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14 Diário <strong>Económico</strong> Sexta-feira 8 Janeiro 2010<br />
POLÍTICA<br />
MEDICAMENTOS<br />
Secretário de Estado quer unidose<br />
implementada num máximo de dois meses<br />
O secretário de Estado da Saúde, Óscar Gaspar quer que num prazo<br />
máximo de dois meses esteja implementada a venda de medicamentos<br />
em unidose, na sequência do actual “processo negocial” com os parceiros,<br />
de quem tem sentido “abertura”. A Autoridade Nacional do Medicamento<br />
(Infarmed) avançou ontem à agência Lusa que nenhuma farmácia<br />
hospitalar ou de oficina em Portugal aderiu à venda de medicamentos em<br />
unidose, seis meses após a entrada em vigor da lei que a institui.<br />
Fontão de Carvalho foi vereador da<br />
Câmara Municipal de Lisboa.<br />
COMISSÃO CONTRA A CORRUPÇÃO VAI TER UM SITE PARA RECOLHER CONTRIBUTOS<br />
JUSTIÇA<br />
Sócrates assume defesa de<br />
casamento gay no Parlamento<br />
Esquerda parlamentar aprova diploma do Governo e deixa de fora a adopção.<br />
Susana Represas e Márcia Galrão<br />
susana.represas@economico.pt<br />
O primeiro-ministro José Sócrates<br />
vai hoje ao Parlamento defender<br />
pessoalmente a proposta de<br />
lei do Governo que permite o casamento<br />
entre pessoas do mesmo<br />
sexo. Uma decisão inédita e<br />
aplaudida pela bancada parlamentar<br />
do PS, que considera ser<br />
um sinal enviado a Belém de que<br />
esta é uma lei para aprovar.<br />
Em entrevista ao Diário <strong>Económico</strong>,<br />
o ministro dos Assuntos<br />
Parlamentares, Jorge Lacão, justificaapresençadeSócratesnaAR<br />
com o facto de se tratar “de uma<br />
questão civilizacional muito importante”,<br />
para o país. Recordese<br />
que esta tem sido uma das<br />
grandes bandeiras socialistas.<br />
Com o secretário-geral socialista<br />
no plenário, a Assembleia da República<br />
vota hoje quatro diplomas<br />
sobre esta matéria, um tema que<br />
tem dominado a actualidade nos<br />
últimos meses e que até à última<br />
horatemsidoalvodemuitasdivergências,<br />
entre Governo, posi-<br />
ção e nos corredores do PS.<br />
Certoéquetodaaesquerda<br />
parlamentar vai aprovar o diploma<br />
do Governo para permitir o<br />
casamento civil entre pessoas do<br />
mesmo sexo. Também garantido<br />
está o chumbo dos diplomas do<br />
PEV e do BE que além de legalizarem<br />
o casamento, permitem a<br />
adopção por casas dos mesmo<br />
sexo. Estes diplomas vão ser rejeitados<br />
com os votos contra do PSD<br />
eCDS-PPedoPS.Noentanto,<br />
esta questão não foi nada pacifica<br />
dentro da bancada liderada por<br />
Francisco Assis. A direcção impôs<br />
disciplina de voto aos deputados<br />
socialistas, a pedido do próprio<br />
primeiro-ministro, mas o facto<br />
de muitos deputados considera-<br />
rem que a questão da adopção é<br />
também uma discriminação levou<br />
a alguns pedidos de excepção.<br />
Ontem Assis aceitou sete pedidos,<br />
todos justificados pelo líder<br />
da bancada, mas até à hora de fecho<br />
desta edição, não havia decisão<br />
sobre os outros dois pedidos<br />
das deputadas Jamila Madeira e<br />
Catarina Marcelino. O Diário<br />
<strong>Económico</strong> apurou, no entanto,<br />
que o líder da bancada deverá optar<br />
por não os conceder, evitando<br />
assim maior mal estar dentro do<br />
grupo parlamentar. A disciplina<br />
de voto acabou por ser aceite pelos<br />
deputados do PS, por se tratar<br />
de uma matéria assumida em<br />
campanha eleitoral e não de<br />
consciência.<br />
O BE anunciou que aceita a<br />
proposta do Governo, mas garante<br />
que não vai abdicar da questão<br />
da adopção e espera que no futuro<br />
venha a ser consagrado. O PCP<br />
votará a favor do diploma do Governo,<br />
mas abster-se-á nos diplomas<br />
do BE e PEV. O CDS rejeita<br />
no seu programa modificações à<br />
natureza jurídica do casamento. ■<br />
Leitura da sentença dos administradores da<br />
EPUL acusados de peculato adiada ‘sine die’<br />
A leitura da sentença do caso que envolve o ex-vereador da Câmara de<br />
