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sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

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Eu não dormia há três semanas. Eu achava que a coisa mais linda do<br />

mundo era a sombra, os milhares <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos em movimentos e manchas<br />

paradas que a sombra faz. Tinha sombra nas gavetas da escrivaninha, nos<br />

armários e maletas, sombra por baixo das casas, árvores, pedras, sombra<br />

por trás dos olhos e sorrisos das pessoas e sombras, quilômetros e<br />

quilômetros <strong>de</strong>las, no lado escuro da Terra. 119<br />

E, além da protagonista vivenciar no espelho e nas sombras elementos<br />

característicos e antagônicos dos <strong>de</strong>sdobramentos do duplo no <strong>de</strong>correr da narrativa,<br />

Esther se <strong>de</strong>para também como elementos dos quais ela não tem entendimento. São<br />

espíritos, que <strong>de</strong> alguma forma permeiam vários folclores, <strong>de</strong>monstramos um<br />

exemplo aqui:<br />

Na noite anterior eu tinha assistido a uma peça em que a heroína era<br />

possuída por um dibuk, que [...] falava através <strong>de</strong>la. [...] Ela parava e se<br />

olhava refletida na vitrine das lojas, como para se certificar a cada minuto<br />

<strong>de</strong> que continuava a existir. [NT, espírito maligno que, segundo o folclore<br />

judaico, incorpora-se e domina uma pessoa. 120 [sem grifo no original].<br />

De todo o modo, o crescente <strong>de</strong>sgaste mental <strong>de</strong> Esther é um sofrimento, um<br />

rito <strong>de</strong> passagem que a protagonista teve que lidar durante a narrativa. Momentos<br />

tensos, violentos que, sobrehumanamente, Esther transpassa-os e também encontra<br />

momentos <strong>de</strong> paz <strong>de</strong> espírito, aceitação consigo mesma, uma espécie <strong>de</strong> ternura,<br />

alguns lampejos <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong>, como se estivesse apenas dormindo. Assim Esther<br />

narra: ―Acor<strong>de</strong>i me sentindo cálida e tranqüila <strong>de</strong>ntro do meu casulo branco. Uma<br />

faixa <strong>de</strong> luz suave, hibernal, faiscava no espelho, nos vidros sobre a cômoda e nas<br />

maçanetas <strong>de</strong> metal das portas‖. 121<br />

Nossa protagonista é a starlet <strong>de</strong>ssa análise. Como vimos, ela caminha por<br />

terrenos arenosos, escorregadios, pantanosos e, mesmo que saia <strong>de</strong>struída<br />

mentalmente e fisicamente, ela renasce e brilha e mostra que não só passa pelas<br />

tormentas, como também se reinventa e mostra suas variadas faces como veremos a<br />

119 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p.162.<br />

120 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 112.<br />

121 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 228.

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