉRICA NO FIM DE SEMANA Casaco russo de Berlusconi causa polémica As controvérsias não deixam de perseguir o primeiro-ministro italiano. Ao apresentar-se sorridente em público, pela primeira vez sem as ligaduras que escondiam os ferimentos que sofreu no mês passado, todas as atenções se voltaram para o facto de estar a usar um casaco com insígnias russas que lhe foi oferecido pelo seu grande amigo Vladimir Putin. Para os detractores do governante, Berlusconi não tem em conta os atropelos aos direitos humanos na Rússia. AGENDA DO DIA ● Gala da Presidência espanhola da União Europeia, em Madrid ● Inicia-se a Tradexpo, em Paris, evento dedicado à apresentação de produtos que vão marcar as tendências dos próximos anos. ● Têm início a Exposição Internacional de Barcos, em Londres. o difícil no topo da União Europeia papel do novo figurino de Lisboa pode condicionar a agilidade da representação externadaUE. “Seremos uma fábrica de ideias e de propostas que poremos à disposição”, explica José Luis Zapatero, presidente do governo espanhol, num encontro com a imprensa de Bruxelas. Mas Maria Teresa Fernandez de la Vega, vicepresidente do governo espanhol, garante que “a presidência rotativa vai continuar a assumir o seu papel, é natural que o faça”. Nos buracos negros, criados pelo Tratado de Lisboa na representação externa, tudo está em aberto. Quem representaaUEnacimeiracoma “A presidência rotativa vai continuar a assumir o seu papel, é natural que o faça”, disse Maria Fernandez de la Vega, vicepresidente do governo espanhol. América Latina? Van Rompuy, o belga que preside em permanência o Conselho Europeu, ou Rodriguez Zapatero, que detém a presidência rotativa. No G20, o problema é o mesmo. O secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Diego Lopez Garrido, explica que o líder espanhol “estará presente enquanto Zapatero ou seja como presidente do governoespanhol[quetem agora lugar no G20] e presidenterotativodaUE”.Neste momento isto é apenas mais um chapéu para o espanhol, mas nas próximas presidências será mais uma cadeira para o líder belga, húngaro e sucessivamente: exactamente o que se queria evitar com a criação do cargo de presidente permanente. Zapatero reconhece que “a UE se tem focalizado demasiado sobre os aspectos institucionais o que provocou inquietude junto dos cidadãos”. Mas o seu programa não se coíbe de tentar exercer influência fora do âmbito definido pelo Tratado, o que poderá reacender esse debate. Um quadro do Conselho europeu disse ao Diário Económico que “não há nenhuma diferença entre o programa semestral espanhol e um qualquer programa semestral anterior”, pois toca em todas as áreas com o “mesmo grau de ambição”. O potencial de atrito é Sexta-feira 8 Janeiro 2010 Diário Económico 17 SusanaVera/Reuters A vizinha Espanha já sente a vaga de frio polar. Os primeiros nevões caíram em dez regiões espanholas, que estão desdeamanhãdeontem em alerta laranja. Na zona central de Espanha várias estradas foram cortadas e inundações provocaram vários graves problemas em Málaga e Cádiz. E os termómetros vão continuar a descer, com a a meteorologia a prever temperaturas nos 15 graus negativos em algumas regiões espanholas, como é o caso de Castela e Leão. enorme em matérias tão sensíveis como a habitual representação externa da UE, onde Catherine Ashton é a nova alta representante que presidirá ao conselho dos ministros dos negócios estrangeiros e será vice presidente da CE. Estará teoricamente acima da presidência semestral a cargo do experiente chefe de diplomacia espanhol, Miguel Angel Moratinos. O espanhol já reconheceu que o seu papel será mais de coordenação que de concorrência mas tem sido muito activo a trabalhar no ‘quintal’ de Ashton impondo a metadeAbrilparaqueoserviço de acção externa da UE tenha já designados 300 diplomatas. ■

