sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Esther/Betsy que é o oposto da outra manifestação <strong>de</strong> Esther quando se vê como<br />
Doreen. Betsy é o lado meigo, gentil que Esther aprova como sendo o melhor para<br />
ela. No caso <strong>de</strong> Joan é o mesmo, só que Joan toma o caminho <strong>de</strong> Esther, é ela que se<br />
vê na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Esther. Joan é o ―eu‖ <strong>de</strong> Esther e, ao mesmo tempo, um ―outro‖.<br />
Ao falarmos em apagamento do Eu, verificamos as muitas passagens em que<br />
Esther, em princípio, não aceita sua realida<strong>de</strong> e, sob forma <strong>de</strong> loucura e, <strong>de</strong>clínio<br />
mental, vê muitas possibilida<strong>de</strong>s na tentativa do suicídio. Ela tentou por quatro vezes.<br />
Já Joan, num retrato <strong>de</strong> usurpação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Esther, também não aceita ver a<br />
realida<strong>de</strong> como ela é <strong>de</strong> fato. Joan não é Esther, Joan quer se plasmar na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Esther e, para isso, ela a imita. E nessas tentativas, que foram duas, uma é o ápice do<br />
apagamento do EU <strong>de</strong> Joan. E na morte, ou no apagamento do ―eu‖ <strong>de</strong> Joan, Esther se<br />
livra da perseguição <strong>de</strong> um duplo usurpador a lhe comprometer as faculda<strong>de</strong>s mentais.<br />
Esther se vê livre. Sobre esta passagem, <strong>de</strong>fine Rosset:<br />
O acontecimento — esperado, talvez, mas nem pensado nem imaginado —<br />
que o acontecimento real apagou, ao se realizar, a estrutura fundamental do<br />
duplo. Nada distingue, na realida<strong>de</strong>, este outro acontecimento do<br />
acontecimento real, exceto esta concepção confusa segundo a qual ele<br />
seria, ao mesmo tempo, o mesmo e um outro, o que é a exata <strong>de</strong>finição do<br />
duplo. Descobre-se assim uma relação muito profunda entre o fantasma da<br />
duplicação. 98<br />
Abordaremos aqui algumas passagens no romance sobre esse suposto<br />
apagamento do eu, ou as tentativas <strong>de</strong> suicídio <strong>de</strong> Esther e Doreen, como afirmação<br />
da expulsão, seja na loucura ou <strong>de</strong>clínio mental das personagens, <strong>de</strong> um outro, um<br />
duplo que habita um ser.<br />
Uma das tentativas que acontece no romance narra sobre Esther:<br />
Abaixei meus olhos e vi os dois esparadrapos cor <strong>de</strong> pele, grudados em<br />
forma <strong>de</strong> crua na barriga <strong>de</strong> minha perna direita. [...] Naquela manhã eu<br />
tinha dado início. Quando perguntaram a um velho filósofo romano como<br />
gostaria <strong>de</strong> morrer, ele disse que cortaria as veias durante um banho<br />
98 ROSSET, Clément. O real e seu duplo: ensaio sobre a ilusão. Ibid., 1976, p. 33.