sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
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ecuperação sem a sombra <strong>de</strong> Joan a espreitar seu caminhar. Esther também<br />
<strong>de</strong>monstra não frieza, mas sim que consegue fazer <strong>de</strong>cisões e mais que isso, diante<br />
dos seus olhos consegue ver que o duplo, aquela sombra caminhante estava estática e<br />
abaixo da terra, a simbologia <strong>de</strong> enterrar o seu eu doente do passado.<br />
Ao libertar-se <strong>de</strong>ssa parte doente Esther se sente livre e aguarda ansiosa a<br />
reunião dos médicos para sua saída <strong>de</strong> clínica e a Dra. Nolan a previne que lá fora<br />
po<strong>de</strong> encontrar situações <strong>de</strong>sagradáveis. ―Claro que todo mundo estaria sabendo o que<br />
aconteceu. [...] muita gente me trataria com cautela, chegando a me evitar como se eu<br />
fosse uma leprosa com sininho‖. 84 Esther também teria que ouvir Buddy, o médico<br />
tuberculoso, que ainda se achava tão acima <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos que estava pensando<br />
com quem ela se casaria agora que esteve na clínica. Esther tem consciência das<br />
pessoas que encontraria a Dra. Nolan já havia avisado, e Esther respon<strong>de</strong> a Buddy que<br />
―era óbvio que eu não sabia quem iria casar comigo agora que eu tinha estado on<strong>de</strong><br />
tinha estado. Não sabia mesmo‖. 85 . A cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Buddy era só algo a mais que<br />
Esther lembraria ou ―podia ser que o esquecimento, como uma espécie <strong>de</strong> neve,<br />
entorpecesse tudo aquilo. Mas fazia parte <strong>de</strong> mim. Era a minha paisagem‖. 86 O que<br />
Esther não podia esquecer era que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma semana, se fosse aprovada pela junta<br />
médica, ela voltaria triunfante à faculda<strong>de</strong>:<br />
Não se assuste — a Dra. Nolan tinha me prevenido. — Vou estar lá, você<br />
conhece os outros médicos, [...] Mas, apesar da Dra. Nolan ter me<br />
tranqüilizado, eu estava apavorada. [...] Eu tinha achado que, quando fosse<br />
hora <strong>de</strong> sair, eu fosse me sentir segura e ciente <strong>de</strong> tudo que me esperava –<br />
afinal <strong>de</strong> contas, tinha sido ‗analisada‘. Mas, em vez disso, eu só enxergava<br />
pontos <strong>de</strong> interrogação. [...] Mas eu não estava me casando. Pensei então<br />
que <strong>de</strong>via haver um ritual para quem nasce duas vezes – remendada,<br />
recauchutada e pronta para a estrada. Estava pensando como seria um bom<br />
ritual quando a Dra. Nolan apareceu e tocou no meu ombro.<br />
— Tudo certo, Esther.<br />
Levantei e entrei atrás <strong>de</strong>la pela porta aberta.<br />
Dei uma parada para tomar fôlego na soleira, vi [...] os olhos que achei que<br />
84 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 260.<br />
85 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 265.<br />
86 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 260.