Lisboa Fontão de Carvalho e quatro ex-administradores da Empresa<br />
Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL), marcada para hoje, foi adiada<br />
‘sine die’. O ex-vereador e ex-vice-presidente da Câmara de Lisboa e os<br />
quatro ex-administradores da EPUL - Eduarda Mapoleão, Aníbal Cabeça,<br />
Arnaldo João e Luisa Amado são acusados de co-autoria do crime de<br />
peculato. O Ministério Público pediu a condenação dos cinco arguidos.<br />
Paulo Alexandre Coelho<br />
A comissão parlamentar eventual que vai acompanhar a luta contra a corrupção vai disponibilizar uma página<br />
na Internet, aberta a contributos dos cidadãos. A proposta foi defendida ontem pelo presidente da comissão,<br />
Vera Jardim, e aceite por todos os grupos parlamentares. Sobre as audições que a comissão vai realizar, o PSD<br />
apresentou uma proposta para ouvir 27 representantes de instituições e personalidades, uma lista que deverá<br />
integrar vários representantes do sector da Justiça.<br />
Jorge Lacão justifica a<br />
presença de Sócrates<br />
com o facto de esta<br />
ser uma questão<br />
“civilizacional”<br />
O que pode fazer<br />
Cavaco Silva<br />
Com aprovação certa no<br />
Parlamento, o diploma segue<br />
depois para o Presidente da<br />
República. Aqui o casamento entre<br />
pessoas do mesmo sexo pode ter<br />
três destinos: ou é promulgado, ou<br />
vetado ou enviado para o Tribunal<br />
Constitucional. Até agora, Cavaco<br />
apenas se pronunciou sobre o<br />
assunto para dizer que está<br />
concentrado noutros problemas.<br />
Frase que teve várias<br />
interpretações. Uns consideraram<br />
que é um sinal de que o diploma<br />
não vai passar o crivo de Belém,<br />
outros, acham que estas palavras<br />
mostram que a lei passará sem<br />
problema. Constitucionalistas<br />
defendem que este diploma pode<br />
ser constitucional, e aqui volta a<br />
haver divergências. Há quem diga<br />
que essa ilegalidade se deve à<br />
exclusão da adopção, outros acham<br />
que o casamento é só para sexos<br />
diferentes. S.R.<br />
COLUNA VERTEBRAL<br />
Claques<br />
JOÃO PAULO GUERRA<br />
O PS decidiu introduzir na<br />
agenda política uma questão<br />
fracturante para fracturar a<br />
“coligação negativa” da direita<br />
edaesquerdacontraoGoverno,damesmaformaqueaesquerdaàesquerdadoPSlança<br />
questões fracturantes para<br />
quebrar o bloco central. Mas<br />
agora é o próprio PS que está<br />
fracturado na matéria agendada<br />
sobre legalização do casamento<br />
entre pessoas do mesmo<br />
sexo.EquesoluçãoéqueoPS<br />
usa para tentar remendar a<br />
fractura? A solução é de gesso e<br />
consiste na imposição da disciplina<br />
de voto.<br />
A imposição da disciplina de<br />
voto pelo PS é tão ilegítima<br />
como a concessão da liberdade<br />
de voto pelo PSD. Os deputados,<br />
embora eleitos à lista, não<br />
são propriamente corpos<br />
amorfos e acéfalos que fazem o<br />
quelhesmandamoscérebros<br />
dos partidos em nome da conveniência,<br />
da táctica ou sequer<br />
da fidelidade partidária. A fidelidade<br />
é um sentimento horrível<br />
que será próprio dos animais.<br />
O que é próprio dos homenséalealdade.Eoprimeiro<br />
dever da lealdade de cada homemécomasuaprópriaconsciência.<br />
Os partidos não são<br />
donos dos votos dos deputados,<br />
sobretudo em matérias que envolvam<br />
a consciência individual.<br />
Eotempoemqueuns<br />
senhores de jaquetão preto e<br />
cabeças lustrosas de brilhantina<br />
diziam todos em coro “muito<br />
bem” ao discurso do chefe<br />
morreu em 1974. Só que, pelos<br />
vistos, ficou mal enterrado.<br />
De maneira que cada vez que<br />
um deputado fura o sentido<br />
único e obrigatório de voto imposto<br />
pela direcção do partido<br />
isso constitui uma vitória da<br />
democracia e da liberdade.<br />
Com a canga da disciplina de<br />
voto, o Parlamento poderia reduzir-se<br />
à conferência de líderes,<br />
onde cada um dos presentes<br />
levaria no bolso os votos da<br />
claque partidária. Ou, melhor<br />
dizendo, da clique que decide<br />
como vão votar os eleitos pelo<br />
povo. ■<br />
joaopaulo.guerra@economico.pt