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sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

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mesma pessoa, isso seria a afirmação <strong>de</strong> que tanto Buddy tinha suas vonta<strong>de</strong>s sexuais,<br />

como também amava Esther. E, moralmente, isso não era o i<strong>de</strong>al. Esther já havia<br />

provado um duplo em sua personalida<strong>de</strong>, agindo <strong>de</strong> acordo como queria, sem ter que<br />

dar satisfações a quem quer que fosse quando estava sob o manto, a máscara <strong>de</strong> Elly<br />

Higginbottom, <strong>de</strong> Chicago, mas assim, a ter que ver Buddy exercendo essas<br />

personalida<strong>de</strong>s distintas, só po<strong>de</strong>ria ser um ato extremista e paradoxal <strong>de</strong> Esther em<br />

sua sã consciência.<br />

A vida <strong>de</strong> Esther se torna um tanto infeliz, o que ela mais sabia fazer agora é a<br />

lista das coisas que não sabia ou que não fez na vida, e o tempo havia passado, sentia-<br />

se <strong>de</strong>slocada e o mais problemático era admitir que sempre esteve <strong>de</strong>slocada só não<br />

havia percebido o quanto: ―A única coisa que eu sabia fazer bem era ganhar bolsas <strong>de</strong><br />

estudo e prêmios – e esta fase estava chegando ao fim‖. 54<br />

Esther já não pensava nas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua vida, afinal ela tinha múltiplos<br />

talentos, diferente <strong>de</strong> suas amigas que só possuíam um e assim elas agarravam essa<br />

única possibilida<strong>de</strong> e faziam ―dar‖ certo. Já com Esther as variadas possibilida<strong>de</strong>s<br />

pareciam que escapavam <strong>de</strong> suas mãos como areia. Era a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma só<br />

pessoa fragmentada e ―outros‖ muitos ―eus‖ <strong>de</strong> Esther, ela só não sabia o que fazer<br />

com essa pulverização <strong>de</strong> personas:<br />

Vi minha vida tomando mil direções, como o galho da figueira do conto.<br />

Na ponta <strong>de</strong> cada galho havia um figo maduro – um maravilhoso futuro.<br />

Um figo era um marido, uma lar feliz e filhos; outro, ser uma poeta<br />

famosa; outro, uma professora ilustre e mais outro era ser Éxis, a incrível<br />

editora; outro, conhecer a Europa, África e América do Sul e ainda outro<br />

era Constantin, Sócrates, Átila e um monte <strong>de</strong> outros namorados com<br />

nomes estranhos e profissões esdrúxulas; e um figo era ser campeã<br />

olímpica da equipe <strong>de</strong> remo e além <strong>de</strong>sses tinha tantos outros figos que eu<br />

não conseguia nem ver.<br />

Imaginei que estava sentada embaixo da figueira, morrendo <strong>de</strong> fome por<br />

não saber <strong>de</strong>cidir que figo escolher. Queria todos, mas escolhendo um, não<br />

podia pegar os outros e, enquanto ficava sentada ali, incapaz <strong>de</strong> resolver,<br />

os figos começaram a amadurecer, apodrecer e cair aos meus pés. 55<br />

54 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 86.<br />

55 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. I<strong>de</strong>m. 1999, p. 86.

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