16 Diário <strong>Económico</strong> Sexta-feira 8 Janeiro 2010<br />

MUNDO<br />

Zapatero quer um ‘Pacto<br />

de estabilidade’ para<br />

a política económica<br />

O presidente do governo espanhol quer transformar a agenda de Lisboa numa<br />

política vinculativa, com metas e sanções por incumprimento.<br />

Luís Rego, em Madrid<br />

luis.rego@economico.pt<br />

Um dos últimos refúgios da soberania<br />

nacional na política económica<br />

foi ontem à noite atacado<br />

pelo actual presidente semestral<br />

do Conselho Europeu. José Luís<br />

Rodrigues Zapatero quer que a<br />

UE “transforme a próxima estratégia<br />

de Lisboa até 2020 num<br />

pacto de estabilidade”, com<br />

“metas vinculativas” e sanções<br />

por incumprimento, mas “desta<br />

feita para a política económica<br />

nacional”, incluindo políticas<br />

sectoriais como a energia, a investigação<br />

ou emprego.<br />

“Há uma absoluta necessidade<br />

dedarumnovocarácteràestratégia<br />

de Lisboa, para 2020, com<br />

medidasdeincentivoemedidas<br />

correctoras em torno dos objectivos<br />

de política económica, que<br />

estão bem delineados”, disse Zapatero<br />

num encontro com alguns<br />

jornalistas de Bruxelas. “É preciso<br />

criar metas para as universidades,<br />

para os empresários, para os<br />

investigadores” (…)“soubemos<br />

fazê-lo com o Pacto de Estabilidade<br />

e agora saberemos fazê-lo<br />

paraoutrosâmbitos.Istosehouver<br />

vontade política”, rematou.<br />

Otemaserádiscutidonumalmoço<br />

de trabalho hoje em Madrid<br />

entre o líder espanhol, o<br />

presidente da Comissão, Durão<br />

Barrosoeonovopresidentepermanente<br />

do Conselho, Herman<br />

VanRompuy.Eserátemadedebate<br />

ao nível dos líderes dos 27<br />

numa reunião extraordinária no<br />

próximo dia 11 em Bruxelas, destinadaàeconomiaeemprego<br />

para que, já na cimeira de Março,<br />

a estratégia esteja sobre carris.<br />

Esta discussão tem ‘barbas’.<br />

Tanto na génese da agenda de Lisboa<br />

em 2000, como em 2005 na<br />

revisão da estratégia, fracassaram<br />

todasastentativasdecriarmecanismos<br />

vinculativos para que as<br />

orientações, como elevar o orçamento<br />

nacional de I&D para 3%<br />

do PIB ou cumprir a meta de emprego<br />

em 70%, ou muitas outras<br />

metas para a educação, fossem<br />

obrigatórias. A estratégia terminou<br />

num rotundo falhanço porque,<br />

sem pressão de Bruxelas, os<br />

O presidente da<br />

Comissão, Durão<br />

Barroso, explica agora<br />

que em 2005 os líderes<br />

não quiseram ir mais<br />

longe na criação<br />

de instrumentos<br />

vinculativos que desse<br />

‘dentes’ a Lisboa.<br />

“É preciso criar<br />

metas para as<br />

universidades,<br />

para os<br />

empresários,<br />

para os<br />

investigadores”,<br />

disse ontem o líder<br />

espanhol, José<br />

Luís Zapatero.<br />

Estados não as aplicaram e as duas<br />

crises económicas anularam<br />

qualquer margem orçamental<br />

para empreender as reformas estruturais<br />

subjacentes ao plano definido<br />

sob comando de António<br />

Guterres em Lisboa.<br />

OpresidentedaComissão,<br />

Durão Barroso, explica agora que<br />

em 2005 os líderes expressamente<br />

não quiseram ir mais longe na<br />

criação de instrumentos vinculativos<br />

que desse ‘dentes’ a Lisboa.<br />

O resultado, nas palavras de<br />

Zapatero que esteve presente nesse<br />

processo de revisão, foi continuar<br />

com “recomendações genéricas e<br />

avaliações generosas de Bruxelas à<br />

política económica da UE, sem<br />

impacto na opinião pública”. O líder<br />

espanhol diz que “não vou dizerjáqualdevemserasconsequências<br />

por incumprimento.<br />

Esseéodebatequevamoster”.A<br />

quem cabe definir essas “medidas<br />

correctivas é à Comissão Europeia.<br />

Eulimito-meapôrotemana<br />

mesa”, explica o líder espanhol.<br />

As resistências far-se-ão sentir<br />

nas capitais mais reticentes à<br />

perda de soberania nacional,<br />

como Londres que conseguiu recentemente<br />

diluir os projectos de<br />

regulação europeia para o sector<br />

financeiro, mantendo um travão<br />

de segurança sobre o ascendente<br />

da supervisão europeia na sua<br />

City. Os Estados já foram chamados<br />

a entregar a instâncias europeias<br />

a sua política monetária,<br />

cambial e virão a política orçamental<br />

cair debaixo de um controlo<br />

apertado do Pacto de Estabilidade,<br />

que fixa um limite de<br />

3% do PIB para o défice anual.<br />

Mas tanto Zapatero como Barroso<br />

estão confiantes que os tempos<br />

hoje são outros e que agora talvez<br />

passe. “A crise financeira criou um<br />

novo contexto. Foi a resposta coordenada<br />

da zona euro que salvou o<br />

nosso sistema financeiro. Por outro<br />

lado, se a Europa quer progredir<br />

com as actuais características da<br />

globalização económica tem de<br />

unir-se, o resto é perder tempo. E<br />

por último, as consequências da recessão<br />

fazem com que os países que<br />

estavam mais reticentes estejam<br />

hoje mais abertos, e os outros nunca<br />

estiveram tão entusiastas”. ■<br />

Madrid recebe<br />

hoje Barroso<br />

Hoje haverá uma primeira reunião<br />

de trabalho entre o presidente da<br />

Comissão Europeia, Durão<br />

Barroso,eosdoispresidentesda<br />

UE, o rotativo e o permanente.<br />

Para a vice-presidente do governo<br />

espanhol, Fernandez de la Vega,<br />

“estanãoéahorade<br />

protagonismos mas sim de ser<br />

eficaz. O que temos de falar é dos<br />

problemas que afectam os<br />

cidadãos, o resto é por em prática<br />

o que existe no Tratado. Como?<br />

Falando muito, com uma certeza:<br />

há espaço para todos, há espaço<br />

de sobra”. Porém, diz-se<br />

“consciente que a cooperação vai<br />

ser complicada, mas essa vai ser<br />

a base do funcionamento da UE.<br />

É preciso procedimentos claros<br />

que não ofereçam duvidas”.<br />

FRIO POLAR CHEGA À PENÍN<br />

Coabitaçã<br />

O potencial de atrito é grande<br />

na representação externa<br />

da UE.<br />

Luís Rego, em Madrid<br />

luis.rego@economico.pt<br />

O palco está montado para<br />

um semestre atribulado em<br />

Bruxelas com a presidência<br />

espanhola a assumir em plena<br />

força os comandos da União<br />

Europeia, apesar de agora ter<br />

de partilhar estas funções<br />

com os novos cargos de liderança<br />

europeia criados pelo<br />

Tratado de Lisboa. O perigo,<br />

alertam analistas, é que sendo<br />

esta a primeira presidência<br />

deumanovaera,seráomolde<br />

para o futuro e qualquer<br />

conflito ou menorização do

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