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sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

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Como não conseguiu se afogar, Esther pensa em inúmeras possibilida<strong>de</strong>s,<br />

tentou uma nova:<br />

Naquela manhã, tentei me enforcar.<br />

Assim que minha mãe saiu para o trabalho, peguei o cinto <strong>de</strong> seda do<br />

roupão amarelo <strong>de</strong>la e, no meu quarto banhado por uma luz âmbar, <strong>de</strong>i um<br />

nó regulável, que aumentava e diminuía. Levei um tempo enorme fazendo<br />

isso, eu não sabia dar o nó, não tinha a menor idéia. Depois fiquei<br />

procurando um lugar para amarrar a corda. [...] Cada vez que eu apertava a<br />

corda, a ponto <strong>de</strong> sentir um zumbido no ouvido e uma onda <strong>de</strong> sangue no<br />

rosto, minhas mãos se soltavam e eu me recobrava. 103<br />

Esther <strong>de</strong>siste da tentativa porque sabe que não vai ter coragem ou que po<strong>de</strong><br />

ter um problema e as pessoas percebessem que ela estaria ficando maluca e<br />

<strong>de</strong>scobririam, mesmo que sua mãe não comentasse nada que o melhor seria ela ser<br />

internada em um hospício e lá po<strong>de</strong>ria se curar: ―Só que o meu caso não tinha<br />

cura‖ 104 . Esther achava que sua doença era a mais séria e tinha fundos psíquicos. ―[...]<br />

Depois do fracasso do enforcamento, fiquei pensando se não era melhor <strong>de</strong>sistir e<br />

pedir ajuda aos médicos, mas <strong>de</strong>pois lembrei do Dr. Gordon e sua máquina <strong>de</strong> choque.<br />

Se me internassem, eles iam me aplicar aquilo o tempo todo.‖ 105<br />

A tentativa que lhe causou gran<strong>de</strong>s estragos e abalos na família foi por<br />

overdose <strong>de</strong> remédios para dormir. Esther sofreu física e mentalmente, passou por<br />

hospitais e clínicas que ela chamava <strong>de</strong> hospícios. Sua personalida<strong>de</strong> sofreu alterações<br />

bruscas, era como se um outro apo<strong>de</strong>rava-se <strong>de</strong>la e a fazia sofrer. O que este outro<br />

queria era o apagamento do EU e para isso, precisava matar Esther. Em sua<br />

recuperação Esther foi enten<strong>de</strong>ndo que sua doença a transformava em duas pessoas<br />

num só corpo, duas personalida<strong>de</strong>s habitam um mesmo ser, que ela, aos poucos foi<br />

percebendo que mesmo que este outro queria sua vida, ela preferiu o vagaroso<br />

103 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 173-174.<br />

104 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 174.<br />

105 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 175.

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